EPISÓDIO TRÊS - Aquele Garoto

O crepúsculo tingia o céu com tons alaranjados e marcava o início de mais um dia de aula, um período que eu confessava ser o mais triste da minha vida. A perspectiva de encarar aquele grupo de colegas que pareciam pouco dispostos a serem meus amigos era desanimadora. Apesar de tudo, eu sabia que não havia como evitar. Não podia fugir dessa obrigação.

Despertei e, relutantemente, comecei a me arrumar, vestindo minha farda escolar. A sensação era de que eu estava me preparando para enfrentar mais um dia de tormenta. Optei por estudar à noite, pois durante o dia, a luta contra o despertar era quase insuperável, e, à tarde, eu conseguia acordar, mas sempre em cima da hora. Minha escolha revelava uma urgência crescente em minha vida, uma necessidade premente de construir algo, mesmo que eu não tivesse clareza sobre o que isso significava.

Ao chegar à escola, me vi na posição de ser a "novata dos novatos", ingressando na instituição após um mês de aulas já iniciadas. Essa condição me deixava em desvantagem, pois todos já haviam estabelecido suas relações e laços. O sentimento de solidão era palpável, e eu me encolhi ao me sentar na primeira carteira, próxima à parede. Tentei passar despercebida, com a esperança de evitar pagar qualquer mico. A lembrança daquele dia em que fui para a escola toda produzida, com a história da calça capri e a atividade em grupo, era um fantasma que eu desejava esquecer.

O professor Eriberto entrou na sala com uma animação aparentemente fora de contexto. Sua pergunta sobre as atividades não realizadas foi como um golpe de surpresa. Eu não havia feito aquela atividade, então precisava encontrar uma desculpa convincente para conseguir uma segunda chance. Por sorte, o professor parecia ser alguém de semblante gentil. Com um pouco de receio, me levantei e me aproximei.

— Professor, eu sou nova aqui. Cheguei recentemente e não peguei as atividades. Eu posso entregá-las em outro dia? — perguntei, com timidez evidente na voz.

Ele examinou a caderneta de presença antes de responder com gentileza:

— Claro, pode sim. Me traga amanhã.

Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios enquanto voltava ao meu lugar. A ansiedade persistia, pois o desafio de não cometer erros na sala de aula era constante. Evitar passar vergonha em público era uma tarefa árdua para alguém como eu, que constantemente se sentia fora do lugar.

Entretanto, algo inesperado rompeu a monotonia. Alguém se aproximou, vindo em minha direção. Eu não havia dado muita atenção, afinal, as pessoas circulavam pela sala o tempo todo. Certamente, eu não era a prioridade de ninguém.

— Boa noite, você tem uma borracha para me emprestar? — perguntou um jovem bonito, com um sorriso fácil.

Aquele sorriso era deslumbrante, com dentes que, embora não fossem perfeitamente brancos, transmitiam um charme irresistível. Uma pergunta simples, mas que me fez questionar como alguém tão bem-vestido não possuía algo tão básico como uma borracha. Eu mesma podia não ter uma caneta, mas uma borracha era considerada essencial.

— Sim, tenho. — Abri o bolsinho da mochila e retirei uma borracha com cores azul e vermelha, entregando-a a ele.

Ele sorriu, agradecido, e voltou para sua carteira, que ficava lá, no fundo, encostada na parede traseira da sala de aula.

Fiquei horas admirando a beleza daquele garoto enquanto este foi até a sua carteira, apagou algo em seu caderno e voltou. Seu rosto parecia esculpido pela perfeição, com lábios carnudos e um rosto quadrado, apesar de algumas cicatrizes de acne que apenas acrescentavam um charme peculiar. Seu físico era impressionante, com um peitoral estufado e largo, parecendo um Shoulder Pad de futebol americano. Ele me devolveu a borracha, que se tornaria o elemento inicial de tudo o que aconteceria a seguir.

