...Quebra de tempo...
Três meses se passaram e eu precisava encontrar um rumo neste lugar, poucas vezes tive forças para me comunicar com meus amigos. Neste caso eu precisava ficar apenas com meus pensamentos e por em ordem todos aqueles diversos sentimentos que ecoavam dentro de mim. Sentia a solidão cada vez mais forte e dominante, e o único equilíbrio que encontrava era quando fotografava as paisagens da janela do meu quarto ou dos breves passeios que fazia; foi então que decidi cursar fotografia. Não apenas por me aperfeiçoar, mas encontrei ali uma oportunidade de juntar o útil ao agradável, pois assim passaria mais tempo fora de casa sem ter que ficar vagando sem rumo por ruas de uma terra desconhecida.
Não foi difícil fazer meu pai consentir que eu ingressasse no curso, uma vez que, ele faria qualquer coisa para me manter o mais longe possível de seu convívio. Eu o poupei do trabalho e sempre que chego da faculdade me tranco no quarto e faço daquele espaço o meu mundo, onde nada mais importa. O espaço é bem amplo; dispõe de uma cama de casal confortável e janelas que dão de frente à rua onde fica uma árvore muito linda, de folhagem rosa que me apresenta um espetáculo de pontinhos esvoaçantes até completarem seu destino, ao cair sobre o chão. Além da paisagem, posso desfrutar de certas “regalias” que meu pai fez questão de me presentear. Mas o que estava subjetivo nisso tudo era que minha presença fosse menos incômoda à ele.
Nas poucas vezes que tive o desprazer de encontrar meu pai em casa, ele estava na companhia de um homem que aparentava ter mais ou menos 30 anos; este por sua vez sempre usando ternos alinhados e de uma postura impecável, seus cabelos eram platinados e bem lisos, os lábios carnudos e corados contrastavam com sua pele clara e a característica marcante de seu País; olhos pequenos e puxados. Poderia até perceber que às vezes ele me olhava de relance, mas prefiro pensar que são ideias da minha cabeça, porque de certa forma isso me intimida. Tenho que admitir que aquele homem possui uma beleza única e um tom de mistério em seu olhar, algo interessante, mas que não me desperta a querer desvendá-lo.
Na faculdade com apenas um mês, fiz uma amizade inesperada e me sinto feliz por tê-lo encontrado. Jin é quatro anos mais velho que eu e tem características não singulares, mas que o destacariam em minha cidade; uma delas que eu admiro mais, são seus lábios bem grossos e rosados. Seus cabelos são lisos e pretos, ele é bem mais alto que eu, mas isso se torna uma vantagem já que ele pode se dar ao luxo de me rodopiar no ar, toda vez que me abraça. Mas nem sempre foi assim, pois aqui as pessoas não tem esse hábito, no entanto eu acostumei meu amigo a ser mais carinhoso e é claro que este tipo de abraço é mais quando não há ninguém por perto.
Jin consegue alegrar todos os meus dias e mesmo quando não estamos juntos sempre nos falamos pelo celular, o que me faz esquecer todos os problemas internos e externos que tenho que enfrentar. Talvez o que eu sinta não seja mais amizade, faz um tempo que ele visita meus sonhos e por mais forte que seja nossa relação eu não tenho coragem de dizer a ele que eu o admiro desde a primeira vez. Tenho medo de estragar tudo o que temos, e ele é tão precioso para mim que é preferível ocultar o que sinto, a ter que perder sua companhia.
O medo se torna maior que o desejo de tê-lo, e a incerteza de seus sentimentos é mais confortável do que ter a certeza de uma negação.
Passavam das 11h00min quando sentei debaixo de uma árvore que ficava na frente do parque da faculdade. Ali me deixei absorver pelo prazer que o vento e o balançar das folhas me traziam; por um momento imaginei estar na praça das grandes mangueiras de onde eu morava, ouvindo o canto dos passarinhos misturados ao aroma de manga fresca, quando uma mão tocou levemente meu ombro.
- Oi! – abri os olhos e minha felicidade ficou completa ao ver Jin.
- Oi, nem percebi você se aproximar. – ele sorriu e sentou ao meu lado.
