Quando a noite caiu, a família estava reunida na sala após o jantar. Celma sentou-se com os seus pais, Sr. Augusto e Dona Teresa. Havia algo no ar, uma tensão palpável.
Dona Teresa suspirou, pensativa.
— Filha, desliga ainda a televisão, precisamos conversar — disse Sr. Augusto, com um tom de voz firme, mas carinhoso.
Celma sabia que aquele momento chegaria, mas ainda assim, não estava preparada.
— Sobre o que, papai? — perguntou, tentando parecer indiferente.
— Sobre você, querida. Sobre o que está acontecendo com você — respondeu Dona Teresa, olhando-a nos olhos.
Celma sentiu as lágrimas começarem a surgir, mas tentou segurar.
— Estou bem, mamãe. Só um pouco estressada com o trabalho — disse, tentando se convencer.
— Sabemos que não é só isso, filha. Precisamos saber a verdade, há muito tempo que notamos você diferente se não são enjoos, é pesadelos durante a noite isso já não é normal, filha! — insistiu Sr. Augusto, andando de um lado para o outro, o olhar preocupado.
As palavras de seus pais a fizeram desmoronar. Celma começou a sentir a batida acelerado do seu coração, sentindo o peso de tudo o que estava guardando.
— Eu... eu não sei como dizer isso — começou, com a voz embargada.
Celma olhou para os pais, sentindo-se exposta e vulnerável.
— Sabemos o que Hugo fez com você naquela noite — disse Dona Teresa, a voz cheia de ternura enquanto envolvia Celma em um abraço apertado.
Celma sentiu as lágrimas se acumularem nos olhos, mas não caiu nenhuma. Estava emocionalmente exausta.
— Por que você não denunciou à polícia? — perguntou Sr. Augusto, furioso, os passos ressoando no chão de madeira.
Celma não tinha respostas. A vergonha e o medo a paralisaram naquela noite, e agora enfrentava as consequências.
— Por que esconder isso da sua família? — perguntou Dona Teresa, a voz suave, tentando alcançar a filha.
Celma finalmente falou, a voz quebrada.
— Eu... eu tinha medo.
— Medo! Filha, como você pode ter medo? Aquele desgraçado aproveitou-se de ti — disse Sr. Augusto furioso, os punhos cerrados. — Eu poderia matá-lo...
— Por isso que tive medo. Olha só como o senhor está reagindo! Papai, eu só queria acabar com aquilo de uma vez sem ter que ferir mais ninguém. Eu... Hugo se reduzindo a zero, papai — respondeu Celma, a voz trêmula.
— Mas, filha, mesmo assim, ainda poderia ter nos contado. Por que carregar sozinha esse fardo? — perguntou Dona Teresa, abraçando-a forte enquanto as lágrimas escorriam.
— Parece fácil, mamãe! A essa hora, Edgar ou o papai estariam presos e Hugo morto. Acham mesmo que eu não queria ele preso? Fui eu, mamãe, que pedi para ele tirar a sua própria vida, e o desgraçado fez isso bem na minha frente... Eu me senti tão... tão fraca — confessou, os ombros tremendo.
Dona Teresa a abraçou mais forte.
— Você é nossa filha, Celma. Sempre estaremos aqui para você, não importa o que aconteça — disse ela, as lágrimas correndo pelo rosto.
Celma sentiu a garganta apertar.
— Eu... eu tenho tido pesadelos todas as noites de lá para cá. Senti tanta vergonha — disse ela, a voz quebrada.
— Vergonha? Vergonha de quê? Você é a vítima aqui, Celma — disse Sr. Augusto, furioso, andando de um lado para o outro.
— Por que esconder isso da sua família? — perguntou Dona Teresa, envolvendo Celma em um abraço.
Celma não tinha respostas claras. Sentia-se tão confusa e perdida.
— Eu só... não queria que vocês se preocupassem. Não queria que isso arruinasse ainda mais nossas vidas — disse ela, tentando segurar as lágrimas.
