Elizabeth acompanhava Asher e os cavaleiros que sempre lhe faziam companhia. Apesar das conversas agradáveis que a rodeavam, ela se sentia mais insegura do que nunca. Era a saudade de casa, de seu pai e de Karine. Algumas vezes, era fácil se esquecer da dor no peito que acompanhava, mas em outras ocasiões, se lembrava da falta que o lar lhe ocasionava. Estava abatida. Se ao menos Karine estivesse ali lhe fazendo companhia… Elizabeth suspirou profundamente.
— O que foi princesa? — um dos cavaleiros lhe perguntou.
— Não é nada…
— Sabe que pode nos dizer qualquer coisa.
— Sim, qualquer coisa.
— Os senhores são muito gentis. A verdade é que sinto saudade de casa e estou preocupada com meu pai. Espero receber notícias dele logo.
— Não se preocupe com isso princesa, em breve chegaremos à capital e de lá será mais fácil receber e mandar cartas — Elizabeth sorriu agradecida pelo consolo, mas gostaria de retrucar dizendo que preferiria não ter de sair de casa, especialmente sob circunstâncias como aquela.
Na realidade, sentia um misto de emoções dentro de si e entre eles a frustração por não conseguir detestar Calister como gostaria, afinal, era ele o motivo de seu algoz, não fosse por sua barganha, ela não estaria ali, contudo o imperador era tão atencioso que era impossível nutrir qualquer sentimento de ódio e isso a irritava.
Ainda assim, estava decidida a manter uma distância mais do que respeitosa dele. Seria uma traição a seu pai se permanecesse tão próxima de alguém que apenas trouxe problemas à sua família. Logo estariam na capital e qualquer proximidade com o Imperador seria cortada devido às obrigações que o esperavam.
Elizabeth observou a figura de Callister ao longe, parecia pensativa e compenetrada. Ela perguntou no que estaria pensando. De imediato, lembrou-se de quando ele a viu se banhando no riacho e um sentimento de vergonha lhe atingiu. No momento em que tudo aconteceu, o que menos a preocupava era a possibilidade dele a ter visto desnuda, afinal, a ideia de que houvessem feras perigosas à espreita era mais ameaçador e assustador do que ser vista nua, mas passada a situação, quando se lembrava do modo que ele a olhava, não podia sentir outra coisa que não fosse vergonha.
— Algum problema? — Asher a indagou. Rapidamente, ela tentou dissipar os pensamentos que a apoiavam.
— Nenhum, estou apenas pensando sobre a duração da viagem, ela se estendeu mais do que o planejado.
— De fato, viajar com um exército desse tamanho atrasa tudo. Se estivéssemos em um grupo menor a viagem seria feita com grande velocidade, mas não se preocupe, logo chegaremos. Veja aquelas colinas, os montes azuis. É entre eles que a capital está localizada. Daqui a dois dias a princesa poderá conhecer a cidade da luz.
Elizabeth assentiu silenciosamente, estava pensativa. Em breve chegaria a capital e consequentemente ao palácio. O que lhe esperava quando chegasse? Seria bem recebida? Ou teria olhares de reprovação e desprezo? Estava receosa e temerosa, torcia para que tudo desse bem no final.
Os cavaleiros seguiram caminho até que o pôr do sol iniciasse a sua movimentação, traçando uma risca invisível entre o céu e o horizonte, onde se deitaria. O céu tomado por tons avermelhados e alaranjados começava a receber a presença de pontos luminosos. Novamente, todos cessaram a viagem e montaram acampamento.
Elizabeth estava entretida na companhia dos cavaleiros, aguardando as tendas serem montadas e a carne ser assada.
— Espero que dessa vez não me entreguem uma carne torrada — Gerard reclamou.
— Seria mais fácil morder o animal vivo então — Armand gracejou, arrancando gargalhadas entre os companheiros.
— Com um bocado de cerveja, quem sabe… — Elizabeth os escutava animadamente, até que as risadas cessaram rapidamente.
— Majestade — eles se curvaram respeitosamente. Callister estava ao lado de Elizabeth, pegando-a de surpresa. Ela não o havia visto se aproximar.
— Princesa, me acompanhe por favor — após o pedido inusitado do imperador, ela lançou um olhar suplicante a Asher que apenas lhe lançou o seu melhor sorriso encorajador. sabendo que não receberia nada além daquele sorriso, ela seguiu Callister obedientemente.
Ele parou em frente a uma árvore robusta, o seu tronco estava com um círculo delimitado feito a faca. Ela olhou confusa para Calister que lhe entregou o arco e uma aljava cheia de flechas.
— Não entendo…
— Asher me disse que gostou de treinar com o arco.
— Então você vai me ensinar? — indagou, um tanto estupefata. Ele anuiu em concordância.
— Quero que me mostre o que eles lhe ensinaram até o momento — Elizabeth o obedeceu. Preparou-se tentando armar a posição que lhe foi ensinada, mas estava um pouco desajeitada. Não conseguiu encaixar o arco sobre a flecha. Callister se aproximou, tocando nas partes do corpo que estavam em posição incorreta.
— Precisa estar ereta, esse braço um pouco mais arqueado. Precisa de força nessa parte aqui — ele lhe dava as instruções pacientemente. Elizabeth se esforçou para seguir tudo corretamente e estava tudo indo muito bem, ao menos na visão da princesa — deixe-me ajudá-la — Callister encaixou o corpo atrás de Elizabeth, tocando-a cuidadosamente. Com o próprio corpo, ele a ajudou a ficar na posição correta. Ela se sentia extremamente envergonhada. Estar tão perto dele, especialmente após o ocorrido da noite anterior a deixava constrangida e por alguma razão arrepios lhe corriam pela nuca.
— Assim? — perguntou.
— Muito bem. Agora solte — seguindo suas instruções, ela soltou a corda e a flecha saltou em um zunido em direção ao tronco acertando-o em cheio. Elizabeth abriu um sorriso vitorioso e se virou para Calister — Perfeito — ele a elogiou, parecia orgulhoso — agora, tente sozinha.
Callister foi treinando Elizabeth pacientemente e mesmo que errasse com certa frequência o alvo, nunca a deixava constrangida ou se irritava. Ela não sabia há quanto tempo treinava, mas notou que a noite começava a cobrir-lhes com o seu manto de escuridão, tornando difícil avistar o alvo.
— É o suficiente por hoje, deve descansar agora — de imediato, ela pendurou o arco em suas costas e começou a recolher as flechas que estavam no chão, uma grande maioria — para alguém que nunca teve contato com arco e flecha, você foi muito bem.
— Verdade? — perguntou, esperançosa. Por algum motivo, receber um elogio vindo dele a deixava satisfeita e feliz.
— Verdade. Você precisa comer e dormir, amanhã chegaremos à capital — ele anunciou e logo em seguida se afastou. Ela o observou se difundir entre as massas corporais de seus guardas, sumindo por completo.
Elizabeth guardou cuidadosamente a arma que pegara emprestada do arsenal e então se juntou com os cavaleiros que jantavam alegremente. Enquanto se divertia na companhia deles, refletia sobre a figura enigmática de Callister e sobre os seus próprios sentimentos conflitantes.
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Atualizado até capítulo 93
Comments
Anonymous
Tô amando
2025-03-02
0
Roselane Oliveira Sandes
Muito bonita a história
2024-09-21
1