Taya
Chegamos à casa de Osman, que parece bem triste e cansado. O corte em sua testa está feio, e sinto que devo cuidar do seu ferimento.
— Você deve estar cansada, né? — ele pergunta.
— Não mais que você. Esse corte está bem feio, deixe-me cuidar dele? — pergunto.
— Não precisa, não se preocupe, eu me viro — ele diz com um sorriso fraco, tentando demonstrar que está bem. Mas seu olhar o desmente.
— Precisa sim. Por favor, me deixe ajudá-lo. Assim, me sentirei útil e será uma forma de agradecer por tudo o que fez por mim hoje. Você tem um coração muito bondoso, Osman. Tudo que me ensinou e fez por mim, mesmo sem me conhecer, mostra o quão nobre você é — digo, aproximando-me dele, encarando seus olhos.
— Obrigado, é a primeira vez que alguém me diz isso. Embora eu discorde de você, não acho que sou tão bondoso assim.
— É sim, e vai me deixar cuidar de você? — insisto, com um olhar meigo e convicto, o mesmo que eu fazia com Asnam quando queria que ele aceitasse participar das minhas loucuras.
— Tudo bem. Vou pegar o kit de primeiros socorros na despensa e, antes que pergunte, é uma caixa com remédios e curativos — ele explica, me fazendo rir.
— O que há de engraçado? — ele pergunta.
— Eu sei o que é um kit de primeiros socorros, Sardônica não é tão atrasada assim... — digo, e agora ele ri.
Ele volta com o kit e senta-se na cadeira. Pego uma água boricada, algo que eu não conhecia, e começo a limpar o ferimento. Ele resmunga.
— Para de ser fresco, já fiz um corte maior que esse nas costas, e o Asnam jogou cachaça para estancar o sangue, e eu nem gritei — digo.
— Está doendo muito — ele reclama.
— Mas precisamos limpar para evitar infecção. Os germes adoram cortes — explico, mas então ele rapidamente segura minha mão, me impedindo de continuar.
— O que foi? Por que segurou minha mão assim? — pergunto.
— Eu nunca deixei alguém tocar em mim sem que lavasse as mãos. Sempre passei álcool em tudo antes de tocar qualquer superfície. Não entendo como hoje... — ele suspira e continua: — Só agora percebo que hoje não fiz nada disso. Peguei na sua mão várias vezes, entrei no hospital sem medo algum de ser contaminado por germes e bactérias — ele diz, surpreso. Coça a cabeça e leva a mão ao queixo, como se estivesse questionando algo em seus pensamentos.
— Mas por que você tem tanto medo assim? — pergunto.
— Meu pai morreu de tuberculose, uma doença causada por uma bactéria. Ele ficou isolado, tudo em casa era higienizado, pois essa doença é contagiosa. Meu pai morreu sem que eu pudesse me despedir, sem que eu pudesse dar um último abraço. Um ano depois, comecei a ter crises de ansiedade e desenvolvi misofobia, um transtorno que me acompanha desde os treze anos. E hoje... não sei como, mas não estou com medo — ele diz, com um sorriso no rosto.
— Então posso continuar cuidando do seu ferimento? — pergunto.
— Claro, pode — ele diz, sentando-se na cadeira.
Termino de cuidar do ferimento e coloco o curativo. Osman me encara de um jeito que me deixa sem graça.
— Já terminei — digo.
— Seus olhos são lindos, parecem um lago cristalino — ele comenta, com um tom de voz diferente. Sinto-me um pouco desconcertada e começo a guardar as coisas na caixa.
— Obrigado por cuidar do meu ferimento. Agora, deixa isso aí que amanhã os empregados arrumam — ele diz, segurando minha mão e interrompendo minha tentativa de organizar os medicamentos.
— Não, eu faço isso, não é nenhum trabalho — respondo.
— Vamos, já está tarde e você precisa descansar — ele insiste.
Decido deixar as coisas como estão. Ele me conduz até o quarto onde troquei de roupa mais cedo.
— Boa noite, Taya — ele diz, surpreendendo-me com um beijo no rosto.
