capítulo 3

— Boa noite, nos desculpem pelo atraso, tivemos um pequeno imprevisto — Elizabeth anunciou caminhando em direção para tomar o seu lugar na suntuosa mesa.

— Não se preocupe princesa, foram eles que chegaram muito cedo — o homem que a acompanhava respondeu suavemente. Após ouvirem suas palavras, o restante apenas acenou em concordância. Ao observar a cena, ela concluiu que dentre os doze homens, ele deveria ser o comandante.

— O senhor… — Elizabeth estava prestes a dizer o nome do homem que a acompanhava desde então até que notou que ele ainda não havia se apresentado — ainda não me disse o seu nome! — exclamou, recordando-se de sua pergunta sem resposta.

— É Callister — ao ouvir o nome de seu convidado, Elizabeth não notou o ar pesado que se instaurou sobre a sala e muito menos a expressão de pavor de Karine, ou o semblante preocupado de seu pai. Ela apenas sorriu.

— Muito prazer Calister. E eu suponho que esses sejam os seus homens, por que não se apresentam? Sei que devem me conhecer, mas eu não os conheço — os homens pareceram levemente confusos com a ação da princesa, mas após avistar o aceno de seu líder, um por um se levantou dizendo o seu nome. Elizabeth sorria, mas no fundo, sabia que não conseguiria lembrar qual nome pertencia a qual.

No fim das apresentações, o grupo que acabara de chegar acomodou-se nas cadeiras vazias.

— Espero que tenham uma boa estadia, a propósito, não me disse quanto tempo pretende ficar…

— Não se preocupe, querida, nós dois já conversamos sobre isso anteriormente, será apenas por uma noite — seu pai interviu rapidamente.

— E depois prosseguirão viagem?

— Exatamente.

— E para onde vão?

— O campo dourado — instantaneamente, Elizabeth sorriu afetada.

— Não vão me dizer que vão colher flores?

— Elizabeth! Isso não são modos de uma princesa.

— Me desculpe papai, mas tenho certeza de que a última coisa que homens tão fortes como esses fariam num campo daquele seria colher flores.

— Gosto das Escaplas, são belas flores — Callister comentou.

— Sim, de fato muito bonitas, uma pena que nessa época do ano ainda não estão floridas e a única coisa que verá naquele campo será a relva marrom devido ao sol escaldante. Tenho certeza de que são o grupo de viajantes mais azarados que já vi, ou mais despreparados.

— Querida, por que não prova desta carne de cervo? — compreendendo o tom ameaçador na voz de seu pai, Elizabeth se calou e voltou toda a atenção para o seu prato. Novamente, tinha sido indelicada com suas palavras. Ora, não era culpa sua! Simplesmente não conseguia se controlar, quando viu, já tinha falado e isso era muito mau, a colocava em grandes apuros.

Ela permaneceu em silêncio por um longo tempo, fingindo interesse em seu prato que apenas a lembrava da travessa de doces que comeu algumas horas mais cedo. Tentando prestar atenção na conversa desinteressante que seu pai tentava conduzir, começou a brincar com um nabo que parecia mais torrado do que qualquer outra coisa.

— A comida não está lhe agradando? — Callister a indagou, pegando-a de surpresa.

— Não muito, na verdade, não estou com muita fome…

— Imagino que tenham sido os doces que comeu mais cedo.

— Não fale tão alto! — sussurrou nervosamente. Ela espiou para o seu pai, que parecia ocupado demais tentando pegar outra coxa de frango besuntada na manteiga.

— Tudo bem, será o nosso segredo, embora ficar desfilando com uma bandeja prateada de doces não lhe ajuda.

— Só estava entediada de ficar no meu quarto e… Você me viu? Onde?

— Sinceramente, me decepciona muito que a princesa não se lembre de mim, principalmente após a tarde ter sido tão agradável.

— Nos encontramos esta tarde? — ela o encarou, estupefata.

— No jardim.

— Há, então é você o cavaleiro tímido? — exclamou alegremente, afinal sua curiosidade latente estava sendo sanada de forma deleitosa.

— Deveria experimentar falar com um elmo pesado sobre a cabeça.

— Imagino que seja pesaroso… — ele goleou da taça de água servida à sua frente — mas por que andar com elmo na propriedade do palácio? — após a sua pergunta, o homem ficou em silêncio por alguns segundos, como se pensasse em algo para dizer — e por que não estava junto de seus homens quando claramente é o líder deles?

— A princesa se apega com exagero em pequenos detalhes — Callister disse secamente. Elizabeth compreendeu o recado, não haveria abertura para mais perguntas.

Naquele momento ela refletiu a empreitada daquele grupo de doze cavaleiros. Ela não conseguia crer que eles estavam ali de passagem. Momentaneamente, sentiu-se enjoada.

— A princesa parece preocupada. Aconteceu algo? — Callister observou com olhos lupinos a movimentação inquieta de Elizabeth.

— Só o cansaço, acho que preciso me deitar. Se me derem licença, vou me retirar — disse, se levantando de sua cadeira. Ela lançou um olhar significativo ao pai antes de se retirar.

— Boa noite — Callister se pronunciou e os demais homens o seguiram. Sem se demorar, Elizabeth atravessou a porta principal e sumiu entre os corredores. Seu coração palpitava, sentia que havia algo errado com aqueles visitantes. Ela estava confusa, ao mesmo tempo que gostaria de saber o que estava acontecendo, estava com medo. Às vezes, a ignorância poderia ser uma benção.

