O som dos cascos sobre a ardósia ecoava pelo pátio principal. Quarenta e oito cascos de cavalo sobre o piso duro. Doze lindos corcéis, ofegantes e retesados e, sob eles, doze homens cobertos de um metal negro profundo. Elizabeth olhou com grande curiosidade a aproximação dos visitantes. Era incomum receber visitas, especialmente não ser comunicada sobre elas.
Por um momento, ela comprimiu seus lábios. Seria um novo pretendente? Ela esperava que não, o último não lhe deixou boas lembranças e lhe rendeu um castigo que poderia ter durado séculos se não soubesse amaciar os ânimos do pai.
Usando a cortina de renda branca para se cobrir, ela espiou com grande curiosidade os visitantes se aproximando, até puxarem as rédeas dos cavalos, forçando-os a parar. Eram homens definitivamente muito grandes. Pareciam dotados de uma força descomunal. O rosto coberto pelo elmo apenas atiçava em Elizabeth a curiosidade.
Quem eram? De onde vinham? O que queriam? Era impossível dizer, especialmente quando não carregavam consigo uma bandeira ou uma insígnia qualquer. Ela teria de descobrir por si só.
Elizabeth estava pronta para sair de seus aposentos quando a aparição de sua empregada a pegou de surpresa, fazendo-a ficar estática em frente a porta. Karine e Elizabeth se encararam por longos minutos. A princesa abriu um sorriso agradável e ciciou à empregada:
— Que bom que chegou Karine! Estava saindo à sua procura — apesar de tentar mascarar da melhor maneira possível as suas verdadeiras intenções, aquilo não foi o suficiente para enganar a empregada que há muito se acostumou com as artimanhas da jovem princesa. Com os olhos semicerrados, indagou:
— O que está aprontando?
— Absolutamente nada, só estou com fome e esses quitutes chegaram na hora certa — respondeu inocentemente, preparando-se para pescar um pequeno e delicado quindim que reluzia sob a bandeja de prata. Antes que pudesse concluir o ato, Karine se desvencilhou com destreza e colocou alguns metros de distância contra a princesa — Karine! Os meus doces! — protestou.
— Não sem antes me falar o que estava aprontando.
— Por que pensa que planejava algo? — retorquiu, batendo as pestanas ingenuamente.
— Elizabeth, não tente me enganar. Já deve saber que temos visitas.
— Então sabe de quem se trata! — concluiu animadamente — quem são? Nunca vi homens tão altos e grandes como esses.
— Não sei, estão se reunindo com o seu pai no grande salão e você deve ficar aqui. Ordens de seu pai — Elizabeth comprimiu os lábios, contrariada. Estava entediada com dias sucessivamente iguais aos outros e a ideia de ter visitantes no castelo lhe empolgava os ânimos. Era injusto que tivesse de ficar presa em seu quarto ignorante ao que acontecia.
— Tudo bem, você venceu. Deixe-me saborear esse delicioso quindim — ela disse se aproximando da guloseima. Com uma delicada mordida, saboreou a sobremesa que desmanchava em seus lábios. Enquanto mastigava, olhou ao redor do quarto e uma pequena ideia surgiu na sua mente — Karine, está sentindo esse cheiro? — perguntou, fungando teatralmente o ar.
— Que cheiro? — a empregada repetiu o gesto, não encontrando nada de anormal.
— Veja! Fogo! — a princesa exclamou, apontando para um canto qualquer.
— Não vejo nada…
— Irei chamar por ajuda — em segundos, Elizabeth passava pela soleira da porta, não sem antes garantir que carregava consigo a bandeja de doces. Karine não teve tempo de reagir, só deu falta da princesa quando esta se encontrava a metros de distância.
Elizabeth caminhou apressadamente em direção aos jardins do lado sul, que faziam frente ao salão principal, o lugar onde seu pai fazia reuniões importantes, onde comemorações eram feitas e tudo o que se julgasse importante. Em muitos outros lugares, seria o salão da coroa, mas como o castelo não era muito grande, tornou-se habitual chamá-lo de salão principal.
Assim que chegou aos jardins, Elizabeth se dirigiu ao local que julgou ser perfeito para espiar e ouvir as reuniões a qual nunca era convidada. Aproximando-se com grande cuidado para não ser pega, ela apurou os ouvidos e se esforçou ao máximo para escutar:
— …. Não me parece correto — ela conseguiu distinguir a voz do rei, seu pai. Parecia exaltado.
— …. Deve considerar…. Paciência…… Perigoso — Elizabeth conseguiu captar com grande dificuldade as palavras proferidas por um dos homens, mas o elmo, que permanecia cobrindo sua cabeça, dificultava a compreensão. Ela se esforçou para entender o que parecia um longo discurso, mas se cansou. Não estava tendo resultado.