— Me desculpe, não quis constrangê-la. É que costumamos nos despedir assim das pessoas — ele acrescenta, percebendo meu espanto.
— Tudo bem, acho melhor eu me acostumar com o jeito de vocês, já que agora esse aqui é o meu mundo. Boa noite, Osman! — digo.
— Boa noite!
Após me despedir, entro no quarto e fecho a porta. Olho para a bagunça que fiz mais cedo e, antes de tomar banho para dormir, decido arrumar tudo. Com tudo em ordem e já de banho tomado, me acomodo na cama, relembrando tudo que aconteceu neste meu primeiro dia na terra.
Desperto, mas tenho medo de abrir os olhos e perceber que tudo não passou de um sonho. E se eu tivesse criado tudo na minha imaginação e, na realidade, estivesse em Alexandrita? Isso seria terrível. Com certeza, eu morreria se tivesse agora que dividir minha vida com o imbecil do príncipe Kuskun. Vou abrindo um olho bem devagar e me sinto feliz quando comprovo onde estou.
— Graças a Deus — digo, sentindo-me aliviada.
Após fazer minha higiene matinal, olho pela janela e vejo que o dia está lindo. Este céu azul sem nenhuma nuvem, e o sol brilha em todo o seu esplendor. Volto minha atenção para o quarto e procuro uma roupa que não mostre tanto o meu corpo. Por fim, encontro um vestido longo com estampa de flores amarelas. Olho-me no espelho e até me acho parecida com as mulheres que vi nas ruas de Istambul. Talvez um dia eu me acostume e comece a me vestir com essas roupas que deixam o corpo mais à mostra. Desço as escadas e escuto vozes, parece que vêm da sala. Há também um barulho incômodo, que parece vir da cozinha. Quando entro na cozinha, uma senhora se assusta com a minha presença e eu também me assusto quando ela grita, o que me faz gritar também.
Fatma
— Ai, moça! — diz ela, colocando a mão no peito.
— Desculpe, não quis assustá-la — digo, abrindo um sorriso gentil.
Ela me olha como se estivesse me estudando, e depois me dá um sorriso tímido.
— Eu que peço desculpas, é que nunca vi alguém aqui tão cedo — ela diz.
— Não precisa se desculpar. O Osman já acordou? — pergunto.
— Sim. A senhorita não viu quando ele saiu do quarto? — ela pergunta. Será que ela está pensando que dormi com ele?
— Não dormi no quarto dele. Eu dormi no quarto de hóspedes — respondo.
— Me desculpe, não quis constranger a senhorita. Aliás, meu nome é Fatma, sou a cozinheira do senhor Osman — diz ela, meio sem jeito, enquanto limpa as mãos no avental.
— Prazer em conhecê-la, eu sou Taya — respondo.
— O prazer é meu, senhorita. O café da manhã está pronto, e o senhor Osman está fazendo exercícios na academia — informa.
— O que é academia? — pergunto, curiosa. Ela franze a sobrancelha, e não consigo dizer ao certo o que pode estar pensando.
— A senhorita quer saber onde fica a academia? — ela pergunta.
— Sim, onde fica? — insisto. Talvez seja melhor ver a academia do que tentar explicar a ela que não faço ideia do que seja, e ainda ter que dizer que sou de outro mundo.
Ela me leva para fora da casa e me mostra um lugar de frente para o jardim. As paredes são de vidro, deixando exposto tudo o que acontece lá dentro. Ela volta para a cozinha, e eu vou bem devagar em direção à academia. Para que Osman não perceba a minha presença, fico escondida atrás de uma planta, observando-o fazer movimentos repetidos com um objeto que parece muito pesado. Seu braço é forte, com músculos bem definidos; ele é um homem muito bonito.
— Vai entrar ou vai ficar aí me vigiando escondida? — ele diz, pegando-me no flagra. Sinto-me idiota.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Juliana Vicentina da Costa Nerys
no flagra agora é entrar e exercitar.
2025-01-19
3
Rayelle Machado
Foi Pega No Flagra 😂😂😂😂
2025-01-10
3
Bernadete Lopes
Estou encantada com a história .
2024-12-16
3