EPISÓDIO CINCO - Bate-Papo Amigável

O grupo de WhatsApp tinha como título "Grupo da Turma N3 - Mario". Todos nós, incluindo eu, respondemos com um simples "obrigado" à mensagem de boas-vindas do Mario. Naquele momento, minha primeira impressão era de que ele era uma pessoa amigável e de bom coração, o tipo de pessoa com quem eu estava ansiosa para me relacionar. Parecia que Mario valorizava a educação e o respeito, e isso era algo que imediatamente me agradou.

Mario compartilhou um conjunto de regras do grupo, enfatizando o foco em trabalhos e atividades escolares, bem como a proibição de xingamentos e desrespeito. Naquele momento, eu o via como alguém que prezava pela ordem e pelo bom convívio. Minha percepção de Mario era de alguém que me faria sentir bem-vindo naquele novo ambiente virtual.

Logo depois, decidi iniciar uma conversa privada com Carlos Ferdinando, conhecido como Ferdinando, e iniciei com um simples "oi". Fiquei surpreso ao receber uma resposta rápida. Ferdinando parecia ser bastante ativo no aplicativo, disposto praticamente 24 horas por dia. Ele tinha um jeito cativante de conversar, com mensagens interativas e envolventes que eram agradáveis de ler.

Nossa conversa se desenrolou naturalmente:

Você: Como vai?

Ferdinando: Bem, e você? 😅

 Você: Melhor agora.

Me insinuei para ela de forma bem sutil.

Ferdinando: Que bom

Sua escrita vinha como uma mensagem seca e desinteressada.

Você: Peguei seu número no grupo

Ferdinando: No grupo da escola, né?

Você: Sim

Papo vai, papo vem, e em meio a diversas conversas, algumas delas até um pouco provocativas, finalmente cheguei ao ponto:

Você: Eu gostaria que você tirasse minha virgindade

Ferdinando: Sério que você ainda é virgem? 

Você: Sim. Eu nunca transei na minha vida.

Ferdinando: E você quer que eu seja o seu primeiro?

Você: Sim. O que você acha?

Ferdinando: Pode ser, mas tem que ser uma parada só entre a gente. Ninguém pode saber 😁.

Minha inocência não me permitiu enxergar as reais intenções de Ferdinando em querer manter tudo em segredo. Ele parecia ser um garoto tão bom e educado que eu fechei os olhos para o que poderia estar por trás da condição que ele impôs. A única coisa que importava naquele momento era a possibilidade de ficar com aquele garoto que tinha despertado meu interesse.

Você: Por mim, tudo bem. Onde podemos ficar?

Ferdinando: Pode ser na minha casa?

Você: Pode ser. Mas que dia? 

Ferdinando: Terça, tudo bem?

"Por que ele escolheu logo terça-feira e não amanhã? Deve ter algum compromisso amanha, mas tudo bem", pensei

Você: Para mim, tudo bem

Ferdinando: Então combinado: terça-feira, em frente da Igreja Testemunha de Jeová, e de lá eu te levo para minha casa pra a gente transar.

Achei a fala dele bem radical e desproporcional, mas relevei mesmo assim.

Não podia acreditar que estava prestes a ficar com o garoto que eu sempre havia admirado em segredo, que ocupava um lugar especial nos meus pensamentos e nos suspiros escondidos. Era como se, de repente, eu me visse envolvida em um daqueles contos de fadas que sempre parecem distantes da realidade, mas que agora se desenrolava diante dos meus olhos. A sensação de borboletas no estômago era inegável, como se eu fosse uma menininha novamente, enfrentando suas primeiras emoções.

Ferdinando, aquele que eu sempre desejei, tornou-se a representação do meu ideal de amor e felicidade. Na minha mente, imaginava um futuro compartilhado, onde estaríamos juntos e construiríamos uma linda família. Era como se todos os sonhos que eu havia acalentado, todos os suspiros que eu havia liberado silenciosamente, finalmente ganhassem vida. A sofisticação daquele momento residia na simplicidade do amor e da esperança, revelando a beleza de uma paixão que fazia o tempo parecer parar e o mundo girar em câmera lenta. Era o início de um conto de amor que prometia ser eterno, um romance que transcendia o comum e se tornava uma obra de arte na qual eu era a protagonista.

Ferdinando e eu batemos altos papos e quase nem vimos o tempo passar. A meia-noite e vinte e três, ele se despediu de mim, explicando que precisava acordar cedo para trabalhar com o seu tio. Confesso que fiquei triste, mas tive que entender. Ferdinando e eu acabamos de nos conhecer, era tudo muito cedo ainda.

Nossas conversas fluíam de forma tão natural e cativante que mal percebíamos as horas passando. Era como se nossas palavras criassem uma ponte entre nossos mundos, preenchendo o espaço virtual com uma conexão inesperada.

