Naquela manhã seguinte, acordei um pouco mais cedo do que o habitual, com uma sensação de leveza que contrastava com a ansiedade que vinha me acompanhando. Tinha dormido como um bebê, mas os pensamentos sobre o garoto que havia falado comigo na escola estavam frescos em minha mente. "Calma, Donatella. Uma coisa de cada vez. Não se precipite", minha mente me aconselhava, tentando manter o controle sobre minha curiosidade.
Enquanto minha mãe azucrinava meus ouvidos para que eu limpasse a casa direito, eu só conseguia pensar em uma forma de me teletransportar para vida daquele garoto. Fazer os afazeres domésticos parecia ser a única coisa que me ajudaria a esquecê-lo, mas não foi o caso. Quando finalmente terminei, peguei meu caderno e comecei a fazer a atividade do professor Eriberto. Sociologia nunca foi meu forte, mas, se comparado com matemática, era uma bênção.
A noite finalmente chegou, e nunca desejei tanto ir para a escola como naquele dia, e o garoto era o culpado por essa empolgação. Eu precisava saber o nome dele para dar os primeiros passos em uma tentativa de contato mais direto. Ir à escola com o objetivo de descobrir o nome do meu crush era algo inadmissível.
Ao chegar à escola, deparei-me com uma turma de vândalos desocupados fazendo a maior baderna na sala de aula. A minha sala era a primeira da classe e ficava no fundo à esquerda. Era a sala mais barulhenta, e podia-se ouvir a algazarra mesmo de longe. Havia estudantes de diferentes idades e até donas de casa com filhos, agindo como adolescentes. "Será que o mundo está completamente enlouquecido?", questionei-me em pensamento enquanto entrava na sala, tentando me encolher e ignorar todo o caos. A dor de cabeça começava a se instalar, e eu rezava para a professora chegar logo, pois a situação já estava insustentável.
Finalmente, a professora de História, Elizabeth entra na sala, carregando uma pilha de livros que indicava uma atividade importante para o dia. Ela cumprimentou a turma descontraidamente.
— Boa noite, turma! Como foi o dia de vocês? — perguntou, e a turma responde em coro que estava tudo bem.
— Que bom, então podemos começar nossa aula.
Eu preferiria que ela dissesse que não haveria aula nunca mais, e que todos já estavam aprovados, mas era provável que nem mesmo um apocalipse me livrasse daquilo.
A professora Elizabeth continuou com sua introdução à aula, e logo anunciou que entregaria os testes em dupla que havíamos feito na semana anterior. "Puta que pariu, que teste é esse?", pensei, lamentando mais uma vez não ter todas as atividades. Não ter ninguém para emprestar um caderno tornava minha situação ainda mais complicada.
A professora Elizabeth começou a chamar as duplas que haviam feito a atividade, e apenas um integrante de cada dupla se levantava para pegar o resultado. Até que, de repente, uma voz masculina e muito familiar chamou minha atenção.
— Professora? — A voz pertencia ao garoto que havia me abordado para pedir borracha. Eu reconheceria aquela voz mesmo que ela se tornasse inaudivel. A professora olhou em direção ao fundo da sala, onde ele estava. Era ele, o mesmo garoto — Cadê o nosso teste? Carlos Ferdinando e Emílio?
— Calma que eu já vou entregar — assegurou a professora.
Agora eu tinha uma pista sobre seu nome: Carlos Ferdinando ou Emílio. No entanto, pelas regras não escritas de como as pessoas costumam mencionar a si mesmas antes de mencionar os outros, eu suspeitava que seu nome fosse Carlos Ferdinando. Mas suposições não eram o bastante; eu precisava de certeza.
