Capítulo Dez

Dante

O motor do carro ronca suavemente enquanto estaciono em frente à sede da máfia americana, um edifício de arquitetura neoclássica que se ergue imponente no interior isolado da cidade. As paredes de mármore branco são adornadas com colunas coríntias e intricados entalhes que retratam cenas de poder e riqueza. As grandes portas de mogno, polidas e ornamentadas com detalhes dourados, marcam a entrada principal, ladeadas por dois homens corpulentos, armados e vigilantes.

Desligo o motor e saio do carro, ajustando meu paletó. O ar ao meu redor é denso, carregado de uma mistura de expectativa e tensão. Sinto o olhar dos guardas sobre mim enquanto fecho a porta do carro com um clique firme.

Antes que eu dê mais alguns passos, um dos soldados de Damien, um homem robusto com uma cicatriz visível no rosto, se aproxima de mim com passos decididos.

-Dante- ele começa, com a voz grave e sem emoção

-O chefe está esperando por você no escritório.

Assinto levemente, passando pelo guarda e seguindo em direção à entrada.

Os grandes portões se abrem revelando um saguão espaçoso e luxuoso. As paredes internas são de mármore bege, decoradas com tapestries e quadros . A iluminação é suave e calorosa, criando um ambiente acolhedor, apesar da natureza sinistra das atividades que ocorrem ali.

Caminho pelo corredor principal, meus passos ecoando no chão de mármore polido. Passo por várias portas fechadas, cada uma guardando segredos e histórias de poder e traição. Os poucos homens que cruzam meu caminho me lançam olhares de reconhecimento, misturados com uma pitada de respeito e receio.

Chego ao elevador no final do corredor e pressiono o botão para o último andar. As portas se fecham com um suspiro mecânico, e a cabine sobe silenciosamente, deixando para trás o burburinho abafado da atividade abaixo.

Quando as portas do elevador se abrem, sou recebido por um longo corredor que leva ao escritório de Damien. A porta de madeira maciça, entalhada com detalhes intricados, parece um portal para um mundo de poder . Respiro fundo, ajeito minha gravata e avanço, empurrando a porta .

O escritório de Damien é espaçoso e sofisticado, com uma janela panorâmica que oferece uma vista impressionante da cidade. A mobília é luxuosa, com estofados de couro escuro e uma mesa de mogno polida. Quadros de paisagens europeias adornam as paredes, contrastando com o ar de opressão que permeia o espaço.

Damien está sentado atrás da mesa, seus olhos frios e calculistas fixos em mim enquanto entro. Ele gesticula para que eu me sente na cadeira em frente a ele.

Enquanto me acomodo na cadeira de couro, percebo algo além do semblante impassível de Damien. Por trás daquela máscara de calma, há uma fúria latente, pronta para explodir a qualquer momento, quando eu completei a idade de entrar na faculdade, foi decidido que eu faria advocacia e que seria devidamente treinado para agir conforme os interesses da família,nada além disso , óbvio que ele esta louco por eu ter me metido em confusão. Damien sempre foi uma bomba-relógio, imprevisível e prestes a detonar, o que o torna um chefe perigoso e temido por todos. Ninguém consegue prever a extensão de seus atos. Apesar de sua juventude, ele é respeitado e temido até mesmo pelos inimigos mais antigos. O controle que ele exerce sobre o ambiente ao seu redor é quase palpável.Eu o encaro diretamente, mantendo minha postura firme e confiante. Sei que ele está furioso, sua raiva contida apenas por uma fina camada de autocontrole. Ele poderia estar imaginando inúmeras maneiras de me matar naquele momento, cada uma mais cruel que a outra. Acontece que ambos sabemos que ele não pode me eliminar sem enfrentar consequências desastrosas..

Há algum tempo, quando aceitei fazer parte da máfia, comecei a planejar . Nunca pretendi seguir ordens cegamente por toda a vida.

Assim, arquitetei um plano meticuloso: se algo me acontecesse, todas as informações que possuo sobre a máfia seriam automaticamente reveladas. Nomes, datas, operações , tudo seria exposto, facilitando a prisão de todos os envolvidos, inclusive Damien

Este plano está seguro em vários lugares, pronto para ser ativado. É minha garantia de que, mesmo em face da morte, eu teria a última palavra. Damien sabe disso. Ele sabe que sua posição depende tanto da minha discrição quanto da minha existência.

-Como você ousa agir contra os Rossette sem minha permissão?- Damien começa, a voz baixa mas carregada de tensão

Eu me inclino levemente na cadeira, mantendo o olhar fixo no dele. Cada movimento meu é calculado, cada palavra que direi a seguir será escolhida com cuidado

-São meus assuntos, Damien. Você não deve interferir. - Digo, mantendo minha voz firme e controlada.

