Capítulo 13: Mudanças no Poder

Os dias se arrastavam no Instituto Santa Helena, e eu começava a aprender que, dentro dessas paredes, o tempo não era apenas um inimigo — era uma tortura. Cada minuto que passava sem notícias do advogado, cada promessa de liberdade que não se cumpria, era uma faca que me cortava um pouco mais fundo. A esperança era perigosa. Era um luxo que eu não podia mais me permitir.

E ainda assim, Esther não desistia. Ela continuava lutando por mim lá fora, enquanto aqui dentro, tudo parecia afundar em escuridão.

Estava deitada no colchão fino quando um guarda me chamou para uma reunião com o advogado. No fundo, eu sabia que essa audiência seria mais uma batalha perdida, mas uma pequena parte de mim, aquela que se recusava a morrer, ainda esperava.

Dr. Montenegro estava sentado à mesa da sala de visitas, seu rosto cansado e sério. Ao lado dele, Esther se mantinha ereta, os olhos fixos em mim, como se a determinação dela fosse suficiente para me manter em pé. Quando me sentei, o advogado suspirou e começou a falar.

— A audiência foi adiada.

As palavras dele foram como um soco no estômago. Por um momento, não consegui responder. Eu sabia que isso era uma possibilidade, mas ouvir a confirmação foi devastador.

— Adiamento? Como assim? — perguntei, tentando não deixar minha voz falhar. Lutei para manter a máscara intacta, mas por dentro, eu estava ruindo.

— O juiz não pôde comparecer. Alegaram problemas administrativos. — Montenegro esfregou as têmporas, claramente frustrado. — Vamos marcar uma nova data, mas... vai demorar.

O chão pareceu sumir sob meus pés. O tempo dentro da prisão era cruel, e cada adiamento significava mais meses — talvez anos — antes de eu sequer ter a chance de lutar pela minha liberdade.

Esther tocou minha mão por cima da mesa.

— Não desista, minha filha. — Sua voz era suave, mas cheia de força.

Mas, naquele momento, eu só conseguia sentir raiva e desespero.

— Por que continuar tentando, Esther? — murmurei, baixando o olhar. — Eles não vão me deixar sair daqui. Nunca vão.

— Você precisa acreditar. — Esther apertou minha mão com firmeza. — Se você desistir, eles vencem.

De volta à cela, o peso do fracasso se instalou sobre mim como um cobertor gelado. Cada parte de mim gritava para desistir. Por que continuar lutando? Por que continuar respirando, sabendo que o mundo lá fora não queria mais saber de mim?

Até Laila, minha razão para sobreviver, parecia uma ideia distante e impossível. Como eu poderia protegê-la nesse inferno? E se tudo fosse em vão? Se eu nunca saísse dali? Se minha filha nascesse e fosse tirada de mim, como fizeram com tudo mais?

Marília, percebendo meu silêncio incomum, se aproximou e sentou ao meu lado no colchão.

— Eu sei que é difícil. — murmurou, apertando os joelhos contra o peito. — Mas você não pode deixar eles te quebrar.

Eu balancei a cabeça, tentando afastar as lágrimas que ameaçavam vir. **Na prisão, lágrimas eram um risco — uma janela aberta para os outros verem sua fraqueza.

Serpente percebeu minha hesitação. Ela sempre percebia quando alguém começava a ceder à escuridão. Como uma predadora, ela farejava o medo e a dúvida e atacava no momento certo.

Naquela mesma noite, fui levada para a solitária, sem aviso, por ordem de Serpente. Era um teste. Serpente queria ver se eu era forte o suficiente para continuar ao lado dela.

A solitária era um buraco escuro e frio, onde o tempo deixava de existir. Não havia barulho, exceto o som dos meus próprios pensamentos ecoando na minha cabeça. Cada segundo ali parecia um ano, e o silêncio se tornava mais pesado que qualquer corrente.

Eu não sabia quanto tempo fiquei lá. Horas, dias... talvez mais. O tempo e a escuridão se misturaram em um pesadelo contínuo, mas não desmoronei. Sobrevivi à fome, ao frio e à solidão porque tinha algo mais pelo que lutar.

Quando finalmente fui retirada, Serpente estava do lado de fora, fumando um cigarro com calma.

— E então, princesa? Vai quebrar? — perguntou, soprando a fumaça para o lado.

— Não dessa vez. — respondi, sem emoção. Por dentro, estava exausta, mas não daria a ela o prazer de ver minha fraqueza.

Serpente deu um sorriso de canto.

— Bom. Porque você vai precisar ser mais forte do que nunca.

No dia seguinte, uma convocação inesperada veio da diretora Sônia Vidal. Eu nunca a tinha visto pessoalmente até aquele momento. A maioria das detentas temia a diretora como se ela fosse uma sombra onipresente, um poder invisível que controlava tudo.

Quando entrei em sua sala, Sônia estava sentada atrás de uma mesa impecavelmente organizada. Seu olhar era frio e calculista, o tipo de olhar de alguém que já viu o pior da humanidade e aprendeu a usar isso a seu favor.

