A magia daquele dia, apesar de ter sido só um sexo oral, foi muito além da realidade. Gostei muito, talvez porque não houve penetração ou porque Ferdinando foi mais amoroso do que da primeira vez, apesar de, novamente, ele não ter me beijado. Para ser sincera, não fazia muita questão de ser beijada, prezava mais pela relação amigável com Ferdinando, embora esse fator me incomodasse um pouco.
Ao final daquela tarde ousada, fiquei um tempo no quarto de Ferdinando para ver se alguém estava chegando. Ele temia que algum membro de sua família me visse ali. O quarto estava banhado pela luz dourada do sol que se punha, criando um contraste entre o calor do momento e a serenidade do ambiente. A cama estava desfeita, com os lençóis amarrotados, um testemunho silencioso da nossa intimidade recente.
— Espera um pouco, vou ver se vem vindo alguém — pediu, com a voz suave, seus olhos demonstrando uma preocupação genuína.
— Está bem, eu espero aqui — respondi, com um sorriso sonso no rosto, tentando disfarçar o nervosismo que começava a crescer em mim.
Ferdinando saiu do quarto e foi verificar a chegada de alguém. Enquanto ele estava fora, a tensão aumentava. Eu sentia uma mistura de apreensão e excitação, meus pensamentos voltando aos momentos de prazer que acabáramos de compartilhar. Ele voltou rapidamente, os olhos ainda atentos.
— Meu tio está voltando, mas ele está indo para a casa dele. — explicou, a voz um pouco mais tranquila. Ele esperou seu tio entrar na casa para sinalizar que era a minha hora de sair.
Enquanto esperava, peguei o celular de Ferdinando, curiosa para ver suas mensagens. Antes que eu pudesse acender a luz do ecrã, ele apareceu de repente, tomou o celular da minha mão com um gesto rápido e firme.
— Já está na hora de você ir. — disse, com uma expressão animada, mas havia algo mais em seus olhos, talvez uma mistura de alívio e urgência.
— Então tchau! — respondi, chateada com sua postura, saindo abruptamente do quarto. Ele apenas sorriu para mim e acenou, indicando que a porta já estava aberta para eu ir.
Enquanto caminhava para fora, o céu começava a se tingir de laranja e rosa, as cores do pôr do sol refletindo meu turbilhão de emoções. Apesar da mágoa momentânea, não pude deixar de sentir uma pontada de esperança e excitação pelo próximo encontro, por mais que soubesse que estava me iludindo. A realidade e a fantasia se entrelaçavam, deixando-me perdida entre a verdade do que sentia e a expectativa do que poderia ser.
Minha mãe me recebeu em casa com um olhar desconfiado, uma expressão que misturava curiosidade e uma leve irritação. Ela tinha aquele sexto sentido aguçado, quase como um radar, que lhe dizia que eu havia me encontrado com algum garoto. Embora eu nunca tivesse namorado ou saído com alguém, a dúvida pairava no ar, deixando-a inquieta.
— Já voltou da casa da tal amiga? — perguntou, com um tom debochado, enquanto cruzava os braços e me encarava de soslaio.
O ambiente ao nosso redor parecia congelar. O sol que se punha tingia a sala com um brilho alaranjado, lançando sombras longas e criando uma atmosfera tensa e quase cinematográfica. Eu podia sentir o peso do seu olhar sobre mim, investigativo e persistente.
— Sim, e estou cansado. — adiantei, tentando encerrar a conversa antes que ela começasse. Minha voz carregava uma nota de exaustão deliberada, na esperança de que ela entendesse a mensagem de que eu não estava para papo naquele momento.
Ela franziu a testa, os olhos se estreitando ainda mais em uma expressão de reflexão. — Hum... — murmurou, como se estivesse ponderando sobre a veracidade da minha história.
O clima entre nós era espesso, quase tangível, cheio de palavras não ditas e suspeitas não confirmadas. A casa, normalmente um refúgio de conforto, parecia agora um palco de um drama silencioso.
— Eu vou pro quarto deitar um pouco, beijo. — disse rapidamente, antes que ela pudesse me fazer mais perguntas. Caminhei apressadamente, sentindo os olhos dela perfurando minhas costas. Cada passo ecoava na casa, amplificando a tensão no ar.