Ela observou uma vez mais os cavaleiros misteriosos quando por fim notou que havia apenas onze. Um deles não estava presente no recinto, o que a deixou momentaneamente confusa. Onde ele estaria?
Resignada a descobrir o que acontecia de outra maneira, ela se levantou, pegou sua bandeja de doces e saboreou mais um quitute para acalmar os ânimos. Ela observou o recipiente quase vazio, resultado de ter oferecido os doces aos guardas e empregados com quem se encontrava a caminho de sua missão fracassada.
Elizabeth estava pronta para retornar ao quarto e ouvir as broncas de Karine quando avistou uma figura parada há não muitos metros de distância. Era o cavaleiro que faltava! Olhando uma vez mais para a bandeja em suas mãos, uma ideia percorreu sua cabeça. Elizabeth agrupou os doces cuidadosamente para que ficassem com uma aparência agradável e com o seu melhor sorriso se aproximou do cavaleiro que até então não pareceu notar sua presença.
— Uma boa tarde para o senhor, cavaleiro — a princesa disse num tom cordial, atraindo a atenção do homem — eu sou a princesa Elizabeth de Guinness e gostaria de oferecer alguns quitutes — ela estendeu a bandeja ao visitante, que apenas a encarou em silêncio. Foi um tanto constrangedor o silêncio que se seguiu e ela recuou com a bandeja — Imagino que não esteja com apetite no momento, o que é uma pena, os doces daqui são muito saborosos — comentou pescando um da bandeja e o mordendo suavemente — imagino que em seu país tenha doces tão deliciosos quanto aqui… Ou o senhor cavaleiro é de Guinness? — o silêncio prosseguiu. Elizabeth cerrou os olhos, descontente, mas rapidamente voltou para a aparência alegre
“O senhor cavaleiro me parece um homem muito tímido, se estiver muito envergonhado para falar, basta acenar e compreenderei suas respostas — pela primeira vez, ele acenou e Elizabeth abriu um sorriso ainda maior. Estava finalmente conseguindo alguma coisa — Por que não fazemos um breve passeio? — ele lançou um olhar de dúvida ao salão e ela compreendeu seus receios — podemos fazer aqui por perto, não iremos muito longe, prometo — após longos minutos de silêncio, ele assentiu — perfeito! — exclamou alegre, oferecendo o seu braço ao qual ele enlaçou após alguns minutos exitantes.
Os dois iniciaram uma curta caminhada pelos graciosos jardins que se desdobravam ao seu redor. A relva verde e sempre bem cuidada resplandecia naquela tarde moderavelmente quente. Ao observar o elmo do homem que brilhava sobre o sol, sentiu pena dele, pois o simples contato de seu braço desnudo com o braço metálico a incomodava devido ao calor.
— Pobrezinho de você, deve estar suando muito debaixo dessa armadura, deveria tirá-la — sugeriu com uma voz doce, mas ele negou — compreendo, por que não nos refugiamos em uma sombra? Não quero que meu querido convidado derreta sobre o sol — brincou. Ela podia jurar que através da armadura, escutou uma risada baixa e aveludada. Ambos se encaminharam em direção a uma árvore de copas largas que produzia uma sombra refrescante e agradável. Ela colocou a bandeja de lado, não sem oferecê-la uma última vez ao seu acompanhante — tem certeza de que não quer? Preparei especialmente para você — ele negou uma vez mais — pelo visto o meu convidado não gosta de doces — observou, os colocando de lado definitivamente. Ela se virou para o homem:
— vi que seus amigos estão conversando com o meu pai, parece ser algo muito importante — ela iniciou a conversa, o analisando cuidadosamente, ele não fez nenhum gesto que lhe indicasse algo — admito que fui pega de surpresa com a chegada de todos vocês, se soubesse estaria na porta para recebê-los, uma pena que nem sempre estou a par do que acontece no palácio — o cavaleiro se mexeu, parecia inquieto — oh! Me desculpe se lhe incomodei com minhas palavras… — rapidamente ele negou com a cabeça — não foi isso? Então… — antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele se levantou dando início a uma caminhada veloz.
— Ei, me espere — Elizabeth tentou alcançá-lo, mas sem sucesso. Mesmo com toda a armadura, ele ainda era mais rápido do que a princesa. Frustrada pelos seus planos terem ido por água abaixo, ela se recostou no banco, encarando o último doce. Ela o apanhou e devorou silenciosamente.
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Atualizado até capítulo 93
Comments
Rosangela Lelis Pedro
Qual a idade dela? fiquei curiosa kkkk...fala sem parar
2025-03-18
0
Edna César
😂😂😂😂😂😂😂😂😂pirralha
2025-03-09
0
Fada Azul
ué
2024-11-16
0