— Aqui está. E mais uma vez, obrigado. — Ele agradeceu, deixando-me encantada, mesmo que fosse apenas um gesto mínimo. Então, ele voltou para sua carteira.

Incomodada com a brevidade da conversa, decidi me virar para trás.

— Você fez a atividade do professor Eriberto? — puxei assunto, mantendo uma distância razoável.

— Não, não fiz. — Ele respondeu, amigavelmente.

— Mas, você estava na aula dele?

— Sim, estava, mas não fiz. — Ele reafirmou, demonstrando indiferença, como se não se importasse em perder nota.

— Fala para ele que você não veio naquele dia, assim como eu. — sugeri, tentando prolongar a conversa.

— Eu sei, por isso não falei nada. — O garoto era mais esperto do que eu imaginava.

Sem graça, voltei minha atenção para a frente, mas não conseguia tirar aquele sorriso lindo da cabeça. Era um sorriso que poderia me levar aos céus tão facilmente, fazendo-me entregar tudo o que tinha para vê-lo todos os dias de minha vida.

No final da aula, os alunos se apressaram em arrumar suas mochilas para ir embora, como se estivessem participando de uma competição de "Quem ficar por último é a mulher do padre". Vi até mesmo algumas pessoas mais velhas agindo como crianças, incluindo eu, que não suportava a ideia de sair por último. Porém, às vezes, era inevitável, especialmente quando havia uma longa atividade no quadro. Eu confesso que era uma das mais lentas para escrever.

Na saída, o garoto se aproximou de mim pela última vez.

— Tchau. — Ele se despediu, levantando uma das sobrancelhas.

— Tchau. — respondi, tentando parecer séria por fora, enquanto minha mente estava eufórica por dentro.

Ao chegar em casa, encontrei minha mãe deitada no sofá, com o rosto grudado no celular. Era assim durante o dia e a noite toda. Tranquei a porta, joguei meus materiais em cima da cama, tirei minha farda e vesti um blusão verde. Peguei meu tablet e me deitei na cama.

Abri as redes sociais na esperança de encontrar o garoto que havia pedido a borracha emprestada, mas logo lembrei que eu sequer sabia o nome dele. "Que droga!", pensei. Deveria ter perguntado seu nome, mas naquele momento, pareceu invasivo demais. Ele poderia interpretar mal minhas intenções. Decidi que, no dia seguinte, seria mais pé no chão e não me deixaria impressionar por qualquer sorriso bonito. Não era a primeira vez que eu me sentia assim por um garoto. Na verdade, era a vigésima vez, embora os outros não fossem tão bonitos. Exceto por Alonso, amigo da minha irmã, a quem eu enchia o saco e era inconveniente sem pudor algum. No entanto, não demorou muito para perceber que ele não valia a pena, e todas as situações embaraçosas que enfrentei após o famoso "oi" dele me fizeram perceber que era um alívio não ter mais esse garoto nos meus pensamentos. E assim apaguei os momentos embaraçosos.

