Isabella se desvencilhou na multidão, e eu acabei me perdendo naquela confusão. As luzes neon me envolviam, banhando-me em tons de roxo que pareciam abraçar a todos. Era difícil distinguir os rostos na penumbra, cada movimento era uma coreografia frenética e desordenada.
Eu esbarrei em várias pessoas, tentando desesperadamente seguir o ritmo dela. Era como tentar encontrar um peixe em um cardume turbulento, uma tarefa praticamente impossível.
Algumas mulheres, com roupas provocantes e olhares afiados, me lançavam olhares de desaprovação enquanto passava. Os homens, por outro lado, olhavam-me com uma malícia evidente, como se eu fosse mais uma presa em meio ao caos noturno daquele lugar.
Então, em meio ao emaranhado de corpos e movimentos frenéticos, esbarrei em mais alguém. Mas, desta vez, não foi o impacto físico que me chamou a atenção, e sim a sensação de esbarrar em algo sólido, firme. Levantei os olhos, pronto para pedir desculpas, mas as palavras ficaram presas na minha garganta.
Meu coração deu um salto no peito, uma mistura de surpresa e nervosismo percorreu meu corpo. Encarei os botões da sua camisa negra, como se fossem a coisa mais interessante do mundo naquele momento. Respirar se tornou uma tarefa difícil, os pulmões pareciam não querer colaborar.
Com um esforço tremendo, levantei os olhos para encontrar os dele. E então, quase sofri um mal súbito. Seus olhos, tão familiares e ao mesmo tempo tão estranhos, me encaravam com uma intensidade que fez meu coração acelerar ainda mais.
Ali, diante de mim, estava ele. Benjamin.
— Parece que a Dama da Noite está mesmo em todos os lugares. O que faz aqui, Helena? Veio realizar mais um desejo meu? — Benjamin disse, com um sorriso malicioso nos lábios, seus olhos brilhando com um misto de diversão e curiosidade.
Eu não pude evitar sorrir de forma irônica diante da sua provocação.
— Sombras geralmente estão em todos os lugares — respondi, tentando manter a compostura.
Ele deu uma risada baixa, como se achasse graça na minha resposta.
— É mesmo? E por que ontem não estava em minha cama?
— Você acha que já não está pedindo demais? — respondi, erguendo uma sobrancelha em desafio.
Benjamin apenas sorriu, sua expressão desafiadora não diminuindo nem um pouco.
— Se tratando de você, sempre é demais, minha cara. — Ele se aproximou, seu corpo imponente ocupando meu espaço pessoal, enquanto um dos seus braços me envolvia com firmeza. No outro, ele segurava um copo cheio de uma bebida alcoólica que emanava um aroma adocicado e envolvente.
Eu olhei em volta, e o ambiente ao nosso redor parecia se dissolver em uma névoa roxa, a música alta e as luzes neon tornando tudo ao nosso redor em um borrão distante.
— Relaxa, ninguém vai nos reconhecer aqui — Sua voz era suave, quase sussurrante, enquanto ele me guiava pela multidão com uma confiança quase arrogante. — Vamos aproveitar. Mas primeiro, me diga: o que está fazendo aqui?
Olhei dentro dos seus olhos, e seu nariz estava no mesmo nível que o meu. Sua boca estava tão próxima, que me fazia me distrair com facilidade. O cheiro do seu perfume misturado com o aroma adocicado da bebida que ele segurava preenchia o ar entre nós, criando uma atmosfera intoxicante.
— Eu poderia te fazer a mesma pergunta. — Minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia, tentando ignorar a sensação de borboletas no estômago que sua proximidade provocava.
Ele faz menção de me beijar, reacendendo a chama da nossa última noite paradoxal. Eu poderia ceder, porque tinha sido muito boa, apesar da ameaça de catástrofe iminente.
Mas então, minha mente pisca: Isabella.
Isso, eu precisava achá-la.
Ela não poderia andar por aí sozinha, especialmente em um lugar como aquele.
Com um movimento brusco, me desvenciliei dos braços de Benjamin, ignorando a expressão surpresa em seu rosto. Meu coração batia descompassado, mas a responsabilidade falava mais alto. Eu tinha que encontrá-la antes que algo de ruim acontecesse.
— Aonde você vai? — sua voz soou preocupada, quase em um sussurro.
— Preciso ir, tenho que encontrar Isabella —
respondi, minha voz soando determinada, apesar da agitação interna.
— Isabella está aqui? O quê?! Helena, você está louca! Esse não é um ambiente para uma moça como ela! Não pode ser exposta à uma casa da vida dessa forma.
— Você sabe que sou louca, Benjamin. Não é para tanto que me contratou. Aliás, me obrigou trabalhar para você — retruquei, lançando-lhe um olhar irônico. — Mas me agradeça: Isabella agora acha que Alexsander é o pior homem da terra. Viva a loucura!
Vi a surpresa estampada em seu rosto se transformar em um sorriso astuto.
— Você nunca deixa de me surpreender, Helena. Espere, me explique isso direito — Benjamin disse, sua voz carregada de curiosidade.
Soltei uma risada leve diante da situação, tentando amenizar o sarcasmo.
— Bem, é uma longa história. Digamos que trouxe Isabella aqui para abrir os olhos dela. Ela viu Alexsander, o querido namoradinho dela, aqui no meio de toda essa... extravagância. Agora, tenho certeza de que ela está repensando algumas coisas. É boa hora para plantar sementes e fazê-la ver a verdade.
Benjamin arqueou uma sobrancelha, seu sorriso cínico permanecendo nos lábios.
— Espera, você conseguiu fazer isso? Interessante. Essa carta sua vai me ser útil. Talvez eu considere dar um pulo e consolar a noiva de coração partido.
Estreitei os olhos, pensativa.
— O que você quer dizer com isso, Benjamin? Você está planejando se aproveitar da situação para conquistá-la?
— É óbvio, não é?! Isabella irá se casar comigo, e somente comigo. Isso é algo meu por direito, que estou disposto a lutar até o fim e vou utilizar todos os meios possíveis. Mas agora ande, vá encontrar ela. Não quero que nada de mal aconteça com ela.
— Espera, você montou esse circo todo porque quer se casar com ela? Você é ainda mais manipulador do que pensei.
— Desde quando um subordinado questiona as ordens que são dadas? — Ele respondeu, sua voz assumindo um tom autoritário.
— Desde que seu superior goste de se deitar com ele. Você é tão sujo quanto eu, Benjamin. Somos iguais.
Houve um momento de silêncio tenso entre nós, antes que Benjamin rompesse o contato visual e desse um passo para trás, seu olhar penetrante transmitindo uma mistura de desafio e indulgência.
— Ciúmes não fica bem em você, minha dama da noite. — Ele murmurou, sua voz suave carregada com um toque de ameaça velada. — Você tem sorte que ainda desperta os maiores desejos em mim. Se fosse algum homem meu, essa sua fala te levaria para a vala. Mas cuidado, meu anjo. Até os homens mais apaixonados têm seus limites.
Seus dedos roçaram levemente minha pele enquanto ele tocava meu rosto, e por um instante, senti uma tensão elétrica entre nós. Seus lábios encontraram os meus num beijo rápido e ardente, antes que ele se afastasse, deixando um rastro de mistério e desejo no ar.
— Você não pode negar o fato de que somos iguais.
— Eu nunca neguei. — Ele respondeu, seu olhar fixo nos meus, antes de adicionar com um sorriso enigmático. — Me encontre mais tarde, Helena. Eu quero te ver.
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Atualizado até capítulo 93
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