Osman...
Quando eu era criança, minha mãe costumava dizer: "Quero que você se case e me dê muitos netos. No Natal, todos nós vamos nos reunir aqui, e você sabe que eu vou estragar os seus filhos, né? Vou enchê-los de bolachas e bolo de chocolate, e, se você quiser castigá-los, eu não vou deixar." Acho que eu tinha uns sete anos quando ela me dizia isso. Dói saber que isso nunca vai acontecer. Hoje, aos sessenta anos, ela às vezes nem sabe quem eu sou. Queria entender por que uma mulher tão boa e sofrida como ela tem que passar por isso. Quando meu pai morreu, passamos por muito sofrimento: passamos fome, perdemos tudo. Com muito esforço e muitas lágrimas derramadas, ela conseguiu me criar. Eu pensei que, quando fosse rico, ela poderia desfrutar de tudo, mas não. Ela raramente sabe o que está acontecendo ao seu redor.
— Onde estamos indo? — Taya pergunto. É estranho ter alguém me fazendo esse tipo de pergunta, mas por incrível que pareça, não estou irritado com sua pergunta.
— Estamos indo até a casa da minha mãe — respondo.
— Não vai dizer a ela o que eu disse no helicóptero, né? — ela pergunta, parecendo preocupada.
— Não vou. Ela nem me reconhece mais, então contar o que você disse não iria fazer diferença para ela.
— Por que ela não o reconhece mais?
— Ela está doente, onde você mora, as pessoas têm Alzheimer? — pergunto.
— Eu não sei o que é Alzheimer. Pode me dizer o que é? — ela pergunta.
— Uma doença que faz com que a pessoa esqueça das coisas, até mesmo o próprio nome.
— Já tivemos alguns casos, mas ainda não descobrimos realmente o que faz com que as pessoas mais velhas fiquem assim. Lá em sardônica as pessoas são sacrificadas quando estão com essas doenças, vão sacrificar sua mãe?
Paro de dirigir por um instante, como se a pergunta de Taya me atingisse com uma força inesperada. A olho incrédulo, sinto uma pontada de tristeza se espalhar pelo meu peito.
— Sacrificar minha mãe? — repito as suas palavras, tentando processá-las. Olho para ela e balanço a minha cabeça lentamente, ainda incrédulo. — Não, Taya. Aqui, nós cuidamos das pessoas doentes. Fazemos o possível para que elas vivam com dignidade até o fim de suas vindas.
Respiro fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções que a pergunta dela despertou em mim.
— Não posso imaginar o que você deve ter visto em Sardônica, mas minha mãe... — paro, sentindo minha voz vacilar. — Ela é tudo o que me resta da minha família. Eu jamais faria algo assim — termino de dizer.
Desvio o meu olhar, focando na estrada à frente, tentando afastar a dor que surgia ao pensar na doença da minha mãe e na brutalidade da ideia de perdê-la de uma forma tão cruel.
Ela abaixa a cabeça, demonstrando constrangimento, olhando para suas mãos sobre o seu colo, percebendo que sua pergunta me deixou desconfortável.
— Algumas coisas, Taya, são difíceis de compreender, mesmo para mim — digo.
— — Osman, me perdoe pela minha inconveniência. Não tive a intenção de lhe causar ainda mais dor. Meu mundo é diferente do seu, e quero que saiba que não concordo com as leis de Sardônica. Meu pai é um rei miserável que só se importa com ele mesmo — ela diz com sinceridade, com tanta convicção que às vezes até parece que esse mundo dela é real.
— Não se preocupe, Taya, acredito em suas palavras.
— Osman? — Ela me chama de um jeito doce, e confesso que gostei.
— O que foi? — pergunto, sem tirar os olhos da estrada.
— Obrigada por estar cuidando de mim — ela diz, dando um sorriso tímido.
— Não precisa agradecer — respondo, mantendo o tom tranquilo.
— Osman, posso fazer mais uma pergunta?
— Pode.
— Depois, você pode me ensinar a dirigir? — ela pergunta, e acho graça na ideia.
— Amanhã veremos isso — digo, e ela abre um largo sorriso, me surpreendendo com um beijo no rosto.
