Reviro os olhos ao escutar a voz de Paulo. O som dele do outro lado da porta só me faz querer fugir mais do que já estou tentando. Respiro fundo e levo a mão até a maçaneta, hesitante. Por um instante, paro.
“O que eu fiz foi… bem gostoso.” Esse pensamento me escapa antes que eu possa controlá-lo, fazendo meu corpo esquentar de novo, e meus dedos ficam indecisos sobre abrir ou não aquela porta. Mas, logo em seguida, uma onda de racionalidade me atinge. "Mas não deveria continuar... pelo nosso próprio bem." Tento me convencer, mas a verdade é que uma parte de mim… uma parte insana, desobediente, quer desesperadamente repetir aquela noite.
Solto o ar devagar e finalmente giro a maçaneta. A porta range lentamente enquanto abro, e meus olhos vão direto ao chão, evitando encarar Paulo de imediato. Mas a curiosidade me vence, e levanto o olhar, bem devagar, até encontrar o dele. Ele está parado ali, com aquela calma que me desarma, e no instante em que me vê, algo muda nele. Eu sinto o olhar dele percorrendo meu corpo, nu, sem pressa. E, sem poder evitar, meus olhos fazem o mesmo: observo ele de pé, apenas com a roupa de baixo.
Tento me desvencilhar do incômodo crescendo entre nós, e a única coisa que consigo dizer, com uma voz meio trêmula, é:
— Bom, acho melhor eu colocar uma roupa primeiro, né?
Ele não responde. Ignora completamente minhas palavras, como se o que eu disse fosse um ruído distante. Antes que eu pudesse reagir, Paulo me puxa para perto, seus braços firmes ao redor da minha cintura. O choque do seu corpo quente contra o meu me faz perder o fôlego por um segundo. Meu peito contra o dele, minha cabeça descansando contra seus ombros. Sinto o batimento acelerado dele, e por um instante, tudo se acalma, o silêncio entre nós gritando mais alto do que qualquer palavra poderia.
Ali, naquela posição, eu quase esqueço de todas as dúvidas, de todas as palavras que tentei ensaiar no banheiro. Porque tudo que sinto é o calor dele e meu corpo reagindo, respondendo ao desejo que insiste em não ir embora.
Paulo desliza a mão pelos meus cabelos, seus dedos acariciando cada fio com uma delicadeza que faz meu corpo inteiro reagir. Eu me deixo envolver naquele toque, abraçando-o um pouco mais forte do que pretendia. Quando levanto meu olhar para o dele, encontro aqueles olhos que sempre me trouxeram conforto, mas agora, carregados de um desejo que ainda me deixa confuso. Solto um leve sorriso, mas dentro de mim, a incerteza ainda lateja.
— Isso que estamos fazendo é muito errado! — minha voz sai mais fraca do que eu esperava, quase como se estivesse pedindo para ele me convencer do contrário.
Paulo apenas sorri, com aquele jeito confiante que me deixa sem saber como reagir.
— Errado? Eu acho que não. Na verdade, chamamos isso de sexo, e não de errado. — A risada que acompanha suas palavras é leve, quase brincalhona. As mãos dele descem até minha cintura, os dedos traçando linhas na minha pele, como se quisesse me gravar nele.
Sinto um arrepio subir pela espinha, mas ainda tento manter a cabeça no lugar. — É sério, Paulo… — minha voz treme um pouco, mas não recuo. — Eu sou seu amigo, não acha estranho fazer isso com amigos?
Ele solta um suspiro, como se minha preocupação fosse um problema fácil de resolver. — Claro que não! Acho que foi a coisa certa. Nossos corpos estavam precisando relaxar, e como bons amigos, resolvemos isso juntos. — Ele me olha com aquela expressão travessa, esperando que eu concorde, como se tudo fosse simples assim. — Não concorda?
Reviro os olhos, mas a lógica dele, por mais distorcida que fosse, tinha uma maneira de mexer comigo. Respiro fundo, tentando não me deixar levar por aquele sorriso. Com um gesto rápido, dou um leve beliscão nas costas dele, só para quebrar o momento.
— É sério mesmo, não estou brincando. — Ele solta um pequeno grito de surpresa, mas logo ri. Sinto meu coração acelerar, uma mistura de raiva, diversão e… algo mais.
O que ele disse ainda ecoa na minha mente, e por mais que eu tentasse negar, uma parte de mim queria acreditar que ele estava certo.
Paulo olhou ao redor do local, como se buscasse algo nas paredes, no chão, em qualquer lugar que não fosse eu. Mas, depois de um breve momento, ele voltou o olhar diretamente para mim, como se tivesse encontrado o que precisava dentro de si. Sem dizer nada, ele se aproximou e plantou um beijo longo e suave na minha testa. O calor dos seus lábios parecia ecoar dentro de mim, e antes que eu pudesse processar, ele se afastou levemente, desfazendo o abraço que eu ainda segurava firme, como se temesse que ele fosse escapar.
— Por favor, pensa aqui comigo, mas pensa bem mesmo — ele começou, a voz baixa, mas cheia de algo que eu não conseguia nomear.
Eu assenti, cruzando os dedos nervosamente à frente do corpo, sentindo a tensão crescer em meu peito. Não sabia o que esperar, mas meu coração martelava em antecipação.
— Nossa amizade já tem um bom tempo, não é mesmo, Lucas? — ele continuou, os olhos fixos nos meus, e eu podia sentir que ele estava tentando me guiar por algum caminho, talvez nos fazer ver algo que eu ainda não tinha percebido. — Pensa que ela evoluiu. Saímos de melhores amigos para... melhores amigos que ficam. O que você acha?
Revirei os olhos de leve, uma reação automática que eu não controlei, mas algo nas palavras dele me atingiu de jeito. "Melhores amigos que ficam." Era uma piada, não era? Uma tentativa de alívio, de tornar tudo mais leve. Mas, enquanto ele falava, havia uma sinceridade que me fez questionar. E se ele realmente quisesse isso? Meu coração deu um salto incômodo.
Eu senti que ele não estava mentindo. Talvez Paulo não estivesse apenas tentando me convencer; ele também parecia estar convencendo a si mesmo.
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Atualizado até capítulo 32
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