Capítulo 10| Indo para a guerra

O dia seguinte tinha tudo para ser calmo, mas inventei de aceitar ir a um evento onde tenho a absoluta certeza de que não serei bem recebida por alguns. E por mais que a própria anfitriã da festa tenha feito a proposta, não será suficiente para apagar as manchas que aconteceram no passado.

A culpa não é um sentimento ou um estado em que se encontra a mente. A minha, por exemplo, são uma toneladas de sangue inocente que carrego nas costas e mais alguns quilos em minha cabeça. Não é atoa que meu travesseiro afundo quando deito para descansar, ou ao menos tentar. Mas eu mereço, não tenho e não posso reclamar.

A porta é aberta, me afastando dos meus pensamentos e rapidamente viro-me para olhar quem é.

— Bia e a colega dela tão aí querendo te ver.

— Mais já? —Pergunto olhando para o celular, acreditando que estou atrasada.

—Ué! e tem hora pra elas vim aqui? — Ela arqueia uma das suas sobrancelhas e se reencosta na porta. —Tá indo pra onde em bonitinha?

— Fui convidada para o aniversário dela, não que eu tenha muita opção, não pude recusar. Tudo bem pra senhora?

—Por mim, sim. Agora tu que não parece bem.

Levanto da cama e vou em direção as escadas, a minha tia vai à frente. Bia e Juliana estão sentadas na mesa.

— Iai bela adormecida. — Diz Juliana, ao me cumprimentar.

— Boa tarde, menina. — Sento-me com elas e minha tia vai em direção a porta.

—Essa menina é educada né Bia? —Juliana diz para Bia como se estivesse me avaliando.

— Repara aí que eu vou aqui no seu Zé! — Grita ao fechar o portão.

— E então, tu vai né? Já tá tudo certo, a gente vai passar aqui as oito em ponto... — Começa Bia, mas Juliana a interrompe.

— Ou tu pode se arrumar com nois, melhor, porquê não tem esse negócio de ainda vir te buscar.

—Tinha pensado nisso também, mas vai do que tu decidir Lilli.

— Hã... Por acaso tem a opção de não ir e ficarmos aqui assistindo melodramas a noite toda? —Elas me encaram e eu curvo meus labios. — Está bem, está bem... Podemos nos arrumar juntas.

—Hoje tem bailão mulherada!!! —Juliana Grita entusiasmada.

[...]

O Rlógio em meu pulso marcavam 18h em ponto quando as duas garotas bateram no portão. Bia estava com o cabelo húmido e com as lindas ondas definidas, já a outra usava uma touca cujo o tecido deveria ser cetim.

Deixei João assistindo o que gosta, pois não tivemos um sinal se quer da mulher que o viria buscar, questão que terei de resolver em um outro momento. Abro a porta do quarto e ambas entram, montam suas coisas e a arrumação começa poucos minutos depois.

—Qual teu look Lilli? —Juliana pergunta ao finalizar uma mecha de seu cabelo com o babyliz.

—Não faço a mínima ideia. Mas talvez, uma calça seja o suficiente e confortável. —As duas garotas me encaram como se eu acabasse de falar a maior barbaridade do mundo.

—Calça? Mana tu tá no Rio, não no Saara que faz frio de noite. —Diz Juliana

— Uma calça é mais confiável. —Ambas gargalham.

—Não vai de calça não, nem pensar. —Julina senta na pnteadeira para Bia lhe maquiar. —Fica quieta Ju, se não vai parecer uma palhaça.

Sorrio de Juliana resmungando algo em defesa e deito–me sobre a cama com várias roupas amontoadas. Eu ainda nem havia começado a me arrumar e já estava exausta.

[...]

Se eu pudesse definir esse momento em uma única palavra, seria arrependimento. Segundo o dicionário arrepender-se de algo, é quando uma certa decisão se torna pesada e então você se lamenta por ela.

Bom, no meu caso, a minha decisão se tornou arrependimento quando eu disse sim, mesmo sabendo que deveria dizer não. Mas, não havia volta, já estava decidido, eu já estava vestida e elas estavam prontas para sair.

Eu estou indo para uma guerra.

Usava em meu corpo um vestido preto, justo. Seu modelito se resumia em longas mangas que iam até o meu pulso e uma gola alta.