Capítulos
1 PRÓLOGO
2 EPISÓDIO - Primeiro Dia De Aula
3 EPISÓDIO DOIS - Persona Non Grata
4 EPISÓDIO TRÊS - Aquele Garoto
5 EPISÓDIO QUATRO - Em busca Do Nome Dele
6 EPISÓDIO CINCO - Bate-Papo Amigável
7 EPISÓDIO SEIS - A Monotonia
8 EPISÓDIO SETE - Naquela Quarta (Part 1)
9 EPISÓDIO OITO - Naquela Quarta (Part 2)
10 EPISÓDIO NOVE - Primeiros Sinais
11 EPISÓDIO DEZ - Proposta Inesperada
12 EPISÓDIO ONZE - "Droga...! Menstruei"
13 EPISÓDIO DOZE - Comportamento Estranho
14 EPISÓDIO TREZE - Apenas Um Sexo Oral
15 EPISÓDIO QUATOZE - Indiferente
16 EPISÓDIO QUINZE - É... Não Deu...
17 EPISÓDIO DEZESSEIS - Discussão Escolar
18 EPISÓDIO DEZESSETE - O INICIO DO PESADELO
19 EPISÓDIO DEZOITO - Como Duas Crianças
20 EPISÓDIO DEZENOVE - Visão Errada
21 EPISÓDIO VINTE - Primeiro Fake
22 EPISÓDIO VINTE E UM - Grupo Pesado
23 EPISÓDIO VINTE E DOIS - Numero Errado
24 EPISÓDIO VINTE E TRÊS - Piadinhas
25 EPISÓDIO VINTE E QUATRO - Ridicularizada
26 EPISÓDIO VINTE E CINCO - A Namorada
27 EPISÓDIO VINTE E SEIS - Sangue nos Olhos
28 EPISÓDIO VINTE E SETE - Circulou no Grupo
29 EPISÓDIO VINTE E OITO - Vejo nos Seus Olhos
30 EPISÓDIO VINTE E NOVE - Na Casa da Tia
31 EPISÓDIO TRINTA - A Gota D'Água (Part. 1)
32 EPISÓDIO TRINTA E UM - A Gota D'Água (Part. 2)
33 EPISÓDIO TRINTA E DOIS - "A Diretoria"
34 EPISÓDIO TRINTA E TRÊS - "Confissões de Adolescente"
35 EPISÓDIO TRINTA E QUATRO - Nada Mudou
Capítulos

Atualizado até capítulo 35

1
PRÓLOGO
2
EPISÓDIO - Primeiro Dia De Aula
3
EPISÓDIO DOIS - Persona Non Grata
4
EPISÓDIO TRÊS - Aquele Garoto
5
EPISÓDIO QUATRO - Em busca Do Nome Dele
6
EPISÓDIO CINCO - Bate-Papo Amigável
7
EPISÓDIO SEIS - A Monotonia
8
EPISÓDIO SETE - Naquela Quarta (Part 1)
9
EPISÓDIO OITO - Naquela Quarta (Part 2)
10
EPISÓDIO NOVE - Primeiros Sinais
11
EPISÓDIO DEZ - Proposta Inesperada
12
EPISÓDIO ONZE - "Droga...! Menstruei"
13
EPISÓDIO DOZE - Comportamento Estranho
14
EPISÓDIO TREZE - Apenas Um Sexo Oral
15
EPISÓDIO QUATOZE - Indiferente
16
EPISÓDIO QUINZE - É... Não Deu...
17
EPISÓDIO DEZESSEIS - Discussão Escolar
18
EPISÓDIO DEZESSETE - O INICIO DO PESADELO
19
EPISÓDIO DEZOITO - Como Duas Crianças
20
EPISÓDIO DEZENOVE - Visão Errada
21
EPISÓDIO VINTE - Primeiro Fake
22
EPISÓDIO VINTE E UM - Grupo Pesado
23
EPISÓDIO VINTE E DOIS - Numero Errado
24
EPISÓDIO VINTE E TRÊS - Piadinhas
25
EPISÓDIO VINTE E QUATRO - Ridicularizada
26
EPISÓDIO VINTE E CINCO - A Namorada
27
EPISÓDIO VINTE E SEIS - Sangue nos Olhos
28
EPISÓDIO VINTE E SETE - Circulou no Grupo
29
EPISÓDIO VINTE E OITO - Vejo nos Seus Olhos
30
EPISÓDIO VINTE E NOVE - Na Casa da Tia
31
EPISÓDIO TRINTA - A Gota D'Água (Part. 1)
32
EPISÓDIO TRINTA E UM - A Gota D'Água (Part. 2)
33
EPISÓDIO TRINTA E DOIS - "A Diretoria"
34
EPISÓDIO TRINTA E TRÊS - "Confissões de Adolescente"
35
EPISÓDIO TRINTA E QUATRO - Nada Mudou

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