Capítulo 9: Ecos do Passado

Naquela noite, quando o ônibus estacionava no ponto Largo do Sol no bairro social, Celma desceu e começou a caminhar pelas ruas escuras. As lágrimas foram inevitáveis. Cada canto trazia lembranças e saudades, e enquanto ela andava até sua antiga casa, o peso dessas memórias a fazia respirar com dificuldade. O ar parecia denso, quase palpável, carregado de uma nostalgia dolorosa.

Ao chegar à entrada da casa, ela subiu as escadas até a varanda, sentindo cada passo como se fosse uma subida interminável. A porta estava fechada, mas a chave ainda estava em seu bolso. Com mãos trêmulas, Celma a inseriu na fechadura e entrou, fechando a porta atrás de si. O som do rádio ecoava pela casa vazia, uma música antiga que ela e Hugo costumavam ouvir juntos. Na mesa, um copo e uma garrafa de uísque ao lado de um envelope amassado de intimação eram os únicos indícios de vida recente.

Celma andou pela casa, tocando a madeira, as paredes, cada superfície familiar. As lágrimas escorriam livremente pelo rosto, e cada toque trazia uma torrente de lembranças. No quarto, ela se sentou na cama, abraçando o travesseiro e cheirando-o com os olhos fechados. O cheiro era uma mistura agridoce de conforto e dor.

— Não sobra mais nada além de nós dois aqui na minha cabeça. — sussurrou, sentindo o cheiro familiar do travesseiro.

As palavras ecoavam em sua mente enquanto ela lembrava dos momentos bons e ruins com Hugo. Cada suspiro parecia trazer mais uma lembrança dolorosa.

— Como queres que eu te esqueça assim? — murmurou, as lágrimas misturando-se com o travesseiro.

Celma deitou-se na cama, sentindo o peso das emoções sobre ela. Era como se o travesseiro ainda guardasse a essência dos dias felizes que passaram juntos.

— Está tudo tão confuso. E eu já nem sei se te quero de volta... — falou para si mesma, enquanto o cheiro do travesseiro a fazia reviver momentos de carinho e paixão.

O quarto estava escuro, apenas a luz fraca da lua entrava pela janela. Celma sentia-se sozinha, mas as lembranças a mantinham acordada. Ela olhou em volta, os olhos se fixando nos cantos que um dia abrigaram risos e amor.

— Mas quando o sol se põe e o vento fecha a porta, ainda te sinto tão meu, sim. — disse ela, quase inaudível, enquanto o vento fazia a porta ranger levemente.

Ela fechou os olhos, tentando abafar as lembranças, mas elas vinham com mais força. O som do rádio no fundo tocava uma música que eles costumavam ouvir juntos.

— Quando ligo o rádio, é o nosso som que toca. — sussurrou Celma, com um sorriso triste.

As memórias vinham como um filme, cada cena trazendo uma nova onda de saudade. Ela se lembrava das promessas feitas e não cumpridas, das esperanças que agora pareciam tão distantes.

— São tantas lembranças que me fazem andar às voltas... — murmurou, enquanto os dedos traçavam padrões invisíveis na colcha da cama.

Celma levantou-se e começou a andar pelo quarto, cada passo trazendo uma nova lembrança. O som do chão de madeira rangendo sob seus pés era familiar e reconfortante, mas ao mesmo tempo, doloroso.

— Era tão bom quando estavas aqui, a gente corria por este lugar — disse, a voz quebrando-se em um soluço.

Ela parou diante do espelho, encarando seu reflexo. Os olhos vermelhos de tanto chorar, a expressão cansada, refletiam a dor que sentia por dentro.

— De nós, tantas saudades de nós. Eu tenho tantas saudades de nós. — repetiu, quase como um mantra.

A cada palavra, mais lágrimas caíam, mas ela não se importava. Deixou-se afundar nas emoções, permitindo que a dor e a saudade fluíssem livremente.

— Ficou no passado, promessas sem fim que por nós foram postas de lado. Olha o resultado em mim... — disse para o espelho, tentando encontrar algum conforto em suas próprias palavras.

Ela voltou a sentar-se na cama, abraçando o travesseiro novamente. O quarto parecia mais vazio do que nunca, e o silêncio era ensurdecedor.

— Mesmo que eu queira, a razão me revolta. Dói demais e agora nada mais importa. — murmurou, os olhos fechados, tentando abafar a dor com a força do abraço no travesseiro.