Chegamos perto do bairro onde minha mãe mora e, pela graça divina, a avisto sentada em um banco, balançando o corpo como se estivesse ninando um bebê. Paro o carro devagar e peço a Taya que fique dentro do carro. Caminho lentamente na direção dela. Quando me vê, parece assustada, com um cobertor enrolado nos braços. Pelo jeito como ela olha, realmente acredita estar segurando um bebê.
Rüya Mãe de Osman
— Você acha que vou voltar para casa com você? Ainda não acredito que você se envolveu com aquela mulher — ela diz, chorando.
— Não sei do que está falando — respondo, me aproximando um pouco mais.
— Não sabe do que estou falando? Seja homem, Ramazan, admita que tem um caso com sua secretária — ela diz com tristeza.
Nunca soube que meu pai teve uma amante, e agora ela pensa que sou ele.
— Vamos, querida, está frio aqui fora para o nosso filho. Em casa conversamos — digo, tentando convencê-la a vir comigo.
— Eu vou pelo Osman, não por você. Quero que vá embora — ela diz, levantando-se. Meu coração dói ao vê-la assim.
Quando nos aproximamos do carro, me lembro de Taya. E se ela achar que Taya é a amante?
— Querida, contratei uma babá para ajudar a cuidar do Osman. Trouxe-a comigo — digo, torcendo para convencê-la.
Ao chegarmos perto do carro, abro a porta e apresento Taya como nossa babá.
— Essa moça é muito jovem. Ela deve nem saber lavar as próprias calcinhas — ela comenta, e me seguro para não rir de seu comentário.
— Sou jovem, mas sei cuidar muito bem de crianças e da casa, senhora — Taya diz, interpretando bem seu papel.
— Agora vamos para casa — digo, e minha mãe me lança um olhar mortal.
Quando chegamos à casa dela, ela entregou o bebê coberto para Taya e me chamou para o escritório. Lá, começou a arremessar tudo em mim.
— Seu safado mentiroso! Eu te dei meu amor, te dei seu tão sonhado filho, e você me paga com traição! — ela grita, jogando um jarro que acerta em cheio minha testa antes que eu possa desviar.
Me abaixo, sentindo a dor, levando a mão ao local de onde sai bastante sangue. Ela vem para cima de mim e começa a me esmurrar, mas eu a contenho e a abraço forte.
— Eu sou o seu filho! O Ramazan morreu, o papai morreu, mamãe, sou eu, Osman — digo, emocionado, desabando em choro.
— Osman, meu filho, é você? — ela pergunta, se afastando. Toca em meu rosto e começa a chorar.
— Por que está chorando, filho? Quem fez isso com você? — ela pergunta, tocando o ferimento.
— Eu escorreguei no banheiro, mamãe — respondo, secando as lágrimas, feliz por ela se lembrar de mim. Fazia meses que eu era um estranho para ela.
— Vem, você vai tomar o seu remédio e descansar, está bem?
— Sim, filho, mas antes me deixa cuidar desse ferimento.
— Não precisa, mamãe, eu mesmo cuido.
Saímos do escritório, e Taya rapidamente pega o cobertor de cima do sofá e começa a balançá-lo.
— Quem é essa moça bonita? — minha mãe pergunta.
— É uma amiga, Taya.
— Parece uma princesa. E por que ela está ninando um cobertor? Ela tem problemas mentais, filho? — sussurra, para que Taya não escute.
— Eu desconfio — respondo.
— Pobre moça.
Ela cumprimenta Taya, e depois subimos para o quarto dela. Já acomodada na cama, sento na beirada, esperando ela dormir.
— Boa noite, mamãe!
— Eu não sou sua mãe, sou uma moça virgem. O que o senhor faz aqui no meu quarto? Saia daqui! — ela grita. E lá se vão meus poucos minutos de paz.
Saio do quarto e tranco a porta. Dez minutos depois, o remédio começa a fazer efeito e ela pega no sono. Converso com os empregados e com a enfermeira que cuida dela, e após dar as ordens, volto para a sala onde está Taya.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Silvaneide de lima barbosa Silvinha
é uma doença triste que faz parte da nossa realidade Que bom que está sendo retratada
2024-11-25
0
Maristela Cuoghi
muito lindo Kelly, você trazer problemas que temos na vida real,essa doença é muito triste,a pessoa morre, ainda viva
2025-02-02
4
Raiane Marceli
🤣🤣🤣🤣
2025-01-20
3