Era início da noite. O sol já tinha se posto há alguns minutos e Elizabeth estava pronta para um sono reparador. Após desfrutar da bandeja farta de doces durante a tarde, não se sentiu inclinada a participar do jantar, embora que pelas informações pescadas durante o dia, ela não seria convidada a se fazer presente no banquete que seu pai organizou às pressas para os visitantes.
A princesa se sentou em frente à penteadeira e começou a pentear os seus longos cabelos.
— Deveria pedir por minha ajuda — Karine disse, surgindo ao lado de Elizabeth.
— Com esse seu mau-humor, tenho medo que me deixe careca — retrucou, passando a contragosto o pente a Karine. Ao contrário do que esperava, a criada penteou os seus cabelos com a mesma delicadeza de sempre.
— Quem sabe assim aprendesse algo.
— Não pode me julgar por ser curiosa.
— Curiosidade de mais só traz problemas — Elizabeth deu de ombros.
— Para mim traz diversão, por exemplo, esta tarde encontrei uma companhia muito agradável… Ai! — Elizabeth sentiu um puxão em seus cabelos momentaneamente — você me prometeu!
— Não prometi nada… Mas como assim companhia agradável?
— Um dos visitantes… Ai, tudo bem, pode cessar fogo — Elizabeth se levantou bruscamente, massageando o couro cabeludo que doía devido aos puxões.
— Cessar fogo?
— Sim, eu sei que não segui as ordens de meu pai.
— E me enganou .
— Eu não te enganei, eu realmente pensei ter visto fogo, acho que é o tédio me dando alucinações — Karine bufou, irritada.
— Por favor, guarde suas artimanhas para outros. Crescemos juntas, conheço cada pedacinho dessa sua mente maliciosa.
— Não acredito do que está me acusando! — Elizabeth fez ar de ofendida, mas Karine pouco se importou.
— Por favor, estamos só nós duas, não precisa ser dissimulada comigo.
— Dissimulada? — Elizabeth exclamou — é melhor que peça desculpas.
— Sem chance — Karine cruzou os braços. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu um impacto macio em seu rosto e algumas penas de ganso voando pelo quarto — ora sua… — rapidamente, Karine pegou outro travesseiro e jogou na princesa.
Em questão de minutos, o quarto se transformou num verdadeiro campo de batalha com penas voando por todos os lados. Em algum momento, a briga se expandiu para os corredores e Elizabeth se viu correndo atrás de Karine com um travesseiro, espalhando um bocado de penas nos corredores.
— Você não pode fugir de mim para sempre, Karine !— ela gritou a plenos pulmões, deixando escapar uma gargalhada.
— Mas eu posso te retardar — Karine gritou de volta.
Ambas estavam tão imersas em sua brincadeira que não perceberam por onde se embrenhavam. Elizabeth começou a cansar da correria até que decidiu fazer um ultimato. Ela mirou o travesseiro em Karine que continuava correndo, se distanciando cada vez mais, até que o atirou com toda a força possível. Ele voou por alguns metros e… Ele não atingiu Karine, que já tinha desaparecido pelos corredores. O travesseiro havia caído no rosto de um estranho. Elizabeth colocou as mãos sobre a boca ao avistar o homem empapado de penas.
— Minha nossa! Me desculpe, senhor, eu não tinha te visto — ela iniciou suas desculpas se aproximando do homem que permanecia estático, parecia incrédulo com o que acabava de acontecer.
— Elizabeth! — ao ouvir a voz de seu pai chamar por seu nome, a princesa se escondeu atrás do estranho que continuava perplexo — Elizabeth, o que você… Ah, majestade, o que lhe aconteceu? — ela sabia que seu pai estava alguns metros de distância e seu coração se acelerou.
— Ainda estou tentando compreender — o homem disse, olhando de soslaio para Elizabeth que continuava escondida.
— Irei chamar por algumas criadas para lhe ajudar e… Elizabeth? O que faz escondida?
— Ahm, oi pai! — ela disse acenando com um pequeno sorriso e, ao avistar a expressão severa do rei, começou a explicar — eu… eu estava ajudando esse senhor, o pobrezinho ficou todo empenado…
— E como isso aconteceu? — ele perguntou, ressabiado.
— Como aconteceu? — os dois homens a observavam com grande interesse, esperando pela sua explicação. Naquele momento sua mente havia ficado em branco. Ela olhou rapidamente para a janela e viu um vulto bater as asas do lado de fora, uma ideia surgiu — eu estava tentando atingir um morcego.
