Celma sentou-se no chão, o rosto pálido e os olhos fixos no nada. O silêncio na sala era quase palpável, interrompido apenas pelo som abafado dos soluços de Hugo. Ele ainda estava ajoelhado, os olhos inchados de tanto chorar, a voz fraca e desesperada.
— Celma, me perdoa, por favor — suplicou Hugo, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu não sei o que deu em mim, eu... eu não queria.
Celma não respondeu. Seu corpo tremia ligeiramente, como se estivesse tentando expulsar o horror que ainda a envolvia. Cada centímetro de sua pele parecia arder com o toque de Hugo, e a memória de seus movimentos brutais ainda estava fresca em sua mente.
O celular de Celma começou a tocar, o som alto e insistente, mas ela não fez nenhum movimento para atender. Era como se estivesse paralisada, incapaz de reagir ao mundo ao seu redor.
Hugo olhou para o celular, a angústia em seu rosto se intensificando. — Atende, Celma. Pode ser alguém importante.
Celma finalmente desviou o olhar do vazio, seus olhos se fixando no celular que vibrava no chão. Era como se o aparelho estivesse em um universo distante, um mundo ao qual ela não pertencia mais. Ela estendeu a mão, mas a deixou cair logo em seguida, incapaz de reunir forças para pegar o telefone.
Hugo, ainda de joelhos, estendeu a mão trêmula para o celular e o pegou. Ele olhou para a tela, vendo o nome da Ana, a melhor amiga de Celma. Com a voz trêmula, ele disse: — É a Ana. Quer que eu atenda?
Celma balançou a cabeça lentamente, como se qualquer movimento a mais fosse quebrar sua frágil composição. Hugo hesitou por um momento, então desligou o celular e o colocou de volta no chão.
Celma finalmente encontrou sua voz, um sussurro rouco e quebrado. — Por que, Hugo? Por que você fez isso? Eu só queria um tempo...
Hugo se inclinou para frente, desesperado para se explicar. — Eu... eu estava perdido, Celma. O medo de te perder me deixou louco. Eu não sabia o que fazer. Eu estava com tanto ciúme, tanta raiva... eu só queria te manter perto de mim.
Celma olhou para ele, seus olhos cheios de uma mistura de dor e desprezo. — Você me estuprou, Hugo. Você destruiu tudo o que restava entre nós. Não há perdão para isso.
Hugo começou a chorar novamente, seus ombros sacudindo com a intensidade de seus soluços. — Eu sei, eu sei. Eu fui um monstro. Mas, por favor, Celma, me dá uma chance de consertar as coisas. Eu assino o divórcio, faço o que você quiser, mas não me deixa assim.
Celma se levantou lentamente, seus movimentos pesados e cansados. Ela caminhou até a mesa, pegando sua blusa rasgada e tentando cobrir seu corpo machucado. Cada movimento era um esforço, e as lágrimas continuavam a escorrer pelo seu rosto.
— Não há conserto, Hugo. Você me tirou tudo. Minha dignidade, minha confiança, minha paz. Não há como voltar atrás.
Hugo se levantou, tentando se aproximar de Celma, mas ela deu um passo para trás, levantando a mão em um gesto de advertência. — Não me toque.
— Celma, eu... — começou Hugo, mas ela o interrompeu.
— Saia da minha frente, Hugo. Eu nunca mais quero te ver. — A voz de Celma era fria e definitiva, como um corte afiado no ar.
Hugo parou, os olhos cheios de desespero. — Eu vou embora, mas, por favor, não faz nada que possa te machucar mais. Deixe-me te ajudar.
Celma riu amargamente, um som seco e sem alegria. — Você acha que ainda pode me ajudar? Você é a causa da minha dor, Hugo. Só vá embora.
Hugo hesitou por um momento, então pegou suas chaves e saiu pela porta, deixando Celma sozinha na sala. O silêncio retornou, pesado e opressor, e Celma se deixou cair no chão novamente, os joelhos dobrados contra o peito.
