Kate Fire

Kate Fire

Desejos Incontroláveis

O som estridente do despertador se espalha pelo quarto, cortando o silêncio da manhã como uma lâmina afiada. Sinto a vibração do som reverberar através do colchão, ecoando pelo meu corpo adormecido. Meus olhos piscam abertos lentamente, lutando contra a relutância em deixar o conforto dos lençóis. O quarto está envolto em sombras suaves, apenas iluminado pelo fraco brilho da luz do amanhecer que se filtra pelas frestas da cortina. O ar está impregnado com o aroma suave de café recém-passado, misturado com o leve cheiro de lavanda vindo do travesseiro. Respiro fundo, sentindo o frio da manhã penetrar meus pulmões, enquanto me preparo mentalmente para mais um dia que se inicia.

Calmamente, levanto-me da cama, deixando a preguiça para trás. Vou descalço até a janela, sentindo o piso frio de porcelanato branco esfriar gradualmente meus pés pequenos, que ficam cada vez mais vermelhos a cada passo. Com celeridade, abro a cortina, permitindo que os raios solares banhem meus braços, minha cintura fina, minhas coxas voluptuosas e meu rosto angelical. Com uma das minhas pequenas mãos, ajeito meus cabelos lisos, sedosos e escuros, sentindo cada fio passar pelos meus dedos finos. Admiro o belo amanhecer do sol — que hoje não está alaranjado como de costume — que ilumina não só a minha casa, mas todas as pequenas residências da cidadezinha em que vivo. Um sorriso de canto de rosto se espalha, transbordando de alegria e felicidade.

Sem hesitar, viro-me da janela, entregando-me à visão do chão recém-lavado. Um arrepio de antecipação dança pela minha espinha ao perceber que este é o último dia de aula. Minha sobrancelha ergue-se num gesto provocante, alimentando a chama da minha excitação. Um sorriso malicioso desliza pelos meus lábios, delineando a perfeição dos meus dentes. Uma onda de calor ardente irrompe do meu âmago, uma endorfina deliciosamente intoxicante inundando cada fibra do meu ser.

No entanto, esses sentimentos se dissipam rapidamente quando a realidade me puxa de volta. Meu olhar se lança freneticamente para o despertador, e vejo que já passa das seis. Ainda estou de cueca, o frescor da manhã acariciando minha pele exposta, trazendo-me de volta ao presente com um toque de urgência.

Dou uma sequência de passos rápidos, sentindo minha ansiedade aumentar a cada metro percorrido. Ao chegar ao banheiro, empurro a porta com força e rapidez. Minha respiração está mais acelerada do que o normal. Meus olhos percorrem rapidamente o pequeno espaço — uma privada, uma pia modesta e um espelho grande o suficiente para refletir uma pessoa alta.

Agarro a escova de dentes, o som das cerdas contra meus dentes ecoando no silêncio do banheiro. A água quente do chuveiro começa a cair, criando uma névoa que enche o ambiente. Sinto o calor envolver meu corpo, enquanto a tensão começa a se dissipar com cada respingo de água. O vapor sobe, e eu fecho os olhos, deixando a água lavar não só meu corpo, mas também a ansiedade que me acompanhou até aqui.

Alguns minutos se passaram rapidamente. O vapor quente ainda pairava no ar quando saí do chuveiro, sentindo a pele limpa e revigorada. Escolhi uma cueca diferente da anterior, apreciando a sensação do tecido fresco contra minha pele. Depois de me secar completamente, saí do banheiro e fui até um pequeno quarto ao lado. Lá, um espelho grande ocupava uma parede. Coloquei a toalha na janela aberta, deixando o ar fresco entrar. Virei-me para o espelho e, por alguns segundos, me observei atentamente. Meu reflexo mostrava um rosto feminino  avermelhado pelos suaves toques no banheiro para limpá-lo, os olhos brilhando com a luz que entrava suavemente pela janela. O silêncio do quarto parecia amplificar cada batida do meu coração, enquanto eu analisava cada detalhe da minha aparência.

