...|FRANSCISCA|...
No meu tempo de juventude, as coisas eram diferentes de agora.
Mas eu sempre fui a frente do meu tempo, sempre fui um passo a frente dos meus amigos.
Foi por isso que eu consegui estar ao lado da pessoa que eu mais amei durante a juventude.
Agora a pessoa que eu mais amava na minha velhice, era alguém como meu amor de juventude.
Oliver era o neto que eu mais amava.
Não somente por ele ter feito tanto por mim, mas pelo simples fato de ele ser como quem eu amava.
Eu amava aquele meu neto, porque ele era brilhante, inteligente, esperto, amável e tinha aquela pureza ímpar.
Se parecia muito com o avô dele.
Em sentidos de personalidade.
— Você tem certeza que não quer que eu conte? — O doutorzinho da clínica de repouso perguntou.
— Você vai dizer a uma criança que ama que está morrendo? — Perguntei para ele sem olhá-lo.
— Você está fingindo ter uma doença que não tem, e eu estou ajudando você a enganar um grande amigo, você acha isso certo? — Ele perguntou.
— Você concordou. — Falei para ele.
— Você me obrigou a concordar, acha que Oliver vai me perdoar quando descobrir? — Ele perguntou.
— Ele só vai descobrir no dia da minha morte, que não está muito longe. — Falei para ele enquanto seguia costurando.
— Qual é Francisca, ele vai ficar magoado comigo, ele acha que você tem alzheimer, quando você morrer de câncer terminal, o que eu vou dizer a ele? "Eu fui negligente com a saúde da sua avó, a quem você me confiou". — Ele disse carrancudo.
— Eu vou deixar uma carta para você entregar a ele, Vier não tem o costume de guardar rancor, eu sei que ele não mudou isso. — Ela disse.
— Você obrigou Igor a contar tudo o que ele sabia sobre o Oliver, você não ficou satisfeita, e agora quer saber se o cara que está com ele é bom o suficiente, eu entendo sua preocupação com o seu neto, mas agora mentir para ele dizendo que você tem Alzheimer quando na verdade tem câncer terminal, é algo que eu realmente não entendo, ele vai ficar chateado com você e depois comigo. — Ele disse.
— Não se aborreça sobre isso meu rapaz, ele não vai brigar com você. — Ela falou.
— Posso perguntar uma coisa? — Ele perguntou.
— Me diga? — Perguntei para ele.
— Por que você mudou de ideia sobre ele? Antes de você vir, Oliver me contou que você disse que não queria vê-lo, mas quando você chegou aqui, você disse muitas coisas boas dele, eu fiquei um pouco surpreso, não é fácil para alguém da sua idade aceitar algo assim. — Ele perguntou e comentou.
Olhei para ele enquanto o sol da tarde iluminava o salão de repouso do asilo.
— Quando eu era jovem, eu me apaixonei por alguém como ele, foi essa pessoa por quem eu me apaixonei que se casou comigo, foi com essa pessoa que eu tive meus filhos e os criei, foi ele que se dedicou e cuidou de tudo. — Falei para ele.
— O seu marido era gay? — Ele perguntou surpreso.
— Sim, ele gostava de garotos, mas a sociedade antes não era tão aberta como hoje, eu sabia quem ele era, eu sabia que ele gostava de outra pessoa, e mesmo assim, aceitei me casar com ele, porque eu o amava tanto quanto eu me amava naquela época, eu entendia a relação deles dois e estava torcendo por eles, nós tivemos uma única noite, não foi o que eu esperava, mas foi suficiente para eu ter os gêmeos Davis e Ana, e depois, quando ele disse que iria embora, eu... Apenas aceitei, por que ele estava infeliz, me casei um ano mais tarde, os gêmeos tinha cinco anos na época, o pai da Daiane criou os dois como se fossem filhos dele. — Respondi.
— E onde ele está agora? — Ele perguntou com curiosidade.
— A carta que você me trouxe era dele, ele pediu para me encontrar. — Falei para ele.
