O som abafado da chave girando na fechadura foi o primeiro sinal de que estavam em casa. Celma entrou, sentindo o peso do mundo em seus ombros, seguida de perto por sua mãe e Lucas. O cheiro familiar da casa, que costumava trazer conforto, agora parecia opressor. Cada cômodo, cada objeto, parecia carregado de memórias e dúvidas.
Dona Teresa, a mãe de Celma, a conduziu até o sofá da sala, enquanto Lucas fechava a porta atrás de si.
— Filha, você precisa descansar. Venha, sente-se um pouco — disse Dona Teresa, a voz carregada de preocupação.
Celma se deixou guiar, sentando-se mecanicamente. Seus olhos estavam vidrados, olhando para um ponto fixo no chão. O corpo tenso, os músculos rígidos.
— Eu... eu não consigo dormir, mãe. Toda vez que fecho os olhos, é como se tudo estivesse acontecendo de novo — murmurou Celma, a voz quebrada.
Lucas, que observava em silêncio, se aproximou e se ajoelhou diante dela, segurando suas mãos trêmulas.
— Celma, você está segura agora. Estamos aqui com você. Vamos superar isso juntos — disse ele, tentando infundir segurança em suas palavras.
Celma apenas assentiu, embora soubesse que as palavras de consolo, por mais sinceras que fossem, não conseguiam apagar o terror que sentia. O toque de Lucas era reconfortante, mas não o suficiente para afastar as sombras que a assombravam.
— Eu vou preparar um chá para você, algo para acalmá-la — disse Dona Teresa, dirigindo-se à cozinha.
Lucas permaneceu ao lado de Celma, observando cada movimento dela. Ela parecia perdida, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. A campainha tocou, interrompendo o silêncio tenso da casa. Lucas foi atender, encontrando Ana, a melhor amiga de Celma, na porta.
— Como ela está? — perguntou Ana, a preocupação evidente em seu rosto.
— Está lutando para processar tudo. Venha, entre — respondeu Lucas, abrindo espaço para Ana passar.
Ana se aproximou de Celma, sentando-se ao seu lado no sofá e envolvendo-a em um abraço caloroso.
— Celma, estou aqui para você. Não precisa passar por isso sozinha — disse Ana, os olhos cheios de lágrimas.
Celma apenas se encostou na amiga, sentindo um pequeno conforto na presença dela. Após alguns minutos, Dona Teresa voltou com uma xícara de chá e a entregou a Celma, que segurou a xícara com as mãos trêmulas.
— Obrigada, mãe — murmurou Celma, levando a xícara aos lábios e bebendo um gole.
Enquanto isso, na casa do outro lado da estrada, Dona Margarida e Sr. Carlos conversavam sobre os últimos acontecimentos.
— Você ouviu sobre o que aconteceu com a Celma e o Hugo? — perguntou Sr. Carlos, com a voz baixa e preocupada.
— Sim, ouvi dizer que Hugo tentou tirar a própria vida. É um alívio saber que ele está estável, mas o que será que levou a isso? — respondeu Dona Margarida, apertando as mãos em preocupação.
— Não sei, mas tenho medo do que isso significa para nosso filho. Lucas está tão envolvido nisso tudo... e se algo acontecer com ele também? — disse Sr. Carlos, a testa franzida de preocupação.
Dona Margarida assentiu, compreendendo a preocupação do marido. Eles sabiam que Lucas era teimoso e que sua ligação com Celma o colocava em uma posição delicada.
— Precisamos conversar com Lucas. Ele precisa entender os riscos — disse Dona Margarida, a voz firme.
De volta à casa de Celma, as horas se passaram lentamente. Dona Teresa e Lucas cuidavam dela, tentando oferecer algum conforto. Quando a noite caiu, Ana permaneceu ao lado de Celma no quarto, tentando fazer com que ela falasse sobre o que realmente havia acontecido.
— Celma, eu sei que está difícil, mas você precisa me contar o que aconteceu. Onde você passou a noite antes de tudo isso? — perguntou Ana, segurando a mão de Celma.
Celma olhou para Ana, os olhos cheios de lágrimas. Sabia que precisava falar, mas o medo e a vergonha a consumiam.
— Eu... eu não posso contar tudo. É doloroso demais, Ana — respondeu Celma, a voz tremendo.
Ana suspirou, sabendo que forçar Celma a falar não ajudaria.
— Eu entendo. Mas saiba que estou aqui para você, não importa o que tenha acontecido — disse Ana, abraçando Celma com força.