— Um morcego? — os dois homens exclamaram ao mesmo tempo.
— Sim, um morcego. Ele entrou voando no meu quarto pela janela e eu comecei a persegui-lo. Detesto morcegos.
— Você perseguiu o morcego com um travesseiro? — seu pai perguntou, estupefato.
— Era a única arma que tinha em mãos e eu fiquei assustada — defendeu-se, recolhendo a carcaça do travesseiro.
— Poderia ter chamado pelos guardas — o homem retorquiu.
— E atarefá-los com uma besteira? Claro que não! Agora que as coisas se esclareceram, eu vou para o meu quarto — Elizabeth disse, mas antes de partir, se virou para o homem empenado. Ela estendeu a mão e tirou uma grande quantidade de penas presas sobre os cabelos negros do homem — prontinho, está um pouco melhor do que antes.
Elizabeth estava pronta para ir, quando ele a chamou:
— Não vai se juntar a nós? Seu pai me disse que estava indisposta, mas como vi agora há pouco, me parece muito melhor — Elizabeth abriu um largo sorriso e respondeu:
— Já que insiste, irei com grande prazer! — o homem ofereceu o seu braço a qual a princesa enlaçou prontamente. Ela não avistou o semblante preocupado de seu pai, que assistia a cena com grandes tremores. Sabendo que não poderia fazer nada para impedir o que quer que pudesse acontecer, ele seguiu o casal.
— A propósito, obrigada por me ajudar — ela sussurrou no sopé do ouvido do homem. Um pequeno sorriso estampava seus lábios.
— Não poderia deixar uma dama em apuros, agora me diga a verdade, estava mesmo perseguindo um morcego?
— E o que lhe faz pensar que não?
— Acredito ter lhe ouvido gritar “você não pode fugir de mim para sempre, Karine” — Elizabeth engoliu em seco e o homem lhe encarava como se a tivesse pego.
— Karine é uma espécie de morcego, o senhor não sabia?
— Karine, que bom encontrá-la, precisamos conversar mais tarde… — Elizabeth olhou para trás e se deparou com a amiga que conversava rapidamente com o rei. O homem que a acompanhava lhe lançou um sorriso afetado.
— O que foi? — perguntou, inocentemente.
— É uma grande coincidência, não acha?
— Eu sei que nesse exato momento pareço-me com uma grande mentirosa, mas isso é apenas um mal entendido — Elizabeth tentou encontrar uma maneira de ludibriá-lo, mas a expressão que ele lhe lançava deixava claro que não adiantaria continuar com suas explicações — porque não mudamos um pouco de assunto? Ainda não me disse seu nome — sugeriu rapidamente. Ele riu.
— Não se preocupe, princesa, não contarei a ninguém sobre a sua guerra de travesseiros com a empregada — instantaneamente, Elizabeth sentiu sua face corar de vergonha.
— Agradeço a discrição. A propósito, o que veio fazer no reino de Guiness? — novamente, tentou mudar o rumo da conversa.
— Eu poderia ser um de seus pretendentes — após a sua sugestão, Elizabeth arqueou uma de suas sobrancelhas.
— Seria muito tolo se considerasse pedir minha mão em casamento.
— E por quê? — Elizabeth espiou por cima de seu ombro, seu pai parecia concentrado ao ouvir Karine que falava num tom muito baixo.
— Não sou herdeira de muitas posses, como bem deve saber e certamente não sou a mais indicada para um matrimônio.
— E por que não seria? — a princesa abriu um sorriso travesso.
— Não preciso dizer muito depois do pequeno incidente.
— Eu… — antes que ele pudesse concluir sua fala, Elizabeth o interrompeu ao avistar o salão de banquetes, que naquele pequeno castelo era uma nomenclatura gentil para se referir a uma pequena sala de jantar.
— Já chegamos! — disse, apontando para a porta entreaberta que revelava muito pouco do cômodo. Ao adentrarem, ela avistou ao todo onze homens corpulentos sentados sobre a mesa. Pela expressão carrascosa, pareciam impacientes pela demora dos anfitriões.
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Atualizado até capítulo 93
Comments
Edna César
ela tem quantos anos que parece uma criança. !?
2025-03-09
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Edna César
traquina 😂😂😂🤣🤣🤣🤣🤣
2025-03-09
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Edna César
😂😂😂😂😂😂😂😂malvadinha
2025-03-09
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