capítulo 17| Não quero ir.

           23h:35| 13 de Dezembro.

O carro parou em uma rua escura, olho para direta em minha janela no passageiro, não há muitas casas e nem pessoas na rua. Gabriel abre a sua porta.

—É uma farmácia aqui perto pôw. Fica aí.

Ele sai.

Eu espero.

O que diabos ele vai fazer em uma farmácia agora? Ele está doente? Talvez Bia tenha se machucado. Céus, eu preciso saber o que houve com ela.

Alguns minutos e Gabriel está de volta com uma garrafinha de água e uma sacola branca de plástico na mão. As cartelas de comprimido tintilam e ele estende para mim.

—Um, pega aí e toma.

Arqueio uma sobrancelha pra ele. Mas pego as coisas de sua mão. Ele se prepara pra da partida e eu leio o nome escrito na embalagem.

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—Obrigada. —Sorrio gentilmente para ele.— Você é um anjo! Estava mesmo precisando disto.

—Caído, só se for.

Quase engaso com a água, mas ao menos a pílula desceu.

—Gabriel é o nome de um anjo sabia? —Coloco a garrafa no porta copos da porta. —Para mim, você é um.

—Se tu ficasse sabendo das coisa que eu já fiz, não ia dizer isso.

Olha para ele, manobrando o carro que desvia de todas a elevações como se fizesse isso todos os dias.

—Você... Se orgulha? Quer dizer, você gosta disso?

Minha voz sai calma, compassada. Acho que tenho tanto medo da resposta quanto ele tem da pergunta.

—Quem gosta de viver num inferno desse? Só doido. Só comecei pelo meu irmão.

—Ele ainda está aqui?

—Não, mandei pra Bolívia.

Meu peito se alivia.

Mas depois pesa.

Ele é quem sustenta o irmão.

—E a Dona Maria? Eu fui ao antigo bar perguntar por ela, mas...

—Morreu. —Ele me interrompe. —Faz uns tempo já.

—Ah, eu... Eu sinto muito.

Ele toca minha mão levemente e sinto um arrepio percorrer minha espinha. Vejo um sorriso gentil em seus lábios.

—Relaxa, a culpa não foi tua, baixinha.

Sua mão está gélida em consequência do ar-condicionado ligado. Eu devolvo com outro sorriso e ele desfaz o toque.

—Tá entregue.

O carro para, quero agradecê-lo. Mas o movimento na porta de minha tia rouba toda a minha atenção.

João está agarrado a minha tia que tenta o importar para longe, mas o garoto continua grudado nela, chorando. Há outra mulher o puxando, uma morena de cabelo afro, com vestido florido. A madrinha, tia ou o que quer que seja.

Desço do carro e Gabriel junto.

—Ôôu que isso, que isso. Larga o muleque.

Ganriel diz indo até a mulher. João corre até mim como se a vida dele dependesse disso.

—Eu tô aqui, calma, respira. E me diz o que aconteceu.

Aos poucos ele volta á respiração normal, limpa os olhos com as costas das mãos.

—Essa peste tá teimando de ir com tia dele, tá mornando aí.

Minha tia grita de onde está. Brava.

Olho para mulher ao seu lado que espera impaciente.

—Achei que estivesse tudo bem em ir com sua tia, já conversamos sobre isso, coração.

Passo a mão por seu rosto, ajudando limpar as lágrimas que ainda escorrem.

—Quero tá contigo tia. Ninguém me trata bem desse jeito, é bom.

Me abaixo ficando de sua altura.

Gabriel ainda olha a situação atento e não sei exatamente que tipo de emoção transparece em seu rosto.

—Eu preciso que você colabore comigo, no momento a sua guarda pertece a sua mãe, mas como ela... —Penso no que dizer em relação a mãe.—Como ela não está, é sua tia quem fica com você. Como parente mais próximo.

—Eu num quero ela não, tia. Eu quero a senhora. —Ele comessa a chorar novamente. —Por favor, não dexa ela me levar, não deixa tia.

Eu levanto.

—Pra isso você precisa ir com ela. Não posso ajudar você se continuar morando comigo. Eu não tenho a sua guarda, ainda.

—Eu fico na rua até a senhora ter.

— Nem pensar. — Passo a mão por seu cabelo e pego a sua mão.— Se você não ficar com sua tia, pode ser ainda mais difícil conseguir. Você precisa me prometer que irá me ajudar e então eu prometo que irei te tirá-lo de lá. Combinado?

Ele faz que sim, com a cabeça. Caminho com ele a tia. Ela não diz nada até que eu chegue um pouco mais perto para entregar-lhe a mão de João.

— Brigado aí viu? Pela ospedagi dele aí. —A voz forte da mulher soa entre nós. Curvo os lábios para ela.

—Não precisa agradecer. O João é um ótimo garoto, fomos bom tê-lo como companhia.

Abaixo a cabeça para ver o pequeno, que ainda funga.

—Tá aqui as roupa dele ó

Minha tia aparece na porta entregando uma sacola de roupas. A mulher agradece mais uma vez antes puxar o menino e começar a subir a rua. João olha para trás, triste.

Eu aceno com a mão e forço um sorriso. Não tenho a mínima, e nem a máxima noção, de como vou conseguir a guarda de uma criança, muito menos o que vai acontecer com ele quando eu for embora.

—Repara aí que eu tô indo na Vete, ver ela.

Bernadete ao me entregar uma chave, olhando desconfiada para Gabriel que ainda observa tudo encostado no carro. Minha tia anda tão rápido que tenho a sensação de que está fugindo. Ela segue o mesmo caminho que João com a mulher, porém dobra um beco a esquerda.

Viro-me para Gabriel.

—Quer entrar? —Entorto a cabeça em direção a porta, apontando. —Talvez ainda tenha mousse de maracujá, do almoço.

—Tu que fez? —Pergunta vindo em minha direção.

—Olha, se abrir o maracujá e cortar a embalagem do leite condensado, significa "fazer". —Faço aspas com os dedos — Então, sim, eu fiz.

Ele sorri e entramos juntos na casa.

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Comments

Mayra

Mayra

Sai um hoje🥰

2024-02-26

0

Marlene Araujo

Marlene Araujo

mas capítulo por favor me

2024-02-23

2

Ver todos

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