— Pediu para encontrar você? — Ele perguntou sem entender.
— Isso, vou precisar da sua ajuda para ir ao encontro dele, sem que o diretor diga ao Vier. — Falei para ele.
— Isso é fácil, o diretor é o meu pai, mas você terá de esperar o meu dia de folga. — Ele disse.
— Eu espero. — Falei para ele.
— Ótimo, então ficamos assim. — Ele disse, se levantou e se foi.
Durante todos aqueles anos, eu me perguntava como ele tinha passado.
Mas a pergunta que eu mais me fazia, era se ele estava feliz com o que tinha escolhido para a vida dele.
Nossa amizade foi desde a infância.
Mesmo eu sabendo quão duro era o sistema de classes naquela época.
Mesmo sabendo que a família dele não era uma família que me deixaria ir.
Ainda assim, eu quis me envolver.
Ele não tinha amigos, nenhum amigo além de mim.
Isso me dava um pouco de crédito sobre os deveres dele e os meus direitos.
Principalmente os meus direitos egoístas.
Mas os relacionamentos são vias de mão dupla.
Enquanto ele tinha que dar, ele tinha que receber também.
Aquilo era algo que realmente tinha sentido para mim.
Viver um triângulo amoroso não é como nas novelas, ainda mais quando você só é uma peça de enfeite.
Eu me considerava uma peça de enfeite no relacionamento deles dois, mas eu não me importava muito naquela época.
Eles eram incríveis juntos.
Senti um sorriso no meu rosto.
— Será que vocês ainda se amam como antes? — Me perguntei.
...***** ...
— Você está muito elegante. — O doutorzinho falou quando saímos da clínica.
— Era assim que eu me vestia antes, eu era uma mulher muito bonita durante a juventude, quando eu me casei, não foi somente pelo fato do Degas ser meu amigo de infância, mas foi também pelo fato de ele sempre me achar muito bonita, ele tinha o costume de dizer que os filhos dele seriam filhos da minha beleza. — Falei para ele.
Ele sorriu.
— Bem, eu não acho que ele errou então, Oliver sempre se pareceu com um anjo. — Ele comentou.
— Você gosta dele? — Ela perguntou.
— Eu sempre tive comigo uma necessidade estranha de proteger e cuidar dele durante o tempo da faculdade, ele causa isso nas pessoas, porque os que foram mais próximos dele também sentem o mesmo. — Ele respondeu.
— Cativar a todos, ele se parece muito com o pai dele fisicamente, mas tem o carisma do avô, o Degas era capaz de conquistar a todos ao redor. — Falei para ele.
Ele sorriu.
— Você sempre fala muito do Degas, acho que estou curioso para conhecê-lo. — Ele disse e me olhou rapidamente.
— Venha comigo então. — Falei para ele.
— Nós chegamos. — O doutorzinho avisou.
— Ele me pediu para encontrá-lo lá dentro. — Falei para ele.
— Você quer que eu vá com você mesmo? — Ele perguntou.
— Por que não? — Perguntei e desci do carro.
Ele desceu também e travou as portas.
Ele segurou meu braço para me auxiliar e seguimos para dentro.
O restaurante era suntuoso e bonito.
Chegamos a recepção e o rapaz atrás do balcão sorriu.
— Bom dia, os senhores tem reserva? — Ele perguntou.
— Eu vim encontrar um amigo, ele se chama Degas, Degas Ross. — Falei para ele.
Ele olhou o computador por um tempo e depois levantou os olhos para mim.
— Desculpe, mas não tem reservas nesse nome. — Ele disse.
— Veja então Marsalis, Degas Marsalis. — Falei para ele.
Ele olhou novamente o computador e sorriu.
— Franscisca Ross? — Ele perguntou.
— Isso mesmo. — Falei e mostrei minha identidade.
— O rapaz vai acompanhá-los até o salão. — Ele disse.
Sorri para ele.
— Obrigada. — Falei e o rapaz nos deu passagem.
