De volta a rotina

Quando acordei minha cabeça pesava tanto, que pedia por um analgésico urgente. Olhei para o lado e Park ainda dormia. Demorou um tempo para que eu conseguisse levantar e ir até o armário do banheiro procurar algum remédio, mas não encontrei nada. No quarto notei que tinha uma janela bem grande com uma beirada acolchoada, que servia de sofá e contrastava com uma paisagem que era parecida com a da minha antiga casa. Sentei aconchegando-me para admirar a vista, com um turbilhão de pensamentos a me consumirem pelos últimos acontecimentos. Fui interrompida pelo toque dele em meu rosto, estava tão absorta em mim que nem percebi que Park já estava sentado, me observando. E para que ele não pensasse que estávamos em um momento apaziguador, logo levantei o acusando.

- Por que você fez isso? Você manipulou tudo! - Ele permaneceu sentado de pernas abertas com os braços repousados nos joelhos, olhando para o chão e no tom mais calmo que pôde falou:

- Com o tempo você terá todas as respostas para suas perguntas.

- Mas eu não quero que o futuro me dê as respostas, que você pode me dar hoje!

- Nem tudo o que quer saber eu poderei responder, talvez o futuro também possa me responder muitas coisas, que eu não consigo entender. - pude notar um tom mais ameno em sua voz.

- Eu só queria entender.

- Talvez não seja para entender e sim, apenas sentir. - disse ele se aproximando e já me envolvendo em seus braços.

- Eu só posso sentir repulsa por um homem que me forçou a casar sem amor. - falei me desvencilhando de seu contato.

- Adoro sua delicadeza, quando se trata de minha pessoa. - sorriu malicioso e prosseguiu - Bom! Eu sei que esta conversa não vai nos levar a nada. Então vamos tomar café porque já fiz uma programação de casal, para aproveitarmos nossa lua de mel.

- Casal feliz suponho. Mas devo ressaltar que este não é o nosso caso. - entrei no banheiro para não ter que ouvir tantas besteiras inconvenientes.

Depois de um tempo desci. Observei que ele estava na cozinha preparando um chocolate quente, e na mesa estavam várias frutas e pães, era tudo muito bem organizado. Assim que sentiu minha presença apontou a cadeira para que eu sentasse. O tempo todo ele me observava e eu tentava fazer o mínimo movimento possível, pois estava incomodada por sentir seu olhar direcionado para mim.

Assim que terminamos ele me conduziu para o sofá e sentando á minha frente começou a falar.

- Eu só quero que você saiba que eu não sou esse cara que você pensa, mas também não posso dizer que sou menos que deseja. Sendo assim, eu preciso lhe dizer algumas regras básicas do nosso casamento.

- Regras? É isso mesmo? - estava indignada com o que acabei de ouvir, se não bastasse eu ter casado sem meu total consentimento, ainda tenho que passar por isso.

- Sim. Regras, pois percebo que você precisa de um controle sobre certas coisas sabe, principalmente sobre seu amigo... Como é mesmo o nome dele? Ah! sim, Jin.  

- Você está completamente fora de si se pensa que vou mesmo seguir regras suas Park. - eu já estava levantando, quando ele me impediu.

- Eu acho melhor você ouvir o que tenho a dizer.

- Não estou certa disso. - o encarei para manter a firmeza do que tinha dito.

- É melhor você saber onde está pisando ou terá que ficar sempre na incerteza, se está fazendo algo que me agrade ou não. - disse ele assertivo.

- Não estou aqui para agradá-lo! E com certeza não vou ficar a mercê de suas vontades.

Ao perceber que eu estava irredutível, ele então se inclinou em minha direção, colocando os braços apoiados na cabeceira do sofá rente ao meu rosto, fazendo com que eu ficasse imóvel. Senti na hora meu corpo se retesar e então um frio me subiu a espinha. Eu estava de fato encurralada por aquele homem, que podia ser tão sedutor como ameaçador para mim. E em um sussurro ele continuou.

- Eu não me dou por vencido tão rápido senhorita. - logo ele estava voltando à posição anterior, quando a campainha tocou - acho que a sorte está a seu favor. - então o vi caminhar em direção à porta.

De repente vi Jin entrando e disparando socos em Park fazendo com que ele fosse caindo para trás. Depois não pude distinguir nada, além de braços e corpos se digladiando com fúria. Após me recuperar do susto corri até eles.

- Pelo amor de Deus! Jin, para não vale a pena, por favor... - eu gritava tentando me colocar entre os dois, mas foi em vão porque ambos me empurravam para um lado e outro.

-Vale a pena sim! Esse canalha tem que sentir na pele o que mandou fazer comigo. - Jin estava realmente muito descontrolado e eu nunca o tinha visto assim. Eu sabia que Park realmente merecia, mas eu não queria que Jin se metesse em uma encrenca maior.

- Eu devia ter mandando eles terminarem o serviço - disse Park desferindo um soco bem no estômago de Jin.

E antes que a briga ficasse pior dois seguranças chegaram segurando Jin. O que deu vantagem para Park, que rapidamente se levantou e mandou que eles o levassem.

-Solta ele! - eu implorava, porque tinha medo que dessa vez eles realmente o machucassem ainda mais.

- Não se preocupe com ele, seu marido sou eu! - Park segurou meu braço, quando percebeu que eu ia atrás dos seguranças.

- Me larga Park! Eu odeio você por isso e por tudo o que você representa na minha vida. - minhas palavras eram um mix de lágrimas e ódio.

- Você não sabe o que está dizendo. - pude ver um vestígio de lágrimas em seus olhos, mas ele engoliu a seco e recuou.

Assim que suas mãos afrouxaram de meu braço, corri para o quarto procurando a janela para tentar ver se Jin estava por perto, mas não consegui nenhum vestígio. E tive que me conter para não fazer algo que piorasse ainda mais a situação.

Fiquei revendo a cena que tinha acabado de acontecer. Minha vida no último mês tinha se tornado tão intensa que eu não conseguia acompanhar. Por um momento eu pude sentir compaixão de Park, mas minha preocupação com Jin, era maior que qualquer outro tipo de sentimento. Eu sei que não estava confusa com meus sentimentos, mas gostaria de compreender quem era aquele homem e o que de fato ele pretendia com esse casamento.

Depois de uma hora ele apareceu no quarto e deitou na cama sem dizer nada, vi ali uma chance de tentar descobrir alguma coisa. Sentei ao seu lado e tentei amenizar a situação.

- Me perdoa pelo o que eu disse, eu não quis... - e antes que eu pudesse concluir, ele colocou o dedo indicador sobre meus lábios e com calma ele sentou me abraçando forte.

E neste momento as palavras me faltaram, pois não esperava tal atitude dele. O que me surpreendeu mais ainda, foi ver que sua postura de inatingível tinha se desfeito.

- Eu prometo pra você, que não vou fazer nada com seu amigo. Mas peço que tenhamos uma trégua, por favor! – sua voz era calma e relutante ao mesmo tempo.

- Tudo bem. - concordei com a proposta, mesmo que meu inconsciente me advertisse sobre isso.

~ SUH OFF ~

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