Confusa em mim, em mim fico confuso.

Passo minhas mãos pelo rosto, sentindo o calor da minha própria pele, enquanto o peso da preocupação toma conta de mim. Cada segundo que passa parece arrastar mais dúvidas para a superfície, e meu olhar se fixa em Paulo, que me encara, confuso. Eu aponto o dedo, quase de forma automática, sem pensar, indicando para que ele saia da minha frente e vá para a sala.

— Sai… vai pra sala. Eu preciso de um momento — falo com uma voz quase sufocada, tentando disfarçar o turbilhão que sinto por dentro.

Paulo bufa, incrédulo. Seus olhos me analisam como se tentasse decifrar o que se passa dentro de mim, mas ele não diz nada. Apenas se vira e vai para a sala, provavelmente tentando processar tudo à sua maneira. O silêncio entre nós é quase ensurdecedor, e por um breve instante, sinto o peso de tê-lo mandado embora.

Assim que ele sai, eu corro para o banheiro, fecho a porta com força e encaro meu próprio reflexo no espelho. O que eu vejo? Uma mistura de confusão, arrependimento e… talvez um resquício de desejo ainda pairando. As memórias da última noite se chocam contra a realidade do agora. O que eu deveria fazer? Como agir depois de tudo aquilo?

Meus pensamentos giram em círculos, me prendendo por vários minutos. Respiro fundo, tentando achar uma resposta, mas tudo que consigo é um nó no estômago. Eventualmente, decido que fugir do espelho não vai resolver nada, então me arrumo o mais rápido que posso, vestindo uma calça jeans branca e uma camiseta azul. Talvez assim, com um pouco de normalidade, eu consiga pensar melhor.

Quando volto para a sala, Paulo está deitado no sofá, os olhos fixos no teto, perdido em seus próprios pensamentos. Ele se sobressalta ao me ver aparecer de repente, como se não esperasse que eu voltasse tão rápido. Seus olhos percorrem meu corpo, subindo dos pés até o rosto, e por um breve momento, ele sorri. Mas o sorriso some quase que instantaneamente ao notar a incerteza gravada nas minhas feições.

— Paulo… — começo, sentindo um nó na garganta — Eu realmente não sei o que fazer agora.

Ele me encara, em silêncio, esperando que eu continue. Mas as palavras parecem pesadas, difíceis de sair.

— Então… por enquanto, seria melhor você ir — finalizo, sem conseguir olhar diretamente nos olhos dele.

Paulo arqueia uma sobrancelha, surpreso com o que acabei de dizer.

Paulo se aproximou de mim com passos rápidos e um olhar determinado, como se tentasse atravessar minhas dúvidas com a intensidade dos seus olhos. Ele parecia já ter tomado uma decisão dentro de si, algo que o movia com firmeza. Mas, dentro de mim, a confusão ainda reinava. Meus pensamentos eram um emaranhado de sentimentos, e tudo que eu conseguia pensar era que talvez eu estivesse apenas carente, vulnerável demais na noite passada. Talvez fosse só isso, certo?

Ele parou na minha frente, a respiração pesada, e falou com a voz firme, porém carregada de emoção:

— Lucas, por favor, não faça isso! Foi tão bom ontem à noite com você. Eu realmente não me importo com o que os outros vão falar ou com o que vai acontecer com a nossa amizade depois disso.

Eu engoli seco, sentindo o peso das palavras dele caírem sobre mim. Meu coração estava acelerado, e por mais que eu quisesse ter clareza, a verdade é que eu estava completamente perdido. Me virei um pouco, evitando encará-lo diretamente.

— Não é isso, Paulo. Eu... eu só estou confuso — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, quase como um sussurro. — Eu realmente só preciso pensar mais um pouco, entende? Vamos conversar depois, tá bom?

O silêncio pairou por um instante. Quando finalmente criei coragem de olhar para ele, vi a expressão em seu rosto mudar. Um misto de tristeza e compreensão. Ele respirou fundo, como se estivesse digerindo minhas palavras, e, depois de um momento, esboçou um sorriso triste, mas que ainda transparecia aceitação.

— Se é isso que você quer, então tudo bem — ele respondeu, a voz mais suave agora, apesar da decepção clara.

Por um segundo, o silêncio pareceu ainda mais pesado, até que ele, hesitante, perguntou:

— Posso te dar um abraço antes de ir?

Fiquei parado, meus olhos fixos nos dele. E, mesmo sem responder de imediato, já sabia que não conseguiria negar.

Levo meu olhar para os lados, tentando encontrar alguma resposta no vazio da sala, mas nada me ajuda. Volto a encará-lo, sem dizer uma palavra. Apenas balanço a cabeça em confirmação ao pedido dele, uma resposta silenciosa que traz mais dúvidas do que certezas.

Abro meus braços, como quem se rende a algo inevitável, e Paulo se aproxima. O abraço que ele me dá é lento, quase hesitante no começo, mas logo sinto a força crescer, me apertando cada vez mais. O calor do corpo dele contra o meu é inegável. Um suspiro escapa dos meus lábios e, ao mesmo tempo, sinto o dele também. Não precisamos nos olhar para saber que ambos compartilhamos um sorriso, ainda que tímido.

Ficamos assim, presos nesse abraço, por alguns segundos que parecem estender-se. É como se ele não quisesse me soltar e, em algum lugar dentro de mim, eu também não quisesse que ele fosse embora.

Quando ele finalmente se afasta, faço o possível para não deixar transparecer a mistura de emoções que me percorre. Paulo caminha até a porta com passos suaves, sem pressa. A cada movimento dele, sinto como se o ar ao redor ficasse mais denso. Ele abre a porta com cuidado, sem fazer barulho, e antes de sair, lança um último olhar em minha direção, com aquele sorriso bobo que quase me desmonta. Só consigo retribuir com um olhar que carrega muito mais do que sou capaz de dizer.

Assim que a porta se fecha, o silêncio toma conta do lugar. Solto um suspiro pesado, como se estivesse segurando o ar desde o momento em que ele me abraçou. Me jogo no sofá, os músculos tensos se relaxando aos poucos. Fico ali, imóvel, com o olhar fixo na parede à minha frente, mas minha mente... ah, minha mente está longe, perdida em pensamentos sobre o que aconteceu, sobre o que poderia acontecer, sobre tudo que não tenho coragem de admitir nem para mim mesmo.

“E agora? O que eu faço?”

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Comments

Elisangela Lopes

Elisangela Lopes

amei continua por favor

2024-09-22

1

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