O grupo avançava cuidadosamente pelo saguão principal do hospital, o eco de seus passos reverberando pelas paredes estéreis e vazias. O edifício, que antes fora um centro de cura e esperança, agora parecia um mausoléu abandonado, um símbolo cruel de uma era passada. Anne sentia o peso da situação a cada passo que dava, o silêncio ao seu redor tornava-se opressor.
David liderava o grupo, com Anne logo atrás, os olhos de ambos varrendo cada canto em busca de sinais de perigo. A luz do amanhecer entrava em feixes pelas janelas quebradas, iluminando pequenas partículas de poeira que dançavam no ar, criando uma atmosfera quase fantasmagórica. Os corredores eram um labirinto de sombras e portas entreabertas, e cada um dos sobreviventes mantinha-se atento, pronto para reagir ao menor sinal de movimento.
"Precisamos encontrar o setor administrativo primeiro," David disse em voz baixa, quebrando o silêncio.
"Deve ser no segundo andar," respondeu Marta, que tinha alguma familiaridade com hospitais. "Normalmente, os escritórios administrativos ficam localizados mais ao centro do edifício, perto do acesso principal."
Anne assentiu, mas uma dúvida permanecia em sua mente. "E se... se houver alguém aqui?" Ela hesitou em dizer o que todos estavam pensando: e se houver contaminados escondidos dentro do hospital?
"Vamos ter que lidar com isso quando acontecer," David respondeu firmemente. "Mas por enquanto, sigamos o plano."
Eles chegaram a uma escadaria que levava ao segundo andar. As escadas eram largas, feitas de concreto sólido, mas cada degrau emitia um rangido ameaçador à medida que subiam. Anne sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas continuou, mantendo-se próxima a David, que subia com passos firmes, a chave de fenda firmemente segurada em sua mão.
Ao chegarem ao topo da escada, depararam-se com um corredor longo e escuro. As portas que se alinhavam nas paredes estavam, em sua maioria, entreabertas, e o ar ali era mais pesado, como se não tivesse sido renovado há muito tempo. Anne inspirou profundamente, tentando afastar a sensação de claustrofobia que começava a se instalar.
"Vamos em frente," David sussurrou, movendo-se pelo corredor. A luz era escassa, mas o suficiente para que pudessem ver onde pisavam. Eles passaram por várias portas, todas marcadas com placas que indicavam diferentes departamentos do hospital — finanças, recursos humanos, consultórios.
"Ali," Marta disse em voz baixa, apontando para uma porta no final do corredor, onde uma placa indicava "Administração Central". "Deve ser lá."
David se aproximou da porta e a empurrou com cuidado. Ela rangeu ao abrir, revelando uma sala de tamanho médio, com mesas desordenadas, papéis espalhados e alguns armários abertos. O local parecia ter sido revirado, mas havia uma mesa grande no centro da sala com um computador e uma pilha de pastas.
"Não parece que foi saqueado por sobreviventes," observou Anne. "Isso é... mais metódico, como se alguém estivesse procurando algo específico."
"Pode ser," David respondeu, movendo-se para a mesa. "Vamos procurar qualquer coisa que possa nos ajudar — mapas, relatórios, registros médicos. Pode haver alguma informação sobre abrigos seguros ou áreas contaminadas."
O grupo espalhou-se pela sala, cada um assumindo uma parte para procurar. Júlia, que até então estava visivelmente nervosa, parecia determinada a ajudar, mexendo nas pastas com cuidado. Anne se juntou a ela, abrindo gavetas e verificando documentos.
"Olha isso," disse Júlia, segurando um mapa dobrado. "Mostra a disposição do hospital e onde estão os depósitos de suprimentos."
Anne pegou o mapa, examinando-o de perto. "Isso pode ser muito útil. Aqui está a ala de farmácia, e ali está o depósito central — pode haver alimentos e medicamentos. Precisamos ir até lá."
Enquanto isso, David estava tentando ligar o computador, mas como esperado, não havia energia. "Sem sorte aqui," ele disse, frustrado. "Talvez devêssemos procurar por arquivos físicos."
"Ei, encontrei algo," Marta chamou, erguendo um pequeno diário que estava em uma das gavetas. "Parece que alguém estava registrando o que aconteceu antes de tudo desmoronar."
Anne se aproximou, curiosa. Marta começou a ler em voz alta, folheando as páginas:
"Dia 14 — A situação está fora de controle. Os pacientes estão sucumbindo à contaminação mais rápido do que podemos tratar. Os médicos estão sobrecarregados, e os primeiros sinais de pânico estão surgindo entre a equipe. As ruas ao redor do hospital estão intransitáveis, e fomos instruídos a não tentar evacuar."
