Os dias se arrastavam no Instituto Santa Helena, e eu começava a aprender que, dentro dessas paredes, o tempo não era apenas um inimigo — era uma tortura. Cada minuto que passava sem notícias do advogado, cada promessa de liberdade que não se cumpria, era uma faca que me cortava um pouco mais fundo. A esperança era perigosa. Era um luxo que eu não podia mais me permitir.
E ainda assim, Esther não desistia. Ela continuava lutando por mim lá fora, enquanto aqui dentro, tudo parecia afundar em escuridão.
Estava deitada no colchão fino quando um guarda me chamou para uma reunião com o advogado. No fundo, eu sabia que essa audiência seria mais uma batalha perdida, mas uma pequena parte de mim, aquela que se recusava a morrer, ainda esperava.
Dr. Montenegro estava sentado à mesa da sala de visitas, seu rosto cansado e sério. Ao lado dele, Esther se mantinha ereta, os olhos fixos em mim, como se a determinação dela fosse suficiente para me manter em pé. Quando me sentei, o advogado suspirou e começou a falar.
— A audiência foi adiada.
As palavras dele foram como um soco no estômago. Por um momento, não consegui responder. Eu sabia que isso era uma possibilidade, mas ouvir a confirmação foi devastador.
— Adiamento? Como assim? — perguntei, tentando não deixar minha voz falhar. Lutei para manter a máscara intacta, mas por dentro, eu estava ruindo.
— O juiz não pôde comparecer. Alegaram problemas administrativos. — Montenegro esfregou as têmporas, claramente frustrado. — Vamos marcar uma nova data, mas... vai demorar.
O chão pareceu sumir sob meus pés. O tempo dentro da prisão era cruel, e cada adiamento significava mais meses — talvez anos — antes de eu sequer ter a chance de lutar pela minha liberdade.
Esther tocou minha mão por cima da mesa.
— Não desista, minha filha. — Sua voz era suave, mas cheia de força.
Mas, naquele momento, eu só conseguia sentir raiva e desespero.
— Por que continuar tentando, Esther? — murmurei, baixando o olhar. — Eles não vão me deixar sair daqui. Nunca vão.
— Você precisa acreditar. — Esther apertou minha mão com firmeza. — Se você desistir, eles vencem.
De volta à cela, o peso do fracasso se instalou sobre mim como um cobertor gelado. Cada parte de mim gritava para desistir. Por que continuar lutando? Por que continuar respirando, sabendo que o mundo lá fora não queria mais saber de mim?
Até Laila, minha razão para sobreviver, parecia uma ideia distante e impossível. Como eu poderia protegê-la nesse inferno? E se tudo fosse em vão? Se eu nunca saísse dali? Se minha filha nascesse e fosse tirada de mim, como fizeram com tudo mais?
Marília, percebendo meu silêncio incomum, se aproximou e sentou ao meu lado no colchão.
— Eu sei que é difícil. — murmurou, apertando os joelhos contra o peito. — Mas você não pode deixar eles te quebrar.
Eu balancei a cabeça, tentando afastar as lágrimas que ameaçavam vir. **Na prisão, lágrimas eram um risco — uma janela aberta para os outros verem sua fraqueza.
Serpente percebeu minha hesitação. Ela sempre percebia quando alguém começava a ceder à escuridão. Como uma predadora, ela farejava o medo e a dúvida e atacava no momento certo.
Naquela mesma noite, fui levada para a solitária, sem aviso, por ordem de Serpente. Era um teste. Serpente queria ver se eu era forte o suficiente para continuar ao lado dela.
A solitária era um buraco escuro e frio, onde o tempo deixava de existir. Não havia barulho, exceto o som dos meus próprios pensamentos ecoando na minha cabeça. Cada segundo ali parecia um ano, e o silêncio se tornava mais pesado que qualquer corrente.
Eu não sabia quanto tempo fiquei lá. Horas, dias... talvez mais. O tempo e a escuridão se misturaram em um pesadelo contínuo, mas não desmoronei. Sobrevivi à fome, ao frio e à solidão porque tinha algo mais pelo que lutar.
Quando finalmente fui retirada, Serpente estava do lado de fora, fumando um cigarro com calma.
— E então, princesa? Vai quebrar? — perguntou, soprando a fumaça para o lado.
— Não dessa vez. — respondi, sem emoção. Por dentro, estava exausta, mas não daria a ela o prazer de ver minha fraqueza.
Serpente deu um sorriso de canto.
— Bom. Porque você vai precisar ser mais forte do que nunca.
No dia seguinte, uma convocação inesperada veio da diretora Sônia Vidal. Eu nunca a tinha visto pessoalmente até aquele momento. A maioria das detentas temia a diretora como se ela fosse uma sombra onipresente, um poder invisível que controlava tudo.
Quando entrei em sua sala, Sônia estava sentada atrás de uma mesa impecavelmente organizada. Seu olhar era frio e calculista, o tipo de olhar de alguém que já viu o pior da humanidade e aprendeu a usar isso a seu favor.
— Sente-se, Suraya. — A voz dela era calma, mas não havia gentileza nela.
Obedeci em silêncio, esperando pelo motivo daquela convocação.
— Eu sei de tudo o que acontece aqui dentro. — disse ela, sem rodeios. — E sei que você tem se aproximado da Serpente.
Meu corpo enrijeceu, mas mantive a expressão neutra. Qualquer palavra errada naquela sala poderia ser minha sentença.
— Serpente não é invencível. — continuou Sônia, inclinando-se ligeiramente para frente. — E nem você.
Ela me observou por um momento, avaliando cada movimento meu.
— Nada acontece em Santa Helena sem que eu permita. — Ela acendeu um cigarro, o gesto lento e controlado. — E se você quiser sobreviver, terá que entender isso.
As palavras dela eram um aviso claro: Se eu quisesse subir na hierarquia, precisaria jogar de acordo com suas regras. Sônia era a peça mais poderosa do tabuleiro, e eu precisava decidir como lidar com ela.
De volta à cela, as palavras de Sônia ecoavam na minha mente. Ela controlava tudo. Se eu quisesse sobreviver e proteger minha filha, precisaria entender o jogo dela — e jogá-lo melhor.
Marília me esperava sentada no colchão, os olhos cheios de preocupação.
— Tudo bem? — perguntou, com a voz baixa.
— Vai ficar. — respondi, mais para mim mesma do que para ela.
Naquela noite, senti Laila se mover de novo, como um lembrete silencioso de que eu ainda tinha uma razão para continuar. Por ela, eu enfrentaria Sônia, Valquíria, Serpente e quem mais tentasse me derrubar.
Eu não sabia como, mas encontraria uma forma de sobreviver e vencer aquele jogo. Não por mim, mas por minha filha.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Heliana Almeida
alguém pode me dizer qual o nome do primeiro livro, tô lendo esse agora pela primeira vez, apareceu pra mim
2025-02-16
1
Amira Chehade
A Marta deve ser a mãe do sobrinho, foi vingança...
2025-01-30
2
♡Pyetra♡
Como e Isso!? Ele fala isso nessa calma, tbm, n e ele q vai voltar para aquela inferno!
Eu trazia o juíz mesmo do infern0, que desaforo
2024-12-28
2