Damien solta um suspiro irritado, seus olhos queimando com uma fúria contida. Apesar de sua reputação, ele ainda não tem muita experiência com a máfia. Seu pai nunca teve tempo de ensiná-lo adequadamente sobre os negócios. Na verdade, o velho sempre preferiu o irmão gêmeo mais novo de Damien, Lucius. Mas na máfia, a hierarquia é mais importante que a predileção, e Damien é cinco minutos mais velho que Lucius. Por isso, ele ocupa o cargo de chefe, mesmo que algumas vezes seja ingênuo e não perceba o que ocorre ao seu redor.

Mesmo assim, Damien tem feito um bom trabalho nesses quatro anos à frente da máfia. Ele também encontrou uma boa mulher que ajudou a domar seus instintos rebeldes.

- Devo te lembrar que você ainda é um membro da máfia, Dante. Seus assuntos ainda são do meu interesse, ainda mais quando você começa a se envolver com uma família tão poderosa quanto os Rossette. Isso pode respingar em mim. - Damien diz com a voz calma, mas a fúria em seu olhar é palpável.

Damien é complexo. Ele esconde muito bem seus sentimentos, mas eu consigo ver a batalha interna que ele trava. Ele é jovem, mas perigoso. Seu temperamento explosivo e sua necessidade de controle o tornam imprevisível. No entanto, sua falta de experiência o deixa vulnerável em certos aspectos.

Eu mantenho meu olhar firme no dele, ciente de que estou lidando com uma bomba-relógio. Qualquer movimento em falso pode desencadear uma reação violenta, mas eu também sei que ele precisa de mim

-Os Rossette tiraram minha família de mim. Até onde eu sei, eles não fazem parte da família– ao menos, não da nossa máfia. E você não possui negócios com eles. Não entendo por que meu plano contra os Rossette te incomoda tanto. - Digo, já começando a me irritar. Odeio dar satisfações a alguém.

Damien suspira, fechando os olhos por um momento. Ele parece estar no limite da irritação, mas não parece disposto a dizer mais nada.

Então, ele se inclina para frente, os olhos fixos nos meus.

— Eu sei sobre o ataque que você sofreu após o evento. Isso chamou muita atenção, Dante, e você sabe que a máfia não pode se dar ao luxo de ser o centro das atenções. — Sua voz é fria, carregada de uma ameaça velada.

— Precisamos manter as coisas discretas, ou todos nós pagaremos o preço.

Ele me observa em silêncio por alguns segundos, como se estivesse analisando cada detalhe de minha reação. Eu mantenho a postura firme, mas o assunto precisa ser abordado.

— Nunca ouvi falar que o Barbosa estivesse envolvido com alguma associação criminosa — digo, com a voz carregada de desconfiança , sei que Damien não confia e esconde muita coisa de mim .Damien sorri de lado, um sorriso debochado que não chega a seus olhos.

— Barbosa? Aquele imbecil? — Damien balança a cabeça lentamente, com a expressão carregada de desprezo.

— Ele não faz parte da máfia. É apenas um idiota que gosta de se cercar de homens para se sentir poderoso. Mas, no fim, ele não passa de um peão jogando um jogo maior do que pode suportar.

Sei exatamente o que isso significa. Barbosa atacou para mostrar força, para tentar me mostrar seu poder , e isso só serviu para chamar atenção desnecessária. Mas, naquele momento, uma única coisa importa para mim: retaliação

.— Suponho que você já adivinhou que não vou deixar isso passar — digo, encarando Damien com firmeza.

Ele assente, cruzando os braços enquanto se recosta na cadeira, a expressão se tornando mais séria.

— Claro que não. Eu também não deixaria — Damien afirma, sua voz agora mais baixa, quase um sussurro.

 — Mas quero que você me mantenha informado sobre cada movimento, Dante. Precisamos lidar com isso de maneira que não atraia ainda mais atenção para a organização. Barbosa não vale o risco de uma exposição desnecessária.

— Entendido — respondo, mantendo meu tom controlado.Damien inclina a cabeça, parecendo satisfeito com minha resposta.

-Irei te ajudar contra os Rossette e com Barbosa, mas você irá fazer o que eu mandar. Pode seguir com o seu plano por enquanto, e quando já quiser agir contra Barbosa me avise- Damien finalmente diz.

Assinto, embora não goste do controle que Damien tenta exercer sobre mim.

-Foi Max que abriu a boca, não foi? - Pergunto, sabendo bem a resposta. Max teme Damien, e com razão. Era apenas uma questão de tempo até que isso chegasse aos ouvidos do chefe, mas era importante eu dar o primeiro passo.

Um sorriso torto se desenha nos lábios de Damien enquanto ele assente.

-Já imaginava. Se esse assunto já se encerrou, preciso me retirar. Tenho algumas coisas para resolver. - Digo, levantando-me da cadeira.

Damien assente em silêncio. Eu me levanto e me dirijo à porta, mas paro ao ouvir sua voz fria atrás de mim.

- Não me subestime, Dante. Eu poderia acabar com esse seu maldito plano que usa para se proteger contra mim e te matar. Se você ainda está vivo, é porque me é útil. Então, não teste meus limites. - Damien diz

Não olho para trás Fecho a porta atrás de mim, saindo do escritório. O corredor fora do escritório é silencioso, mas a tensão ainda paira no ar.

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