Marta pausou, respirando fundo antes de continuar.
"Dia 16 — O hospital foi colocado em quarentena. Nenhuma entrada ou saída é permitida, mas os suprimentos estão acabando. Alguns médicos começaram a se armar, esperando uma invasão, mas a maior ameaça vem de dentro. Os pacientes contaminados estão se tornando violentos."
Ela folheou mais algumas páginas, mas o restante estava ilegível, manchado por algo que parecia ser sangue. "Parece que as coisas pioraram rapidamente," Marta disse com a voz carregada de pesar.
"Isso significa que pode haver contaminados presos aqui dentro," David disse, a expressão se tornando sombria. "Precisamos ser ainda mais cuidadosos."
Com as informações que tinham, decidiram que a próxima parada seria o depósito central, onde esperavam encontrar mais suprimentos. Mas sabiam que a chance de encontrarem contaminados ali também era alta.
"Vamos rápido e em silêncio," Anne sugeriu. "Pegamos o que precisamos e saímos. Quanto menos tempo passarmos aqui, melhor."
Com o plano traçado, eles se moveram de volta pelo corredor, seguindo o mapa que Júlia encontrara. O depósito central ficava no subsolo, acessível por outra escadaria que encontraram ao final de um corredor secundário. O ar ali era ainda mais denso, e a escuridão parecia engolir tudo ao redor.
David, com sua lanterna de mão, guiava o grupo pela escadaria, iluminando o caminho à frente. O som de seus passos era abafado, mas cada rangido das escadas parecia um trovão no silêncio sepulcral do hospital.
"Estamos quase lá," David murmurou, encorajando os outros. "Fiquem juntos e fiquem atentos."
Ao chegarem ao subsolo, o ambiente tornou-se ainda mais frio, e o cheiro de umidade e algo podre pairava no ar. Anne sentiu o coração acelerar, mas manteve-se focada. Precisavam encontrar os suprimentos e sair dali o mais rápido possível.
O depósito central era uma grande sala de armazenamento, com prateleiras de metal alinhadas por toda parte, muitas delas repletas de caixas e contêineres. A maioria das prateleiras estava intacta, embora algumas estivessem reviradas, como se alguém houvesse passado por ali às pressas.
David varreu a sala com a lanterna, procurando por qualquer sinal de movimento. "Parece limpo," disse, mas sua voz era cautelosa. "Vamos começar a procurar."
Eles se espalharam novamente, Anne se dirigiu a uma das prateleiras que parecia conter mantimentos enlatados. Pegou uma caixa, aliviada ao ver que ainda estava cheia de alimentos que poderiam durar algum tempo.
"Achamos comida," ela informou aos outros, começando a encher sua mochila.
Marta e Paulo estavam verificando uma prateleira de medicamentos, enquanto Júlia ajudava Marcos a sentar-se perto da entrada, permitindo-lhe descansar enquanto eles faziam o trabalho.
"Temos analgésicos, antibióticos," Marta listava os itens enquanto os passava para Paulo, que os colocava na mochila. "Não é muito, mas é algo."
David encontrou uma caixa de ferramentas que poderia ser útil, contendo itens como lanternas adicionais, baterias e algumas ferramentas manuais. "Isso aqui pode ser um salva-vidas," ele disse, colocando tudo em uma sacola.
Enquanto terminavam de coletar os suprimentos, um som distante os fez congelar. Era um som fraco, mas distinto — algo se arrastando, algo... vivo.
"Vocês ouviram isso?" Júlia perguntou, a voz trêmula.
David ergueu a mão para sinalizar silêncio. O grupo permaneceu imóvel, tentando identificar a origem do som. Ele parecia vir de um dos corredores laterais que levavam ao depósito, e estava se aproximando.
"Merda," David sussurrou, percebendo o que poderia ser. "Vamos sair daqui, agora."
Sem questionar, o grupo começou a se mover em direção à saída, tentando não fazer barulho. Anne sentiu o medo apertar sua garganta, mas manteve-se firme, ajudando Júlia a carregar as mochilas.
Quando chegaram à escadaria, o som de algo se arrastando havia ficado mais próximo. Anne olhou para trás, vendo a escuridão do corredor, mas não conseguindo distinguir nada. Ainda assim, o medo a impulsionou a subir mais rápido, com os outros logo atrás.
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Atualizado até capítulo 62
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