O som seco da mão sobre a porta repetidas vezes acordou Elizabeth. Seus olhos se abriram lentamente, com a visão ainda embaçada conseguindo distinguir ao longe a sacada. O céu estava claro, de um azul limpo e sem nuvens. Ela não sabia se havia dormido horas até a passagem do novo dia, ou se dormitou por alguns minutos. A julgar pela boca seca e os membros de seu corpo molenga, julgou ser o primeiro.
— Já vou — retrucou mal humorada. Dependendo dela, dormiria ainda mais. Com sofreguidão, vestiu um robe de cetim e prendeu os cabelos em um coque desengonçado, tinha certeza que os fios de seu cabelo estavam enroscados em uma imensidão de nós. Ela abriu levemente a porta, espiando quem quer que estivesse em sua ante sala. Através do vão, se deparou com uma mulher de meia idade, cabelos presos em um coque e olhar severo.
— Alteza, estou batendo na porta à horas.
— Sinto muito, estava dormindo — respondeu, bocejando.
— Não é apropriada para uma princesa bocejar enquanto fala — a sentença arrogante da mulher pegou Elizabeth de surpresa — e não deveria dormir sem roupas — a princesa arqueou a sobrancelha.
— A senhora entrou em meus aposentos enquanto dormia?
— Foi necessário, estive preocupada pois não chamou por nenhuma empregada, pensei que…
— Que tivesse me pulando da sacada ou resolvido fugir? — retrucou grosseiramente, pegando a mulher desprevenida.
— Não quis dizer desse modo…
— Pois me pareceu. A propósito, não se apresentou ainda — Elizabeth a lembrou de seu ato indecoroso. Estava enfurecida por receber sermões quando mal acabara de se levantar.
— Meredith, serei responsável por vossa alteza durante sua estadia no palácio imperial — Elizabeth observou de cima a baixo. Não parecia uma simples criada do palácio, mas muito menos se assemelhava a uma senhora da aristocracia. Pelo seu modo arrogante de agir e falar devia ser alguma professora de etiqueta que de praxe ficaria responsável por lhe espionar.
Elizabeth se sentiu duas vezes ofendida, a primeira era por Callister a considerar tão desprovida de modos que era necessários lhe destinar uma professora, implicitamente, chamava-lhe de grosseira. Na segunda por Callister não confiar nela o suficiente para colocar uma espiã a vigiá-la de perto.
— Callister lhe enviou? — perguntou já esperando pela resposta. Para a sua surpresa, Meredith fez uma careta.
— Não deveria chamar o imperador pelo primeiro nome.
— Ele nunca reclamou — disse dando de ombros e, em seguida, frisou sua pergunta não respondida — ele te enviou?
— Sim, fui designada pessoalmente pelo Imperador.
Elizabeth estava furiosa. Não foi ela que aceitou de bom grado instalar-se no palácio? Partir em uma viagem cansativa a contragosto apenas para atender aos desejos do imperador? Ela não conseguia entender a desconfiança do homem. Resignada, ela deu a primeira ordem para a mulher que a acompanharia até o final de sua estadia.
— Muito bem, nesse caso gostaria que me preparasse a refeição e banho.
— Como desejar — Meredith se curvou e saiu do quarto, poucos minutos depois, duas moças adentravam nos aposentos de Elizabeth. As criadas eram silenciosas e a princesa agradeceu por isso, não estava disposta a conversar.
Elas preparam o seu banho e depois a guiaram para a sala perfumada de sais e óleos essenciais. Delicadamente esfregaram seu corpo e depois o perfumaram com cremes adocicados e florais.
Enquanto penteava seus cabelos, ela notou a porta se abrindo e a figura de Meredith surgindo, carregando uma bandeja com um prato aromático.
Meredith aguardou pacientemente em pé no canto extremo do quarto. Elizabeth a observava com o canto dos olhos, ressabiada.