Depois de um tempo, a porta principal da casa se abre, rangendo em suas dobradiças. O som agudo faz meus dentes doerem, e fecho os olhos brevemente ao escutá-lo. Vestindo uma blusa de frio, calça escura e tênis branco, começo minha caminhada apressada e pesada de baixo do templo nublado em direção à escola. O ar da manhã está frio e cortante contra meu rosto, e cada passo ecoa pela calçada deserta.

Enquanto ando fervorosamente, cumprimento algumas pessoas que passam por mim, suas vozes um murmúrio distante contra o ruído dos meus pensamentos. Já se passaram quatro meses desde que fiz 18 anos. Reprovei um ano no ensino médio. O que farei a partir de agora? Devo mudar de emprego?

Perdido em meus pensamentos, deixo o tempo escapar, e quando volto a mim, já estou diante da escola. O jardim de flores ao lado do portão principal sempre me encanta, com suas cores vibrantes que contrastam com a rotina cinzenta. A cor rosa das paredes é exuberante aos meus olhos, uma explosão de vida em meio à monotonia. O pátio, cheio de cadeiras e mesas para quem quiser se alimentar, as salas de aula todas iguais, e a quadra de futebol rompem a delicadeza da escola. Mas nada disso importa mais. Afinal, não vou mais continuar vindo aqui.

O pátio estava vazio, um deserto de concreto sob o céu nublado. O eco dos meus passos era o único som, amplificando minha vontade de me virar e ir embora. Eu me encolhi um pouco mais dentro do meu casaco, tentando me esconder do frio e da ansiedade que se enroscavam em meu estômago.

De repente, uma voz familiar rompeu o silêncio à minha esquerda. Me virei devagar, já sabendo quem era. Paulo. Meu único amigo durante todos esses anos de estudo. Ele vinha correndo, os cabelos loiros e lisos balançando de um lado para o outro, como em uma cena de filme de comédia romântica. Era impossível não sorrir ao vê-lo, mesmo que meu sorriso estivesse escondido pela gola alta do casaco que cobria minha boca.

Paulo parou na minha frente, ofegante, seus olhos brilhando de alegria. Com sua altura imponente, eu precisava inclinar a cabeça para olhá-lo. Minha estatura de 1,69 metros sempre me fazia sentir pequeno ao seu lado.

Ele soltou um suspiro leve, ajeitando a camisa branca que usava antes de enfiar as mãos nos bolsos da calça jeans escura. Quando levantou os olhos para mim, seu olhar sério contrastava com o sorriso que eu sabia estar escondido sob a gola do meu casaco.

— Por que você chegou atrasado? — perguntou Pedro, fazendo uma cara raivosa.

Seu olhar furioso parecia perfurar minha pele, e eu engoli em seco.

— Be... Bem... Bem... eu também não sei, o despertador tocou na mesma hora de ontem, eu me arrumei o mais rápido que pude, e... e... então vim a pé pra cá, cumprimentei algumas pessoas. Coisas que faço toda vez que venho estudar...

— O quê? Acha que me engana com isso? Já são 7:40 da manhã. Sabe, eu fiquei te esperando até agora! — reclamou Paulo, cruzando os braços com força, fechando os olhos e virando as costas para mim.

Apesar de Paulo ser dois anos mais velho que eu, ele muitas vezes age imaturamente. Alguns dizem que ele só mostra essas expressões comigo. Às vezes, me pergunto se ele sente algo por mim. Não! Provavelmente é coisa da minha cabeça. Talvez eu que esteja querendo algo com ele? Nã... Não!

— Não! Olha aqui a hora no meu celular! Ainda são... Ué? 7:40 da manhã, mas o despertador estava...

— Não pode ser possível! — afirmou Paulo, incrédulo. — Como você não arrumou seu fuso horário, Lucas?

Vejo o descontentamento estampado no rosto dele. Comprei ontem aquele maldito despertador, e sem querer acabei esquecendo de arrumar o fuso...

— Desculpa te fazer esperar — digo, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

Paulo me lançou um olhar que suavizou seus traços, revelando um misto de compaixão e aceitação. Meu plano de reconciliação parecia ter dado frutos.

— Não!! — Paulo afirmou, surpreendendo-me e fazendo meus olhos se arregalarem em choque.

