O CÂNTICO DOS LOBOS
Há muitos anos, em um vilarejo isolado por uma imponente muralha de pedra, erguida como um escudo contra o desconhecido, vivia uma comunidade marcada por um passado sombrio. Essa muralha não era apenas uma estrutura física; era o símbolo de uma divisão profunda entre os homens comuns e os temidos homens-lobos, uma divisão criada após uma batalha devastadora que resultou na morte de muitos e deixou cicatrizes que se estendiam por gerações.
Foi nesse contexto de tensão e desconfiança que nasceu uma criança extraordinária, Freya, fruto de um amor proibido entre Althea, uma loba de beleza etérea e espírito indomável, e Elias, um homem comum de coração puro. Desde o momento de seu nascimento, Freya carregava o peso desse segredo, um legado que a tornava única em um mundo que não aceitava a fusão entre humanos e seres sobrenaturais.
Dentro da aconchegante cabana, iluminada apenas pela luz suave das chamas que dançavam na lareira, Freya se aninhou ao lado de sua mãe, Althea. O crepitar da madeira criava uma sinfonia tranquila, enquanto o aroma do pinho queimando envolvia o ambiente. Era uma noite especial, e Althea, com sua voz melodiosa, contava à filha uma história que parecia pulsar com a força das antigas tradições, a grande profecia.
— “Quando a lua brilhar como um farol prateado, surgirá um lobo alfa de pelagem negra, destemido e forte, cuja coragem desafiará as trevas. Ao seu lado, uma Alfa de pelagem branca, trará a luz da esperança.
Juntos, sob o manto da noite, eles selarão um pacto sagrado. Com seu amor, unirão os mundos dos homens comuns e dos lobos, trazendo harmonia onde havia discórdia e tecendo uma tapeçaria de paz que ecoará por toda a eternidade.”
Após um momento de silêncio, Freya, sentindo a força da conexão entre elas, virou-se para sua mãe com uma expressão de curiosidade e esperança.
— Mamãe, eu sou igual a você? perguntou, a inocência de suas palavras contrastando com a profundidade da ancestralidade que pulsava em suas veias.
Althea sorriu, envolvendo a filha em um abraço apertado.
— Sim, minha querida. Você é parte de ambos os mundos. Carrega em si a força da loba e a coragem do homem. Você é um símbolo de união, e seu destino será tão grandioso quanto a profecia que acabamos de contar.
O ambiente sereno da cabana foi abruptamente interrompido quando a porta se abriu de repente, revelando Elias, que entrou em um estado de pânico visível. Seu rosto estava pálido, e os olhos arregalados refletiam um terror que fez o coração de Freya disparar.
— Vocês têm que fugir, agora! exclamou ele, a voz trêmula, deixando Althea e Freya assustadas e sem saber como reagir.
Althea, que até então havia estado concentrada na segurança de sua família, rapidamente pegou o braço de Freya, seus instintos maternais disparando. Ela olhou para Elias, buscando entender a gravidade da situação.
— Venha com a gente! disse ela, a determinação se misturando à urgência em sua voz.
— Eu irei despistá-los, Elias falou, a respiração pesada enquanto ele tentava manter a calma. Sabia que o perigo estava se aproximando e que precisava agir rápido.
Althea olhou para ele, uma tristeza profunda transparecendo em seus olhos. Ela se aproximou, e em um gesto carregado de emoção, beijou-o pela última vez, um selinho breve, mas repleto de significado. — Eu te amo! sussurrou, a voz quase se perdendo na intensidade do momento.
Os dois se despediram, sabendo que aquele poderia ser o último instante juntos. Elias, com uma expressão resoluta, virou-se e esperou na porta, pronto para enfrentar os homens de seu vilarejo.
Althea, segurando firmemente a mão de Freya, levou a filha para a floresta.