De repente, Celma ouviu o som distante de passos no corredor. Ela sabia que estava sozinha, mas a mente pregava peças, trazendo de volta sons e cheiros que agora pertenciam ao passado.

— O ar que respiras já não é o meu... — sussurrou, sentindo o peso da solidão.

O rádio continuava a tocar, cada nota parecia uma faca que cortava seu coração. As lembranças eram tão vívidas que quase podia sentir a presença de Hugo ao seu lado.

— Quando ligo o rádio, é o nosso som que toca. São tantas lembranças que me fazem andar às voltas. Era tão bom quando estavas aqui... — repetiu, as palavras ecoando no quarto vazio.

Ela se deitou, exausta, deixando que o travesseiro absorvesse suas lágrimas. O som do rádio era uma companhia amarga, um lembrete constante do que havia perdido.

— De nós, tantas saudades de nós. Eu tenho tantas saudades de nós. Tantas saudades de nós, de nós. — murmurou, enquanto o cansaço finalmente a dominava.

A noite em Lagoas estava fria e silenciosa. A tempestade interna de Celma era refletida pelas nuvens escuras que se acumulavam no céu. Cada som, cada cheiro, cada toque era um lembrete do passado, uma dor que não podia ser apagada.

Depois de um tempo no carro refletindo, Hugo já não tinha certeza se Celma viria mesmo naquela noite. Ao sair do carro, notou pelo vidro da janela uma pessoa dentro de casa na cozinha. Ele correu até a varanda a passos rápidos, o coração batendo forte.

Hugo abriu a porta e, na sala, deu de cara com Celma apoiada na porta de entrada da cozinha. Um silêncio caiu entre os dois, apenas o som do rádio preenchia o ambiente.

— Oi, Hugo. — disse Celma, tentando manter a voz firme, quebrando o silêncio.

— Oi, Celma. — respondeu Hugo, sem tirar os olhos dela. — Você veio. Como foi seu dia?

— Foi... complicado. E o seu? — perguntou Celma, sentando-se no sofá oposto.

— Cheio de merda, como sempre. — respondeu Hugo, com sarcasmo.

— Bem, estou aqui como prometido. — disse Celma, olhando para ele com tristeza. — Vamos conversar...

— Conversar? Sobre o quê? Sobre como você quer me abandonar? — perguntou Hugo, com ironia.

— Não é isso, Hugo. Eu também já não estou a te entender! Você sabe que não está funcionando, anda atrás de mim querendo conversar. — respondeu Celma, tentando conter as lágrimas.

— E o que você espera que eu faça? Assine esses malditos papéis e deixe você ir embora? — disse Hugo, levantando-se e caminhando até ela.

— Sim, Hugo. Para o bem de nós dois. Daí cada um segue em frente com seu caminho. — respondeu Celma, com a voz trêmula.

Hugo se aproximou, a raiva evidente em seu rosto. — Seguir em frente? Com quem? Com aquele idiota do Lucas? — perguntou ele, sarcástico.

— Isso não tem nada a ver com Lucas. — disse Celma, tentando se manter calma.

— Claro que tem! Sempre tem a ver com ele! — gritou Hugo, jogando o copo de uísque contra a parede.

Celma se encolheu, o coração acelerado. — Hugo, por favor. Não torne isso mais difícil do que já é. — implorou ela. — Desse jeito não vai dar para falar contigo e não me faça me arrepender de ter vindo aqui.

Um silêncio caiu sobre a sala, Celma retomou seu lugar com Hugo ainda em pé olhando para fora.

Hugo a encarou, os olhos cheios de dor e fúria. — Você realmente acha que pode me deixar assim? — perguntou ele, com um sorriso amargo.

— Não temos outra escolha. — respondeu Celma, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto.

— Eu não vou assinar esses papéis. — disse Hugo, com firmeza.

— Então vamos continuar nos destruindo? É isso que você quer? Olha para ti, Hugo! — perguntou Celma, desesperada.

Hugo a puxou para perto, segurando seus braços com força. — Você é minha, Celma. E sempre será. — disse ele, com um tom possessivo.

Celma lutou para se libertar, mas Hugo a segurava com força. — Me solte, Hugo! — gritou ela, sentindo o pânico tomar conta.

