O que fazer?

Alguns minutos haviam se passado desde que Paulo e eu nos entregamos um ao outro. Nossos corpos exaustos tinham sido lavados e secos, mas o cansaço ainda pesava em cada músculo. A cama, agora manchada pelos vestígios do nosso desejo, parecia uma lembrança viva do que compartilhamos. Com um suspiro preguiçoso, peguei um lençol macio e o estendi no chão, sem pensar muito. Deitamos ali, nossos corpos ainda quentes, tão próximos que o calor dele parecia se fundir ao meu.

O tempo deslizou entre um estado de torpor e relaxamento. Acordei devagar, com os músculos pesados e uma sensação de preguiça se arrastando por cada centímetro do meu corpo. Soltei um gemido baixo, mais um reflexo do conforto do que de qualquer outra coisa, e esfreguei os olhos, tentando afastar a névoa que cobria meus pensamentos. Por um breve instante, fiquei entre a dúvida e a realidade, imaginando se tudo aquilo não passara de um sonho febril.

Virei o rosto devagar, e lá estava Paulo, meu melhor amigo, deitado ao meu lado, completamente nu. Seus traços eram suaves, a respiração tranquila, mergulhado em um sono profundo e despreocupado. Meu olhar desceu por seu corpo, cada linha, cada detalhe, a lembrança vívida de tudo o que tínhamos compartilhado ainda pulsando em minha memória. Foi então que percebi: eu também estava nua. O calor subiu pelas minhas bochechas, uma mistura de vergonha e prazer que se instalou em mim, fazendo meus lábios se curvarem em um sorriso discreto.

A realidade me envolveu suavemente, como um sussurro quente, me lembrando de cada toque, cada suspiro. Não era um sonho. Tudo havia sido real, e a presença de Paulo, ali, ao meu lado, tornava cada memória ainda mais intensa.

Me levanto com cautela, cada movimento meu sendo meticulosamente calculado para não acordar Paulo. Sinto um calafrio percorrer meu corpo enquanto o olho pela última vez antes de sair do quarto. Caminho nas pontas dos pés, o coração batendo um pouco mais rápido do que deveria, e fecho a porta atrás de mim, lentamente, tentando evitar qualquer barulho que pudesse romper o silêncio que compartilhávamos.

"Por que eu fiz isso?", me pergunto enquanto caminho até a cozinha. O frio da geladeira me tira brevemente dos meus pensamentos confusos quando abro a porta e pego uma latinha de refrigerante. Respiro fundo, mas o nó no meu peito só parece aumentar.

Quase correndo, vou para o banheiro. Tranco a porta assim que entro, como se estivesse tentando me proteger de algo que já aconteceu. Fico ali, parada por alguns segundos, antes de me virar para o espelho.

Meu reflexo me encara com olhos cheios de questionamentos e... arrependimento? Talvez. Aproximo-me lentamente, as mãos trêmulas, e encaro o meu rosto. Minha expressão estava uma mistura de medo e desejo.

"Por que deixei isso acontecer?", sussurro para mim mesma, quase em choque. As imagens da noite passada começam a surgir em flashes, os toques, os gemidos, o jeito como os corpos se entrelaçaram... tudo parecia tão claro agora.

"Eu não devia... mas foi tão bom..." Coloco a mão sobre o peito, sentindo meu coração bater forte, ainda marcado pela lembrança. Meu corpo, ainda sensível, parece responder às memórias de Paulo sobre mim. Ele... ele me fez sentir algo que nunca imaginei que seria tão bom.

Meus lábios se curvam num sorriso fraco, quase culpado. "Foi errado?", pergunto a mim mesma, tentando buscar uma resposta no espelho. Parte de mim queria esquecer tudo, fingir que nada aconteceu. Mas a outra parte...

"Eu gostei. Muito mais do que devia", admito em um suspiro, meus olhos se enchendo de uma combinação estranha de prazer e confusão.

Levo meu olhar para a janela e vejo os primeiros raios de sol atravessando o horizonte, começando a iluminar as casas ao longe. O brilho suave do amanhecer parece querer aquecer algo dentro de mim, mas, por algum motivo, tudo o que sinto é um frio silencioso. Respiro fundo, como se tentar encher meus pulmões de ar pudesse me dar clareza. Volto a me encarar no espelho, os olhos fixos nos meus, como se procurasse uma resposta.

"Eu deveria falar com ele", penso, sentindo um nó no estômago. "Devemos fingir que nada disso aconteceu. Não tocar mais no assunto, pelo bem de nossa amizade. Talvez até seja melhor se distanciar um pouco…"

Esses pensamentos pareciam fazer sentido, mas logo um calor diferente surge dentro de mim, como se meu próprio corpo rejeitasse a ideia. A lembrança de seus toques, de como ele me fez sentir, surge com força, e uma parte de mim quer desesperadamente repetir aquilo. Morder seus lábios de novo. Sentir a forma como nossos corpos se encaixaram.

Balanço a cabeça, tentando afastar esse desejo teimoso. "Não... não posso querer isso de novo." Mas, no fundo, sei que estou mentindo. Eu quero repetir. A sensação ainda está viva em mim, queimando como um fogo lento que não se apaga.

Passo as mãos pelo rosto, tentando me recompor. "Você precisa ser forte, precisa seguir em frente", murmuro para mim mesma, como uma espécie de mantra. Mas minhas palavras soam vazias. Eu sei, lá no fundo, que não quero apagar essas memórias. E talvez eu nem tenha coragem de tentar.

Minha mente é um caos, um turbilhão de pensamentos se chocando uns contra os outros, tentando decidir o que é certo ou errado. As memórias da noite anterior se misturam com o desejo de afastá-lo e o anseio secreto de trazê-lo para mais perto, de sentir tudo aquilo de novo.

Fecho os olhos, respirando fundo mais uma vez. "O que eu vou fazer agora?"

Começo a morder minhas unhas, o gosto amargo da ansiedade me dominando por completo. Cada pensamento me sufoca, e o medo do que está por vir só piora. “O que eu fiz? Como eu fui deixar isso acontecer?”, penso, enquanto as palavras escapam baixinho da minha boca, quase como um desabafo para o meu próprio reflexo.

— Eu sou uma tonta mesmo… não… — paro, me corrigindo num impulso de raiva e frustração — eu sou um tonto, tonto…

O reflexo no espelho parece zombar de mim, e meus dedos continuam entre os dentes, roendo o que restava da minha calma. A lembrança da noite anterior ainda estava fresca, e, junto com ela, o prazer e o arrependimento se misturavam como uma tempestade que não consigo controlar.

Então, dois toques rápidos na porta quebram o silêncio. Eu congelo. Paulo. Meu coração acelera, e por um segundo, penso em fingir que não estou aqui. Mas é tarde demais.

— Ei, vai ficar pra sempre aí ou vai sair? — a voz dele atravessa a porta, firme e com aquela rouquidão masculina que só faz minha mente mergulhar ainda mais nas memórias de algumas horas atrás.

Fecho os olhos com força, tentando organizar meus pensamentos, mas tudo que vem à tona são flashes dele, seus toques, seus gemidos. Eu me pressiono contra a pia, buscando uma forma de voltar ao controle.

“E agora? O que eu vou dizer?”

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