No horário do intervalo, Mario, um dos estudantes, mencionou um grupo de WhatsApp que ele havia criado para a turma. Quase todos os alunos da classe já faziam parte desse grupo, exceto eu – como sempre atrasada para entrar nos assuntos. Tive a ousadia de pedir para ser adicionada ao grupo, reconhecendo que essa poderia ser minha oportunidade de interagir com os outros alunos e, quem sabe, estabelecer um contato mais direto O garoto que havia me pedido a borracha estava sentado em uma carteira aleatória, distante o suficiente para que eu notasse sua presença, mas próxima o bastante para que nossos olhares se cruzassem de forma quase inevitável. Nesse momento, algo extraordinário aconteceu: ele começou a me encarar. Fiquei momentaneamente surpresa, me perguntando por que ele estava olhando para mim. Será que eu tinha algo em meu rosto? Ou talvez ele estivesse apenas entediado e buscasse distração.
Contudo, não demorou muito para que eu percebesse que não era apenas um olhar casual. Seus olhos fixaram-se nos meus, como se estivessem capturando cada detalhe do meu ser. Foi então que ele sorriu, um gesto suave e encantador que me pegou de surpresa. Aquilo era inesperado, e minha timidez natural fez com que eu corasse instantaneamente. Um nó se formou em minha garganta enquanto eu tentava processar o fato de que um dos garotos mais bonitos daquela classe estava demonstrando algum tipo de interesse em mim.
Sorrir de volta para ele foi um ato instintivo, minha resposta ao gesto gentil que ele havia me oferecido. Ele retribuiu o sorriso, e, naquele momento, eu percebi que aquele sorriso era um dos mais belos que eu já tinha visto em toda a minha vida. Cada detalhe, desde o brilho de seus olhos até a curva de seus lábios, parecia perfeito. Uma sensação de calor se espalhou por mim, um misto de surpresa e empolgação.
No entanto, uma barreira se interpôs entre nós. Eu queria saber o nome dele, desejava saber mais sobre aquele garoto que parecia tão diferente dos outros em minha turma. Mas, infelizmente, descobri que não seria tão simples. As chamadas na sala de aula não eram feitas oralmente; em vez disso, os estudantes tinham que escrever seus nomes em um pedaço de papel de caderno e entregá-lo ao professor. Isso significava que eu nunca saberia o nome dele, a menos que ele tomasse a iniciativa de se apresentar. O que fazer com essa conexão inesperada que havia surgido entre nós? Era um enigma que eu estava determinada a resolver, mesmo que isso significasse criar oportunidades para nos aproximarmos mais.com o garoto que me encantou.
Mario distribuiu uma lista para que os alunos que ainda não estavam no grupo pudessem adicionar seus nomes e contatos. Fiquei ansiosamente esperando minha vez, almejando a oportunidade de fazer parte desse grupo onde poderia encontrar quem eu queria com mais facilidade. Enquanto observava sua expressão, percebi que havia uma faísca de interesse entre nós dois, e tudo o que precisávamos era uma iniciativa minha ou dele para que algo acontecesse. Finalmente, coloquei meu nome e contato em uma lista que já continha muitos outros.
"Fiquei surpresa ao perceber quantos alunos havia naquela sala", pensei enquanto observava a lista.
Acenei com as sobrancelhas para Ferdinando, que retribuiu o gesto. Não sabia ao certo, mas sentia que tínhamos uma conexão especial, e se eu investisse nesse garoto com determinação, quem sabe poderíamos até construir um relacionamento duradouro. Sabia que era uma possibilidade remota, mas acreditava que tudo era possível.
Tivemos mais duas aulas, uma de Sociologia e outra de Geografia, e como de costume, eu estava ali, entediada, esperando o tempo passar enquanto copiava uma atividade do quadro.
O sinal finalmente tocou, e a maioria dos alunos saiu apressadamente, deixando apenas eu e mais três pessoas terminando de copiar a tarefa. Odiava ser a última a sair da sala. Isso me fazia sentir vazia e solitária, mas era uma realidade que eu enfrentava devido à minha lentidão na escrita. Muitos alunos me ultrapassavam e saíam antes de mim, o que sempre me deixava um pouco chateada.
Finalmente, saí da sala e segui direto para casa. Carlos Ferdinando não estava mais lá; ele já havia saído com o grupo quando o sinal tocou. Apesar de sua aparência de aluno rebelde que estudava apenas por obrigação, eu sabia que ele era o garoto que eu queria. Mesmo transparecendo ser um garoto que não queria nada com nada, ele despertava um interesse que eu não conseguia ignorar. E assim, a ideia de conquistá-lo continuava a crescer em minha mente.
