capítulo 10

Callister caminhava ebriamente entre os cavaleiros que o cumprimentavam respeitosamente. Ele conseguia ouvir as conversas dispersas que tornavam naquela noite seus homens mais vivos e humanos. O exército imperial que era comumente conhecido por se assemelhar mais a um conglomerado de sombras estava mais humano e vivo do que nunca. O próprio imperador, conhecido por seu jeito frígido e indiferente, tinha um brilho no olhar que poucos já presenciaram. Talvez fosse apenas coincidência, mas a presença de Elizabeth parecia surtir algum efeito, quase como se tivesse lançado algum feitiço que os entorpeceu por completo.

O imperador avistou à frente um grupo de Cavaleiros que debatiam entre si. Ele se aproximou.

— O que está acontecendo? — Indagou ao ouvir as vozes alteradas.

— Veja o que esse bobão aqui fez, ele deixou a princesa Elizabeth se banhar sozinha!

— Ela reclamou do calor — rebateu imediatamente.

— Mas deixá-la sozinha? É perigoso demais.

— Prometi que não deixaria ninguém se aproximar dela — defendeu-se. Callister observava silenciosamente a briga se desenrolar, até que por fim se pronunciou.

— Eles tem razão, Asher. Deixar a princesa sozinha não foi uma sábia decisão. Eu irei buscá-la — anunciou, desvencilhando-se dos homens que o rodeavam.

— Mas ela deve estar se banhando ainda — Asher exasperou-se. Callister arqueou uma de suas sobrancelhas, a carranca intacta em sua face — o senhor a verá nua — complementou escandalizado. O grupo se encarou, silenciosamente.

— Estarei a uma distância segura da princesa — dito isso, ele se afastou do grupo e se embrenhou por entre a floresta seguindo o suave farfalhar do riacho, que parecia sussurrar para ele, guiando-lhe até o caminho correto. Mesmo com a escuridão o envolvendo, Callister caminhava seguro de si, sabia exatamente onde pisar e onde desviar. Seus instintos de guerreiro bombeavam por suas veias em uma adrenalina constante.

Quando por fim avistou a pequena cascata que caia em direção a um sinuoso riacho, avistou de longe uma figura iluminada pelo luar. Ele congelou.

Elizabeth brincava com as espumas formadas pela cachoeira, boa parte do corpo sobrepujada para fora da água. Os dedos delicados tocavam as espumas brancas que se formavam, seu olhar seguiu em direção aos braços delgados e gracioso, os ombros arredondados, a clavícula bem definida, os seios macios e firmes, uma pele sensível e sedosa atraia a sua atenção. Um sorriso brincalhão pairava sobre os lábios definidos e avermelhados, quase como se o convidasse a se aproximar.

Ele estava hipnotizado com a beleza quase sobrenatural, parecia uma ninfa da água, ou uma deusa que se banhava secretamente de meros e tolos mortais. Pela primeira vez, Callister se descuidou e pisou em falso. O som de seus sapatos quebrando um galho atraíram a atenção da princesa, que rapidamente mergulhou na água, ficando visível somente os seus olhos e uma parte do nariz. Sabendo que era momento de se revelar, Callister surgiu. Elizabeth, parecendo aliviada ao descobrir que o estranho era Callister, ergueu o restante do rosto. Ela abriu os lábios, os fechou e depois os abriu novamente. Era nítido o seu nervosismo. Muitas coisas se passaram em sua cabeça antes de formular uma frase:

— Como soube que estou aqui? — perguntou por fim.

— Sou o comandante desse exército, é natural que eu saiba o que se passa aqui, especialmente quando envolve a minha convidada de honra.

— Veio verificar se não fugi? — indagou asperamente.

— Não, vim verificar se não foi morta por ursos ou lobos, ou quem sabe se alguma cobra venenosa não lhe tivesse picado — a face de Elizabeth ficou pálida.

— V… Você está tentando me assustar — acusou, contudo ainda havia um tom de incerteza em sua voz.

— Talvez — admitiu, aparentava divertimento ao observar o pânico crescente de Elizabeth — contudo, minhas palavras tem fundamento. Não é seguro nadar em um lago no meio da noite.

— Eu sei, mas estava tão quente e me sentia tão suja… — suas palavras se evanesceram de súbito — mas acho que seria melhor se saísse logo.

