Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela

Na prisão, não demora muito para você perceber que cada minuto é um teste. Não existem momentos neutros. Cada palavra que você diz, cada olhar que troca, pode definir se você vai sobreviver ou não. E eu estava aprendendo isso do jeito mais difícil.

Na manhã seguinte, a cela estava tomada por uma luz cinza e opaca. A umidade havia deixado os colchões ainda mais pesados, e o cheiro de cigarro e suor impregnava o ar. Rosa já estava acordada, sentada na cama superior com as pernas balançando. Janaína, como sempre, fumava seu cigarro enrolado à mão.

— Você ainda tá aqui, hein? Parabéns, princesa. — Rosa debochou, inclinando a cabeça. — Me fala, dormiu bem no nosso resort cinco estrelas?

— Você não morre fácil, pelo visto. Isso é bom. — comentou Janaína com um sorriso torto, como se já soubesse algo sobre mim que eu mesma ainda não sabia.

Ignorei as provocações. Ainda sentia as costelas doloridas das pancadas, e minha cabeça latejava, lembrando-me da sessão de tortura da noite anterior. Cada músculo do meu corpo doía, mas se eu queria sobreviver, precisava aprender a fingir que não estava quebrada.

Os minutos passaram arrastados até que Rosa finalmente quebrou o silêncio.

— Escuta, novata. Deixa eu te explicar como as coisas funcionam aqui antes que você acabe morta ou pior.

Ela se deitou de barriga para cima, apoiando a cabeça nas mãos, e começou a falar em um tom entediado, como se estivesse repetindo algo pela milésima vez.

— Primeiro, nunca confie em ninguém. Nem nas guardas, nem nas outras detentas. Nem em nós, na real. Todo mundo aqui tá jogando o próprio jogo. E se você não souber jogar, vai ser só mais uma estatística.

— Segunda coisa, — acrescentou Janaína, soprando a fumaça do cigarro. — Fique longe das dívidas. Se você dever algo pra alguém, pode dar adeus à paz. E não é só cigarro e droga que cobram, não. Aqui a dívida é com o corpo também, e, às vezes, nem isso paga.

Aquelas palavras me fizeram estremecer por dentro, mas eu mantive o rosto inexpressivo.

— Terceira regra: — continuou Rosa. — Se alguém te fizer um favor, tenha certeza de que você vai pagar de volta em dobro. E rápido. Aqui ninguém é bonzinho, entendeu? Se te ajudam, é porque querem algo em troca.

Eu apenas assenti, guardando aquelas palavras na mente.

Enquanto Rosa e Janaína falavam, uma batida rápida na grade nos interrompeu. Uma mulher alta e magra apareceu na entrada. O rosto era marcado por cicatrizes que pareciam contar histórias de batalhas antigas. Ela usava o uniforme sujo com a confiança de quem sabe que manda ali dentro.

— O nome dela é Simone. Mas todo mundo chama de Ruiva. — sussurrou Janaína, baixinho. — Melhor você não arrumar confusão com essa aí.

— Preciso de um cigarro, Janaína. Agora. — disse Ruiva, sem rodeios.

— Tô sem nada hoje, Ruiva. Prometo que na próxima eu arrumo. — respondeu Janaína, num tom nervoso que não combinava com ela.

Ruiva lançou um olhar gelado para todas nós. Por um segundo, achei que ela fosse arrastar Janaína para fora da cela ali mesmo.

— Sem próxima. Você me deve, e eu vou cobrar logo. — disse Ruiva, dando um sorriso que não tinha nada de amigável. Então se virou e foi embora, deixando para trás um rastro de tensão no ar.

Quando ela desapareceu no corredor, Rosa deu uma risadinha cínica.

— E é assim que funciona, novata. Aprende rápido ou você tá ferrada.

Quando o sinal para o banho de sol soou, descemos juntas para o pátio. O sol fraco mal conseguia atravessar as nuvens pesadas, mas o pátio ainda estava cheio de detentas. Umas trocavam cigarros e objetos furtados, outras apenas observavam de longe, como predadores esperando a oportunidade perfeita. Era como um mercado a céu aberto, só que as mercadorias eram a sobrevivência.

Eu me sentei em um canto, tentando passar despercebida. Foi quando a vi pela primeira vez: Serpente. Ela estava de pé junto à cerca do pátio, com uma postura relaxada, mas havia algo na maneira como todos ao redor dela se comportavam. Ela não precisava falar para ser temida — sua presença era o suficiente.

— Quem é ela? — perguntei baixinho para Janaína.

— Serpente. Ela manda em quase tudo aqui dentro. Controle de cigarro, drogas, contrabando... Você não quer se meter com ela.

