Capítulo 1| Welcome to Brazil

Oito horas da noite.

O meu voo vai sair nesse horário. Ou meu pai se enganou ou apenas queria que eu saísse daquela casa o quanto antes. Fiquei um bom tempo esperando e revisando o que eu tinha que fazer.

Ensaiar no espelho sempre é bom Lina. Falo para mim mesma, já que não tem ninguém para conversar. Respiro fundo e embarco no avião a procura da minha poltrona. Entro em pânico quando não a encontro, todos já estão se acomodando em seus devidos lugares menos eu.

Deus, eu nunca te pedi nada então por favor ajude a sua filha lerda que veio com defeito de fabrica e que provavelmente pegou o avião errado, –e eu espero que o tenha feito.–

—Pois não senhora? Está precisando de algo?

Ouço uma voz atrás de mim, ao me virar vejo uma moça, a aeromoça na verdade, que sorri gentilmente para mim.

—Ah, sim, eu não estou achando meu lugar, qual a probabilidade de ter me enganado de avião?

Pergunto e ela solta um sorriso genuíno.

—São mínimas, mas pelo que vejo você não é desta ala.

—Desculpe, não havia entendido a passagem.

— Venha, vou levar-lhe para a primeira classe, tenho certeza de que iremos encontrar o seu lugar.

Ela estava certa, a minha passagem indicava a primeira classe. Me acomodo na poltrona e logo o avião da partida, não sentir um frio na barriga é quase impossível.

Estou indo para o Brasil.

°°°

Quando o avião finalmente pousa e os passageiros começam a se levantar, espero um pouco para fazer o mesmo.

Minhas pernas tremem quando levanto e desço a grande escada. Estou em solos Brasileiros e por mais que pareça estúpido dizer isso; o ar do Brasil é diferente.

Sim, com toda certeza é diferente.

Aqui é quente, não como os Estados Unidos. Há algo diferente no conceito "quente" quando se trata de um país tropical.

Sinto o sol fraco da manhã batendo em meu rosto inspiro levemente a brisa suave e deixo um meio sorriso escapar.

Welcome ti Brazil, Lina.

Caminho em direção a parte interna e coberta até chegar a passagem da frente. Olho em volta procurando minha tia mas não a encontro. O que eu faço? Eu não faço a mínima ideia de como me comunicar para pedir ajuda, ou de algum hotel para ir, e o motivo não é o idioma. É a vergonha.

O velho ditado "Quem tem boca vai a Roma" deveria ser trocado por "Quem não tem vergonha vai a Roma." Mas não quero ir a Roma, quero achar Bernadete e ir para sua casa, longe da favela e de todo perigo eminente.

Olho em volta e vejo uma moça vendendo sorvete bem em frente a passagem de entrada, sorrio com a ideia de tomar um e obviamente vou até ela.

Tomar sorvete au invés de resolver o problema é sem dúvida o mesmo que resolver o problema.

—vauereruê?

Ela fala tão rápido que não consigo processar direito o que ouço.

—Perdão?

—Vai querer o quê.

—Há...Moran.Go

Meu português sai meio aveludado com a língua enrolando para falar. Mas é claro Lina, Cinco anos sem ter ninguém que fale português para conversar resulta isso, nem meu pai falava comigo em nosso próprio idioma, ele fazia questão de conversarmos em inglês, apenas.

Em minha cabeça meu português era melhor.

—Qué que é strawango minha filha?

A moça morena de cabelos cacheados presos em um coque questiona meio impaciente.

—MouRAngo

Falo devagar, não só para ela entender, mas para eu mesma pronunciar corretamente

—Ah entendi, porquê não falou antes

Olho para ela confusa, e ela gargalha alto e logo em seguida prepara o meu sorvete como se realmente gostasse de fazer aquilo.

—Tu não é daqui é?

Agora consigo entender um pouco melhor

—Rio de JaneiRo? Não e sim, nasci aqui mas não moRO aqui.

Ela assente com a cabeça e me entrega o sorvete, pego minha carteira e lhe pago com um nota de

R$10,00. Meu pai pediu que um de seus secretários preparassem uma pequena bolsa com algumas notas para quando chegasse no aeroporto, caso precisasse de algo.

E depositou dinheiro em minha conta, não sei a quantidade exata, assim como também não sei como ir á um banco e sacar o determinado valor. Nunca precisei fazer isso antes, ja que normalmente não uso dinheiro em espécie.

Mas isso será resolvido com a ajuda da minha tia, eu espero.

Pego meu troco de volta, agradeço a moça, mas fico no mesmo lugar já que é impossível ficar andando com três malas. Por sorte as três são apenas um kit e o design da mala grande é modificado para que a mala pequena encaixe em cima dela, ou seja, facilitando minha vida.

Não demora muito até que avisto uma mulher acenar para mim, ela usa uma calça jeans azul marinho uma blusa bem colorida e acessórios esparafatosos. Muitos acessórios. Seus cabelos são cacheados e usa em seus pés uma plataforma, que a faz andar de um jeito engraçado.

É minha tia. Concluo por fim.

—Liliana!

—Tia BeRnadete?

—Em carne e osso.

Ela sorri e me abraça

—Menina mas tá uma mocinha já. Meu Deus! Como tu tá linda! E meu cunhado como que tá em? E por que você está falando assim?

Ela aparentemente tem um jeito leve e divertido, sorriu para ela e conversamos um pouco até o táxi chegar, colocamos as malas no porta malas e entramos no carro, procuro o sinto mas não o encontro.

—Tia, onde está o cinto de seguRanç?

Ao questionar sou surpreendida com risos altos, tanto do motorista quanto da mulher ao meu lado. Encaro a frente do carro desacreditada.

—Tão engraçadinha

Minha tia sorri se acomodando em seu lugar e fechando a porta.

—Mesmo lugar Dete?

O taxista pergunta olhando para trás

—Com toda certeza Zé, rápido que ainda tenho almoço pra fazer.

O sotaque carioca de ambos predomina em meio a conversa, quando o carro começa a se mover olho para minha tia.

—Dete?—Pergunto para ela.

—Meu apelido, pode me chamar assim ou só tia mermo.

Balanço a cabeça em concordância.

—Vocês moRAm no mesmo condomínio?

Pergunto fitando o espelho que fica na frente do carro.

—Condomínio? De onde tu tirou isso garota?

Mais uma vez ela ri não tão alto, mas uma risada calorosa

—Ih Dete, essa daí não é daqui é?—O homem do volante ri. A risada dele soa como a de um fumante, o que tenho certeza de que é, mas isso não vem ao caso. Olho para minha tia tentando entender que talvez seja...um bairro?

—Não tem condomínio lindinha, a gente tá indo pra favela menina.

Meu corpo trava.

Agora eu quero ir a Roma.

○○○○○○○○○○○○○○○○○○

...Não se esqueçam de votar e comentar sobre o meu trabalho, caso estejam gostando....

...Ficarei grata💖...

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Comments

Marcia Toninho

Marcia Toninho

começando agora o livro parece ser bom 😊😊🥰

2024-05-04

1

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