Celma sentiu um pequeno alívio no abraço da amiga, mas sabia que a verdade não poderia ser escondida para sempre. Enquanto Ana continuava a conversar com Celma, tentando distraí-la, Dona Teresa e Lucas discutiam na sala sobre como ajudar Celma a lidar com o trauma.
— Ela está tão assustada, Lucas. Eu não sei como ajudá-la — disse Dona Teresa, as mãos trêmulas.
— Precisamos dar tempo a ela, mãe. E estar aqui para apoiá-la em cada passo — respondeu Lucas, a voz determinada.
Enquanto isso, os vizinhos ainda especulavam sobre o que havia acontecido, sem saber a verdadeira extensão do sofrimento de Celma.
— Será que eles brigaram antes? — perguntou uma vizinha.
— Quem sabe? Mas algo de muito grave aconteceu — respondeu outra.
Mas as suposições dos vizinhos eram apenas isso: suposições. Ninguém sabia realmente o que havia acontecido entre Celma e Hugo, exceto eles mesmos e, agora, os médicos e policiais envolvidos.
No quarto, Celma finalmente começou a relaxar um pouco, graças à presença de Ana. Mas ainda assim, a cada vez que fechava os olhos, as memórias a assombravam.
— Eu só quero esquecer, Ana. Quero esquecer tudo — disse Celma, a voz cheia de desespero.
— Eu sei, querida. Mas isso vai levar tempo. E estamos aqui para ajudá-la — respondeu Ana, acariciando os cabelos de Celma.
A noite avançou lentamente, com Celma finalmente adormecendo no colo de Ana. Os eventos do dia ainda estavam frescos em sua mente, mas a exaustão física e emocional finalmente a venceram.
Enquanto a casa mergulhava no silêncio da noite, Dona Teresa e Lucas permaneceram acordados, discutindo silenciosamente sobre o futuro de Celma. Sabiam que a jornada seria longa e difícil, mas estavam determinados a ajudar Celma a encontrar a paz novamente.
Do outro lado da estrada, Dona Margarida e Sr. Carlos também permaneceram acordados, preocupados com o impacto de tudo aquilo na vida de Lucas.
— Precisamos confiar que ele vai tomar as decisões certas — disse Dona Margarida, tentando acalmar o marido.
— Eu sei, mas não posso deixar de me preocupar. Ele sempre coloca os outros antes de si mesmo — respondeu Sr. Carlos, suspirando.
A noite passou lentamente, carregada de preocupações e esperanças. Em cada casa, as pessoas envolvidas tentavam encontrar uma forma de lidar com os eventos recentes, cada uma à sua maneira. E assim, enquanto a cidade dormia, aqueles que conheciam a verdade permaneciam acordados, lutando para encontrar um caminho através da tempestade de emoções que os envolvia.
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**Capítulo 14: Ecos do Passado**
Celma finalmente foi levada para casa por sua mãe e Lucas. O dia inteiro parecia um pesadelo interminável, cada momento um reviver dos eventos traumáticos da noite anterior. Cada vez que fechava os olhos, ela via Hugo, o sangue, os gritos. Quando tentava dormir, acordava aos prantos, suando frio, com o coração acelerado.
A casa estava silenciosa, uma quietude pesada que contrastava com o caos em sua mente. Dona Teresa e Lucas a apoiavam, mas ambos estavam visivelmente preocupados, trocando olhares significativos quando pensavam que Celma não estava prestando atenção.
Ana, a melhor amiga de Celma, apareceu no início da tarde para visitá-la. Sua presença foi um conforto, mas também uma fonte de tensão, pois Ana estava determinada a descobrir o que realmente havia acontecido.
No quarto, Celma e Ana se sentaram na cama, cercadas por um ar de urgência e preocupação. Ana olhou para Celma com olhos cheios de compaixão, mas também com uma firme determinação.
— Celma, você precisa me contar a verdade. O que aconteceu naquela casa? Onde você passou a noite? — perguntou Ana, segurando a mão de Celma com força.
Celma desviou o olhar, sentindo a pressão aumentar. Sua voz saiu em um sussurro fraco.
— Eu... eu não posso, Ana. É muito doloroso... — respondeu Celma, os olhos se enchendo de lágrimas.
Ana suspirou, abraçando Celma.
— Eu estou aqui para você, mas você precisa ser honesta. Isso não vai desaparecer se você continuar guardando para si mesma — disse Ana, tentando alcançar os olhos de Celma.
Celma assentiu, mas não conseguiu falar mais nada. A verdade parecia uma montanha intransponível, e ela não tinha forças para escalá-la.
Enquanto isso, na casa ao lado, Dona Margarida conversava com o Sr. Carlos, um amigo da família. Ambos estavam preocupados com Lucas e a situação envolvendo Celma e Hugo.