O celular começou a tocar de novo, mas Celma ignorou. Ela não queria falar com ninguém, não queria explicar o inexplicável. Tudo o que ela queria era desaparecer, fugir da realidade cruel que a cercava.
O toque insistente do celular finalmente cessou, e o silêncio retornou. Celma fechou os olhos, tentando acalmar a respiração, mas a imagem de Hugo, seu rosto contorcido de raiva e desejo, estava gravada em suas pálpebras fechadas. Ela não conseguia escapar da memória, do horror do que havia acontecido.
Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, Celma finalmente reuniu forças para se levantar. Ela caminhou lentamente até o banheiro, cada passo um esforço monumental. Ao se olhar no espelho, mal reconheceu a mulher refletida de volta. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, o rosto pálido e marcado pelas lágrimas.
Ela ligou a torneira e lavou o rosto, tentando apagar os vestígios da dor, mas a água fria só a fez sentir-se mais desperta, mais consciente do que havia acontecido. Celma se apoiou na pia, os ombros tremendo com soluços silenciosos. A sensação de sujeira era insuportável, e ela se despiu, entrando no chuveiro e ligando a água no máximo.
A água quente escorria pelo seu corpo, mas não levava embora a sensação de ser tocada por Hugo. Celma esfregou a pele com força, tentando se livrar da sensação de violação, mas nada parecia ser suficiente. Ela chorava em silêncio, seus soluços se misturando com o som da água caindo.
Finalmente, exausta e sem forças, ela desligou o chuveiro e se enrolou em uma toalha. Voltou para a sala, onde o celular ainda estava no chão, silencioso. Celma o pegou e viu várias mensagens da Ana, perguntando onde ela estava, se estava tudo bem e que seus pais a ligaram.
Celma digitou uma resposta curta, suas mãos tremendo. "Estou bem. Preciso de um tempo sozinha. Falamos depois." Ela enviou a mensagem e desligou o celular, jogando-o no sofá. O peso do que havia acontecido a esmagava, e ela se sentia perdida, sem saber como seguir em frente.
A noite caiu lentamente, a escuridão enchendo a sala. Celma permaneceu sentada no chão, os olhos fixos na janela. A dor, o medo, a raiva — todas as emoções se misturavam dentro dela, criando um turbilhão de sentimentos que ela não conseguia controlar.
Ela sabia que precisava de ajuda, que não poderia enfrentar aquilo sozinha, mas ao mesmo tempo, o medo de ser julgada, de reviver o trauma, a paralisava. Celma se abraçou, tentando encontrar algum conforto no calor de seu próprio corpo, mas a solidão e o desespero eram esmagadores.
A noite arrastou-se, cada minuto parecendo uma eternidade. Celma finalmente se deitou no sofá, os olhos fixos no teto. As lágrimas continuavam a cair, silenciosas e incessantes, até que, finalmente, o cansaço tomou conta e ela caiu num sono inquieto, assombrado pelos ecos da escuridão.
Ela estava dormindo um sono inquieto, a porta da sala abriu-se, pequenas luzes entraram pela casa anunciando o amanhecer de um novo dia. Hugo aproximou-se do sofá, tentando tocar o rosto de Celma que ardia em febre. Ela assustou-se pelo toque gelado da mão de Hugo, gritando:
— Não encoste em mim! — Celma gritou, a voz fraca, mas carregada de medo e raiva. — Não se atreva a tocar-me de novo! Nunca mais!
Hugo recuou, a expressão no seu rosto uma mistura de dor e arrependimento. — Celma, por favor, eu só quero consertar as coisas. Eu sei que errei, mas eu imploro, dá-me uma chance de fazer isso certo.
Celma virou o rosto, os olhos marejados. — Como você acha que pode consertar isso? — ela sussurrou, a voz trêmula. — Nada do que você faça vai mudar o que aconteceu.
