Santa Helena tinha suas próprias leis. A vida ali não girava em torno de regras oficiais ou ordens administrativas; o verdadeiro poder estava nas mãos de quem sabia manipular os fluxos de dinheiro, drogas e favores. Dentro da prisão, cigarros eram mais valiosos que ouro, e dívidas eram pagas em sangue ou em sexo. Aprendi rápido que não era o dinheiro que movia as engrenagens daquele sistema, mas o medo e a informação.
Serpente dominava isso como uma artista controla seu público. Cada guarda corrupta, cada detenta endividada e cada transação passava por suas mãos invisíveis. Ela não precisava gritar ou bater para controlar. Ela sabia exatamente onde pressionar para que os outros se curvassem à sua vontade.
Passei a observar mais de perto como Serpente manipulava tanto as guardas quanto as detentas. As dívidas eram a arma mais eficaz. Uma mulher que devia algo a outra nunca mais voltava a ser livre, mesmo depois de pagar. As guardas corruptas também não faziam favores de graça: um cigarro hoje significava um favor amanhã; um pacote de drogas significava acesso garantido à proteção — ou à morte.
— Você precisa aprender uma coisa, princesa. — disse Serpente certa noite, enquanto dividíamos um cigarro na cela. "Tudo aqui dentro é troca. Tudo. Nem mesmo um suspiro é dado de graça."
E eu comecei a ver isso claramente. As guardas aceitavam favores sexuais de algumas detentas em troca de acesso a contrabando ou tratamento especial. Valquíria era uma dessas guardas. Ela extorquia favores e informações, usando a posição dela para humilhar e ameaçar qualquer uma que não se submetesse. Isso era uma moeda tão poderosa quanto qualquer quantidade de drogas.
Nosso laço com Marília também começou a se estreitar cada vez mais. Ela confiava em mim agora, de uma forma que eu nunca imaginei. Passava mais tempo ao meu lado e, pela primeira vez em muito tempo, parecia querer algo mais do que apenas sobreviver.
— Eu quero sair dessa, Suraya. — Marília confessou certa noite, com os olhos cansados. — Quero largar o vício. Quero sair daqui viva.
Havia algo desesperador e genuíno na voz dela. Uma mulher que sabia que não tinha muitas chances, mas que, ainda assim, se agarrava à última esperança. Eu olhei para ela e fiz uma promessa silenciosa.
— Você vai conseguir. Nós duas vamos. Eu não vou deixar você afundar.
Foi pouco tempo depois dessa conversa que fiz minha primeira jogada sem orientação de Serpente. Eu sabia que, para sobreviver ali, precisava começar a trilhar meu próprio caminho, e a melhor forma era lidar com Valquíria.
Valquíria tinha se tornado um obstáculo perigoso. Seus surtos de violência podiam destruir qualquer plano. Se quiséssemos continuar expandindo os negócios sem interrupções, teríamos que trazê-la para o nosso lado — à força.
Eu usei a informação que tinha sobre o marido dela, aquele segredo sujo que ela queria esconder. Encontrei-a no corredor, sozinha, e abordei-a diretamente.
— Você pode continuar se achando poderosa aqui dentro, Valquíria. Mas e se todo mundo lá fora descobrir a verdade sobre o seu marido? Sobre seus negócios... — murmurei, me aproximando o suficiente para que apenas ela me ouvisse.
Ela me encarou, os olhos estreitando de ódio. Valquíria odiava ser ameaçada, mas eu vi algo a mais ali: medo.
— O que você quer? — ela rosnou, os dentes cerrados.
— Sua cooperação. Você não vai atrapalhar nossas operações. — minha voz era calma, mas cheia de propósito. — E, em troca, eu guardo o seu segredo. Recado da Serpente.
Ela me olhou por um longo momento, como se decidisse entre me matar ali mesmo ou aceitar a barganha. No fim, o medo venceu.
— Fechado. — sussurrou, antes de se afastar.
Foi a primeira vitória que conquistei sozinha, e isso acendeu algo em mim. Eu começava a entender o jogo.
Logo depois disso, Serpente pediu uma reunião com a diretora Sônia Vidal. O motivo oficial era minha gravidez. A comida servida na prisão* estava cada vez pior, e Serpente sabia que, se eu quisesse manter a força para proteger Laila, precisaria de mais do que a porcaria que jogavam no nosso prato todos os dias.
A reunião aconteceu na sala da diretora, um lugar frio e organizado demais para um espaço dentro de uma prisão tão caótica. Sônia estava sentada atrás da mesa, com uma expressão calma e indiferente.
— Você sabe que não posso fazer mudanças específicas para detentas individuais. — disse Sônia, acendendo um cigarro. — Se abrir uma exceção para uma, terei que abrir para todas.
— Não tô pedindo. Tô exigindo. — Serpente respondeu, firme. — Ela precisa de comida decente, ou você vai ter problemas maiores.
Sônia soltou uma risada curta, sem humor.
— Você pode ser grande aqui dentro, Serpente, mas eu sou a lei. E posso cortar suas regalias se continuar me desafiando.
Antes que a diretora pudesse reagir, Serpente se levantou e a pressionou contra a parede, o cigarro da diretora caindo ao chão. Sua mão apertou o pescoço de Sônia com força.
— Escuta bem, Sônia. — Serpente sussurrou, os olhos brilhando de fúria. — Se você mexer comigo ou com a Suraya, sua família não vai ver o sol nascer. Tenho homens lá fora que fariam isso sem piscar e você, sabe melhor que ninguem.
Sônia, com o rosto tenso, manteve a calma mesmo enquanto era pressionada. Ela sabia que Serpente não estava blefando.
— Você não ganha nada com violência. — murmurou a diretora, sem ar.
Serpente afrouxou o aperto apenas o suficiente para que ela pudesse falar.
— Você quer seu bônus no fim do mês, não quer? Então faça o que tô pedindo.
Depois de um momento de silêncio tenso, Sônia assentiu, relutante.
— Vocês terão o que pedem. Mas não esqueçam que eu ainda sou a dona desse lugar.
Serpente soltou a diretora com um sorriso frio.
— E a Suraya vai pra minha cela 1001 quando o bebê nascer.
Sônia ajeitou a gola da camisa e limpou a garganta, tentando recuperar a dignidade.
— Fechado. — disse ela, com um brilho sombrio nos olhos.
Depois da reunião com Sônia, as coisas começaram a mudar. A comida servida para mim melhorou, e Serpente ganhou ainda mais influência. Agora, era oficial: quando Laila nascesse, eu seria transferida para a cela 1001, ao lado de Serpente.
A vitória naquela negociação foi mais do que uma simples conquista. Foi um sinal de que o poder estava ao nosso alcance.
E eu estava pronta para pegar tudo o que pudesse — não por ambição, mas por sobrevivência.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
♡Pyetra♡
Espero q elas fiquem migas de vdd
2024-12-28
1
Elenilda Ferreira
O jogo do poder quem faz a melhor jogada vence.
2024-12-28
2