— Por que não? Ah... por favor, Paulo, me perdoa. Não foi minha intenção — murmurei, enquanto meus dedos roçavam levemente os braços de Paulo e minha cabeça se aninhava em seu peito. Um olhar triste se refletia em meus olhos, implorando por perdão. Paulo apenas sorriu de lado, desencadeando um gemido de incerteza em mim.

— Bem, eu te perdoo, mas com uma condição. — Paulo respondeu, lançando-me um olhar astuto.

— Não! Bem, depende do que for. Não aceito nada indecente! — Declarei com firmeza, virando-me e cruzando os braços com determinação e fazendo um biquinho, meu semblante expressando resistência à proposta.

Paulo sorriu, adotando um tom humorístico: — Você não está em posição de fazer exigências, querido!

Ele se aproximou, deslizando os dedos pelas minhas costelas, provocando-me um salto involuntário e um grito abafado de surpresa.

— Ei!! — reclamei. — Não me provoque, Paulo. Sabe muito bem que eu posso só dizer não e sair daqui sem falar mais nada contigo.

Virei-me para ele, beliscando seu ombro com força suficiente para deixar uma marca, fazendo assim ele passar a mão no lugar afetado e soltar um sorrisinho.

— Desculpe! Bom, posso fazer a proposta agora? — Paulo perguntou, enquanto eu assentia, ansioso para saber o que ele tinha em mente.

— Bom, semana passada eu consegui uma vaga em um restaurante italiano.

Olhei para Paulo, arqueando uma sobrancelha, um sorriso surgindo enquanto cruzava as pernas na frente dele.

— Vai trabalhar de garçom?

Ele riu, balançando a cabeça.

— Não! Eu consegui uma vaga para jantar lá! E tipo, quando conversei com eles, marquei para hoje. Mas tem um porém: é uma vaga para duas pessoas, e eu não tenho ninguém pra ir comigo além de você. Lucas, quer ir comigo?

Pisquei, absorvendo suas palavras. Um convite inesperado, mas algo no tom de Paulo me fez sentir que ele estava nervoso. Ele olhava para mim com expectativa, os olhos brilhando de um jeito que sempre me desarmava. Senti meu coração acelerar um pouco, mas tentei manter a calma.

— Claro, por que não? — respondi, tentando soar casual.

Sorri, esboçando um suspiro. Por dentro, eu esperava algo mais, algo que Paulo não parecia pronto para dizer. Ele já tinha me levado para comer em vários lugares, então por que isso seria diferente? Mas havia uma leve tensão no ar, algo não dito que pairava entre nós.

— Bom, o jantar será às 20:00. Vou passar na sua casa bem antes disso, okay? — perguntou Paulo, fazendo um joinha com as mãos antes de me puxar para um abraço apertado.

Senti meus pulmões comprimirem e dei uma risada nervosa.

— Ei! Assim você vai me sufocar! — reclamei, fazendo uma cara de descontente enquanto tentava me soltar.

Paulo riu, soltando-me de imediato.

— Desculpa! Bom, agora eu vou pra minha sala de aula! — Ele se virou e saiu correndo, os passos ecoando pelo corredor vazio. Parecia ter acabado de ganhar um prêmio. Fiquei ali, observando-o desaparecer ao virar a esquina, sem entender a causa de tanta felicidade. Afinal, já jantamos juntos tantas vezes...

Quando Paulo sumiu do meu campo de visão, um pensamento me ocorreu: “Acho que vou sair daqui! O porteiro nem está aqui, o diretor e os professores devem estar ocupados. Agora é minha chance, e já terminei meus estudos, então nem precisaria estar aqui. Na verdade, nem sei por que vim hoje... Acho que foi só para ver o Paulo!”

Dou um tapa leve na minha própria cara com as duas mãos, sentindo o calor subir para as minhas bochechas, deixando-as vermelhas.

— Concentre-se, Lucas.

Sem pensar duas vezes, caminho com afinco até a saída da escola. Um sorriso permeia meu rosto enquanto o vento brinca com meus cabelos, fazendo-os flutuar no ar.

— Pode parar aí, onde pensa que você vai?