Hugo recuou, a culpa e o desespero marcados em seu rosto. Ele queria consertar as coisas, a razão finalmente havia o atingido enquanto esteve lá fora. Ele murmurava para si mesmo, os pensamentos confusos e dolorosos. — Como eu pude fazer isso? Eu sou um monstro... — murmurava, batendo a cabeça contra a parede, a raiva e a auto-reprovação consumindo-o.
— Celma, por favor escute — disse ele, a voz carregada de desespero. — Eu imploro por um conserto. Eu juro fazer tudo que você pedir. Vou buscar ajuda, não só por você, mas por mim também. Me perdoa, por favor.
Celma levantou-se e sentou, a raiva finalmente sobrepujando a dor. — Tens razão, Hugo. Podemos sim consertar isso, mesmo sendo tarde para mim — disse ela, olhando fixamente nos olhos de Hugo, sua voz gelada.
— Viu, como eu disse... — respondeu Hugo, vendo uma luz no fundo do túnel.
A luz só parecia brilhar no seu túnel, porque para Celma, uma escuridão se formava. Seus olhos ardiam com uma chama de terror e determinação.
— Eu vou consertar isso entregando você à polícia, Hugo. O que você fez comigo é crime — disse Celma, a voz firme e inabalável.
— Por favor, meu amor, não faça isso comigo — implorou Hugo, o desespero crescendo em sua voz enquanto ele socava o chão, a raiva transbordando.
— Não me chame de meu amor. Que amor é esse que tu dizes, Hugo? Vou acabar contigo, juro pelo mesmo amor que jurei naquele altar. Vou fazer você apodrecer na cadeia — disse Celma, cada palavra carregada de um ódio gelado.
Hugo tentou se levantar, mas suas pernas fraquejaram. — Celma, por favor... — murmurou, a voz quase inaudível, as mãos tremendo enquanto segurava a cabeça em desespero.
— Acabou, Hugo. Você destruiu tudo — disse Celma, dando-lhe as costas, deixando-o sozinho na escuridão que ele mesmo havia criado.
Hugo olhou para Celma, desesperado, perguntando o que ele poderia fazer para ajudar ou compensar.
— O que eu posso fazer, Celma? Como posso ajudar? — perguntou, a voz trêmula, quase inaudível.
Celma o olhou, seu olhar frio e impiedoso. — Queres ajudar, Hugo! Tire a sua vida. Essa é a única maneira de você compensar o que fez.
Um silêncio ensurdecedor caiu sobre a casa. Um raio de sol nascente perfurou as cortinas da janela, iluminando o rosto devastado de Hugo. Ele olhou para Celma, levantou-se e marchou até o quarto, sua mente num turbilhão. Não demorou para ele voltar com uma lâmina nas mãos. Ele se posicionou à frente dela, os olhos fixos nos dela.
— Se é para você encontrar a paz que tanto procura... — disse Hugo, cortando os pulsos. — Isso é em nome do nosso amor. Me perdoa por te amar e te fazer sofrer.
O sangue começou a jorrar de seus pulsos, caindo no chão. Hugo caiu de joelhos, o rosto contorcido de dor e arrependimento. Celma, sentada no sofá, olhava para ele, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto. Ela viu Hugo ficando sem forças, caindo no chão à sua frente. Mil e uma imagens passaram pela sua cabeça, ela parecia congelada, os olhos fixos no homem que uma vez amou e que agora estava morrendo diante dela.
— Isso... isso não era para acontecer assim... — murmurou, sua voz falhando enquanto observava Hugo perder a vida. — Hugo, o que você fez...
O silêncio na casa agora era absoluto, interrompido apenas pelos últimos suspiros de Hugo. Celma sentia-se quebrada, perdida entre a dor e o horror do que acabara de presenciar. Ela não conseguia mover um músculo, apenas observando enquanto a vida de Hugo se esvaía.
— Eu queria justiça... não isso... — sussurrou Celma, as suas palavras se perdendo no vazio da sala.
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Atualizado até capítulo 62
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