- Era essa a intenção, você parecia estar tão conectada a outro lugar que achei que não faria mal em ficar lhe admirando um pouquinho, antes de lhe trazer de volta. – se havia ou não uma mensagem implícita eu preferi pensar positivamente.
- Faz tempo que não me sinto tão bem como senti agora. Sabe? Senti que estava na minha antiga cidade e uma saudade se misturou com a tristeza. Enfim! – era difícil verbalizar meus sentimentos.
- Não posso dizer que entendo o que está sentindo porque eu nunca passei por uma situação como essa, mas imagino que não é fácil ter que deixar tudo para trás. – sua mão tomou a minha em um gesto de solidariedade.
- Com certeza, não é! Ainda tem a relação com o meu pai que se desfigurou de tal forma que até hoje eu não consigo entender. – nesse momento só consegui fitar o chão.
- Tem certas coisas na nossa vida que só com o tempo é que devemos entender o porquê que elas aconteceram. – tão novo, mas sábio em suas palavras.
- Você tem razão, mas eu não sei por quanto tempo ainda vou suportar tudo isso. – o encarei sentindo um nó se formar em minha garganta.
- Bom, se vai demorar ou não até que você desabe; isso eu não sei. Mas pode ter certeza que eu estarei aqui pra lhe ajudar a levantar menininha. – sua mão agora estava acariciando meu rosto e no mesmo instante engoli qualquer que fosse aquele sentimento angustiante.
- Você foi a melhor coisa que me aconteceu aqui nessa cidade. – falei o encarando.
- Que tal irmos tomar um café? – disse Jin com certo desconforto.
- Ótima ideia! – respondi, e logo ele estava de pé erguendo a mão para me ajudar.
No caminho entre os muitos assuntos contei a ele de minha impressão sobre aquele homem que vivia conversando com meu pai.
- Eu não sei, mas tenho uma sensação estranha quando o vejo. – suspirei pesadamente - pode ser coisa da minha cabeça sabe, mas eu sinto que ele me olha diferente. – acrescentei.
- Olha Suh, se você se sentir ameaçada por ele ou algo do tipo, pode me ligar que eu vou correndo até você. – suas palavras me conectaram mais profundamente à ele.
- Você é demais Jin! Por isso que te amo sabia? - nessa hora senti o rubor em meu rosto então evitei o contato visual, até que sua voz quebrou o silêncio.
- Eu poderia dizer que sinto o mesmo por você! Se o que acabou de dizer for mesmo verdade, claro. – sua declaração foi sutil e sincera, mas eu não queria fazer ilusões de algo que poderia nem existir.
Apenas sorri e baixei a cabeça, quando por um instante tive a sensação de estar sendo vigiada. Senti um arrepio em meu corpo e apesar de estar de calça jeans e moletom, me fez estremecer; o que não era comum. Não deixei que Jin percebesse o que senti. Então continuamos caminhando sem nada a dizer após o constrangimento da última afirmação.
Assim que chegamos à Cafeteria a garçonete nos recebeu com um sorriso:
- Sejam bem vindos ao café Goins, podem escolher a mesa de sua preferência!
- Obrigada – dissemos. Logo me dirigi a primeira mesa que ficava junto da janela à esquerda da entrada principal.
- Primeiro as damas. - disse ele sorrindo enquanto puxava uma cadeira para que eu sentasse.
- Só você mesmo! – ele sorriu e sentou na minha frente.
O lugar era simples e aconchegante, algo que me remetia a um passado não tão distante. Nossos olhares começaram a ficar mais intensos e se não fosse o farfalhar dos outros clientes, eu poderia ouvir meu próprio coração palpitar descompassado, minha garganta estava ressecada e não demorou muito para fazermos o pedido.
- Um cappuccino e um croissant - pediu ele.
- Um chocolate quente, por favor. – senti o olhar interrogativo sobre mim, então tratei de explicar.
- Não quero perder o apetite do almoço. – me desculpei.
~ SUH OFF ~
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Atualizado até capítulo 90
Comments
Daniele Dosreis
mais!!!
2022-04-28
2
Ester menezes
não entendi pq tantos asteriscos???
2022-04-17
1
Ester menezes
pq não tem fotos?
2022-04-17
1