Seguimos para o final do restaurante e o rapaz abriu uma porta na parte de trás.
A mesa estava debaixo de um pergolado de flores bonitas em um tom de rosa vibrante.
Os dois homens se colocaram de pé e sorriram.
— Fran. — Eles disseram juntos.
Sorri para eles.
— Espero que não se incomodem com o meu convidado. — Falei para eles.
— De forma alguma, seu convidado é nosso convidado também. — Eles disseram.
Nós nos sentamos e ele me entregou o cardápio.
— Você está ainda mais bela do que antes querida. — Alejandro disse com um sorriso galanteador.
— Você também está muito bem. — Falei para ele.
— Passamos muito tempo longe, Alejandro teve problemas de saúde e só conseguimos entrar em contato com você agora. — Degas falou.
— O que você quer saber? — Perguntei para ele depois de fazer o meu pedido.
— Como estão as crianças? — Ele perguntou.
Senti um sorriso em meu rosto.
— A Ana morreu há cinco anos atrás, o Davis se tornou um homem inescrupuloso e preconceituoso, minha filha mais nova morreu em um acidente de carro. — Falei para ele.
Os dois me olharam surpresos e Degas sorriu com lágrimas nos olhos.
— Eu lamento. — Ele sussurrou.
— Não mais do que eu. — Falei para ele.
— Desculpe se nós não estivemos perto. — Alejandro falou.
— Está tudo bem, ninguém tem controle sobre vida e morte. — Falei para eles.
— E esse quem é? Um neto? — Degas perguntou limpando as lágrimas.
— Esse é o doutorzinho que cuida de mim. — Respondi para ele.
— Não temos netos? — Ele perguntou.
— Temos dois. — Respondi.
— Então por que você está andando por aí com um doutor? — Ele perguntou.
— O Davis me interditou e me roubou, gastou todo o meu dinheiro e me colocou em um asilo público. — Respondi para ele.
— Como foi que esse menino ficou assim? — Ele perguntou.
— Eu também não sei onde eu errei, as meninas eram tão boazinhas. — Falei e suspirei.
— Se ele colocou você em um asilo público, como o médico que trata você saiu assim? — Alejandro perguntou.
— Graças ao meu neto, eu não estou mais em um asilo público. — Respondi.
— Esse nosso neto é filho do Davis? — Ele perguntou.
— Não, ele é filho da Ana, se chama Oliver. — Falei para ele.
— Ele tem quantos anos? — Ele perguntou.
— Ele tem vinte anos agora, é um escritor famoso desde os quatorze anos. — Falei para ele.
— Um escritor? — Ele perguntou surpreso.
— Sim, ele tem uma personalidade como a sua. — Falei e sorri.
— Então a Ana se casou? — Ele perguntou.
— Sim, ela se casou com um bom rapaz, eles montaram um café ao lado da editora em que o Vier trabalhava. — Respondi.
— Nosso neto é casado? Tem alguma namorada? — Degas perguntou.
— Hum, ele me apresentou um homem como amigo, mas o doutorzinho já me falou que ele é casado com ele. — Respondi.
— Nossos amigos da faculdade disseram que ele se casou e está vivendo bem. — O doutorzinho disse e sorriu.
— Ele é gay? — Alejandro perguntou.
— Sim, uma criança muito boazinha. — Falei e sorri.
— Pelo menos um neto nosso conseguiu ser bem sucedido, meu filho criou uma criança terrível, não tem muito tempo que eu me recuperei e soube das atrocidades que o meu neto fez, voltei porque não quero que ele seja morto. — Alejandro falou.
— Podemos conhecer esse neto de quem você falou? — Degas perguntou.
— Claro, eu vou pedir para vê-lo e podemos marcar um jantar, eu estou tentando descobrir quem o marido dele é, quero saber se ele merece estar com o meu Vier. — Falei para eles.
— Seria ótimo. — Ele disse.
— O que o seu neto fez? — Perguntei para Alejandro.