Mas, mesmo sabendo disso, não conseguia tirar os olhos dela. Serpente parecia diferente de todas as outras detentas. Havia uma calma perigosa nela, como se o caos fosse algo com o qual ela sabia lidar melhor do que qualquer pessoa.

Como se percebesse meu olhar, Serpente se virou e, por um breve momento, nossos olhares se cruzaram. Senti um calafrio subir pela espinha. Ela sorriu — não um sorriso gentil, mas o tipo de sorriso que faz você questionar se acabou de ganhar ou perder um jogo que nem sabia que estava jogando.

De volta à cela, eu tentava esquecer aquele olhar, mas era impossível. Algo me dizia que aquele encontro não seria o último. Janaína e Rosa também perceberam.

— A Serpente te notou, hein? Isso não é bom. — comentou Janaína, acendendo outro cigarro com dedos trêmulos.

— Se liga, princesa. Se ela te notar de verdade, você tem dois caminhos: ou vira capacho dela... ou morta.

Eu não respondi. O medo tentava apertar meu peito, mas eu o empurrei para o fundo da mente. Aqui, você não tem espaço para medo. O medo é um luxo que ninguém pode se dar.

Naquela noite, deitada no colchão imundo, fiquei encarando o teto, revendo tudo que havia acontecido até agora. Cada golpe, cada humilhação. As palavras de Rosa, de Janaína, e o olhar de Serpente. Eu precisava entender rápido como aquele lugar funcionava.

Lá fora, eu era a viúva de um magnata. Aqui, eu era apenas Suraya, mais uma condenada. Mas uma coisa era certa: não ficaria assim para sempre. Eu ainda não sabia como, mas algo dentro de mim estava mudando. Eu estava morrendo aos poucos, e uma nova parte de mim começava a nascer.

Se sobreviver significava me tornar alguém que eu jamais imaginei ser, então que assim fosse. Eu faria o que fosse necessário.

Capítulos
1 Avisos
2 Prólogo
3 Capítulo 1: O começo do Fim
4 Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5 Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6 Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7 Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8 Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9 Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10 Capítulo 8: Confirmação Brutal
11 Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12 Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13 Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14 Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15 Capítulo 13: Mudanças no Poder
16 Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17 Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18 Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19 Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20 Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21 Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22 Capítulo 20: O Último Trimestre
23 Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24 Capítulo 21: A Filha Arrancada
25 Capítulo 22: A Tortura Final
26 Capítulo 23: A Escuridão
27 Capítulo 24: O Grande Confronto
28 Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29 Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30 Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31 Capítulo 28: O Controle Total
32 Capítulo 29: A História de Rato
33 Capítulo 30: Laila e o Futuro
34 Capítulo 31: A Revolta e Queda
35 Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36 Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37 Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38 Capítulo 34: As Sombras se Movem
39 Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40 Capítulo 36: O Preço da Dívida
41 Capítulo 37: O Novo Diretor
42 Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43 Capítulo 39: O Estopim do Caos
44 Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45 Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46 Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47 Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48 Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49 Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50 Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51 Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52 Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53 Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54 Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55 Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56 Capítulo 52: Confronto com o Passado
57 Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58 Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59 Capítulo 55: A Grande Batalha
60 Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61 Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62 Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63 Capítulo 59: A Última Palavra
64 Epílogo: Liberdade
65 Nota de Agradecimento aos Leitores
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Avisos
2
Prólogo
3
Capítulo 1: O começo do Fim
4
Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5
Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6
Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7
Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8
Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9
Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10
Capítulo 8: Confirmação Brutal
11
Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12
Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13
Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14
Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15
Capítulo 13: Mudanças no Poder
16
Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17
Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18
Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19
Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20
Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21
Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22
Capítulo 20: O Último Trimestre
23
Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24
Capítulo 21: A Filha Arrancada
25
Capítulo 22: A Tortura Final
26
Capítulo 23: A Escuridão
27
Capítulo 24: O Grande Confronto
28
Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29
Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30
Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31
Capítulo 28: O Controle Total
32
Capítulo 29: A História de Rato
33
Capítulo 30: Laila e o Futuro
34
Capítulo 31: A Revolta e Queda
35
Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36
Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37
Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38
Capítulo 34: As Sombras se Movem
39
Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40
Capítulo 36: O Preço da Dívida
41
Capítulo 37: O Novo Diretor
42
Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43
Capítulo 39: O Estopim do Caos
44
Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45
Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46
Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
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Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
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Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49
Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50
Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51
Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52
Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53
Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54
Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55
Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56
Capítulo 52: Confronto com o Passado
57
Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58
Capítulo 54: O Declínio do Diretor
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Capítulo 55: A Grande Batalha
60
Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61
Capítulo 57: A Carta e a Despedida
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Epílogo: Liberdade
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