Quando chegou o momento da despedida, a realidade da vida cotidiana nos lembrou de suas obrigações e responsabilidades. A tristeza que senti foi a prova de que aquela interação havia se tornado especial, mesmo que tivesse ocorrido em um curto período. Era o começo de algo novo, uma promessa de futuras conversas e uma relação que ainda estava por se desenrolar, sem contar que havia um combinado dele desflorar minha virgindade.

Na manhã seguinte, despertei para mais um dia. Dessa vez, para minha surpresa, acordei sozinha, sem o som dos berros da minha mãe no pé do meu ouvido, que seria, como sempre, uma rotina deprimente. Levantei da cama, lutando contra a preguiça que tentava me desmotivar, mas eu estava determinada. Nada iria estragar o meu dia. Naquele momento, eu estava decidida a não me abalar com mais nada na vida, pois algo extraordinário tinha acontecido: o garoto mais lindo do meu colégio havia me dado atenção e será o primeiro homem a me tocar. Era como se uma faísca de esperança e entusiasmo tivesse se acendido, preenchendo meu dia com um brilho especial.

— Donatella? — minha mãe me chamou, surpresa evidente em sua voz — Até que enfim acordou cedo. — A surpresa era palpável em seus olhos quando ela me encarou. Eu podia perceber a descrença no olhar dela, afinal, a rotina de todos os dias consistia em sua intervenção matinal para me acordar. Suas sobrancelhas se ergueram, demonstrando sua genuína surpresa pela mudança inesperada — A Márcia, mulher do Antônio, queria que você cuidasse dos filhos dela. Ela disse que te pagará cem reais por mês.

Cem reais por mês. A oferta ecoou em minha mente, despertando uma mistura de desdém e desânimo. Cuidar de duas crianças perturbadas por essa quantia? Parecia uma afronta à minha dignidade. O que esse povo estava pensando? Será que me viam como uma espécie de empregada clandestina? A indignação brotou, mas a realidade da minha situação financeira me segurou.

As palavras de minha mãe pairaram no ar como um veredicto, e eu me vi forçada a considerar a proposta. Embora relutante, a perspectiva de obter alguma experiência, especialmente em um campo no qual eu estava longe de ser especialista, começou a brilhar como uma pequena centelha de esperança. Afinal, minha habilidade principal era compor músicas e nutrir o sonho de escrever um livro, algo que não contribuía para as despesas da casa.

Esse serviço me veio muito a calhar, eu já tinha experiência com crianças, pois cuidei dos filhos da moça que me deu um tablet, mesmo não suportando crianças, me dei muito bem com eles. No final das contas, minha jornada continuaria, e eu estava disposta a aproveitar qualquer oportunidade para ter um dinheirinho para gasta no final do mês.

— Diga a ela que eu aceito – respondi.

Minha resposta pareceu preencher a sala com uma aura de expectativa. Minha mãe, por sua vez, lançou um olhar de advertência, carregado de preocupação, que cortou o ar. Ela sabia que eu detestava criança e no meu último serviço eu não me sair tão bem assim, pois tive muita falta de comprometimento com os pais das crianças.

— Tem certeza? Você vai ter que acordar cedo e ter comprometimento, pois, tem horários. – Ela me lembrou das responsabilidades que eu estava prestes a assumir.

Ponderei por um tempo, as palavras dela ecoando em minha mente. A ideia de cuidar de uma criança estava longe de ser algo com que eu estava familiarizada. Até então, a única criança que eu conseguia suportar era minha sobrinha, Pamella, filha da minha irmã Diana.

Diana, que por alguma razão havia decidido duplicar o "L" do meu nome em sua filha, criando um vínculo único entre nós.

— Tenho sim. Quando eu começo? — perguntei, pronta para embarcar nessa nova experiência.

— Ela disse que amanhã mesmo você já pode começar.

— Ok, então. — encerrei a conversa.

Com a chegada da noite, preparei-me, realizei minha rotina de higiene e despedi-me dos membros da minha casa. Dirigi-me para a escola. Lá estava Ferdinando, que me olhava com uma expressão gentil e um brilho nos olhos. Decidi me sentar em uma cadeira próxima a uma garota com estrabismo, cujos globos oculares estavam afastados, mas que exibia uma notável inteligência.

— Oi — cumprimentei, estendendo a mão da amizade em sua direção.

— Oi — ela respondeu, criando um primeiro laço em meio àquele novo capítulo da minha vida.

Me virei para trás e vi Ferdinando, que o garoto que me interessava estava envolvido em uma conversa com mais dois amigos. Ele parecia assumir um papel de liderança, como se estivesse à frente de um grupo de "héteros tops". Eles se destacavam, pensando estarem acima de todos, como se fossem os privilegiados em meio a uma multidão de pessoas comuns, explorando territórios desconhecidos.

Suas conversas giravam em torno de assuntos típicos de grupos desse tipo: atividades, futebol e garotas, temas que geralmente pareciam superficiais e desinteressantes. Era a típica conversa que se esperaria de jovens que se viam como os reis do mundo, fazendo parte de um grupo exclusivo de privilegiados.