Ao chegar em casa, deparei-me com a mesma cena de sempre. Minha mãe estava deitada no seu habitual e desgastado sofá, envolta em um cobertor que ia dos pés à cabeça. O celular estava firmemente segurado em suas mãos, enquanto ela parecia absorta em alguma realidade virtual distante. Aquela imagem me entristecia profundamente. Minha mãe, uma vez tão cheia de vida e sonhos, agora parecia uma figura desvalida, sem rumo, sem um propósito claro a seguir.
Com passos cautelosos, me aproximei dela.
— Boa noite, mamãe — saudei com uma mistura de carinho e preocupação em minha voz.
Ela respondeu com um simples "boa noite", mas sua resposta soou formal, como se a barreira que nos separava fosse mais do que física.
Decidi deixá-la por enquanto e fui até a cozinha, colocando minha pesada mochila em cima da bicama desarrumada. Minhas esperanças eram modestas: eu só queria encontrar algo para comer, talvez um pedaço de pão. Temia que minha mãe tivesse preparado a batata doce que ela costumava fazer, o que, naquele momento, seria mais um lembrete de como as coisas haviam mudado.
Adentrando a cozinha, a meia-luz revelou os sinais de uma casa que havia visto dias melhores. Os azulejos já desbotados e algumas louças sujas na pia testemunhavam a batalha diária que minha mãe enfrentava, mesmo que eu sentisse que a energia para lutar estava se esgotando. Com um suspiro, abri a geladeira e a despensa, buscando qualquer indício de comida. O espaço estava escassamente abastecido, e minha mãe, que antes era uma cozinheira incrível, agora parecia ter desistido até mesmo disso.
Ao final, encontrei apenas uma fatia de pão murcha e uma pequena porção de queijo, ainda havia um sobrante de suco de maracujá na geladeira. Era tudo o que havia para comer naquela noite. Senti um aperto no coração, não apenas pela falta de comida, mas também pela falta de perspectiva que pairava sobre minha mãe e nossa casa. Era evidente que algo estava errado, algo mais profundo do que a escassez de comida. Eu precisava entender o que a havia levado a esse estado, e como eu poderia ajudar a trazer um pouco de luz de volta à vida dela.
Após tomar meu café da noite senti a ansiedade borbulhar dentro de mim. A cada gole de suco, minha pulsação acelerava, pois estava prestes a fazer algo que há muito almejava. Com passos decididos, fui em direção ao meu quarto, onde meu tablet estava à espera.
Ao ingressar no grupo de WhatsApp, minhas expectativas atingiram o ápice. Estava finalmente conectado com meus colegas de turma, incluindo o garoto do pedido da borracha. Naquele momento, a felicidade inundava meu ser, e eu não conseguia enxergar nenhum motivo para que algo pudesse arruinar meu dia. Minha inocência era palpável, como se eu estivesse entrando em um mundo novo e emocionante, sem perceber as complexidades que em breve viriam à tona.
No entanto, meu olhar também se voltou para os outros membros do grupo. Uma figura que chamou minha atenção foi a namorada de Mario, que tinha uma expressão que poderia ser descrita como enjoativa. Havia algo nela que parecia não se encaixar bem comigo. Ela transmitia uma aura de toxicidade e ciúmes que não me afetava, pois eu estava ali por outros motivos e não estava disposto a me envolver em qualquer drama que pudesse surgir.
Após explorar um pouco mais os dados do grupo, meu olhar se fixou em um nome que me era muito importante: Carlos Ferdinando. Sua foto de perfil estava visível para todos verem, e meu coração disparou ao vê-lo. Finalmente, eu tinha descoberto o nome daquele que me pedira uma simples borracha, e o melhor de tudo, não precisei nem mesmo perguntar a ele diretamente. Aquilo me encheu de expectativas sobre as possibilidades que o futuro reservava agora que sabia quem ele era.
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Atualizado até capítulo 35
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