Ao terminarmos, Ferdinando vestiu-se novamente, e eu o imitei, sentindo meu rosto arder de vergonha. Era como se eu tivesse cometido algum erro, como se estivesse me envolvendo com alguém comprometido, embora até então Ferdinando estivesse solteiro e parecesse não buscar um relacionamento sério. Permanecemos sem graça na cama, eu manifestando um certo desconforto com a situação, enquanto um papo descontraído se iniciava.
— Você gostou? — ele perguntou, com um sorriso maroto nos lábios.
— Gostei, você é muito habilidoso nisso! — Maldita seja minha boca, que não soube ficar quieta, ou simplesmente responder com um "gostei" genérico, sem elogiar especificamente o desempenho dele.
Ferdinando inflou o peito atlético, destacando os músculos firmes sob a camiseta justa, visivelmente orgulhoso de si mesmo. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que refletia a confiança que ele sentia, como se tivesse se tornado o rei da cama naquele momento. Cada traço do seu semblante exibia uma expressão de satisfação, como se tivesse conquistado o mundo com seus feitos.
Sua postura era imponente, os ombros largos projetados para trás, e um sorriso convencido dançava em seus lábios. A maneira como ele se movia era quase arrogante, como se estivesse desfilando diante de uma plateia cativada pela sua presença. Era como se eu estivesse diante de um conquistador, pronto para reivindicar seu prêmio.
A culpa pesava sobre mim; eu alimentei aquele ego inflado, ou talvez, se ele já possuía aquela autoconfiança inabalável, eu apenas o incentivei ainda mais.
O crepúsculo pintava o céu com tons de laranja e violeta, e eu sabia que era hora de partir. Ao ouvir as palavras de Ferdinando, senti-me dispensada como se fosse uma amante ou um segredo obscuro que ele preferia manter oculto.
Sem hesitar, reuni minhas coisas e me encaminhei para a saída, mas antes que pudesse cruzar o limiar de seu quarto, ele segurou meu braço com firmeza, prendendo-me com seu olhar penetrante. Por um instante, uma esperança se acendeu em meu peito, imaginando que ele finalmente me beijaria, permitindo-me provar o doce sabor de seus lábios.
— Espera! — ele exclamou, interrompendo meus pensamentos. — Não vai me dar um abraço antes de partir?
Aquela atitude deixou um gosto amargo de decepção em minha boca. Era como se, mais uma vez, eu estivesse condenada a apenas sonhar com o toque de seus lábios, incapaz de transformar meus desejos em realidade.
Mesmo assim, com um misto de esperança e ansiedade, permiti que ele me envolvesse em seus braços. Queria aproveitar aquele momento para absorver cada detalhe, cada aroma que emanava dele. Mas antes que pudesse me entregar completamente, ele relaxou o abraço de repente, despedindo-se de forma fria e indiferente, como se o calor daquele momento não fosse suficiente para derreter a barreira que ele mantinha ao seu redor.
Ao retornar para casa, ainda carregando o peso do desconforto da experiência com Ferdinando, mantive a esperança de que as coisas melhorariam nos próximos encontros, alimentando-me da ilusão de que ele se tornaria mais sensível com o tempo. Tinha uma habilidade inata de me iludir com possibilidades improváveis, criando em minha mente uma narrativa em que tudo se resolveria conforme meus desejos. Cada pensamento alimentava essa esperança, transformando-a em uma profecia autossuficiente.
Ao adentrar o ambiente familiar, evitei o olhar curioso e perspicaz de minha mãe, ciente de que suas perguntas poderiam me levar a escorregar e revelar algo comprometedor. A situação entre Ferdinando e eu era um segredo guardado a sete chaves, e eu não estava pronta para compartilhar com ela o fato de que não era mais virgem. Temia que isso desencadeasse um verdadeiro inferno, com direito a um apedrejamento verbal por parte dela.
— Já está em casa? Chegou cedo — observou minha mãe, surpreendendo-me com sua observação.
Eu jurava que havia demorado uma eternidade, parecia que o relógio estava parado enquanto eu conversava com Ferdinando, esperando ansiosamente o momento de ir embora. Nossa relação íntima não durava mais do que meia hora, mal tínhamos terminado de nos envolver quando já estava tudo acabado. Sem uma resposta pronta para a pergunta, acabei inventando uma desculpa qualquer.
— Ah, é que uma colega precisou sair com urgência, então ela pediu para eu ir terminar o trabalho em casa. Por isso cheguei mais cedo.
Não tinha certeza se minha mãe realmente acreditara na minha explicação, mas fiz o possível para parecer convincente. Imaginava como seria sua reação se soubesse que eu havia ido à casa de um garoto para minha primeira vez, e sabia que seria uma reação explosiva, capaz de causar um verdadeiro tumulto em nossa relação.
