A verdade de Laura

Cala a boca! Você não vai e acabou! Ouço Renato gritando.

- Você não pode me controlar, não é o meu pai. Não sou sua propriedade! Escuto Laura gritando e parece que está chorando.

Acordei com o grito dos dois.

- Eu mando sim e acabou. Se continua me contrariando eu vou deixar você presa nesse maldito quarto até fazer 40 anos. Renato grita.

- Calma chefe! Dante diz.

- Ela é muito teimosa! Renato grita e Laura apenas chora.

- Não me desafie Laura. Ou vai descobrir o meu outro lado. Ele diz e ouço a porta bater.

- Vamos logo, já perdi muito tempo aqui. Renato diz e ouço os passos. Olho pela janela do quarto de onde vejo a entrada da mansão e vejo que eles sairam. Como terei que fazer uma viagem em dois dias, Renato me poupou.

Eu me troco e vou até o quarto de Laura.

"Toc, Toc"

- Vai embora Renato, me deixa em paz. Ela grita chorando.

- Laura sou eu! Davi. Está tudo bem? Eu pergunto gentilmente.

- Sim! Vá embora! Ela diz.

- Ok! Se precisar de algo estou aqui. Só quero ajudar. Eu digo e vou andando para voltar ao meu quarto.

Quando ela abre a porta e me chama:

- Davi! Desculpe, pode entrar. Ela diz.

Eu retorno e entro em seu quarto. Apesar de Laura ser uma mulher adulta seu quarto tinha uma parede lilás com borboletas brancas em destaque. Uma penteadeira estilo princesa e alguns poster de banda. Parecia o quarto de uma adolescente.

Laura está usando um vestido simples, desta vez azul claro, que realça a sua delicadeza. Seus olhos, que sempre me pareceram calmos e distantes, estão agora carregados de uma emoção que não consigo identificar de imediato.

Ela se senta com uma graciosa leveza, em uma das poltronas que ficam no canto ao lado de uma estante que vai do piso ao teto, repleta de livros. Eu me sento na poltrona ao lado, uma mesinha de canto separava nós dois. Ficamos em silêncio por alguns instantes, enquanto Laura parece procurar as palavras certas para começar a dizer alguma coisa.

- Você está bem? Eu pergunto rompendo o silêncio entre nós.

- Não Davi. Ela começa, hesitante, mas o silêncio invade o espaço novamente.

- Laura pode confiar em mim. Eu ouvi a discussão entre você e seu irmão. Eu digo na esperança de que ela diga alguma coisa.

Ela respira profundamente e começa a dizer.

- Sei que você chegou há pouco tempo e que ainda não me conhece bem, mas... preciso conversar com alguém...alguém que não seja meu irmão.

A menção de Renato parece trazer uma sombra sobre nós, como se ele estivesse sempre presente, mesmo quando não está fisicamente por perto.

- O que está acontecendo Laura? Pergunto, tentando esconder a preocupação crescente em minha voz.

Ela suspira profundamente, seus olhos evitando os meus. É como se estivesse reunindo coragem para continuar.

- Meu irmão... Renato... ele sempre foi muito protetor. Desde que nossos pais morreram, ele tomou para si a responsabilidade de cuidar de mim. Eu era muito jovem quando tudo aconteceu, e Renato, bem, ele praticamente assumiu o papel de pai, mãe e irmão ao mesmo tempo.

Ela faz uma pausa, suas mãos apertando o tecido de seu vestido. Percebo que o que ela está prestes a dizer é difícil, algo que talvez ela tenha mantido guardado por muito tempo.

— E eu sou muito grata a ele, Davi. De verdade. Ele me deu tudo o que eu preciso: uma casa, educação, segurança. Ele sempre foi minha rocha, meu apoio. Ela faz uma pausa como que se revivesse esse momentos.

Laura começa a falar mais rápido, como se estivesse tentando convencer a si mesma da bondade do irmão.

- Ele é bom, você sabe? Ele realmente se importa comigo.

- Eu acredito em você, Laura. Digo calmamente, mas posso ver que essa não é a questão principal.

- Mas tem algo mais, não tem?

Ela acena lentamente, mordendo o lábio inferior, seus olhos brilhando com lágrimas que ela tenta segurar.

- Sim, Davi. Ela diz.

O silêncio volta a se instalar entre nós, mas agora ele é carregado de tensão. Laura está lutando contra suas emoções, e vejo que ela está à beira de um colapso.

- Renato... ele é... muito controlador.

Ela finalmente admite, a voz tremendo.

- Ele não me deixa sair sozinha, não me deixa ver meus amigos. Onde quer que eu vá, tem sempre um segurança me vigiando. É como se eu vivesse em uma gaiola dourada. Eu não tenho liberdade, Davi. E isso... isso está me matando por dentro.