Sr. Augusto parou de andar e olhou para Celma, os olhos suavizando.
— Nós te amamos, filha. O que o Hugo fez é um crime e merecia pagar pelo que fez — disse ele, com firmeza.
— Ele já pagou, papai, podes crer... — respondeu ela, com tristeza.
O relógio na parede da sala marcava o tempo, suas badaladas ecoando pelo silêncio tenso. Sr. Augusto e Dona Teresa levantaram-se, indo para o quarto. Celma ficou ali, sentindo-se esgotada.
No dia seguinte, quando o sol já brilhava ao meio-dia, Celma estava se preparando para ir à clínica, não apenas para a sessão com a sua psicóloga, mas também queria fazer alguns exames para tirar todas as dúvidas que a atormentavam. Quando chegou à sala ao sair do quarto descendoas escadas, sua mãe a abordou.
— Filha, vais para onde? — perguntou Dona Teresa.
— Tenho uma consulta hoje com a psicóloga — respondeu Celma, ajeitando o casaco.
Dona Teresa sorriu.
— Que bom, filha. Sábia decisão. Posso perguntar algo para ti?
— Pergunte, mamãe. O que foi? — disse ela, virando-se para Dona Teresa.
— Filha, tens visto o Hugo? Não minta para mim, por favor... — disse Dona Teresa, a voz carregada de preocupação.
— Claro que não, mamãe. A última vez que o vi foi na saída do tribunal. Por que a pergunta? — disse Celma, franzindo a testa.
— Nada não, filha — respondeu Dona Teresa, desviando o olhar.
— Não acredito, mamãe. Agora a senhora está escondendo algo de mim! Cadê o papai? — perguntou Celma, com a voz subindo.
— Filha, não é para você se preocupar. Eles só querem conversar com o Hugo — disse Dona Teresa, tentando acalmá-la.
— Eles! Não acredito, era isso que eu queria evitar. Porque contaram ao Edgar? Por isso encontrei mais de vinte chamadas dele no meu celular — disse Celma, saindo chateada, o som da porta se fechando ecoando atrás dela.
Celma chegou à clínica e estava sentada na sala de espera, enquanto aguardava sua vez de falar com a Dra. Marília Prata. Enquanto isso, ela lia uma revista, as pernas cruzadas e o olhar distante.
A Dra. Marília entrou na sala de espera, carregando um prontuário.
— Celma, que bom te ver. Chegou cedo, querida! A nossa consulta é às 15h, não? — perguntou ela, com um tom amigável e gentil.
— Sim, Dra — respondeu Celma, com um sorriso tímido.
— Está tudo bem. Não tem problema. Vamos aproveitar esse tempo extra. Entre, querida — disse ela, abrindo a porta para Celma passar.
No consultório, Celma sentou-se na poltrona confortável, sentindo-se um pouco mais relaxada com os olhos baixos.
— Então, Celma, como está se sentindo hoje? — perguntou Dra. Marília, sentando-se à sua frente.
— Confusa, Dra. Marília. Os meus pais descobriram o que realmente ouve naquela noite entre mim e o Hugo. Houve tanta emoção ontem à noite... — disse Celma, a voz trémula.
— Imagino que isso tenha sido um choque para todos — disse Dra. Marília, inclinando-se ligeiramente para frente, em sinal de interesse. — Conte-me mais sobre essa descoberta. Como foi a reação deles? — perguntou Dra. Marília, observando Celma atentamente.
— Sim, foi um grande choque. Sinto que os dececionei por não contar antes — disse Celma, abaixando a cabeça. — O meu pai ficou furioso, claro. A minha mãe, preocupada. Eles não entendem por que eu não contei antes. Eu só... eu só queria proteger todos — explicou Celma, tentando controlar as lágrimas.
— Proteger? Proteger de quê? — perguntou Dra. Marília, inclinando-se ligeiramente para frente.
— Do próprio ódio deles. Do que poderiam fazer ao Hugo. Não queria mais dor, mais sofrimento... — respondeu Celma, os ombros caídos.