Dirigi-me ao quarto, buscando um momento de reflexão a sós com meu tablet, ansiosa para expressar o desconforto que me envolvia após uma primeira vez tão fria, desprovida de qualquer demonstração de afeto. A ausência de gestos carinhosos, como beijos, ainda me perturbava profundamente, deixando-me em um turbilhão de questionamentos.
Com um misto de nervosismo e determinação, iniciei a conversa com Ferdinando pelo aplicativo de mensagens:
Eu: Oi, Ferdinando.
Ferdinando: Oi. (sua resposta, curta e seca, ecoou como um eco vazio)
Eu: Estou bem, mas preciso saber... Por que você não me beijou? (arrisquei perguntar, consciente de que provavelmente não teria coragem de abordar esse assunto cara a cara. A simples ideia disso me fazia tremer)
Sua resposta, contudo, foi tão evasiva quanto decepcionante:
Ferdinando: Eu não gosto muito de beijar na boca.
A desculpa parecia tão farrapada que mal conseguia disfarçar minha incredulidade. Como alguém tão imerso em seu próprio ego, tão avesso a demonstrações mínimas de afeto, poderia afirmar que não gostava de beijar na boca? Era como se ele tivesse esquecido de mencionar que essa aversão se aplicava especificamente a mim. E isso apenas alimentava os pensamentos que eu temia confrontar.
Ao longo do diálogo, uma terrível constatação começava a tomar forma em minha mente. A frieza de Ferdinando durante o ato sexual, sua relutância em compartilhar gestos de carinho, tudo isso parecia apontar para uma conclusão assustadora: ele poderia estar sentindo nojo de mim, ou algo semelhante. Era uma possibilidade aterradora, mas que explicaria muito sobre o seu comportamento e atitudes durante nosso encontro.
Eu: Como assim? Você nunca beijou ninguém? Você transa sem beijar? É isso? — indaguei, surpresa e incrédula.
Ferdinando: Já beijei, mas nunca curti muito, sabe? — respondeu, tentando justificar.
Eu: Ah, entendi — murmurei para mim mesma, sentindo-me tola por acreditar em qualquer história que me contavam. Como pude me deixar convencer de que ele era diferente de todos os outros?
Aquela revelação me pegou de surpresa. Eu não sabia que existiam pessoas que não gostavam de beijar na boca; para mim, isso era algo inimaginável. Mesmo eu, que só havia beijado um cara na vida, desejava vivenciar um relacionamento completo, com todas as suas nuances. No entanto, decidi tentar compreendê-lo.
Ferdinando: Vou dormir agora, boa noite. — despediu-se repentinamente, deixando-me sem palavras. — Vou sonhar com a nossa tarde gostosa.
Eu: Está bem. (Um sorriso escapou involuntariamente dos meus lábios diante da sua declaração.)
Eu me sentia como uma tola apaixonada, ciente das possíveis falhas, mas decidida a ignorá-las para manter viva a ilusão com aquele homem intrigante. Guardei o tablet atrás do travesseiro e me entreguei ao sono, deixando as incertezas da noite para trás.
Naquela noite, me arrumei e fui para a escola com uma sensação de entusiasmo. Nada parecia capaz de estragar meu bom humor; eu estava radiante. Finalmente, tinha sido do homem que amava, como se estivesse vivendo em um conto de fadas. Caminhei para a escola me sentindo confiante, como se fosse a garota mais desejada do lugar. Fui uma das primeiras a chegar na sala de aula, o que me deu tempo para conversar com alguns colegas.
Durante o papo, Luís mencionou de forma casual que havia me visto na rua. Meu coração acelerou por um momento, preocupada com a possibilidade de ele ter percebido algo sobre o encontro que deveria ser sigiloso. Contudo, sua atitude despreocupada me tranquilizou, acreditando que ele não tinha ideia do verdadeiro motivo da minha presença ali.
Mais tarde, a sala de aula estava cheia, todos esperando pela primeira aula. Ferdinando foi um dos últimos a entrar. Quando passou por mim, lançou-me um olhar carregado de malícia, ao qual respondi discretamente. Tentei manter meus olhos focados à frente para não dar pistas do quanto estava fascinada por ele.
Passamos a aula inteira sem trocar uma palavra, apenas lançando olhares furtivos um ao outro. Quando a aula terminou, nos despedimos de forma cordial na saída.
— Tchau, Donatella — disse ele com um sorriso no rosto.
— Tchau — respondi, retribuindo o sorriso.
Ao chegar em casa, encontrei minha mãe dormindo no sofá, mas ela havia deixado a porta entreaberta para mim. Entrei tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordá-la. Passei pelo quarto onde ela dormia com meu irmão e o vi dormindo profundamente, algo raro de se ver.
No meu quarto, tirei minha farda, tomei meu café e me deitei na cama. Passei um tempo mexendo no tablet até que o sono finalmente chegou e adormeci, ainda envolta nas lembranças daquele dia inesquecível.
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Atualizado até capítulo 35
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