Capítulos
1 PRÓLOGO
2 EPISÓDIO - Primeiro Dia De Aula
3 EPISÓDIO DOIS - Persona Non Grata
4 EPISÓDIO TRÊS - Aquele Garoto
5 EPISÓDIO QUATRO - Em busca Do Nome Dele
6 EPISÓDIO CINCO - Bate-Papo Amigável
7 EPISÓDIO SEIS - A Monotonia
8 EPISÓDIO SETE - Naquela Quarta (Part 1)
9 EPISÓDIO OITO - Naquela Quarta (Part 2)
10 EPISÓDIO NOVE - Primeiros Sinais
11 EPISÓDIO DEZ - Proposta Inesperada
12 EPISÓDIO ONZE - "Droga...! Menstruei"
13 EPISÓDIO DOZE - Comportamento Estranho
14 EPISÓDIO TREZE - Apenas Um Sexo Oral
15 EPISÓDIO QUATOZE - Indiferente
16 EPISÓDIO QUINZE - É... Não Deu...
17 EPISÓDIO DEZESSEIS - Discussão Escolar
18 EPISÓDIO DEZESSETE - O INICIO DO PESADELO
19 EPISÓDIO DEZOITO - Como Duas Crianças
20 EPISÓDIO DEZENOVE - Visão Errada
21 EPISÓDIO VINTE - Primeiro Fake
22 EPISÓDIO VINTE E UM - Grupo Pesado
23 EPISÓDIO VINTE E DOIS - Numero Errado
24 EPISÓDIO VINTE E TRÊS - Piadinhas
25 EPISÓDIO VINTE E QUATRO - Ridicularizada
26 EPISÓDIO VINTE E CINCO - A Namorada
27 EPISÓDIO VINTE E SEIS - Sangue nos Olhos
28 EPISÓDIO VINTE E SETE - Circulou no Grupo
29 EPISÓDIO VINTE E OITO - Vejo nos Seus Olhos
30 EPISÓDIO VINTE E NOVE - Na Casa da Tia
31 EPISÓDIO TRINTA - A Gota D'Água (Part. 1)
32 EPISÓDIO TRINTA E UM - A Gota D'Água (Part. 2)
33 EPISÓDIO TRINTA E DOIS - "A Diretoria"
34 EPISÓDIO TRINTA E TRÊS - "Confissões de Adolescente"
35 EPISÓDIO TRINTA E QUATRO - Nada Mudou
Capítulos

Atualizado até capítulo 35

1
PRÓLOGO
2
EPISÓDIO - Primeiro Dia De Aula
3
EPISÓDIO DOIS - Persona Non Grata
4
EPISÓDIO TRÊS - Aquele Garoto
5
EPISÓDIO QUATRO - Em busca Do Nome Dele
6
EPISÓDIO CINCO - Bate-Papo Amigável
7
EPISÓDIO SEIS - A Monotonia
8
EPISÓDIO SETE - Naquela Quarta (Part 1)
9
EPISÓDIO OITO - Naquela Quarta (Part 2)
10
EPISÓDIO NOVE - Primeiros Sinais
11
EPISÓDIO DEZ - Proposta Inesperada
12
EPISÓDIO ONZE - "Droga...! Menstruei"
13
EPISÓDIO DOZE - Comportamento Estranho
14
EPISÓDIO TREZE - Apenas Um Sexo Oral
15
EPISÓDIO QUATOZE - Indiferente
16
EPISÓDIO QUINZE - É... Não Deu...
17
EPISÓDIO DEZESSEIS - Discussão Escolar
18
EPISÓDIO DEZESSETE - O INICIO DO PESADELO
19
EPISÓDIO DEZOITO - Como Duas Crianças
20
EPISÓDIO DEZENOVE - Visão Errada
21
EPISÓDIO VINTE - Primeiro Fake
22
EPISÓDIO VINTE E UM - Grupo Pesado
23
EPISÓDIO VINTE E DOIS - Numero Errado
24
EPISÓDIO VINTE E TRÊS - Piadinhas
25
EPISÓDIO VINTE E QUATRO - Ridicularizada
26
EPISÓDIO VINTE E CINCO - A Namorada
27
EPISÓDIO VINTE E SEIS - Sangue nos Olhos
28
EPISÓDIO VINTE E SETE - Circulou no Grupo
29
EPISÓDIO VINTE E OITO - Vejo nos Seus Olhos
30
EPISÓDIO VINTE E NOVE - Na Casa da Tia
31
EPISÓDIO TRINTA - A Gota D'Água (Part. 1)
32
EPISÓDIO TRINTA E UM - A Gota D'Água (Part. 2)
33
EPISÓDIO TRINTA E DOIS - "A Diretoria"
34
EPISÓDIO TRINTA E TRÊS - "Confissões de Adolescente"
35
EPISÓDIO TRINTA E QUATRO - Nada Mudou

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