Nesse momento, o telefone de Hugo tocou. Era Edgar, furioso e ameaçador. Hugo atendeu, ainda segurando Celma.

— O que você quer, Edgar? — perguntou Hugo, irritado.

— Você acha que pode fugir de mim? Eu vou destruir você e tudo o que você ama. — ameaçou Edgar.

— Vá se ferrar, Edgar! — gritou Hugo, desligando o telefone.

Celma aproveitou a distração e se soltou, correndo para a porta. Hugo a seguiu, mas ela conseguiu sair antes que ele a alcançasse.

— Volta aqui, Celma! — gritou Hugo, mas ela já estava longe, correndo pelas ruas escuras de Lagoas.

Celma correu até o ponto de ônibus, as lágrimas escorrendo livremente. Ela sabia que precisava sair dali, deixar tudo para trás.

Ao entrar no ônibus, ela olhou para trás uma última vez, vendo Hugo na varanda, gritando seu nome. O ônibus partiu, levando Celma para longe da dor e do passado.

Ela sabia que o caminho à frente não seria fácil, mas estava determinada a seguir em frente, a encontrar uma nova vida, longe de Hugo e das memórias dolorosas.

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Comments

Solange Araujo

Solange Araujo

Caramba mulher burra. o cara poderia matar ela na casa 🏡 ela que foi atrás ..

2024-09-08

1

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Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1: O Recomeço
3 Capítulo 2: Conflitos Silenciosos
4 Capítulo 3: Ecos do Passado
5 Capítulo 4: Laços e Conflitos
6 Capítulo 5: Sob o Olhar Atento
7 Capítulo 6: Intrigas
8 Capítulo 7: Sob a Sombra da Obsessão
9 Capítulo 8: Sob o Véu da Tempestade
10 Capítulo 9: Ecos do Passado
11 Capítulo 10: Coração em Chamas +18
12 Capítulo 11: Os Ecos da Escuridão +18
13 Capítulo 12: Nos Limites da Sanidade
14 Capítulo 13: Um dia Para Não Ser Esquecido - A Força do Amor
15 Capítulo 14: No Olho do Furacão
16 Capítulo 15: O Fio da Verdade
17 Capítulo 16: O Grito do Silêncio
18 Capítulo 17: Entre Sombras e Luz- A Luz no Fim do Túnel
19 Capítulo 18: O Peso das Manhãs - A Crise no Elevador
20 Capítulo 19: Revelações e Decisões
21 Capítulo 20: Laços de Sangue e Segredos
22 Capítulo 21: Entre a Dúvida e a Esperança
23 Capítulo 22: Sombras do Passado
24 Capítulo 23: Memórias de um Amor Perdido - Um Passo de Cada Vez
25 Capítulo 24: Silêncios e Revelações
26 Capítulo 25: Entre a Razão e o Coração
27 Capítulo 26: Revelações e Confissões - Entre a Razão e o Coração
28 Capítulo 27: Um Passo de Cada Vez - Entre a Razão e o Coração
29 Capítulo 28: Sob a Luz das Estrelas
30 Capítulo 29: Entrelaçados pelo Destino
31 Capítulo 30: O Despertar da Vida - Sob a Luz do Dia
32 # Capítulo 31: Entre o Amor e o Dever
33 Capítulo 32: O Peso das Expectativas
34 Capítulo 33: O Peso das Palavras
35 Capítulo 34: O Acordo Arriscado
36 Capítulo 35: A Primeira Noite da Farsa
37 Capítulo 36: Sob o Véu da Noite
38 Capítulo 37: Sob o Véu da Tensão
39 Capítulo 38: Sob o Véu da Incerteza
40 Capítulo 39: Acordando com o Sol - Flores e Preparativos
41 Capítulo 40: A Festa e os Sentimentos
42 Capítulo 41: Sob a Luz da Lua
43 Capítulo 42: À Beira da Revelação
44 Capítulo 43: O Fio da Tensão
45 Capítulo 44: Sob o Véu de Um Jantar
46 Capítulo 45: A Verdade que Não Foi Dita
47 Capítulo 46: A Noite da Decisão
48 Capítulo 47: Sob o Olhar da Noite
49 Capítulo 48: A Verdade nas Entrelinhas
50 Capítulo 49: Entre Verdades e Segredos
51 Capítulo 50: - A Revelação em Silêncio
52 Capítulo 51: Sob o Véu da Verdade I
53 Capítulo 52: Sob o Véu da Verdade II
54 Capítulo 53: Sombras Sob o Véu
55 Capítulo 54: Encontros e Despedidas
56 Capítulo 55: Fios da Manipulação: Lar ou Prisão?
57 Capítulo 56: Entre Desculpas e Promessas
58 Capítulo 57: O Grande Show de Elsa
59 Capítulo 58: Até que a Morte nos Separe
60 Capítulo Final – Entre a Razão e o Coração
61 Epílogo – Os Fantasmas de um Amor Não Correspondido
62 Sob o Véu da Paixão Vol. 2
Capítulos