— Dona Margarida, você soube da última? Celma foi encontrada com o marido que tentou tirar a própria vida — disse o Sr. Carlos, a voz cheia de preocupação.
Dona Margarida assentiu, o rosto marcado pelo medo.
— Sim, Carlos, eu soube. Estou com medo pelo Lucas. Ele sempre esteve tão próximo dela. E se algo acontecer a ele também? — respondeu ela, a voz trêmula.
Sr. Carlos colocou a mão no ombro de Dona Margarida, tentando confortá-la.
— Lucas é teimoso, mas é forte. Ele sabe o que está fazendo. Mas precisamos estar aqui para apoiá-lo e garantir que ele não se envolva demais em algo que pode machucá-lo — disse ele, tentando ser otimista.
Dona Margarida suspirou, sentindo um peso no peito.
— Eu só quero que tudo fique bem. Essa situação toda é tão complicada... — murmurou ela, olhando para a casa de Celma com preocupação.
De volta à casa de Celma, a atmosfera estava carregada. Dona Teresa tentava manter a calma, preparando chá e conversando com Lucas sobre os próximos passos.
— Precisamos garantir que ela descanse e se recupere, Lucas. O que aconteceu foi traumático demais — disse Dona Teresa, enquanto mexia no chá com um olhar distante.
Lucas assentiu, mas estava claramente angustiado.
— Eu sei, Dona Teresa. Mas estou preocupado. Ela não está falando a verdade toda. Algo mais aconteceu, e eu quero ajudá-la, mas não sei como — respondeu ele, os olhos fixos na porta do quarto de Celma.
Dona Teresa colocou uma mão no ombro de Lucas.
— Dê tempo a ela. A verdade virá quando ela estiver pronta. Por agora, só precisamos estar aqui para ela — disse Dona Teresa, com um sorriso triste.
Enquanto isso, no quarto, Ana continuava a pressionar Celma gentilmente.
— Celma, você precisa confiar em mim. Eu sou sua amiga. Não vou julgar você, mas você precisa desabafar — disse Ana, olhando diretamente nos olhos de Celma.
Celma respirou fundo, sentindo uma mistura de medo e alívio.
— Ana... eu estava tão assustada. Não sabia o que fazer. Ele estava fora de si... — começou Celma, mas sua voz falhou.
Ana abraçou Celma novamente, tentando transmitir força.
— Tudo bem, Celma. Vamos devagar. Estou aqui para você, não importa o que aconteça — disse Ana, acariciando os cabelos de Celma.
Enquanto elas conversavam, Lucas entrou no quarto, preocupado.
— Como ela está? — perguntou ele, olhando para Ana.
Ana olhou para Lucas, com um olhar compreensivo.
— Ela está falando, mas ainda precisa de tempo. Isso tudo é muito recente — disse Ana, levantando-se e dando espaço para Lucas se aproximar.
Lucas se ajoelhou ao lado de Celma, segurando sua mão.
— Celma, estou aqui para você. Não precisa carregar isso sozinha — disse ele, com uma voz suave.
Celma olhou para Lucas, os olhos cheios de lágrimas.
— Eu só quero que isso acabe, Lucas. Quero esquecer tudo — disse ela, chorando.
Lucas a abraçou, segurando-a firmemente.
— Nós vamos superar isso juntos. Você não está sozinha — murmurou ele, tentando confortá-la.
Enquanto isso, Dona Margarida olhava pela janela, vendo a interação e sentindo um misto de alívio e preocupação. Sabia que o caminho à frente seria difícil, mas tinha esperança de que, com amor e apoio, Celma e Lucas encontrariam uma maneira de superar essa provação.
Na casa de Hugo, os vizinhos ainda especulavam sobre o que havia acontecido. Murmúrios sobre a chegada da ambulância e os olhares curiosos mostravam a curiosidade e o julgamento da comunidade.
— Será que eles estavam brigando? — perguntou uma vizinha.
— Quem sabe? Eu sempre achei que eles eram um casal perfeito — respondeu outra.
Mas a verdade estava apenas com Celma, Hugo e os poucos que estavam ao lado deles, tentando juntar os pedaços de suas vidas fragmentadas.
Ao final do dia, Celma estava exausta. A conversa com Ana e Lucas a deixara um pouco mais aliviada, mas ainda havia muito a ser resolvido. Enquanto se deitava na cama, tentando encontrar algum conforto, sentiu uma leve sensação de esperança. Sabia que não estava sozinha e que, com o apoio de seus entes queridos, poderia enfrentar o que quer que o futuro trouxesse.
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Atualizado até capítulo 62
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