As palavras saem entrecortadas por soluços silenciosos, e eu vejo as lágrimas finalmente escaparem de seus olhos, rolando por suas bochechas. Laura cobre o rosto com as mãos, tentando desesperadamente conter o choro, mas é inútil. O peso da situação é claramente demais para ela.

- Eu sei que ele faz isso porque se preocupa. Continua Laura, sua voz abafada pelas mãos.

- Sei que ele quer me proteger. Mas... eu não sou uma criança, Davi! Eu preciso viver, preciso sentir que tenho algum controle sobre minha vida.

- Acredito que seja apenas excesso de amor. Eu digo tentando apaziguar a situação.

- Eu...eu não entendo, por que tanto medo. Porque tanta preocupação. Não estamos mais na Palestina. Não tem guerra aqui, ele não é mais um soldado. Ela diz.

Realmente era verdade. Laura não sabe que seu irmão é um distribuidor de drogas. Ela não sabe que ele é um criminoso. Mas uma dúvida surgiu, o que aconteceu na Palestina?

- Laura o que aconteceu na Palestina? Eu pergunto.

Ela fecha os olhos, estava revivendo o passado. Ela respira fundo e começa a contar.

- Houve um ataque. Renato lutou para defender o nosso país. Mas uma ataque aereo atingiu a nossa casa e toda nossa família morreu. Exceto Renato que estava em campo e eu que estava na casa de uma amiga fazendo trabalho de escola e na hora dos ataque nos escondemos em um banquer. Ela conta.

- Renato pediu exilio no seu país e desde então moramos aqui.

Ela baixa as mãos, seus olhos encontram os meus, cheios de desespero e vulnerabilidade. É um olhar que me desarma completamente, porque vejo a verdadeira dor que ela carrega. Não é o tipo de dor que pode ser curada com palavras ou promessas vazias. É a dor de alguém que se sente sufocado, preso por correntes invisíveis que se apertam mais a cada dia.

- Eu só quero que ele confie em mim. Eu não vou fazer nada estúpido, não vou fugir. Só quero... viver um pouco, como uma pessoa normal. Sair sem ter que olhar por cima do ombro, fazer amigos, talvez até me apaixonar um dia, sem que isso signifique uma guerra.

O choro de Laura se intensifica, e ela leva as mãos ao rosto novamente, como se estivesse tentando se esconder do mundo, ou talvez de si mesma. Meu coração aperta ao vê-la assim. A imagem que tive dela, de uma jovem forte e serena, agora está desmoronando diante dos meus olhos, revelando uma alma frágil e ferida.

Instintivamente, me aproximo dela e lhe dou um abraço apertado. Ela treme ao toque, mas não se afasta.Seu perfume é suave e marcante e seus cabelos macios e igualmente perfumados.

- Laura, eu... não sei o que dizer. Não sei como ajudar você, mas quero que saiba que estou aqui. Se precisar de um novo amigo, vou amar ter sua amizade. Minha voz é baixa, mas firme.

Laura balança a cabeça, os olhos ainda cheios de lágrimas, mas há uma pequena esperança em seu olhar.

- Obrigada, Davi...é bom saber que agora terei um amigo.

Sinto um peso enorme cair sobre mim. Laura é como um pássaro aprisionado, e cada dia que passa sem que ela possa voar é mais um dia em que suas asas são cortadas.

Laura enxuga as lágrimas com as costas das mãos, tentando recompor-se.

- Eu... sinto muito por ter me derramado assim em cima de você. Ela sorri timidamente, um sorriso que mal toca seus lábios.

- É que não tenho ninguém para falar sobre meus sentimentos...você é...diferente, foi o único que se preocupou comigo. Todos aqui só se importam com o Renato. Ela diz com tristeza.

- Não precisa se desculpar, Laura. Digo, tentando aliviar a tensão.

- A partir de agora pode contar comigo para o que precisar. Eu digo

Ela me olha, e há algo no seu olhar que me faz querer protegê-la a todo custo. Talvez seja a vulnerabilidade, ou talvez seja o fato de que, mesmo em sua fragilidade, ela ainda mantém uma dignidade e força interior que me impressionam.

- Mais uma vez, obrigada.

Lhe dou um sorriso.

- Preciso ir. Depois falamos, qualquer coisa me chame. Eu digo e saio do quarto. Assim que fecho a porta um segurança aparece.

- Você não pode entrar no quarto da Srta Laura sem autorização. O homem diz.

- Ela me autorizou! Eu digo.

- Ela não autoriza nada. Vou reportar ao chefe.

- Fique a vontade. Eu digo e vou para meu quartom

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