— Sente-se, Suraya. — A voz dela era calma, mas não havia gentileza nela.

Obedeci em silêncio, esperando pelo motivo daquela convocação.

— Eu sei de tudo o que acontece aqui dentro. — disse ela, sem rodeios. — E sei que você tem se aproximado da Serpente.

Meu corpo enrijeceu, mas mantive a expressão neutra. Qualquer palavra errada naquela sala poderia ser minha sentença.

— Serpente não é invencível. — continuou Sônia, inclinando-se ligeiramente para frente. — E nem você.

Ela me observou por um momento, avaliando cada movimento meu.

— Nada acontece em Santa Helena sem que eu permita. — Ela acendeu um cigarro, o gesto lento e controlado. — E se você quiser sobreviver, terá que entender isso.

As palavras dela eram um aviso claro: Se eu quisesse subir na hierarquia, precisaria jogar de acordo com suas regras. Sônia era a peça mais poderosa do tabuleiro, e eu precisava decidir como lidar com ela.

De volta à cela, as palavras de Sônia ecoavam na minha mente. Ela controlava tudo. Se eu quisesse sobreviver e proteger minha filha, precisaria entender o jogo dela — e jogá-lo melhor.

Marília me esperava sentada no colchão, os olhos cheios de preocupação.

— Tudo bem? — perguntou, com a voz baixa.

— Vai ficar. — respondi, mais para mim mesma do que para ela.

Naquela noite, senti Laila se mover de novo, como um lembrete silencioso de que eu ainda tinha uma razão para continuar. Por ela, eu enfrentaria Sônia, Valquíria, Serpente e quem mais tentasse me derrubar.

Eu não sabia como, mas encontraria uma forma de sobreviver e vencer aquele jogo. Não por mim, mas por minha filha.

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Comments

Heliana Almeida

Heliana Almeida

alguém pode me dizer qual o nome do primeiro livro, tô lendo esse agora pela primeira vez, apareceu pra mim

2025-02-16

1

Amira Chehade

Amira Chehade

A Marta deve ser a mãe do sobrinho, foi vingança...

2025-01-30

2

♡Pyetra♡

♡Pyetra♡

Como e Isso!? Ele fala isso nessa calma, tbm, n e ele q vai voltar para aquela inferno!
Eu trazia o juíz mesmo do infern0, que desaforo

2024-12-28

2

Ver todos
Capítulos
1 Avisos
2 Prólogo
3 Capítulo 1: O começo do Fim
4 Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5 Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6 Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7 Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8 Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9 Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10 Capítulo 8: Confirmação Brutal
11 Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12 Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13 Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14 Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15 Capítulo 13: Mudanças no Poder
16 Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17 Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18 Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19 Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20 Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21 Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22 Capítulo 20: O Último Trimestre
23 Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24 Capítulo 21: A Filha Arrancada
25 Capítulo 22: A Tortura Final
26 Capítulo 23: A Escuridão
27 Capítulo 24: O Grande Confronto
28 Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29 Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30 Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31 Capítulo 28: O Controle Total
32 Capítulo 29: A História de Rato
33 Capítulo 30: Laila e o Futuro
34 Capítulo 31: A Revolta e Queda
35 Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36 Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37 Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38 Capítulo 34: As Sombras se Movem
39 Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40 Capítulo 36: O Preço da Dívida
41 Capítulo 37: O Novo Diretor
42 Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43 Capítulo 39: O Estopim do Caos
44 Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45 Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46 Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47 Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48 Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49 Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50 Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51 Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52 Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53 Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54 Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55 Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56 Capítulo 52: Confronto com o Passado
57 Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58 Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59 Capítulo 55: A Grande Batalha
60 Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61 Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62 Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63 Capítulo 59: A Última Palavra
64 Epílogo: Liberdade
65 Nota de Agradecimento aos Leitores
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Avisos
2
Prólogo
3
Capítulo 1: O começo do Fim
4
Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5
Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6
Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7
Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8
Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9
Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10
Capítulo 8: Confirmação Brutal
11
Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12
Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13
Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14
Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15
Capítulo 13: Mudanças no Poder
16
Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17
Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18
Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19
Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20
Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21
Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22
Capítulo 20: O Último Trimestre
23
Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24
Capítulo 21: A Filha Arrancada
25
Capítulo 22: A Tortura Final
26
Capítulo 23: A Escuridão
27
Capítulo 24: O Grande Confronto
28
Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29
Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30
Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31
Capítulo 28: O Controle Total
32
Capítulo 29: A História de Rato
33
Capítulo 30: Laila e o Futuro
34
Capítulo 31: A Revolta e Queda
35
Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36
Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37
Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38
Capítulo 34: As Sombras se Movem
39
Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40
Capítulo 36: O Preço da Dívida
41
Capítulo 37: O Novo Diretor
42
Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43
Capítulo 39: O Estopim do Caos
44
Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45
Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46
Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47
Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48
Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49
Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50
Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51
Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52
Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53
Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
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Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55
Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56
Capítulo 52: Confronto com o Passado
57
Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58
Capítulo 54: O Declínio do Diretor
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Capítulo 55: A Grande Batalha
60
Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61
Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62
Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63
Capítulo 59: A Última Palavra
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Epílogo: Liberdade
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Nota de Agradecimento aos Leitores

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