— Podem se retirar, muito obrigada — Elizabeth agradeceu, se levantando de seu assento. As criadas fizeram uma breve reverência e então partiram, restando apenas Meredith. Elizabeth a observou.
—- Pode se retirar, Meredith, não preciso dos seus serviços por agora — disse sentando-se sobre a mesa e se preparando para comer. Seu estômago murmurou, relembrando-a que fazia um bom tempo desde que se alimentava.
— O imperador me pediu para ficar ao seu lado pronto a atender-lhe os mínimos pedidos — novamente, ela se enfureceu com a audácia de Callister. Ao que parecia, a máscara de bondoso anfitrião já havia caído.
— Como queira.
Elizabeth voltou sua atenção ao prato que já não lhe parecia mais tão apetitoso. Ser observada a comer era constrangedor, especialmente quando Meredith soltava sons de reprovação fazendo-a inconscientemente corrigir-se. Ora! Era irritante ter de aplicar regras de etiqueta quando se estava em seu próprio quarto querendo desfrutar de uma refeição tranquila.
Quando finalizou, a empregada retirou os talheres de sua frente.
— Irei levá-los à cozinha, logo retorno, precisa de mais alguma coisa? — Elizabeth negou e logo a empregada desapareceu pela porta. Esgueirando-se cuidadosamente para os corredores, a princesa procurou pela presença inóspita de Meredith, para seu alívio, ela não se encontrava à vista.
Sem pensar duas vezes, saiu de seus aposentos caminhando a esmo pelos corredores extensos do palácio. Se Callister pensava que poderia controlá-la e vigiá-la como bem quisesse, estava muito enganado.
O que era o mais irritante em toda a situação era mentira descarada que lhe foi contada e recontada durante todo o percurso que fizera em direção à capital. A princípio, sabia que seria uma prisioneira e não haveria problema se assim o fosse, havia concordado com seu destino, a questão estava na mentira, ela detestava ser enganada, sentir-se uma tola, tal qual se sentia naquele momento.
Atravessando portas escancaradas e ziguezagueando sem fim, finalmente conseguiu acessar a área externa do palácio. Elizabeth ainda não estava satisfeita, sentia que a qualquer momento se encontraria com Meredith ou Calister, então continuou sua caminhada sem rumo, distanciando-se cada vez mais da construção imensa.
Os seus sapatos de couro entravam em contato com o pavimento. Era um som reconfortante que acalmava os ânimos, distraindo-a de pensamentos indesejados. A agradável paisagem que a rodeava também anuviava-lhe a mente. Flores profusas de tamanhos e cores diversas mesclavam-se harmoniosamente pelos canteiros e ora ou outra a presença de estatuetas graciosas roubava-lhe a atenção.
Logo, notou que a paisagem ao seu redor mudou, ao invés de flores delicadas e perfumadas, árvores densas começaram a rodeá-la. Ainda seguindo os caminhos de pedra que cortavam os jardins, Elizabeth deparou-se com uma imensa construção. Pelo seu formato não poderia ser outra coisa que não fosse…
— Estábulos! — exclamou, apertando o passo para se aproximar do local. Seria uma feliz coincidência caso se deparasse com Rajado, o seu corcel malhado que a trouxera até o palácio.
Conforme se aproximava da construção, percebeu que não poderia estar mais enganada. Não havia um único cavalo sequer e o lugar parecia há muito abandonado.
Com passos hesitantes, adentrou no interior da construção, observando a madeira velha e podre, o teto desfalcado com buracos gigantes por onde luz natural entrava.
Nos cantos havia algumas armaduras velhas e enferrujadas, espadas um pouco menores do que o comum e…
— Um arco — exclamou, alegremente, enquanto se aproximava do arco e uma aljava vazia. Ela andou pelo salão, recolhendo flechas dispersas pelos cantos. Ela só parou quando contou um total de doze flechas dentro de sua aljava,
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Atualizado até capítulo 93
Comments
Rosária 234 Fonseca
que lugar será esse
2024-10-08
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