capítulo 7

Elizabeth despertou com uma dor insuportável no pescoço. Estava duro e era impossível mexer sem ocasionar mais dor. Cuidadosamente, se esticou. Ela sabia o próximo passo, mas nunca o executou sozinha. Como Karine lhe fazia falta! Colocando seus dedos sobre o pescoço, iniciou uma massagem desajeitada, deixando escapar gemidos de dor e desconforto.

— A princesa está bem? — a voz de Callister a pegou de surpresa. Ela não se virou para ele. Um pouco devido à câimbra, mas também porque estava com raiva de seu pedido estupido de tirá-la de sua casa.

— Sim — respondeu secamente, voltando-se para sua massagem desajeitada.

— Não me parece — ele observou, coçando o queixo — deixe-me ajudá-la — antes que pudesse retrucar, alegando não ser necessário, sentiu o toque áspero de dedos calosos em seu pescoço. Mesmo com a aspereza do toque, sentiu um alívio imediato e soltou um suspiro de prazer.

— Hum, é exatamente aí — murmurou, fechando os olhos e aproveitando o toque agradável, as mãos de Calister se direcionaram para seus ombros, que também estavam doloridos — isso… Espera, um pouco mais para a esquerda e… Perfeito! — ela estava admirada com a habilidade de Calister, imaginava que seria apenas um brutamontes sanguinolento sem um mínimo de delicadeza — poderia se tornar massagista, ganharia rios de dinheiro — comentou, ainda entorpecida com a massagem, mas logo despertou de seu estupor ao escutar a risada do homem. Mas que coisa estúpida havia dito!

— Acha que levo mais jeito como massagista do que como Imperador? — Elizabeth arfou com a informação. Ele era o imperador? Aquilo não parecia certo, o homem à sua frente era mais um general do que um governante. Ela riu debochadamente.

— Você? O imperador? — indagou entre risos, virando-se para ele.

— Sim, eu sou.

— Não. Não é — ela continuou, ainda em descrença. Como se os soldados ao redor soubessem da situação, um deles se apresentou à Callister, reverenciando-o.

— Vossa majestade, o exército todo já está acomodado, gostaria de fazer uma vistoria?

— Farei em breve, pode ir — assim que o homem se afastou, Callister olhou Elizabeth sugestivamente. Os olhos da princesa estavam esbugalhados e ela recuou alguns centímetros e então metros. Como ninguém havia lhe dado aquela informação antes? — parece-me que a princesa está tensa — como não estaria tensa? Quem tinha as mãos em seu pescoço era o próprio imperador, que naquele momento poderia considerar um desrespeito as palavras de Elizabeth. Ele era o seu inimigo.

— Eu já estou bem, obrigada. Eu acho que… eu vou ali — e rapidamente, escapou das vistas de Calister. Elizabeth estava assustada e temerosa. Aquele homem não era somente responsável por tirá-la de seu lar e de ameaçar a vida das pessoas que amava, mas também era o Imperador, o homem terrível que assombrava o Império com as lendárias batalhas e guerras que travava constantemente. Apesar da raiva que sentia, o medo corria mais espesso em suas veias.

Caminhando sem rumo, deparava-se com frequência com os cavaleiros imperiais. As carrancas eram ameaçadoras e estavam sempre ocupados com algo. Elizabeth estava assustada, sentindo-se um peixe fora d’água. Era evidente que não pertencia àquele lugar. Após muito caminhar, refugiou-se entre um arbusto de amoras silvestres que, para o seu azar, estavam verdes e azedas. Dali observou a movimentação do acampamento.

Eram menos ameaçadores de longe, isso ela podia dizer. Eles conversavam e riam. De súbito, lembrou-se dos guardas de seu castelo que sempre faziam piadas engraçadas e inusitadas. Ela se encolheu, sentida.

— Alteza? Já se alimentou? — um dos cavaleiros que sempre acompanhava Callister lhe perguntou. Era um pouco mais velho que o restante, devia ter por volta quarenta anos e tinha um jeito paternal que a fazia lembrar de seu pai. Ela sorriu para ele.

— Ainda não…

— Imaginei que não, trouxe para você, precisa se alimentar bem — falou, entregando-lhe um prato fumegante de ensopado. Ela recebeu a combuca e o agradeceu. O homem se sentou ao seu lado — imagino que as coisas não estão fáceis para você.

— Nem um pouco — murmurou cabisbaixa, sorvendo um pouco do caldo espesso — nunca estive longe de casa ou de meu pai por tanto tempo. Sinto tanta falta deles! — exclamou, pesarosa.

— É compreensível, mas devo dizer que a vossa alteza foi muito altruísta e corajosa ao se oferecer.

— Eu não tinha muita escolha — respondeu, mexendo o caldo.

— Claro que tinha, todos temos escolhas. Poderia assistir em silêncio o seu reino ser atacado ou ser levada à força, ainda assim resolveu partir espontaneamente, convencendo ao pai e todos que queriam lhe proteger — Elizabeth suspirou. Estava agradecida pela palavras gentis do homem, mas o próprio Callister a ludibriou com palavras gentis a principio e naquele momento se via partindo para um lugar ameaçador. E se aquele homem tinha más intenções, como o próprio Imperador? Elizabeth recuou, ressabiada.

— Agradeço por suas palavras, mas não entendo qual a intenção por trás delas — respondeu francamente.

— Por favor, não me interprete mal. Me simpatizei com você. Apenas quero lhe ajudar de algum modo.

— Mas por quê? — insistiu mais um pouco. O homem suspirou profundamente e então respondeu:

— Eu tinha uma filha igualzinha a você — sua voz estava baixa e dolorosa.

— Tinha? — naquele momento, os olhos do cavaleiro se abaixaram tristemente.

— Sim, ela se foi há algum tempo — de imediato, Elizabeth se sentiu terrivelmente má e culpada. Como pôde ter sido tão insensível com um homem que até então se mostrava gentil e complacente com ela? A princesa colocou sua mão sobre a do cavalheiro, atraindo o seu olhar.

— Sinto muito. Não quis ser indelicada e agradeço pela sua gentileza comigo.

— Está tudo bem, sei que está sendo um dia difícil para vossa alteza.

— Pode me chamar de Elizabeth — disse num sorriso — por que não tentamos falar de coisas amenas? — sugeriu, tentando encontrar uma maneira de esquecer um pouco da saudade de casa. O cavaleiro anuiu prontamente. Não demorou muito para que se embalassem em uma conversa agradável.

A noite foi adentrando e as chamas das fogueiras diminuindo. O cavaleiro, que agora Elizabeth conhecia por Asher, lhe escoltou até sua cama improvisada e dali se despediram. Encontrando uma posição confortável, observou as estrelas que piscavam intensamente. Uma brisa suave acariciou os seus cabelos, embalando-a em um sono agradável, livre de sonhos e pesadelos.

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Rosária 234 Fonseca

Rosária 234 Fonseca

amizade isso pode ser bom

2024-10-08

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90 Epílogo
91 Agradecimento
92 Ambição/A filha do Duque
93 A Empregada do Rei
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Atualizado até capítulo 93

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Prólogo
2
capítulo 1
3
Capítulo 2
4
capítulo 3
5
capítulo 4
6
capítulo 5
7
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