— Você não os decepcionou, Celma. Cada um lida com o trauma de forma diferente. Sentiu-se mais segura não contando na época. E agora? Como está se sentindo em relação a isso? — perguntou Dra. Marília, com um olhar compreensivo.
— Ainda me sinto perdida. E agora tem essa questão dos enjoos... — disse Celma, a voz tremendo.
Dra. Marília acenou com a cabeça, compreendendo.
— Entendo. É difícil carregar esse peso sozinha. E os enjoos, como estão? — perguntou ela.
— Piores. Marina, uma das minhas colegas no serviço suspeita que eu possa estar grávida. Que absurdo, isso só aumentou a minha ansiedade. — disse Celma, mexendo nervosamente nas mãos.
Dra. Marília franziu a testa, preocupada.
— Você acha que isso é possível? — perguntou ela, tentando manter a calma.
— Eu não sei... Estou assustada. Não tenho certeza de nada, contudo que me aconteceu nas últimas semanas já nem sei quando foi que menstruei — respondeu Celma, as lágrimas escorrendo.
— Isso pode ser a causa do seu mal-estar. Vamos cuidar disso, Celma. Primeiro, vamos fazer alguns exames para ter certeza. E enquanto isso, vamos continuar trabalhando nas suas emoções e sentimentos — disse Dra. Marília, com um tom reconfortante. — E o trabalho? Como tem lidado com isso?
— Estou de licença. Eles acham que preciso de um tempo para cuidar de mim mesma. E talvez estejam certos... — respondeu Celma, soltando um suspiro pesado.
— Celma, seu bem-estar é primordial. Mas, por hoje é tudo, vou encaminhá-la para minha irmã, Dra. Catarina Prata, que é médica. Ela poderá ajudar com os exames necessários. — disse Dra. Marília, levantando-se.
As duas saíram da sala, e Dra. Marília levou Celma até a área de medicina. Dra. Catarina Prata, uma mulher de semblante calmo e acolhedor, estava à espera.
— Catarina, esta é Celma. Celma, esta é minha irmã, Dra. Catarina uma excelente médica. — apresentou Dra. Marília.
— Prazer em conhecê-la, Celma. Vamos entrar e conversar — disse Dra. Catarina, guiando-a até a sala de exames.
Após as apresentações, Dra. Catarina começou a consulta.
— Então, Celma, conte-me sobre os sintomas que tem sentido — pediu Dra. Catarina, com um tom gentil.
— Tenho tido enjoos, tonturas, e minha menstruação está atrasada. Estou preocupada com a possibilidade de estar grávida... — disse Celma, a voz fraca.
Dra. Catarina acenou com a cabeça.
— Vou pedir que faça alguns exames de sangue para termos certeza de tudo, está bem? Não, espere vou ligar para Rita vir fazer a coleta de sangue — disse Dra. Catarina, pegando o telefone e ligando para a área de enfermagem.
— Rita, poderia vir até a minha sala! Olha traga material para uma coleta de sangue, por favor? — pediu Dra. Catarina.
Poucos minutos depois, a enfermeira Rita entrou na sala, trazendo o equipamento necessário.
— Olá, Celma. Vou fazer a coleta de sangue agora, tudo bem? — disse Rita, com um sorriso acolhedor.
Celma assentiu, estendendo o braço. A enfermeira foi rápida e eficiente, coletando o sangue e levando-o ao laboratório.
— Os resultados estarão prontos amanhã. Pode pegar os resultados aqui, Celma. Enquanto isso, descanse e cuide-se bem — disse Dra. Catarina, com um sorriso reconfortante.
Celma agradeceu e saiu da clínica, sentindo-se um pouco mais esperançosa. Enquanto isso, a pergunta que não se calar. Por onde anda o Hugo Santana?
O relógio fixado na parede da sala da Dra. Catarina marcava o tempo implacável, cada segundo uma lembrança de que a verdade estava prestes a ser revelada.
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Atualizado até capítulo 62
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