Enquanto isso, Celma tentava se acalmar, mas sua mente estava em um turbilhão. Ela mal podia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. A enfermeira Josefa voltou a se aproximar.
— Senhora Celma, seu marido está sendo preparado para uma cirurgia de emergência. Precisamos que a senhora autorize — disse ela, entregando outro formulário.
Celma assinou, a mão trêmula. As lágrimas finalmente começaram a cair, enquanto a realidade da situação se abatia sobre ela.
— Ele vai sobreviver? — perguntou Celma, com um fio de voz.
— Estamos fazendo tudo o que podemos. A senhora precisa ser forte — disse a enfermeira, segurando a mão de Celma com firmeza.
Um médico se aproximou, o semblante sério.
— Senhora Celma, precisamos falar sobre a condição do seu marido. Ele perdeu muito sangue e precisa de uma transfusão imediata. O problema é que estamos com pouca disponibilidade do tipo sanguíneo dele. Sabemos que isso é um momento difícil, mas... por acaso você sabe o tipo sanguíneo dele? — perguntou o médico, olhando para Celma com preocupação.
Celma, ainda em estado de choque, tentou lembrar. Seus pensamentos estavam emaranhados, mas então, uma lembrança surgiu.
— Ele é O negativo... e eu também sou — disse ela, quase em um sussurro.
O médico assentiu, aliviado.
— Precisamos que a senhora faça a doação. O tempo é crucial para salvar a vida dele — disse o médico, a voz firme e urgente.
Celma, ainda tremendo, olhou para sua mãe que a incentivou com um aceno de cabeça. Sem hesitar mais, ela assentiu para o médico.
— Claro, façam o que for necessário — respondeu Celma, determinada.
A enfermeira Josefa conduziu Celma para a sala de doação. Sentada na cadeira, Celma estendeu o braço enquanto a enfermeira preparava os equipamentos. O medo e a ansiedade ainda dominavam sua mente, mas a necessidade de salvar Hugo superava qualquer outra coisa naquele momento.
— Vai ficar tudo bem, querida. Você está fazendo a coisa certa — disse Josefa, apertando levemente a mão de Celma.
Enquanto o sangue fluía de seu braço para a bolsa, Celma fechou os olhos, tentando se concentrar em respirar profundamente. As lembranças da noite anterior ainda assombravam sua mente, mas ela sabia que precisava ser forte, pelo menos por enquanto.
— Pronto, senhora Celma. A transfusão será feita imediatamente — disse a enfermeira, terminando o procedimento.
Celma assentiu, sentindo-se fraca, mas aliviada por poder ajudar. Josefa a ajudou a se levantar e a conduziu de volta à sala de espera, onde Dona Teresa a aguardava.
— Minha filha, você foi muito corajosa — disse Dona Teresa, abraçando Celma com força.
— Eu... eu só quero que ele sobreviva, mãe — respondeu Celma, com lágrimas nos olhos.
Enquanto esperavam notícias sobre a cirurgia de Hugo, Celma e sua mãe se sentaram juntas, tentando encontrar algum conforto uma na outra. O silêncio da sala de espera era interrompido apenas pelos murmúrios distantes dos médicos e pelos passos apressados dos enfermeiros.
Celma estava exausta, mas não conseguia dormir. Sua mente não parava de reviver os acontecimentos da noite anterior. As imagens de Hugo rasgando suas roupas, os gritos, o sangue... tudo estava gravado em sua mente como uma fita que não parava de rodar.
Horas se passaram, cada minuto um tormento para Celma. Finalmente, um médico Saiu da sala de emergência, caminhando em direção a elas.
— Como ele está, doutor? — perguntou Celma, a voz um fio de esperança.
— Senhora Celma, sua doação foi bem-sucedida. Conseguimos estabilizar seu marido, mas ele ainda está em estado crítico. Será monitorado nas próximas 24 horas — explicou o médico.
Celma sentiu uma onda de alívio, embora ainda estivesse profundamente abalada.
— Obrigada, doutor. Muito obrigada — disse ela, segurando a mão de sua mãe com força.
— Agora, eu sugiro que a senhora tente descansar um pouco. Sua mãe pode acompanhá-la até uma sala mais tranquila — disse o médico, olhando com compaixão para Celma.
