Capítulo Dezenove

Dante

Estou no meu escritório, sentado à grande mesa de que domina o centro da sala.

A luz suave de um abajur moderno ilumina os papéis espalhados à minha frente. O silêncio é quebrado apenas pelo som dos dedos de Max tamborilando levemente no braço da poltrona à minha frente. Ele está aqui há algum tempo, mas nossas conversas sempre são estratégicas e diretas. Hoje, no entanto, há algo mais no ar. Algo que transcende o simples jogo de poder e vingança.

Max observa-me com seus olhos calculistas, a expressão neutra, mas eu sei que, por dentro, ele está tão alerta quanto eu. É a natureza do nosso trabalho. A confiança que temos um no outro é forjada em anos de sangue, suor e lealdade. Mas nunca, nunca, permitimos que essa confiança nos cegue para o fato de que, no final das contas, estamos sempre no fio da navalha.

— Consegui as informações que você pediu — Max começa, sem rodeios, puxando uma pasta de couro de sua bolsa e colocando-a sobre a mesa. A pasta parece pesada, carregada de segredos que podem mudar tudo.

— O casal que você mencionou... São Joseph e Katherine Mills.

O nome ecoa em minha mente, como um eco de algo há muito esquecido. Abro a pasta lentamente, minhas mãos segurando o couro macio enquanto puxo os documentos.

— Eles morreram há cerca de vinte anos, em um acidente de carro. — Max continua, a voz baixa, como se estivesse compartilhando um segredo sombrio.

— Mas não foi um acidente comum. Há indícios de que o carro deles foi sabotado.

Olho para as fotos e documentos dentro da pasta. Joseph e Katherine Mills. Um casal jovem, sorridente, a felicidade evidente em seus rostos. Mas o que realmente me chama a atenção é a foto de uma mulher grávida. Katherine, com uma barriga proeminente, posando ao lado de Dorothy Rossette. Meu estômago se revira ao ver a imagem, as peças começando a se encaixar na minha mente.

— O homem, Joseph Mills, era irmão do atual governador do Texas — Max continua, puxando mais um documento para mim.

— E Katherine, bem... ela estava grávida de uma menina. A certidão de nascimento foi registrada poucos dias antes do acidente. Dizem que a bebê também morreu no acidente, mas...

Max hesita, os olhos encontrando os meus, como se não tivesse certeza se deveria continuar. Mas eu faço um sinal para que ele continue.

— Eu encontrei uma certidão de nascimento, o que é estranho considerando que deveria haver um registro de óbito, mas não há. E mais estranho ainda... as datas coincidem perfeitamente com a data de nascimento da filha dos Rossette, Safira.

O silêncio entre nós se torna opressor. Seguro a foto de Katherine em minhas mãos, observando o sorriso dela. É um sorriso de uma mãe cheia de esperança, uma mulher que acreditava em um futuro brilhante para sua filha. E, no entanto, tudo isso foi tirado dela, assim como minha família foi tirada de mim.

Max continua, a voz séria:

— Parece que os Rossette tomaram Safira logo após o acidente, eles a colocaram em um orfanato o qual Dorothy era responsável, talvez para disfarçar o crime e depois que Safira tinha sete anos eles a levaram para casa. Eles forjaram os documentos, incluindo a entrada na maternidade, e criaram essa história de que Dorothy estava grávida. Há muitas pontas soltas, mas o suficiente para começar a pressioná-los. Agora sabemos que Safira não é filha deles.

Sinto uma mistura de emoções me dominar. Raiva... e algo mais, algo que não consigo nomear. Eles roubaram a vida dessa garota, como roubaram a minha. E por que? Para encobrir outro crime? Para manipular uma criança e usá-la como peça de seu jogo doentio?

Eu respiro fundo, tentando manter o controle. Há muito em jogo agora. Não posso me deixar consumir pela raiva. Preciso ser frio, calculista... mas é difícil.