Uma voz grossa e imponente invade meus ouvidos, fazendo todo o meu corpo se arrepiar. Paro instantaneamente, paralisado pelo medo. Viro-me lentamente, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Deparo-me com meu professor, Ricardo. Sua presença musculosa reforça sua autoridade, e a voz grave faz qualquer aluno se encolher. A barba branca lhe dá um ar de experiência, enquanto sua cabeça careca brilha sob a luz, irresistível ao olhar. Sempre vestido de terno e gravata borboleta, ele é inconfundível e imponente.

— O... oi... pro... professor...

— Nada de “oi” professor. Sério que você não quer estar no seu último dia de aula? — pergunta Ricardo, cruzando os braços robustos, que mais parecem montanhas.

— Sa... sabe como é, né, professor? Já consegui passar de ano, os estudos acabaram. Nem precisei vir com os materiais, sabe? — falei, sentindo a voz tremer enquanto meus olhos se arregalavam com uma mistura de pavor e medo.

Vi o professor coçar sua careca brilhante antes de soltar um sorriso. Ele olhou para mim e abriu os braços, liberando um grande sorriso.

— Pode ir, mas antes disso venha aqui e me dê um abraço. Talvez seja a última vez que nos veremos.

Meus olhos castanhos se arregalaram ainda mais, desta vez de surpresa. Nunca imaginei que ele pediria algo assim. Parece que até os professores têm sentimentos. Caminhei até ele, tentando forçar um sorriso, os passos rápidos. Quando nossos corpos se encontraram em um abraço apertado, senti meu rosto esquentar ao sentir os músculos dele pressionando contra o meu corpo. Ele era grande e forte, e eu nunca me imaginei abraçando-o, quer dizer. já imaginei, mas não assim...

Minhas mãos tocaram os músculos das costas dele, sentindo-os se contrair levemente. Soltei um suspiro lento e profundo, o calor subindo para minhas bochechas, que ficaram cada vez mais vermelhas. Meu corpo foi tomado por uma estranha mistura de constrangimento e excitação enquanto sinto-me cada vez mais trêmulo, enquanto além de sentir aqueles músculos, também sinto as mãos pesadas dele bailar sobre toda minha costa bem lentamente.

Porém, antes de pararmos de nos abraçar, que por sinal já estava demorando um pouco mais do que o comum, sinto algo estranho na parte de baixo do professor. Eu sei muito bem o que é, mas ao invés de me afastar, meu corpo se aproxima mais do dele, permitindo-me sentir ainda mais aquilo aumentar de tamanho. O professor também não se afasta de imediato, ele faz alguns movimentos em mim, fazendo-me soltar um suspiro fino a cada um deles. Então, ele se afasta lentamente, com seu corpo um pouco encurvado, e dá uma leve tossida.

— Pode ir, Lucas. Não sei se vamos nos ver de novo, espero que melhore esse seu comportamento de fugitivo — diz Ricardo, olhando para o chão com um olhar meio envergonhado.

— O... obrigado, professor...

— Pode me chamar apenas de Ricardo, agora. Não sou mais seu professor — explicou ele, olhando nos olhos de Lucas.

— Está bem... Obrigado, Ricardo. Espero te ver de novo.

Lucas virou-se e caminhou rapidamente para fora do local. Ao chegar na primeira esquina, ele olhou para trás e viu Ricardo ainda observando-o da escola. Com um aceno de despedida, Lucas viu o gesto ser retribuído pelo ex-professor. Depois disso, ele continuou a andar, desaparecendo da vista de Ricardo.

“O que foi aquilo?”, pensou Lucas, sentindo um frio na barriga.

“Aquilo foi muito estranho! O profe… digo: Ricardo, estava duro e se esfregando em mim. Foi muito… muito… muito bom também.”, pensei, vendo minhas mãos tremendo depois de sentir toda aquela emoção.

O Ricardo nunca olhou pra mim, um garoto, bem, se bem que depois de ter feito dezoito anos de idade, ele sempre ficava me observando nas aulas, sempre passava a mão dele no meu ombro enquanto eu escrevia algo, mas não passava como se tivesse tentando me dar confiança, aquelas passadas de mãos eram bem lentas,  toda vez que eu sentia aquelas mãos, meu corpo se contorcia de desejo. Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas é tão bom.

(Próximo capítulo: Desejos incontroláveis, parte final.)

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