— Quem é? — indagou, caminhando em direção à entrada de seu quarto.
— O mordomo. Vossa majestade pediu-me para lhe guiar até o… — Elizabeth abriu a porta antes que ele finalizasse a frase — salão — concluiu, fazendo uma reverência — Alteza.
— Onde está Callister? — indagou, olhando os arredores do corredor. O mordomo ficou surpreso o suficiente para esquecer a sua fala, mas rapidamente se recompôs e disse:
— Em breve ele estará no banquete — após a resposta, ambos ficaram em silêncio, iniciando o seu caminho em direção ao salão de banquetes.
A princesa observava a tudo inquietamente, os corredores, agora iluminados por chamas incandescentes das velas, adquiriam uma beleza quase sobrenatural, uma aparência muito distinta da manhã.
Ela observou o mordomo pelo canto dos olhos, era um homem que aparentava estar à beira de seus 60 anos, parecia ser rígido o suficiente para lhe chamar atenção quando cometesse algum deslize.
— O senhor serve ao palácio há muito tempo? — perguntou quebrando o silêncio que havia se instaurado.
— Desde que completei cinco anos, estou aqui há uma vida — disse com um sorriso satisfeito.
— Imagino que deva ter grande apego ao palácio e consequentemente a Callister — novamente, a expressão do mordomo se fechou. Elizabeth tentou consertar o seu erro — peço desculpas se disse algo que o ofendeu.
— Não ofendeu, apenas não é comum escutar o nome do Imperador desse modo.
— Ninguém diz o nome dele? — indagou, genuinamente curiosa.
— Não ousamos proferir nas imediações do palácio e vossa alteza não deveria o fazer, pode ser muito perigoso.
— E por que seria? Ele nunca se importou.
— Ele talvez não se importe, mas a princesa descobrirá que há pessoas que querem se aproximar do Imperador com o intuito de receber grandes vantagens, seria muito ruim para essas pessoas se a princesa se tornasse próxima dele.
— Eu não entendo o que quer dizer — o mordomo sorriu.
— A princesa ainda é nova nos mistérios ocultos que envolvem a corte, se quiser um conselho meu, não confie em ninguém que se mostrar solícito demais. Esses são os piores — Elizabeth engoliu em seco — desculpe-me, não quis assustá-la.
— Não, não. Eu agradeço pelo seu conselho, é muito gentil de sua parte senhor…
— Hankinson, chame-me de Hankins.
— Certo, Hankins, irei me lembrar de suas palavras futuramente — o homem sorriu — a propósito, o que sabe de Meredith? — perguntou, cuidadosamente. A expressão de Hankinson se fechou.
— O que há com ela?
— Ela parece me detestar profundamente.
— Meredith odeia a si mesma, é natural que odeie os outros.
— Acha que ela faria algum mal? — Hankinson ficou por um longo tempo em silêncio, até que a respondeu:
— Todos nós temos um preço, qualquer criada que lhe servir terá um preço. A senhorita não trouxe nenhuma de confiança? — ao escutar a pergunta do mordomo, seus olhos se abaixaram. Lembrou-se de Karine e a falta que ela lhe fazia naquele momento.
— Não — disse quase num sussurro.
— Havia alguma criada a qual era próxima?
— Karine — respondeu prontamente — ela cresceu junto comigo, podia confiar minha vida a ela.
— Imagino que sente a falta dela.
— Como nunca — suas palavras saíram de maneira dolorosa. Era difícil pensar em Karine e não se recordar de seu lar, de seu pai e de tudo o que deixou para trás. Hankinson tocou-a gentilmente.
— Eu sinto muito, não deve ser fácil para vossa alteza estar tão longe de sua família e de seus amigos, mas tenho certeza de que apesar de todas as questões delicadas que envolvem a corte, poderá encontrar uma estadia tranquila e confortável, o que depender de mim, nada lhe faltará — prometeu solenemente. Elizabeth sorriu.
— Muito obrigada Hankinson, suas palavras são confortadoras. Se não se importa, gostaria que me chamasse de Elizabeth.
— Como desejar.
O restante do caminho transcorreu um tanto mais alegre com as conversas que se desenrolaram em seguida. Hankinson falava abertamente sobre sua vida no palácio, contando-lhe histórias que a fascinavam ou então lhe arrancava gargalhadas. Estava tão imersa naquela adorável companhia, que não notou quando enfim chegaram na entrada do salão de banquetes.
