Coronel João Silva e Um dos seus capangas
O amanhecer na fazenda Kilassa pintava o céu com tons de laranja e dourado, mas o Coronel João Silva não se deixava enganar pela beleza da manhã. Sua postura imponente na varanda da casa grande contrastava com a tensão no ar, como uma tempestade prestes a desabar sobre a terra árida de Kandumba. Seus olhos, tão experientes quanto as árvores centenárias que cercavam a propriedade, observavam a estrada de terra que se estendia até o horizonte distante, onde o destino reservava mais do que o calor escaldante do sol Bengo.
"Ricardo!", bradou o Coronel, sua voz cortando o canto dos pássaros matinais. "Venha aqui!"
O capataz, um homem de estatura média e pele curtida pelo sol, apressou-se em direção ao seu patrão. Seu olhar era de respeito e submissão diante da imponente figura do Coronel.
"Sim, Coronel?" respondeu Ricardo, atento às ordens de seu superior.
"Por que diabos você não me disse que esse tal de Coronel Dihungo foi quem agrediu meu filho?" A raiva de João Silva era tão palpável quanto o calor que emanava do chão de terra batida.
Ricardo baixou a cabeça, ciente de sua falha em informar o Coronel sobre a verdadeira identidade do agressor de seu filho. "Desculpe, Coronel. Julguei não ser necessário."
"Que raio de supervisor é você? Ele é filho ou irmão do malogrado José Almeida?" O tom de João Silva era carregado de indignação e frustração.
"Coronel, pela sua aparência, parecia mais um filho do que irmão. Ele é jovem demais para ser irmão do José", explicou Ricardo, tentando amenizar a situação.
O Coronel João Silva esfregou o queixo, pensativo. "Um jovem... querendo se impor, hein? Bem, vamos ver até onde sua juventude o levará."
Enquanto os dois homens discutiam, o Coronel voltou-se para suas lembranças do passado. "Já não me lembro muito bem, quantos filhos o José e a Maria tiveram?"
Ricardo ponderou por um momento antes de responder. "Até onde eu sei, só tiveram dois. O Sr. Miguel e aquele maluco que anda por aí."
O Coronel João Silva assentiu, lembrando-se de um nome do passado. "Eu me lembro muito bem do menino Daniel. Era um rapaz que trazia muitos problemas ao José."
Ricardo olhou para o Coronel com curiosidade. "Será que não era ele, Coronel? Eu já não o conheço."
O Coronel João Silva permaneceu em silêncio por um momento, suas memórias do passado ressurgindo em sua mente. "Quem sabe, Ricardo? Quem sabe..."
Enquanto o sol continuava a subir no horizonte, lançando sua luz sobre a fazenda Kilassa, os segredos do passado e os conflitos do presente continuavam a moldar o destino daqueles que chamavam aquele lugar de lar. O confronto ao amanhecer era apenas o começo de uma batalha que prometia abalar as fundações daquelas terras áridas e daqueles que as habitavam.
O sol erguia-se majestosamente sobre a fazenda Kilassa, espalhando sua luz dourada sobre a paisagem árida e revelando os segredos ocultos e os conflitos que permeavam aquele lugar. Enquanto a luz do dia banhava a terra, os destinos dos que ali viviam eram moldados pelas escolhas do passado e pelos desafios do presente.
Enquanto o Coronel João Silva e seu capataz Ricardo continuavam sua discussão na varanda da casa grande, três figuras se aproximavam lentamente a cavalo. O velho Adriano, o Sr. Martins e o Sr. Pereira, homens de idade avançada, mas de espírito indomável, observavam a propriedade com expressões sérias e determinadas.
Os três Fazendeiros
"Olha só, o que é aquilo?", perguntou o Sr. Martins, apontando para os postes de luz que se erguiam contra o céu matinal.
"Esses postes não estavam ali da última vez que viemos", observou o velho Adriano, franzindo o cenho.
O Sr. Pereira, o mais calado dos três, olhou ao redor, percebendo a mudança sutil na paisagem. "Parece que o Coronel João resolveu trazer um pouco de luz para Kilassa."
"Mas a que preço?", retrucou o Sr. Martins, com um tom de desaprovação. "O que será que ele está planejando agora?"
Enquanto discutiam entre si, os três homens desmontaram de seus cavalos e se aproximaram da casa grande. Seus rostos expressavam preocupação e descontentamento diante das recentes mudanças na fazenda.
Ao chegarem à varanda, foram recebidos pelo capataz Ricardo, que os cumprimentou com um aceno de cabeça. "Bom dia, senhores. O que os traz até aqui tão cedo?"
O velho Adriano, sempre o mais falante dos três, não hesitou em expressar sua indignação. "Ricardo, viemos aqui porque não podemos mais ignorar os altos preços que estão sendo cobrados pela luz elétrica. Isso é um absurdo!"
O Sr. Martins assentiu veementemente. "Exatamente! Não podemos mais continuar pagando esses valores exorbitantes. Isso está afetando nossas finanças de maneira significativa."
Ricardo suspirou, compreendendo a frustração dos fazendeiros. "Eu entendo a preocupação de vocês, senhores, mas infelizmente esses são os novos termos estabelecidos pelo Coronel João. Ele decidiu aumentar os preços da luz para compensar as perdas causadas pela falta de água e pastagem."
O Sr. Pereira, que permanecera em silêncio até então, finalmente se manifestou. "Mas isso não é justo! Aceitamos a proposta dos Almeidas na esperança de garantir o fornecimento de água e pasto para nossos animais. Agora estamos sendo penalizados por algo que não está em nosso controle."
Ricardo balançou a cabeça em concordância. "Eu sei, senhor Pereira, mas o Coronel está determinado a manter a fazenda Kilassa funcionando a qualquer custo. Ele acredita que esse aumento nos preços da luz é necessário para garantir a sustentabilidade da propriedade."
Os fazendeiros trocaram olhares preocupados, cientes de que enfrentariam tempos difíceis pela frente. Enquanto debatiam sobre os próximos passos a serem tomados, o sol continuava a subir no horizonte, lançando sua luz sobre a fazenda Kilassa e revelando as sombras dos desafios que aguardavam aqueles que chamavam aquele lugar de lar.
O Coronel João Silva dirigiu-se ao velho Adriano com uma expressão de desdém, sua voz carregada de autoridade e desafio.
"Oh, Adriano, você quer se rebelar?" Ele perguntou, com um tom de voz cortante que ecoava pela varanda da fazenda. Seus olhos, faiscando com determinação, fixaram-se no rosto do velho fazendeiro.
Adriano, por sua vez, ergueu o queixo com orgulho, mantendo-se firme diante do olhar penetrante do Coronel. Sua postura era de desafio, uma demonstração de sua determinação em defender seus princípios e seu modo de vida.
"Não se trata de rebelião, Coronel", respondeu Adriano, sua voz carregada de firmeza. "Trata-se de justiça. Não podemos aceitar esses preços abusivos impostos pela fazenda Kilassa. Estamos simplesmente defendendo nossos direitos."
O Coronel João Silva soltou uma risada sarcástica, seu desprezo evidente em cada palavra que proferia. "Direitos? Você fala de direitos como se fosse algo que pudesse ser negociado. Mas aqui, quem dita as regras sou eu."
Adriano não recuou, seus olhos brilhando com determinação. "Pode ser que você dite as regras, Coronel, mas isso não significa que estejamos dispostos a aceitá-las cegamente. Somos homens livres, e não vamos nos curvar a seus caprichos."
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Priscila Marta
pensei que ele não fosse falar nada
2024-04-11
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