A princesa ficou por longos minutos rodando para lá e pra cá, completamente perdida, quando num impulso repentino, resolveu espiar o que acontecia no salão de banquetes, talvez, quem sabe, estivessem ali apenas para colher escaplas, elas eram de fato flores muito bonitas e as estradas perigosas. Quem sabe não estivesse tudo bem? Melhor seria conferir por si própria.

Com passos leves e ágeis, Elizabeth caminhou até a outra entrada do salão. Ela encostou-se sobre a parede e ali ficou. Não estava longe da mesa, na verdade, estava muito perto, e mesmo se não estivesse conseguiria ouvir as vozes alteradas e uma delas pertencia a seu pai:

— Não podem fazer isso! Sabem o quanto investi naquelas minas?

— Sem a permissão do Imperador — outro homem pontuou, o que pareceu irritar ainda mais ao rei.

— E por que deveria? Estavam nas minhas terras, logo pertencem a mim. Se eu quiser colocar fogo no mar, eu faço.

— Entenda que não nos referimos a sua tomada de decisões no todo…

— Somente quando estão ligadas a dinheiro e assim retirar de nós — seu pai completou, zangado.

— Nos diga, você não tem vivido tempos de paz sem aqueles piratas lhe incomodado? Ou os reinos vizinhos lhe atacando? Como acha que podemos promover a paz? Precisamos de dinheiro.

— Já pago impostos o suficiente. Vejam minha humilde residência, acham que posso chamar isso de castelo?

— Mas nós não estamos lhe impedindo de usar do seu dinheiro para reformar ou construir algo novo, muito pelo contrário, mas deve estar ciente de que isso haverá consequências. O que acha que vai lhe acontecer quando a notícia se espalhar? Qualquer um poderá invadir o seu castelo, roubar o seu tesouro. Já pensou na segurança de sua filha? Estaria comprometida. Deve pensar nela, não só em você. Quanto vale a segurança de sua filha?

— Isso é um jogo muito baixo.

— Estamos apenas sendo francos. Sabemos que não tem condições para manter um exército, isso requer anos de treinamento e investimento. Nós já temos o exército, o melhor de todos os reinos.

— Sei disso, conseguiram conquistar o continente todo…

— Fico feliz que se lembre desse detalhe.

— Guilhermino, já fizemos a nossa proposta, cabe a você decidir. Terá até amanhã de manhã para nos comunicar.

— Está sendo muito injusto. Concordei com o valor, mas levar a Elizabeth? Não posso concordar… — Elizabeth teve de colocar a mão sobre a boca para abafar o grito de surpresa. Ela podia jurar que viu a cabeça de Calister virando em sua direção, mas rapidamente, ele voltou a atenção para o seu pai.

— Tenho certeza de que ela ficará muito mais satisfeita no palácio do que aqui.

— Não finja saber os gostos de minha filha, eu a conheço melhor do que ninguém!

— Eu não disse isso, está interpretando mal as minhas palavras.

— Como não? A minha resposta é uma só: não — Callister balançou a cabeça suavemente e a parou em direção a porta onde Elizabeth se escorava. Ele abriu um pequeno sorriso. Naquele momento a princesa se encolheu.

— O prazo permanece o mesmo, quem sabe algo te faça mudar de ideia. Lembre-se que consequências desastrosas podem ocorrer de uma má transação. Boa noite — Callister se levantou, seus homens repetiram o gesto e então um por um deixou a sala, tornando-a mais vazia do que nunca e estranhamente grande.

Quando se certificou de que estavam todos longe o suficiente e que havia apenas o seu pai, Elizabeth se empertigou cuidadosamente, adentrando na sala. Assim que ele a viu, tentou disfarçar a expressão de abatimento.

— Querida, não deveria estar na cama? — ele perguntou, acariciando a face da filha que sentiu as mãos trêmulas sobre seu rosto. Ela se distanciou cuidadosamente.

— Pai, não precisa fingir para mim.

— O que está dizendo?

— Eu ouvi tudo.

— Eu…

— Pai, acha que ele faria alguma coisa contra nós? — Elizabeth tentou escolher as palavras da melhor maneira possível, mas ainda assim, era difícil dar voz aos seus pensamentos de maneira suave.

— Não, é só uma ameaça.

— O que ele quer comigo? Por que me colocar nessa transação? — o rei suspirou profundamente.

— Para se assegurar que cumpra a minha palavra. Ele te quer como refém — Elizabeth ficou tão chocada com as palavras que ficou em silêncio por um longo tempo raciocinando.

Era difícil admitir, mas estava assustada e temerosa. Assim como não queria colocar sua vida em risco, não queria que seu pai e seu reino sofressem as consequências de seu egoísmo. A princesa abraçou o pai, procurando por algum conforto. Sabia o que tinha de fazer, mas era fraca demais para isso. Deixar seu pai, sua amiga, suas coisas para trás era impensável. Por mais que gostasse de novidades, aquela não lhe era bem quista, especialmente sob circunstâncias como aquela.

— Daremos um jeito papai, acho melhor dormirmos agora — Elizabeth depositou um beijo na testa do pai e então saiu da sala.

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Comments

Edna César

Edna César

🤣😂😂😂😂😂😂😂
eu também não consigo me lembrar dos nomes das pessoas

2025-03-09

1

Fênix

Fênix

Se não fosse tão curiosa não teria se colocado em perigo.

2025-02-22

1

Anonymous

Anonymous

lembrei do diário da princesa

2024-10-03

1

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90 Epílogo
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93 A Empregada do Rei
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Prólogo
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