— Muito bem, o que está esperando? — Callister a observava e notou o seu rosto avermelhar, Elizabeth abaixou os olhos e murmurou.

— Não trouxe minha toalha — Callister suspirou profundamente. Ele retirou sua capa de algodão azul e a deixou sobre um galho.

— Pode usar o meu manto — e em seguida, se afastou. Ele ouviu o som da água se remexendo. Elizabeth havia saído do riacho e ele sabia que se virasse para trás, poderia ver o seu corpo completamente desnudo, mas ele não o fez, não queria quebrar a confiança de Elizabeth e ser desrespeitoso, já havia sido mal o suficiente ao espiá-la se banhar, mesmo que por acidente.

— Já estou pronta — ela anunciou. Dessa vez completamente vestida. Ela ainda secava os cabelos com o manto de Callister.

— Ótimo — ele murmurou rispidamente e tomou o caminho em direção ao acampamento. O percurso foi feito em silêncio, apenas o farfalhar de folhas sendo esmagadas pelos seus pés e os galhos se remexendo com o vento foram ouvidos.

Elizabeth avistou as fogueiras acesas brilhando e sentiu o cheiro de carne assada emanando pelo o ar fazendo seu estômago murmurar de fome. Antes que se separasse de Calister, ela o chamou.

— Muito obrigada pelo manto — agradeceu com um pequeno sorriso entendendo o manto azul em direção ao imperador que o pegou hesitantemente. Elizabeth se distanciou, deixando-o só. Os dedos de Calister se afundaram no tecido ensopado, ele sentiu a água escorrer pelos seus dedos. Involuntariamente, levou o manto sobre o nariz, aspirando o cheiro adocicado e floral que havia penetrado nele. Rapidamente, o deixou de lado. O que pensariam se o visse daquela maneira? Balançando a cabeça, ele afastou os pensamentos que rondavam por sua mente.

Callister iniciou uma caminhada vagarosa em meio ao acampamento. O cheiro de carne sendo assada infiltrou-lhe as narinas, convidando-o a mordiscar um pedaço. Ao procurar por uma das fogueiras responsáveis pelo preparo do jantar, avistou Asher entre o seu grupo de cavaleiros da mais alta confiança. Deixando o jantar de lado, se aproximou deles, que ao notar a sua presença, se calaram de súbito.

— Majestade — cumprimentaram em uníssono.

— Asher, precisamos conversar — após a intimação de Callister, o cavaleiro anuiu e o seguiu até um canto isolado — gostaria que qualquer decisão a respeito de Elizabeth fosse cabida a mim.

— Compreendo, majestade.

— Sabe que ensiná-la o arco e flecha e levá-la para se banhar sem minha permissão é um ato de insubordinação e não tolerarei isso entre os meus cavaleiros, especialmente, vindo do meu melhor cavaleiro. Estamos entendidos?

— Sim majestade — Callister estava prestes a se distanciar quando a voz de Asher o chamou de volta — sei que para vossa majestade, a princesa Elizabeth é mais uma entre tantas missões, mas tenho um apreço especial pela menina, gostaria de me tornar responsável por sua proteção.

— E qual o motivo? — Asher abaixou os olhos. Callister compreendeu de imediato — está bem, mas espero que tome cuidado nas próximas escolhas que envolverem Elizabeth, quero estar a par de todas elas, mesmo que sejam mínimas.

— Se é assim, gostaria de pedir permissão para ensinar arco e flecha a ela.

— Por quê?

— Ela disse que gostou muito e tenho certeza de que seria bom para ela esquecer um pouco da saudade de casa — Callister ficou alguns minutos em silêncio, considerando as palavras de Asher. Após muito pensar, ele concordou.

— Está bem, mas serei eu o instrutor — de imediato, Asher deixou escapar uma exclamação de surpresa — algum problema? — sua pergunta era ameaçadora e deixava claro que só aceitaria uma única resposta.

— Não, majestade.

Callister se distanciou, deixando para trás Asher que carregava consigo uma expressão que beirava entre a incredulidade com uma ponta de felicidade. Ele o ignorou.

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Comments

Rosária 234 Fonseca

Rosária 234 Fonseca

que novidade quem iria imaginar ele parece gostar dela

2024-10-08

0

Rosária 234 Fonseca

Rosária 234 Fonseca

que vergonha kkk tudo de bom

2024-10-08

1

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