— E quanto a Barbosa? — pergunto, mudando de assunto, precisando de algo tangível para me agarrar.

Max sorri de lado, um sorriso que conheço bem. É o sorriso de um predador que já preparou sua armadilha.

— Já começamos a puxar os fios. Vários golpes financeiros, todos executados com perfeição. Em alguns dias, Barbosa começará a sentir o chão desmoronar sob seus pés. Com a ajuda da máfia, conseguimos desviar uma quantia significativa das contas dele, e ainda mais importante... deixamos rastros que apontam para seus próprios homens. Ele vai começar a desconfiar de todos ao seu redor. Em breve, não terá onde se esconder.

— Excelente — murmuro, meu tom carregado de satisfação. Saber que Barbosa vai cair, e que será apenas o começo de seu inferno pessoal, é uma pequena vitória em meio a toda essa confusão.

— E quanto aos Rossette?

Max hesita novamente, e sei que o que ele está prestes a dizer é importante.

— Eu tenho provas o suficiente para colocar Samuel e Dorothy na prisão pelo resto de suas vidas. Fraude fiscal, lavagem de dinheiro... eles são culpados de tudo pelo que estão sendo acusados. E, além disso, eu tenho provas de que eles foram os responsáveis pelo incêndio que matou sua família, Dante. — Ele faz uma pausa, deixando que a gravidade das palavras se assente em mim.

— Isso significa que podemos derrubá-los quando quisermos. Só precisamos decidir o momento certo.

Minhas mãos apertam o encosto da cadeira, a raiva misturada com satisfação pulsando em minhas veias. Isso é o que eu estava esperando. A prova, a confirmação de que eles são os culpados. E agora, com essas provas, posso não apenas destruí-los, mas garantir que paguem por tudo o que fizeram. E Damien... bem, ele pode até controlar muita coisa, mas não me controlará quando eu estiver cara a cara com Samuel e Dorothy para fazer justiça, tenho quase todas as provas para que eles sejam condenados a morte

— Vamos dar início ao plano, Max — digo, a voz firme, sem hesitação.

— Os Rossette vão cair. E quando eles caírem, será o fim para Samuel e Dorothy. Vamos fazer isso de maneira lenta, calculada. Não quero que eles tenham nenhuma chance de escapar.

Max assente, entendendo perfeitamente o que estou pedindo. Não é apenas uma questão de justiça, é uma questão de vingança. Vingança pela minha família, pela vida que me foi tirada.

Olho para os documentos e fotos espalhados pela mesa. A história de Safira, a verdadeira história dela, é um capítulo que Samuel e Dorothy pensaram ter enterrado há muito tempo. Mas agora, estou desenterrando seus segredos. E cada segredo revelado é uma arma que usarei contra eles.

— A partir de agora, tudo o que fazemos será direcionado para um único objetivo

Max se levanta, o brilho frio nos olhos dele me diz que ele está tão determinado quanto eu.

— Vamos começar imediatamente. — Ele pega os documentos e se prepara para sair, mas antes de ir, ele se vira para mim, a voz um pouco mais baixa:

— E quanto a Safira? Ela vai ser pega no meio disso tudo. Você está preparado para lidar com isso?

A pergunta paira no ar, e, por um momento, hesito. Safira não tem culpa de nada, mas ela é uma peça importante nesse jogo. Não posso me permitir vacilar. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim quer protegê-la, quer tirá-la dessa vida antes que tudo desmorone ao redor dela.

— Eu vou cuidar disso — digo finalmente, a voz baixa, mas determinada.

— Safira é minha responsabilidade agora.

Max apenas assente e sai, deixando-me sozinho no escritório, imerso em pensamentos. Eu sabia que a estrada que escolhi seria árdua, mas agora que estou tão perto do fim, sinto o peso de tudo o que está em jogo.

Os Rossette vão cair. E quando caírem, nada mais ficará no caminho da minha vingança.

Nada.

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