Dona Teresa ajudou Celma a se levantar e a conduziu para uma sala de repouso. Lá, Celma se deitou em uma pequena cama, enquanto sua mãe sentava-se ao lado dela, segurando sua mão.
— Vai ficar tudo bem, minha filha. Nós vamos superar isso, Hugo é um homem forte — disse Dona Teresa, acariciando os cabelos de Celma.
Celma fechou os olhos, tentando acreditar nas palavras de sua mãe. Aos poucos, o cansaço extremo a venceu, e ela adormeceu, ainda segurando a mão de Dona Teresa.
Enquanto isso, no bairro social, os vizinhos ainda comentavam o ocorrido. A chegada da ambulância, os murmúrios, os olhares curiosos. Ninguém sabia exatamente o que havia acontecido, mas todos especulavam.
— Será que eles estavam brigando? — perguntou uma vizinha.
— Quem sabe? Eu sempre achei que eles eram um casal perfeito — respondeu outra.
Mas a verdade estava apenas com Celma e Hugo, e agora, com os médicos e policiais que tentavam entender o que havia levado aquele homem a cometer um ato tão desesperado.
No hospital
Horas se passaram, e Celma acordou com a cabeça pesada e o corpo exausto. Dona Teresa estava ao seu lado, segurando um copo de água.
— Beba um pouco, filha. Vai se sentir melhor — disse Dona Teresa, com um sorriso cansado.
Celma bebeu a água, sentindo-se um pouco mais lúcida. Ela olhou para sua mãe, o semblante ainda preocupado.
— Alguma notícia? — perguntou Celma, a voz rouca.
— O médico disse que Hugo está estável, mas ainda em estado crítico. Precisamos ter paciência — respondeu Dona Teresa, apertando a mão da filha.
Celma assentiu, tentando manter a calma. O celular dela tocou novamente, e ela atendeu rapidamente, esperando que fosse alguma atualização.
— Alô? — disse Celma, a voz trêmula.
— Senhora Celma, aqui é a enfermeira Josefa. Temos boas notícias. Seu marido está respondendo bem ao tratamento e sua condição está se estabilizando. Ele ainda precisa de cuidados intensivos, mas estamos otimistas — informou a enfermeira.
Celma sentiu um alívio enorme, embora soubesse que o caminho ainda era longo.
— Obrigada, enfermeira. Obrigada por tudo — disse Celma, com lágrimas nos olhos.
Após desligar o telefone, ela abraçou sua mãe novamente, sentindo um pouco de esperança.
— Vamos superar isso, mãe. Vamos superar — repetia Celma, como um mantra.
Dona Teresa beijou a testa da filha, murmurando palavras de conforto.
O celular de Celma tocou novamente, interrompendo seus pensamentos. Era um número desconhecido. Atendeu, a voz trêmula.
— Alô?
— Celma, é o Lucas. Fiquei sabendo o que aconteceu. Estou a caminho do hospital. Não se preocupe, estarei aí para você — disse Lucas, a voz cheia de preocupação.
Celma fechou os olhos, segurando o celular com força. A presença de Lucas sempre lhe trazia uma sensação de segurança, algo que ela desesperadamente precisava naquele momento.
— Obrigada, Lucas. Eu... eu não sei o que fazer — respondeu Celma, a voz quebrando.
— Vai ficar tudo bem, Celma. Estou a caminho — disse Lucas, antes de desligar.
Enquanto aguardava a chegada de Lucas, Celma se recostou no banco, tentando encontrar alguma paz. O peso da noite anterior ainda pressionava seu peito, mas saber que Lucas estaria ao seu lado lhe dava um pequeno alívio.
Quando Lucas finalmente chegou, ele correu até Celma, envolvendo-a em um abraço forte e reconfortante.
— Estou aqui, Celma. Vamos passar por isso juntos — disse Lucas, a voz firme e consoladora.
Celma assentiu, deixando-se amparar pelo calor e pela segurança que Lucas oferecia. Pela primeira vez em horas, permitiu-se soltar uma lágrima, que desceu lentamente por seu rosto. Sabia que ainda havia um longo caminho pela frente, mas naquele momento, com Lucas ao seu lado, sentiu que poderia enfrentar qualquer coisa.
Enquanto Hugo permanecia na sala de emergência, lutando pela vida, Celma, ao lado de Lucas e de sua mãe, começava a vislumbrar um futuro incerto, mas com a esperança de um novo começo.
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Atualizado até capítulo 62
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