— Nos despedimos aqui, espero que aproveite a noite — Hankinson se despediu com uma longa reverência e então partiu, deixando Elizabeth sozinha em frente ao portal de turquesa e mármore à sua frente.
De onde estava, conseguiu avistar o salão iluminado pelas chamas incandescentes de lustres de cristal pendurados no teto, o chão de mármore reluzia brilhante, parecia um espelho de tão liso que era, bandeiras do Império, arranjos de orquídeas, lírios e bromélias estavam espalhados pelo salão com vasos ornamentais, emitindo um aroma floral e adocicado.
Com passos hesitantes, Elizabeth adentrou o portal, vendo-se no topo de uma longa escadaria, dali tinha uma visão mais ampla da cena se desenrolando. Havia pessoas, muitas pessoas, damas com vestidos lindos e brilhantes, tal qual o de Elizabeth, cavalheiros trajando roupas finas agrupavam-se entre si. Ela observou que nos cantos do salão, mesas também adornadas com a bandeira do império e os arranjos florais, eram abastecidas com pratos imensos de comida. A imagem do banquete à sua frente despertou-lhe uma fome voraz.
O seu coração batia acelerado conforme pisava sobre os degraus cobertos por um tapete azul de camurça, adentrando cada vez mais naquele mundo brilhante e iluminado que parecia ser belo e encantador.
Seus ouvidos captavam os risos alegres, falas suaves e mansas se mesclando a melodia instrumental que irrigava o salão. Era tudo harmonioso e resplandecia riqueza e sobrepotência.
Elizabeth sentia-se perdida naquele mar infinito de pessoas que iam e vinham a rodeando, engolindo-a. Seu coração batia tão alto que ela tinha quase certeza de que todos poderiam ouvi-lo. Antes que pudesse sair correndo em disparada a primeira porta à sua frente, sentiu um toque gentil em seus ombros, fazendo-a virar de imediato.
— Elizabeth — um sorriso de felicidade e alívio se abriu ao ver Asher parado em sua frente.
— Asher! — exclamou alegre.
— Esqueceu-se de nós, Elizabeth? — Gerard reclamou, a princesa viu pelo canto dos olhos que ao lado de Asher estava Gerad, Armand, Gillian, Osborne e Alastor.
— É evidente que não! Como poderia me esquecer de companhias tão agradáveis… E vejo que estão muito garbosos com esses trajes — comentou com um sorriso brilhante e provocador que deixou os homens constrangidos.
— E você está belíssima com esse vestido.
— Muito obrigada — respondeu educadamente, embora quisesse dizer que era terrivelmente desconfortável e apertado — onde está o restante?
— Estão com o Imperador, acredito que logo entrarão em grande estilo e pompa atraindo uma multidão de olhares.
— Tenho certeza que se tivesse metade do cabelo do Imperador atrairia olhares também — Gillian brincou, arrancando risadas do grupo.
— Bem, devo dizer que o pouco do cabelo que me resta quase caiu depois do sumiço da princesa — todos os olhares se voltaram para Elizabeth que sorriu docemente.
— Devo dizer que teria lhe feito muito bem, ficaria ainda mais bonito com a careca lustrosa — risos se espalharam pelo grupo.
— Agora, falando seriamente, a princesa fez muito mal em desaparecer assim, deveria ter pregado outro tipo de peça que não fosse essa — Asher a repreendeu gentilmente, parecia um pai educando a filha.
— Prometo que não farei mais isso, queria apenas visitar rajado — mentiu tentando encontrar uma desculpa suficientemente convincente, afinal, não queria admitir que tentava extravasar sua raiva através do arco e flecha.
— Cavalgou por tanto tempo que pensei que a última coisa que quisesse ver fosse um cavalo — Gerard brincou.
— Quase isso, mas Rajado é um excelente amigo e ótima companhia, não queria deixá-lo triste — Enquanto falava, ela notou pelo canto dos olhos casais se agrupando na pista de dança — não imaginei que houvesse dança em banquetes.
— Nos banquetes imperiais sempre há dança e entretenimento, essa noite encontraram um cantor lírico e um bufão, será muito divertido — Osborne disse animadamente. Elizabeth observava os casais iniciarem a valsa. Fazia muito tempo desde a última vez que participava de um baile e ela estava ansiosa para se juntar aos demais. Adorava dançar.
— Gostaria de dançar?
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Atualizado até capítulo 93
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