CAP-14 " A ESCOLHA DE MIRELLA"

As portas do bordel se abriram, revelando um ambiente mergulhado em luzes vermelhas e fumaça densa. O cheiro de bebidas caras, perfumes intensos e cigarro misturava-se no ar, criando uma atmosfera decadente e provocativa. Mirella e Bia atravessaram o corredor central, sentindo os olhares famintos dos homens que as observavam como predadores avaliando suas presas.

No topo de uma escadaria decorada com corrimãos dourados, Madame Lívia aguardava. Seu vestido preto colado ao corpo brilhava sob as luzes, e seu sorriso carregava um misto de arrogância e controle absoluto.

— Vocês têm cinco minutos para se trocarem — anunciou, com sua voz firme. — Não me façam esperar.

Mirella sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Cada palavra da madame era um lembrete de onde ela estava. Sem dizer nada, seguiu Bia até o vestiário, onde foram recebidas por outras garotas que ajustavam suas roupas provocantes e compartilhavam olhares cúmplices.

— Você está nervosa? — perguntou Bia, enquanto prendia os cabelos em um coque desleixado e sensual.

— Um pouco — respondeu Mirella, tentando não demonstrar insegurança.

— Vai se acostumar. Esse lugar te engole no início, mas depois... — Bia parou, suspirando. — Depois, você aprende a jogar o jogo.

Mirella não respondeu, apenas ajustou o vestido curto que a madame havia escolhido. A peça abraçava suas curvas, destacando cada detalhe de seu corpo. Quando terminou, as duas subiram de volta ao salão principal, onde a música alta e os risos exagerados preenchiam o espaço.

Bia foi direto ao palco central. Com passos firmes e sensuais, subiu na barra de pole dance e começou a dançar. Cada movimento seu arrancava gritos e aplausos dos clientes.

Mirella, por outro lado, foi abordada por uma mulher de cabelos loiros curtos e maquiagem pesada.

— Você é a novata, certo? — perguntou, com um sorriso que não alcançava os olhos.

— Sim.

— Venha comigo.

A mulher a conduziu até um balcão, onde entregou uma bandeja com drinks coloridos e brilhosos.

— Sua área é o andar de cima, as seções VIP. Entregue os drinks e sorria. Mas, preste atenção, seja educada, não importa o que aconteça.

Mirella engoliu em seco, mas assentiu. Subiu as escadas com a bandeja em mãos, sentindo os olhares dos clientes acompanhando cada movimento. Quando chegou ao andar superior, percebeu que a atmosfera ali era ainda mais pesada. Homens fumavam cigarros enquanto conversavam em tom baixo, cercados por mulheres que riam exageradamente, suas mãos deslizando pelos ombros dos clientes.

Um dos homens, sentado em um sofá de couro escuro, levantou o copo para ela.

— Garçonete! Aqui! — sua voz era áspera e autoritária.

Mirella caminhou até ele, mantendo a postura elegante que tentava adotar desde o início da noite.

— Aqui está, senhor. — Ela serviu o drink com precisão, evitando contato visual direto.

— Olha só... Você é nova aqui, não é? — Ele puxou uma tragada do cigarro, soltando a fumaça devagar. — Interessante.

Mirella não respondeu, apenas sorriu educadamente e saiu antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

Enquanto isso, no salão principal, Madame Lívia observava tudo de longe, sentada em um sofá central. Ao seu lado, Ricardo, um dos frequentadores mais influentes do clube, derramava uísque no copo com movimentos relaxados.

— Madame, que moça você sugere para esta noite? — perguntou ele, seu olhar preguiçoso deslizando pelas garotas no salão.

Lívia arqueou uma sobrancelha, tomando um gole de champanhe antes de responder.

— Depende do que você procura, Ricardo. Temos Bia no palco, sempre popular. Juliana está na sala privada, e Gabriela acabou de descer.

Ricardo não pareceu interessado. Seu olhar se fixou em Mirella, que atravessava o salão superior com a bandeja de drinks.

— Quero aquela.

Lívia acompanhou seu olhar e franziu o cenho.

— Aquela não é uma das minhas garotas. Ela está aqui como garçonete, não como acompanhante.

Ricardo sorriu de lado, inclinando-se para frente.

— Madame, você sabe que sempre pago bem. Faça dela uma de suas moças e eu garanto que valerá a pena.

— Essa decisão não cabe apenas a mim, Ricardo. Além disso, ela não parece o tipo que aceitaria.

— Por dinheiro suficiente, todo mundo aceita.

Lívia suspirou. Ricardo era insistente, mas não respondeu. Em vez disso, voltou sua atenção para um assistente que se aproximava com um maço de cartões pretos em mãos.

— Madame, recebemos 132.000 ofertas esta noite.

Lívia pegou os cartões, analisando-os rapidamente. — Qual é o menor valor?

— Doze milhões.

Lívia riu, mas o som não tinha humor.

— Doze milhões? Esse é o menor?

— O maior é 124 milhões.

Lívia ficou em silêncio por um momento, seus olhos voltando para Mirella.

— Todos esses cartões... são para ela?

— Sim, madame.

Lívia apertou os lábios. Não era comum que uma garçonete chamasse tanta atenção em uma única noite.

— Chame-a para mim.

Mirella foi chamada e desceu até onde Lívia estava.

— Você me chamou, madame?

— Sim. — Lívia entregou os cartões a ela. — Você está disposta a trabalhar como acompanhante esta noite? Cada um desses cartões é uma oferta, e os valores falam por si.

Mirella olhou para os cartões, lendo rapidamente os números exorbitantes. Sentiu o estômago revirar.

— Com todo respeito, madame, mas não estou interessada.

— Pense bem. Você pode ganhar em uma noite o que muitos não ganham em anos.

— Eu agradeço, mas não. Estou aqui para trabalhar como garçonete, e é isso que farei.

Lívia sorriu, mas havia algo frio em seu olhar.

— Como preferir. Mas, se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

Mirella voltou ao trabalho, tentando afastar o desconforto que sentia. Os olhares continuavam, mais intensos do que nunca. Quando a noite finalmente terminou, ela e Bia pegaram um táxi para casa.

— A madame te chamou. O que ela queria? — perguntou Bia.

— Queria que eu me vendesse.

Bia ficou em silêncio por um instante, depois soltou um suspiro pesado.

— Isso é estranho. A madame é seletiva. Ela nunca oferece isso para alguém tão rápido.

— Talvez ela tenha percebido que eu chamei atenção.

— Não foi ela. — Bia olhou diretamente para Mirella. — Foram os clientes. Esses cartões pretos são de bilionários. Eles escolheram você.

Mirella ficou calada, mas seu coração pesava.

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