— Ele tentou recuperar os negócios da família, que você sabe muito bem quais são, depois que o meu filho morreu, em busca de vingança por ele, agora se indispôs com o maior traficante de armas do nosso continente, parece que esse homem está profundamente aborrecido com ele porque ele tentou matar o companheiro dele. — Ele respondeu.
— Uau, ele deve ser realmente corajoso. — Comentei.
— Corajoso? Ele queria reerguer o negócio da família, eu apoiei e dei o dinheiro, mas vingança? O meu filho não foi um santo, embora eu ache que ninguém merece morrer, eu considero que a morte dele foi uma consequência das escolhas que ele fez, por isso eu nunca revidei e também porque sei que a família desse homem é muito mais antiga do que a minha e já está nesse ramo a muito mais tempo do que eu. — Alejandro falou.
A comida foi colocada a mesa e nós começamos a refeição.
— O filho do Davis, o Diego, nosso outro neto, está fazendo faculdade e Olívia minha neta, está estudando também. — Falei para eles.
— Eu tenho outra neta também, mas ela é mais sensata do que o Xande. — Alejandro falou.
— Por que não levamos os dois rapazes no jantar? Assim, eles podem se conhecer e conversar. — Degas falou.
— É uma boa ideia. — Falei para ele.
— Então vamos fazer isso. — Alejandro falou.
— Vamos. — Degas falou.
— Certo, agora eu quero saber para quê vocês me chamaram aqui. — Falei para eles.
— Quando nos separamos, eu não consegui dar nada para você, mas depois, eu consegui me ajustar financeiramente e hoje tenho uma rede de hotéis em toda a região litorânea. Eu dividi o patrimônio e agora metade é sua. — Degas falou.
— Você pode colocar tudo no nome do Oliver, o Davis não sabe administrar nada, vamos falir antes mesmo de receber, o Oliver cuida de tudo e merece ter a herança. — Falei para ele.
— Você está muito aborrecida com o Davis, eu queria ver ele, mas acho que você está me deixando com medo. — Degas falou.
— Ele me interditou, eu não o perdoei por isso. — Falei para ele.
Depois de muita conversa, nós nos despedimos todos e o doutorzinho me guiou para o carro novamente.
— Não achei que vocês três eram tão amigos. — Ele comentou quando já estávamos voltando.
— Eu nunca disse que não éramos amigos. — Falei para ele.
— Pensei que você odiava eles. — Ele falou.
— Eu odiei por um tempo, mas depois eu percebi que não tinha necessidade de ter ódio de duas pessoas que só queriam se amar e viver livremente. — Respondi para ele.
— Você é muito altruísta. — Ele disse.
— Devemos aprender a ser. — Falei para ele.
— Agora você vai promover o encontro entre os netos? — Ele perguntou.
— O Degas me pediu, então eu vou fazer. — Falei para ele.
— Pelo que vocês conversaram, eu acho que esse neto do companheiro do seu ex, não é alguém que tem um bom coração. — Ele disse.
— O meu neto tem uma capacidade extraordinária de fazer as pessoas gostarem dele. — Falei para ele enquanto sorria.
— Ele tem, eu sei que tem, mas algumas pessoas são realmente impenetráveis. — Ele disse.
— Essas pessoas estão fadadas. — Falei para ele.
Ele estacionou o carro e nós saímos.
Depois de me deixar no quarto, o doutorzinho foi embora.
Sentei na cama e peguei a foto de Oliver da gaveta.
A foto era de quando ele era criança.
As bochechas coradas e o sorriso de olhos brilhantes.
— Você vai sorrir desse jeitinho para a vovó de novo, antes de eu ir com a sua mãe. — Sussurrei.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Jucilene De Fatima
o Oliver é o Alexandre São primos que história maravilhosa imagina a hora que eles se reencontrar
2025-02-13
1
Maria Odilia Conceição da Silva
Que situação!O neto de um é rival do marido de Oliver.Que história!
2025-02-05
1
Erica Jesus
sério isso? o avô é inimigo 🤬🤬
2024-12-19
1