Fecho os olhos com força, tentando, em vão, organizar meus pensamentos. Cada tentativa só traz de volta os flashes de Paulo — seus toques, os gemidos que ainda ecoam na minha mente. O calor daquela noite ainda queimava na minha pele. Sinto meu corpo tenso, como se cada célula estivesse presa na memória do prazer. Eu me inclino contra a pia, apertando sua borda fria, buscando algum tipo de controle.
"E agora? O que eu vou dizer? O que ele vai pensar?" Meus pensamentos se atropelam, e eu balanço a cabeça de um lado para o outro, tentando silenciar a confusão.
Abro os olhos lentamente e encaro o reflexo no espelho. Minha respiração ainda pesada. Meus lábios entreabertos, ainda ligeiramente inchados. "Eu posso lidar com isso... com calma. Sim, é só manter a calma", murmuro para mim mesma, quase como se tentasse me convencer.
Dou um passo para trás, meus movimentos são lentos, mas os sons ecoam pelo pequeno banheiro como um trovão. O piso parece amplificar cada passo meu, o silêncio da casa tornando tudo mais alto do que realmente é. Com a voz um pouco rouca, quase um sussurro, solto um aviso:
— Já estou saindo...
Minhas mãos tremem levemente quando alcanço a maçaneta. Abro a porta com muita cautela e com as mãos tremendo um pouco, meus olhos ansiosos por sair do meu pequeno refúgio. Assim que a porta se abre completamente, meus olhos se encontram com Paulo.
Lá estava ele, encostado na parede, um braço apoiado casualmente, seus pés cruzados e os olhos fixos em mim. Ele não disse nada, mas seu olhar falava mais do que qualquer palavra poderia. Eu engoli em seco, a tensão entre nós ainda estava lá, mais palpável do que nunca.
Paulo me observa com curiosidade, o olhar dele percorrendo o banheiro simples em que me enfiei. Ele claramente não entende por que eu escolhi esse lugar, quando o do quarto é maior e mais confortável. Sua voz quebra o silêncio:
— Por que você usa esse banheiro? O do quarto parece muito melhor.
Eu sinto o peso da pergunta, como se ele estivesse questionando mais do que apenas minha escolha de lugar. Minha irritação cresce, talvez por causa de tudo o que aconteceu, talvez por eu não saber como lidar com isso. Respondo de forma abrupta, quase como um grito.
— Porque aqui é melhor para que eu possa pensar!! — minha voz sai alta, como se fosse uma defesa desesperada, e logo em seguida, eu empurro a porta na cara de Paulo, sem hesitar. Ele dá um leve pulo para trás, surpreso, mas não recua de verdade. Ainda está lá, do outro lado.
Eu me viro, escorando minhas costas na porta, como se quisesse criar uma barreira física e emocional entre nós. Meus dedos tremem enquanto pressiono contra a madeira. Minha face começa a se contorcer, cheia de raiva contida. Raiva dele, de mim... de tudo isso.
— Agora vai para o banheiro do quarto se arrumar e depois vai embora logo.
Aquelas palavras saem rápidas, quase cuspidas, mas não consigo evitar o tremor na minha voz. Paulo se afasta um pouco, os olhos arregalados, claramente surpreso. Ele leva uma das mãos ao queixo, pensativo, como se estivesse tentando entender o que se passa na minha cabeça.
— Por que? Não gostou do que fizemos?
A pergunta dele é um tiro direto. Fico congelado por alguns segundos, minha raiva só aumentando, mas não é raiva dele... é raiva do que estou sentindo, da confusão dentro de mim. Ele acha que foi só isso? Sexo? Minha mente está uma bagunça.
Fecho ainda mais minha expressão, forçando uma máscara de dureza, mas sinto as lágrimas começarem a se formar, não de tristeza... de frustração, de conflito. Minha voz sai mais baixa agora, cheia de emoção contida.
— N... não é isso! Eu... — minha voz falha, e sinto o peso do momento travando minha respiração. Tento puxar o ar fundo, como se isso fosse aliviar o caos borbulhando dentro de mim. — Bom, é isso sim! Eu não gostei.
As palavras saem duras, cortantes, mas o amargo delas é quase insuportável. Minha garganta fecha, como se estivesse tentando impedir que essa mentira ganhasse vida. Será que é isso mesmo? Será que eu realmente não gostei? Ou estou só tentando afastá-lo... antes que tudo fique ainda mais complicado?
— HÁ sério mesmo? — a voz de Paulo é baixa, carregada de incredulidade. — Não foi o que pareceu ontem à noite! — Ele rebate, com um tom que carrega algo entre desafio e mágoa.
Minhas mãos tremem enquanto as aperto contra a pia, tentando me manter firme. — Bom, eu menti! — minha voz sobe, mais do que eu gostaria, quase como uma defesa desesperada. — Eu só não queria te magoar, agora se apresse para ir embora logo, e... — hesito, o peso das palavras caindo antes mesmo de eu terminar — não conte para ninguém o que aconteceu aqui, está bem?!
Paulo arqueia uma sobrancelha, e aquele olhar atento dele me fura. Ele percebeu. Claro que percebeu. As pausas, as hesitações, tudo em mim estava gritando que eu estava tentando fugir.
— Deixa disso, Lucas. — Sua voz é mais suave agora, mas ainda firme. — Abre a porta, por favor. Por que está agindo assim?
Sinto o chão escorregar um pouco sob meus pés, o pânico me consumindo. — Porque foi errado nós termos feito isso! — disparo, com mais força do que eu pretendia. — Não acha? Se descobrirem... se souberem o que fizemos, a gente vai ser mal falado por todos dessa cidade, não acha?, podem... podem até pensar coisas horríveis sobre nós, e eu não quero isso, você entende, não é mesmo Paulo?
Paulo revira os olhos, soltando um suspiro exasperado. — Sério? É isso que te preocupa? — Ele balança a cabeça, impaciente. — A cidade inteira pode se explodir, Lucas. Não estou nem aí pro que vão pensar. E você? Vai viver se escondendo pra sempre?
Minha mente roda, tentando achar uma resposta. Esconder. Mentir. Fingir. Tudo parece mais fácil, mas ao mesmo tempo, cada mentira é um fardo que fica mais pesado, que ódio.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
☯︎𝑹𝒂𝒑𝒐𝒔𝒊𝒕𝒂🦊
aceita que dói menos
2024-10-20
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