Eu ainda não podia acreditar que havia me arrumado toda para ter a melhor tarde da minha vida e ela simplesmente não iria acontecer. A frustração e a raiva se misturavam dentro de mim, fazendo meu coração bater descompassado. Olhar para Ferdinando era insuportável. Senti meu corpo tremendo de raiva, e precisei contar mentalmente: três, dois, um... Eu queria esganar Ferdinando ali mesmo, mas sabia que não poderia. Gostava demais daquele garoto para estragar tudo com uma explosão de fúria. Mais uma vez, decidi relevar e esperar por um próximo encontro.
— Tudo bem, vou para casa então — disse, tentando esconder minha insatisfação.
Ferdinando me olhou com uma expressão apática, como se aquilo não fosse nada para ele.
— Está bem. A gente vai se falando por WhatsApp — concordou com indiferença, gesticulando com a mão.
— Está bem. Tchau! — respondi, tentando manter a compostura. Saí rapidamente, sem olhar para trás, sentindo a mágoa e a decepção pesarem em meus ombros.
Enquanto caminhava para casa, o céu estava cinzento, refletindo perfeitamente meu estado de espírito. As árvores balançavam levemente com a brisa, mas nada disso conseguia acalmar a tempestade dentro de mim. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, e meus pensamentos estavam mergulhados em uma mistura de raiva e tristeza.
Cheguei em casa e a sensação de vazio me envolveu completamente. A sala estava mergulhada em uma penumbra tranquila, iluminada apenas pela luz azulada da TV. Minha mãe, sentada no sofá, lançou um breve olhar em minha direção quando entrei, mas não disse nada. Seu silêncio, carregado de uma indiferença quase palpável, me fez sentir ainda mais sozinha. Voltei-me para o corredor e fui para o meu quarto, onde troquei de roupa e me joguei na cama.
A suavidade do travesseiro contrastava com o tumulto em minha mente. Deitei ali, olhando para o teto, refletindo sobre o fiasco que havia sido meu terceiro encontro com Ferdinando. Ele havia se mostrado distante, quase desinteressado, e isso me corroía por dentro. Cada minuto daquele encontro voltava à minha mente, repetindo-se em um ciclo angustiante.
"Será que vale a pena perder tempo com um garoto que demonstra não estar mais interessado?"
A pergunta ecoava em meus pensamentos, como uma lâmina que cortava fundo. Eu não sabia como lidar com aquele turbilhão de sentimentos e frustrações. Tinha imaginado um cenário tão diferente, onde Ferdinando se apaixonava por mim, mas agora, parecia que minhas expectativas estavam desmoronando. Se ele realmente sentisse algo por mim, ele faria um esforço para ficarmos juntos, ele me assumiria para todos. Mas não havia sinal algum de que isso aconteceria. A amarga realização de que ele nunca me assumiria se instalou em meu peito.
Peguei o meu tablet, hesitante, e considerei a ideia de mandar uma mensagem para Ferdinando. Queria cobrar dele uma resposta, uma demonstração de interesse. Mas hesitei, temendo parecer invasiva ou desesperada. E se eu soubesse o que estava por vir, se tivesse uma mínima noção de como ele realmente se sentia, teria agido de maneira diferente.
Sentada ali, em meio ao silêncio do meu quarto, com o brilho fraco do tablet iluminando meu rosto, eu queria respostas. Mas as respostas que eu temia receber me paralisavam. Se eu o cobrasse e recebesse uma resposta que confirmasse minhas piores suspeitas, eu sabia que teria a força para dar uma boa resposta e bloqueá-lo definitivamente da minha vida. Mas será que estava pronta para isso? O medo do desconhecido, da rejeição, me manteve em um estado de hesitação dolorosa.
Enquanto o tempo passava, a incerteza me consumia. Eu queria acreditar que havia esperança, que talvez ele ainda se importasse. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim sabia que era hora de enfrentar a realidade e tomar uma decisão.
O dia escureceu, trazendo consigo um sentimento de desânimo que se refletia em cada passo meu enquanto me preparava para encarar mais um dia de aula. O desgaste emocional causado por Ferdinando havia drenado meu ânimo, deixando-me com uma sensação de vazio e irritação. Minha rotina matinal foi reduzida ao essencial: me arrumei mecanicamente e tomei apenas um copo de leite, pois meu estômago estava embrulhado demais para aceitar qualquer alimento. Saí de casa, deixando minha mãe sozinha na sala, onde ela estava imersa em seu crochê.
No colégio, encontrei um lugar para me sentar próximo a uma colega com quem interagia ocasionalmente. Não tinha amigos de verdade ali, mas me comunicava cordialmente com alguns. O ambiente parecia opressor, carregado de uma indiferença que combinava com meu humor sombrio. Ferdinando entrou logo em seguida. Ele passou por mim sem sequer lançar um olhar na minha direção e foi se sentar no fundão da sala, como sempre fazia.
A professora começou a escrever uma atividade no quadro, e eu tentava focar na tarefa à minha frente. De repente, uma voz feminina atrás de mim interrompeu meus pensamentos, resmungando com um tom de deboche.
— Dá pra você dar licença? Estou tentando copiar a atividade no quadro, mas a sua cabeça está atrapalhando — disse a garota, sua voz carregada de sarcasmo.
Aquelas palavras foram a gota d'água. Sentindo uma raiva fervilhando dentro de mim, percebi que aquele era o momento de finalmente não engolir desaforos. Pela primeira vez, dei uma resposta que parecia compensar todo o menosprezo que já havia suportado na vida.
— Não vou sair até você aprender a ter educação e a falar comigo direito. Eu não estou aqui para levar desaforo de uma alunazinha qualquer — respondi, minha voz firme e carregada de indignação.
A sala pareceu congelar por um momento. Minha colega ficou sem palavras, surpresa com a minha reação. Sentia meu coração batendo forte no peito, mas também um alívio e uma força renovada por finalmente me defender. O clima na sala mudou, e pela primeira vez, senti que estava no controle da situação. Olhei em volta, percebendo os olhares curiosos e talvez até um pouco respeitosos dos outros alunos. Ferdinando ainda estava no fundo, mas agora não importava. Naquele instante, eu havia encontrado uma nova confiança dentro de mim, algo que nenhum desgaste emocional poderia tirar.
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Atualizado até capítulo 35
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