Os dias em Lagoas passavam com uma tensão crescente entre Celma e Hugo. Cada encontro, cada palavra dita ou não dita, parecia afundar mais a relação já desgastada. Hugo, obstinado em não conceder o divórcio, tornava a vida de Celma um tormento constante. A pressão da família, principalmente do pai e do irmão, só complicava mais a situação.
As brigas frequentes entre Lucas e Hugo atingiram um ponto crítico, forçando Celma a procurar a polícia. Hugo foi proibido de se aproximar de Lucas, mas isso não impediu que as discussões continuassem, agora por telefone. Edgar, irmão de Celma, também tentava confrontar Hugo, mas os desencontros faziam com que suas discussões fossem apenas por ligações acaloradas.
Numa tarde quente, Celma deixou a igreja depois de uma conversa com o Pastor Raul Soares. Ao sair, encontrou Dona Margarida na entrada. Sem aviso, Dona Margarida segurou o braço de Celma com força, mas sem chamar a atenção.
— Celma, preciso falar com você. — disse Dona Margarida, o tom de voz ameaçador e os olhos fixos nos dela.
— Boa tarde, Dona Margarida. O que houve? — respondeu Celma, tentando manter a calma.
— Fique longe do meu filho, Celma. E se o idiota do seu marido tocar nele novamente, vocês dois se verão comigo. — avisou Dona Margarida, apertando ainda mais o braço de Celma.
— Dona Margarida, eu... — tentou falar Celma, mas a mulher a interrompeu.
— Não quero saber de desculpas, mocinha. Apenas faça o que estou dizendo. — disse ela, soltando o braço de Celma e se afastando rapidamente.
Celma saiu dali abatida e frustrada, pegando o telefone para ligar para Hugo. Eles marcaram de se encontrar em casa, no bairro social. Ao chegar em casa, Celma encontrou seu pai e seu irmão animadamente discutindo sobre futebol.
— Boa tarde, papai. Oi, Edgar. — cumprimentou ela, forçando um sorriso.
— Boa tarde, filha! — respondeu seu pai, sem desviar os olhos da televisão.
— Ei, Celma. — disse Edgar, acenando brevemente antes de voltar a discutir com o pai.
Celma foi para a cozinha ajudar sua mãe, tentando manter a mente ocupada enquanto o tempo passava. Dona Teresa percebeu a inquietação da filha e decidiu conversar com ela.
— Filha, você vai sair? — perguntou Dona Teresa, observando Celma se arrumar.
— Sim, mãe. Não diga nada ao papai. Prometi ao Hugo que falaria com ele. — respondeu Celma, com lágrimas no canto do olho.
— Tens certeza disso? Não acredito ser uma boa ideia. — disse Dona Teresa, preocupada.
— Tenho sim, mãe. Vai ser bom para nós dois conversarmos. A esta hora acredito que ele já tenha recebido a intimação judicial. — respondeu Celma, passando maquiagem no rosto.
— E qual será o meu papel aqui? Se seu pai ou seu irmão se aperceberem, não terei muito o que fazer. — disse Dona Teresa, preocupada.
— É só a senhora não contar nada. Eles não terão como saber. — respondeu Celma, olhando para a mãe com um sorriso tímido.
Dona Teresa suspirou, tentando entender os sentimentos da filha. — Você ainda o ama, não é filha?
— Mãe, eu não sei. Às vezes acho que sim, outras vezes não. Aquele idiota é um cabeça dura, mamãe. — respondeu Celma, sentindo-se cada vez mais confusa.
— Isso já não parece amor. — disse Dona Teresa, se aproximando da filha, segurando-a pelo braço. — Isso já é doença, filha. Um homem que te machuca tanto não merece esse amor. Vocês dois precisam de ajuda para entender isso.
— Mãe, eu não sei. A minha vida toda se resume nele. O que farei sem ele? — respondeu Celma, sentindo-se cada vez mais confusa.
— E o Lucas? Onde ele fica nessa história toda? — perguntou Dona Teresa.
Com um suspiro profundo, Celma deu dois passos para trás antes de respondê-la. Passou a mão pelos cabelos e disse: — Vou te responder como mamãe! Hoje, a mãe do Lucas me abordou na frente da igreja.
— O que a santa Margarida queria? — perguntou Dona Teresa. — Não, espera, já sei. Fique longe do meu bebezinho...
As duas soltaram um sorriso. Não era a primeira vez que Celma lidava com Dona Margarida; afinal, as duas no passado já tiveram outros confrontos.
Celma contou sobre o incidente na igreja com Dona Margarida, aumentando ainda mais as preocupações de sua mãe.
Enquanto isso, Hugo estava em casa, bebendo whisky e olhando constantemente para o relógio. Na mão esquerda, o envelope do pedido de divórcio que ele lia quase todos os dias. A raiva e o desespero tomavam conta dele, enquanto ele esperava por Celma.
— Celma, você acha que pode simplesmente acabar com tudo assim? — murmurava ele para si mesmo, dando mais um gole de whisky. — Eu não vou deixar isso acontecer. Não vou.
O relógio na parede marcava cada segundo, o tique-taque ressoando como uma contagem regressiva. Hugo começou a andar de um lado para o outro, murmurando palavras de frustração e ódio.
— É isso que eu detesto, esperará não é o meu forte, — murmurava ele enquanto andava de um lado para o outro. Ela é minha. E ninguém vai tirar ela de mim. Nem o idiota Lucas, nem sua família, nem ninguém. — ele murmurava, os olhos ardendo com uma mistura de dor e raiva.
— Essa mulher... como pode? — ele murmurava, olhando fixamente para o envelope. — Eu não vou deixar... Não posso deixar.
Seus murmúrios eram sombrios, carregados de ressentimento. Hugo pegou nas chaves por cima da mesa deixando o copo e a garrafa ao lado um do outro, caminhou ate a porta e fechou ela atrás de si.
A noite caiu sobre Lagoas, trazendo consigo uma tempestade iminente. Celma, finalmente pronta, saiu de casa sem que seu pai ou seu irmão notassem. As nuvens escuras anunciavam uma tempestade que se aproximava, refletindo o tumulto interno de cada personagem envolvido nessa trama de amor, dor e redenção.
Ao chegar à casa de Hugo, Celma sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A rua estava deserta e a única luz vinha da janela da sala de estar. Ela hesitou por um momento antes de bater na porta. Subiu os degraus, viu que aporta estava tranacada ela abriu a porta com suas chaves.
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Atualizado até capítulo 62
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