Inicialmente, pensei que não usaria, pois é bastante justo, um pouco curto e não satisfaz meu gosto. No entanto, o tecido macio de algodão ajuda a roupa a se modelar em meu corpo, de modo que acentue as minhas curvas sem apertar. É simples, confortável, me deixará invisível praticamente, e não havia muitas opções do que usar, antes um vestido desse do que o modelito que Bia está usando.

Em minha defesa, eu aprecio a confiança de ambas.

A única coisa que acrescentei fora alguns acessórios básicos, como o meu usual cordão que ganhei da minha mãe e brincos, além do tênis  branco que quase gerou uma pequena discussão entre as meninas. Ela votaram em um salto, mas cedi ao vestido, já a plataforma alta era algo aterrorizante para mim.

Bianca estava com seus cabelos finalizados e soltos, usava um vestido um tanto sensual. Eu particularmente não considero o pedaço de pano que ela está usando um vestido, mas bem, minha opinião em relação ao gosto dela, não importa. Toda via, não posso negar o quão linda ela estava. Vermelho definitivamente era a sua cor. Em cima, se comparava a um sutiã, cobria apenas seus seios e na barriga se juntava a saia na parte de baixo.

Juliana, por outro lado usava um rosa, o tecido, diferente do meu e de Bianca, era um tipo de elástico e tinha fendas sensuais. Sem alças em seu busto.

                  ♤

Um carro Fiat estilo Idea vermelho, para em frente a casa de minha tia. Enquanto me despeço dela as meninas entram no veículo e por alguns segundos exito, mas minha tia fecha a porta atrás de mim e a porta traseira do carro se abre. Caminho até ele e quando entro, quem dirige é Samuel, onde aparentemente está em uma discussão com Bianca sentada no banco do passageiro na frente.

—Tá doida de ir assim?! Vai pra casa trocar isso.

Samuel vocifera bravo. E então olho para Juliana que assim como eu, apenas observa o que está rolando.

—Qual foi? Tá achando que é meu pai?!

Bia devolve  irritada.

—Eles namoram? —Sussuro baixinho apenas para Juliana ouvir. Ela sorri de forma divertida.

—Sim, só que eles não sabem ainda.

Sorrio para ela de volta enquanto a briga ainda acontece.

—Dá pra vocês deixar a roupa suja pra lavar em casa? Eu tenho um baile pra ir, inferno!

Juliana grita intervindo na discussão entre o quase casal e só então Samuel se vira para trás. Quando me nota, vejo surpresa em seu rosto.

—Caralho! O que tu faz aqui? —Diz espantado

—É, me faço a mesma pergunta. —O respondo de forma sincera.

—Pelo menos tu fez uma coisa boa hoje. —Samuel murmura de forma cínica e satisfeita para Bianca, que por sua vez, apenas cruza os braços e bufa. Não sei como correr risco pode ser algo bom.

O moreno da partida no carro e sinto minha alma ficando para trás a cada rua que avançamos.

Os dois sentados na frente trocam xingamentos mais algumas vezes durante o caminho, mas  não presto muita atenção no assunto debatido já que eu tenho meus próprios conflitos internos para lidar. Um deles é tentar manter a respiração calma e não pensar em possíveis situações futuras que nem sequer aconteceram.

Juliana simplesmente ignorava tudo enquanto usava o seu celular, mas no instante em que paramos ela o guarda na bolsa.

Algo se revira dentro do meu estômago, parece que jantei nervosismo, medo e angústia e agora estavam prontos para sair por minha garganta.

Quando todos saem do carro, eu fico alguns milésimos de segundos ainda sentada, até que minhas pernas, aparentemente mais corajosas que eu, resolvem se mecher. Bato à porta sutilmente e meus ouvidos são inundados por uma música alta.

Há uma fileira de carros e motos espalhados pela rua, o asfalto húmido indica a passagem de uma rápida chuva. As luzes amareladas dos postes, refletem nas poças de lamas formadas por buracos de todos os tamanhos incando a decadência do lugar.

Me pergunto como Bia e Juliana conseguem andar de salto. Optei por um tênis branco para evitar problemas e nem imaginei como seria desviar desses buracos com uma plataforma fina.

—Bora?

Samuel pergunta enquanto Bia termina de arrumar seu vestido e então seguimos. O mau pressentimento se alojou em minha cabeça desde o momento em que eu estava vestindo minha roupa e me acompanhou até aqui.

Isso não vai acabar bem.

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