Após a aula, considerei falar com Ferdinando, que estava saindo acompanhado de alguns amigos, mas a coragem me faltou. Decidi então voltar para casa, onde a monotonia parecia ser a única constante na minha vida. Nada de interessante acontecia, exceto pela minha perda de virgindade, que se tornou um marco inesperado. Naquele momento, não imaginei que isso poderia acontecer tão cedo. Hoje, refletindo com mais clareza, percebo que teria sido melhor me guardar, mesmo que isso significasse passar a vida inteira sendo virgem, do que enfrentar as consequências dessa "paixonite" que, olhando em retrospectiva, não valeu a pena.
Quando cheguei em casa, encontrei minha mãe, como de costume, sentada no sofá, imersa em mais um telejornal. Ela sempre foi apaixonada por noticiários, independentemente do horário, e adorava compartilhar as últimas notícias de crimes e tragédias com os vizinhos, como se fossem fofocas emocionantes. Muitas vezes, ouvi relatos antigos contados por ela, que me deixaram de queixo caído.
— Está passando jornal? — perguntei, mesmo sabendo a resposta.
— Sim, uma notícia horrenda: o pai estuprou a própria filha e a mãe era conivente — ela respondeu, disparando as palavras como se fossem balas, numa mistura de indignação e tristeza.
— Meu Deus! Como pode existir pessoas tão cruéis assim? — questionei, abismada. — Coitada dessa criança...
— Pois é. A população queria linchar ele, mas a polícia não deixou.
— Deveriam ter deixado. Estou cansada, vou para o meu quarto — declarei, enquanto me afastava, o coração pesado.
Entrei no meu quarto e joguei a mochila no chão, deixando meu corpo desabar sobre a cama, de bruços. A ideia de ter que tirar a farda só aumentou meu cansaço; meus membros pareciam ainda mais pesados. Mesmo assim, virei-me e tirei, com dificuldade, os sapatos, as meias, a blusa, o sutiã e a calça, que sempre era a mais complicada. Acabei me deitando quase despida, cobri-me com o edredom e fechei os olhos.
Naquela noite, o desejo de me isolar era profundo. Não queria conversar com ninguém, nem mesmo com Ferdinando. O peso da realidade me sufocava e eu realmente não estava bem.
Na manhã seguinte, acordei com o incômodo persistente da história que minha mãe havia me contado. Aquilo se enraizou em minha mente como um tumor maligno, alimentando uma sensação de mal-estar que eu não conseguia afastar.
"Como pode existir tanta maldade no mundo?"
Apesar do desconforto, eu sabia que precisava seguir em frente, não podia deixar que aquilo me abalasse. Peguei meu tablet e enviei uma mensagem para Ferdinando.
Eu: Oi (digitei, esperando uma resposta que não veio)
O aplicativo mostrava que ele havia visualizado a mensagem, mas, dessa vez, o silêncio tomou conta. Meu coração acelerou, inundado por uma ansiedade crescente. Será que algo havia acontecido? Será que ele descobriu algo sobre mim que o desagradou? Minha mente começou a criar cenários perturbadores, girando em espirais de confusão e preocupação.
"Será que ele está chateado por eu não ter falado com ele ontem quando cheguei?" Esse pensamento ecoava incessantemente, alimentando minha insegurança e me deixando ainda mais inquieta.
Eu tentava não parecer obcecada por Ferdinando, mesmo que isso estivesse estampado em meu rosto. Decidi dar um tempo antes de tentar falar com ele novamente, mas a ansiedade me sufocava. Na minha mente, Ferdinando agora me odiava, e essa suspeita se confirmou quando voltei a tentar contato mais tarde.
Eu: Oi? Não vai me responder?
Após quinze minutos de espera, ele finalmente visualizou a mensagem, e o estado "digitando..." apareceu na tela. Meu coração se apertou de expectativa.
Ferdinando: O que você quer?
Franzi a testa em estranheza. Por que ele estava me tratando assim? Eu fiz alguma coisa errada?
Eu: Eu fiz algo para você, Ferdinando? Por que essa resposta tão fria?
Ferdinando: Porque eu não aguento mais você pegando no meu pé. Desencana. Vai procurar outro, me cansei de você.
Não podia acreditar no que estava acontecendo. Como ele podia me tratar daquela forma? Eu, que sempre o tratei tão bem? Esse não era o Ferdinando que eu conhecia. Minha mente entrou em estado de negação. Não fazia sentido aquela resposta. Eu tinha certeza de que Ferdinando estava se apaixonando por mim, que havia algo especial entre nós. Como poderia tudo desmoronar assim, de repente?
Eu: Por que está me tratando assim? O que foi que eu fiz? Te fiz algum mal?
Ferdinando: Não aconteceu nada, Donatella. Eu simplesmente não quero mais saber de você. Me esquece. Já estou saindo com outra pessoa que é mil vezes melhor que você.
Eu: É mesmo? Então espero que vocês dois morram juntos, seu merda!
Lancei meu tablet na cama com força, sentindo o impacto reverberar pelo quarto. O bico de raiva formava-se em meus lábios, e meus olhos se estreitaram em uma mistura de dor e incredulidade. Não podia acreditar naquelas palavras, não podia aceitar que aquele era o Ferdinando. Insistia em negar a realidade, como se recusasse a deixar o sonho se transformar em pesadelo.
Peguei o tablet novamente, tentando desesperadamente acreditar que as mensagens nunca haviam existido. Infelizmente, elas estavam lá, intactas, e havia uma nova mensagem de Ferdinando que me dilacerou ainda mais.
Ferdinando: Merda? Sou um merda que fez um favor de tirar a sua virgindade, porque ninguém teve a coragem de te comer. Você é muito feia. E quer saber? Eu senti nojo enquanto transava com você. Nunca nenhuma garota me causou isso.
Cada palavra parecia cortar ainda mais fundo, como uma lâmina afiada em um ferimento aberto. A dor era quase física, e eu fiquei paralisada, incapaz de processar a brutalidade da mensagem. A esperança de que ele pudesse ter algum sentimento positivo ou respeito por mim foi destruída, substituída por uma sensação esmagadora de vergonha e desilusão.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Roseli Santos
Nossa que triste espero qu ela dar volta por cima esse ser ficar correndo atrás dela
2025-01-21
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