Elas correram entre as árvores, o som de seus pés pisando no chão coberto de folhas ecoando na noite silenciosa. A lua cheia acima delas iluminava o caminho, como se estivesse guiando-as em sua fuga desesperada,
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Doze anos se passaram desde aquela noite fatídica, marcada pela fuga apressada e pela separação que moldou o destino de Freya. Agora, com 18 anos, ela se tornara uma bela moça, com cabelos longos e ondulados que refletiam a luz do sol como fios de ouro, e olhos claros profundos, que pareciam captar a essência da floresta ao seu redor.
Freya
Freya vivia em um pequeno abrigo construído entre as árvores altas e majestosas, longe dos homens comuns e dos lobos. A floresta era seu lar, um lugar que a acolhia e a protegia, mas também a isolava do mundo que uma vez conhecera. Desde a morte de sua mãe, alguns anos após a fuga, a jovem aprendera a se tornar autossuficiente. Althea, em seus últimos dias, havia lhe ensinado as artes da sobrevivência: como cultivar ervas e plantas, como caçar e pescar, e, acima de tudo, como ouvir a voz da floresta.
Apesar de seu desejo de se conectar com o legado de sua mãe, Freya nunca se transformou em lobo. A habilidade que deveria ser uma parte dela permanecia adormecida, uma lembrança distante de um mundo que parecia cada vez mais irreal.
Em seus momentos de solidão, Freya costumava vagar pela floresta, observando a vida ao seu redor. Ela se tornara uma parte do ecossistema, respeitada pelos animais e pelas plantas que conhecia tão bem. As árvores eram suas amigas, e o vento que soprava através das folhas lhe sussurrava segredos.
Longe dali, no território dos homens-lobos, a matilha vivia em harmonia com a natureza. O sol da manhã filtrava-se através das árvores, criando um padrão de luz e sombra no solo coberto de folhas. A atmosfera estava cheia de risos e conversas entre os membros da matilha, que se reuniam para se alimentarem antes de iniciarem suas atividades diárias.
— Althea era a mulher mais linda que eu já conheci — disse Lucky, uma figura respeitada entre os homens-lobos e um dos betas mais fortes da matilha. Os olhos dele brilhavam com nostalgia enquanto falava sobre a mãe de Freya. — Ela era forte, destemida, e tinha um coração que se importava com todos nós.
— E o que aconteceu com ela, tio? — perguntou Órion, o alfa da matilha, um homem forte e imponente.
Órion
— Até hoje não sabemos — Lucky respondeu, uma expressão de tristeza passando por seu rosto. — Alguns dizem que ela morreu na floresta, outros dizem que ela foi morar com os homens comuns, longe de nós. A verdade é que nunca conseguimos ter certeza.
Ele suspirou, olhando para o horizonte como se esperasse ver Althea emergir das sombras do passado.
— Bom, não vou ocupar o tempo do Alfa com histórias tristes — disse Lucky, tentando mudar o tom da conversa. Um leve sorriso se formou em seus lábios; ele sempre preferia focar nas memórias alegres.
— Eu sempre terei tempo para suas histórias, tio! — exclamou Órion, sua voz cheia de carinho e respeito.
— Talvez esteja na hora de encontrar uma luna para você, Órion! — sugeriu Lucky, piscando para o sobrinho, que era tanto seu pupilo quanto um filho para ele.
— Talvez eu encontre a loba branca das profecias... — disse Órion, soltando uma risada descontraída, mas no fundo, havia um fio de curiosidade e esperança em suas palavras. Ele sempre ouvira as histórias sobre a antiga profecia.
Enquanto a risada ecoava pelo acampamento, um novo dia começava, e com ele, a promessa de que os laços da matilha se tornariam ainda mais fortes, mesmo diante das incertezas que o futuro pudesse trazer.
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Atualizado até capítulo 48
Comments
Regina
começando a ler o livro dia 18/11/24
2024-11-18
0
Kryssia patricia Dos santos pereira
hj 08/11 dando início a 5 de 5 livros que escolhi pra le , os outros 4 parei no capítulos inicias
2024-11-09
0
Giordana
História bem interessante, já quero ver no que vai dar!!
2024-10-31
0