Atualizado até capítulo 62

1
Prólogo
2
Capítulo 1: O Recomeço
3
Capítulo 2: Conflitos Silenciosos
4
Capítulo 3: Ecos do Passado
5
Capítulo 4: Laços e Conflitos
6
Capítulo 5: Sob o Olhar Atento
7
Capítulo 6: Intrigas
8
Capítulo 7: Sob a Sombra da Obsessão
9
Capítulo 8: Sob o Véu da Tempestade
10
Capítulo 9: Ecos do Passado
11
Capítulo 10: Coração em Chamas +18
12
Capítulo 11: Os Ecos da Escuridão +18
13
Capítulo 12: Nos Limites da Sanidade
14
Capítulo 13: Um dia Para Não Ser Esquecido - A Força do Amor
15
Capítulo 14: No Olho do Furacão
16
Capítulo 15: O Fio da Verdade
17
Capítulo 16: O Grito do Silêncio
18
Capítulo 17: Entre Sombras e Luz- A Luz no Fim do Túnel
19
Capítulo 18: O Peso das Manhãs - A Crise no Elevador
20
Capítulo 19: Revelações e Decisões
21
Capítulo 20: Laços de Sangue e Segredos
22
Capítulo 21: Entre a Dúvida e a Esperança
23
Capítulo 22: Sombras do Passado
24
Capítulo 23: Memórias de um Amor Perdido - Um Passo de Cada Vez
25
Capítulo 24: Silêncios e Revelações
26
Capítulo 25: Entre a Razão e o Coração
27
Capítulo 26: Revelações e Confissões - Entre a Razão e o Coração
28
Capítulo 27: Um Passo de Cada Vez - Entre a Razão e o Coração
29
Capítulo 28: Sob a Luz das Estrelas
30
Capítulo 29: Entrelaçados pelo Destino
31
Capítulo 30: O Despertar da Vida - Sob a Luz do Dia
32
# Capítulo 31: Entre o Amor e o Dever
33
Capítulo 32: O Peso das Expectativas
34
Capítulo 33: O Peso das Palavras
35
Capítulo 34: O Acordo Arriscado
36
Capítulo 35: A Primeira Noite da Farsa
37
Capítulo 36: Sob o Véu da Noite
38
Capítulo 37: Sob o Véu da Tensão
39
Capítulo 38: Sob o Véu da Incerteza
40
Capítulo 39: Acordando com o Sol - Flores e Preparativos
41
Capítulo 40: A Festa e os Sentimentos
42
Capítulo 41: Sob a Luz da Lua
43
Capítulo 42: À Beira da Revelação
44
Capítulo 43: O Fio da Tensão
45
Capítulo 44: Sob o Véu de Um Jantar
46
Capítulo 45: A Verdade que Não Foi Dita
47
Capítulo 46: A Noite da Decisão
48
Capítulo 47: Sob o Olhar da Noite
49
Capítulo 48: A Verdade nas Entrelinhas
50
Capítulo 49: Entre Verdades e Segredos
51
Capítulo 50: - A Revelação em Silêncio
52
Capítulo 51: Sob o Véu da Verdade I
53
Capítulo 52: Sob o Véu da Verdade II
54
Capítulo 53: Sombras Sob o Véu
55
Capítulo 54: Encontros e Despedidas
56
Capítulo 55: Fios da Manipulação: Lar ou Prisão?
57
Capítulo 56: Entre Desculpas e Promessas
58
Capítulo 57: O Grande Show de Elsa
59
Capítulo 58: Até que a Morte nos Separe
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Capítulo Final – Entre a Razão e o Coração
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Epílogo – Os Fantasmas de um Amor Não Correspondido
62
Sob o Véu da Paixão Vol. 2

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