Entrei no meu quarto e fechei a porta com um movimento rápido e decidido. Encostei-me na porta por um momento, ouvindo o silêncio lá fora, tentando perceber se ela iria me seguir. A luz do fim da tarde entrava pelas janelas, banhando o quarto em uma luz suave e acolhedora, contrastando com a turbulência interna que eu sentia.
Minha mente estava uma confusão de sentimentos — um misto de alívio por ter escapado das perguntas de minha mãe e a excitação residual do encontro com Ferdinando. O cenário ao meu redor, embora familiar, parecia carregado de novas significações. Cada sombra, cada raio de luz, parecia intensificar as emoções que pulsavam dentro de mim.
Finalmente, deixei-me cair na cama, o corpo afundando no colchão macio, enquanto soltava um suspiro pesado. Fechei os olhos, tentando acalmar meus pensamentos e meu coração acelerado, ainda revivendo os momentos intensos que havia experimentado mais cedo. No silêncio do meu quarto, as emoções do dia reverberavam, um clímax emocional que eu sabia que levaria tempo para processar.
Mais tarde, acordei no automático, sabendo que era hora de me arrumar para a escola. A noite parecia pesar sobre mim, e era evidente que chegaria atrasada. Passei a noite anterior remoendo cada detalhe da tarde com Ferdinando, e isso não ajudava meu estado de espírito.
Arrumei-me rapidamente, escovei os dentes e peguei meu material escolar. Calcei meu velho tênis, o único que possuía, e me lembrei de como Ferdinando tinha se incomodado com ele. Isso me deixava desconfortável, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito.
Cheguei à escola e entrei na sala, que já tinha uma quantidade razoável de alunos. Sentei-me perto de uma colega com quem ocasionalmente trocava palavras. Eu nunca fui muito sociável, e a ideia de puxar conversa com as pessoas me parecia extenuante. Era como se houvesse uma barreira invisível me impedindo de me enturmar, uma sensação de inadequação que me acompanhava constantemente.
Quando Ferdinando entrou na sala, senti meu coração acelerar, mas ele fingiu que eu não existia, como sempre. Desde que ficamos juntos, ele nunca mais interagiu comigo em público, provavelmente temendo que alguém suspeitasse de algo. Aceitava muita coisa por parte dele, mas a indiferença constante começava a me irritar profundamente.
A sala estava iluminada pela luz fluorescente, que lançava um brilho frio sobre as carteiras. O barulho das conversas e risadas dos outros alunos parecia ecoar em meus ouvidos, tornando minha irritação ainda mais intensa. A jovem ao meu lado estava entretida com o celular, e eu mal conseguia focar nas palavras da professora.
Cada vez que Ferdinando passava por mim, sem sequer me olhar, sentia uma pontada de dor no peito. Era como se ele estivesse apagando minha existência, negando qualquer conexão que tivéssemos tido. Eu sabia que escolher viver assim para ter o homem que amava era uma decisão difícil, mas suportar a humilhação de ser ignorada dessa forma era devastador.
Meus pensamentos estavam em turbilhão. Lembrava-me da tarde anterior, das carícias, dos sussurros, e contrastava aquilo com a frieza que ele mostrava agora. O contraste era doloroso. Sentia raiva de mim mesma por aceitar isso, mas ao mesmo tempo, o amor que sentia por ele me mantinha presa, incapaz de me libertar.
O clima na sala de aula parecia sufocante. A cada minuto que passava, minha irritação aumentava. As expressões indiferentes dos colegas, a falta de conexão, tudo parecia contribuir para minha sensação de isolamento. Ferdinando era o epicentro desse turbilhão emocional, e sua indiferença era um lembrete constante de que, para ele, eu era apenas um segredo a ser mantido.
Enquanto tentava me concentrar na aula, o pensamento de confrontá-lo, de exigir mais, flutuava em minha mente. Mas sabia que não faria isso. O medo de perdê-lo, mesmo sob aquelas circunstâncias humilhantes, era maior do que minha coragem para enfrentar a situação. E assim, permanecia em silêncio, suportando a dor e a indignidade, esperando por um futuro que talvez nunca chegasse.
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Atualizado até capítulo 35
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