Capítulo 11| Ele me odeia

É assustador.

A forma como a música ultrapassa o local da festa. Mas isso é facilmente explicado pela ciência; o ouvido, biologicamente, não capta tanto som na parte mais baixa do espectro auditivo, o que explica o fato de o grave da música sair abafado e alto ao mesmo tempo, causando pequenos espasmos em meu corpo. Porque estou pensando em biologia?

Balanço a cabeça tentando afastar qualquer pensamento que arranque minha concentração.

Olho a rua procurando qualquer sinal de algum conhecido, mas quando se trata de ruas com uma péssima iluminação é bem difícil distinguir quem é quem. O que vejo são apenas bêbados tropeçando pela rua com o efeito do álcool no corpo. Se é que pode chamar isso que eles bebem de álcool.

Bia está na frente com Samuel, os dois conversam intimamente e alheios ao que acontece na rua. Juliana não deixa o celular desde a hora em que saímos do carro, ela caminha ao meu lado, mas de forma quase imperceptível. Eu sou a única que está sem o que fazer.

Chegamos ao que parece uma quadra, mas com muros altos e um teto.  Na verdade, aparenta mais ser um grande salão com a presença de um palco feito com tijolos.

É um pouco abafado, por mais que em alguns pontos não seja coberto, está cheio de gente, com adições das luzes coloridas que deixam o ambiente realmente parecido com um tipo de balada. Passamos pelos homens armados na entrada que parabenizaram Bia e então liberaram.

É claro que haveria esse tipo de coisa. É o aniversário da irmã do chefe.

Aperto a alça da minha bolsa no intuito de amenizar o nervosismo.

Não, isso não é apenas nervosimo, é medo. Eu estou com medo. Minhas mãos soam e é por isso que o local parece mais abafado que o normal. Minha roupa parece pinicar em contato com minha pele, sinto minha garganta secar.

Há pessoas de mais aqui.

Se me virem vão lembrar do mal que causei.

—Tá bem Lili?

Juliana toca meu ombro enquanto me encara com cautela. Confirmo com a cabeça e tento mudar de assunto.

—Então... Quando vai ser o parabéns?

Ela ri e pega em minha mão, me arrastando para o centro da festa onde Bia está cercada por pessoas a abraçando. Fico no escanteio esperando que as felicitações terminem.

Odeio festas.

Odeio pessoas em festas.

Odeio não conhecer pessoas o suficiente para que eu goste de festas.

Passo meus olhos mais uma vez pelo local, e então noto o tipo de música que inunda o ar. Se é que pode chamar isso de música, parece mais um vídeo pornográfico com melodia.

"Ele mete em tudo em todos os meus buracos, não tem homem mais...

Estremeço em agonia, mas paro de escutar quando subo meu olhar para o palanque, num ponto mais a cima, há cerca de cinco pessoas sentadas. Forço um pouquinho mais a visão para ver com clareza.

Uma pequena grade separa eles dos demais que estão no palco. É como se fosse uma área VIP.

E então meus olhos o encontram.

Tudo ao redor para, incluindo meu corpo e todos os órgãos que o compõem.

Meus pelos se arrepiam com a sensação apavorosa.

Não lembro como se respira, nem ao certo como se anda.

Henrrique gira a cabeça, passando os olhos pelo local, sorrindo. Ah, aquele sorriso, eu reconheceria em qualquer lugar, mesmo depois de anos.

—Ô sua louca. —Levo um susto— Tu com esse teu vestido preto tá quase me deixando doida. Da nem pra te ver direto.

Bia me tira do transe, se aproximando de mim e pegando na minha mão. Saimos do meio da multidão dançado e me guia até um balcão e evito encostar pois é encimentado.

Um mine bar, onde estão dando bebida.

Enquanto ela fala com o homem que está cervindo, tento retomar a minha consciência e o controle com o meu corpo. Se apenas vê-lo causou esse estrago todo em mim, eu não quero imaginar o que vai ser quando ele falar comigo. Ou pior, despejar ódio em cima de mim.

Bia encosta no meu ombro e quando olho para ela há certa preocupação em seu rosto.

—Tu tá assim porque? —A mão dela passa para a minha.

—Assim? —Consigo dizer.

—É, parece que tu vai desmaiar. —O homem atrás do balcão coloca dois copos descartaves em nossa frente. Os dois contém bebidas amarelas.

—Eu não tomo... —Começo a negar mas Bia é mais rápida em me responder.

—Não é cerveja. É guaraná, infelizmente. Henrrique deu ordem pra esse bando cuzão não deixar eu beber álcool. Na cabeça dele ele acha que pode mandar em mim.

Ela diz com Irritação. Levanto o copo em direção a minha boca e o gosto doce do refresco me ajuda a acalmar o ânimos.

—Então, você e o Samuel... —A provoco e pela primeira vez vejo um vislumbre de desconforto em seu rosto.

—Aí credo, não estraga minha noite com essa paranoia não. Já basta a Ju com isso. —Ela solta o copo no balcão e pega minha mão. —Vem, vamo dançar que hoje eu tenho que aproveitar.

______________

Eu devia ter lembrando a ela que não sei dançar, o mínimo que fiz foi passar vergonha.

E mesmo que meus movimentos se resumisse apenas em mecher a cabeça no ritmo da música de letra duvidosa, Juliana e Bianca me arrancaram algumas risadas quando quase caíram uma em cima da outra, tentando, ao que parece, rebolar.

Juliana colocou as duas mãos no meu quadril tentando guiar meus movimentos. Bia estava atrás de mim. Ficamos por um tempo tentando amolecer minha cintura, eu quase consegui. Quase.

Mas as aulas foram interrompidas quando uma voz soou alto no microfone.

—Oi som, um dois três, testando. —O homem da algumas batidinhas no microfone. Céus, não é qualquer homem. Gabriel. —Um salve aí pra toda comunidade. Gratidão pela presença dos mano que tão sempre fortalecendo a segurança aqui.

Olho de soslaio para Bia enquanto ele ainda fala no microfone. Ela entende meu olhar e se aproxima do meu ouvido para falar.

—O Biel é o sub daqui. Achei que tu já tinha olhado ele.

Nego com a cabeça e volto minha atenção para Gabriel que para de falar enquanto todos aplaudem, mas não pude ouvir o motivo, pois a multidão começou a se afastar formando uma roda ao nosso redor e dando passagem direto para o palco. Mais que droga é essa?

Em menos de um segundo lembro-me que Bia está do meu lado.

É aniversário dela e ela está próxima. Movo as minhas pernas para sair do meio, mas Bia me barra passando a mão por dentro do meu cotovelo. Me aproximando mais dela.

Eu quero morrer, aqui mesmo.

Nesse instante.

—Bia... — Eu começo a implorar, mas sou interrompida pela luz branca que se acende em cima das nossas cabeças, nos dando visibilidade em meio ao público.

Eu quero morrer, aqui mesmo.

Nesse instante.

Juliana está a esquerda dela e eu na direita. Gabriel diz mais algumas palavras parabenizando Bia, mas não consigo prestar atenção. Meu foco está totalmente em tentar sair correndo daqui. O mais rápido que eu puder.

Bianca começa a se mover, e eu junto.

Eu. Estou. Indo. Com. Ela

Não era pra eu estar indo com ela, é o aniversário dela não o meu.

Por instinto meus olhos vão direto para Henrrique, já que antes eu não conseguia vê-lo. Mas agora quem está em cima, consegue nitidamente ver nós três. Ele está olhando para Gabriel e Gabriel está...

Olhando em minha direção como se tivesse visto um fantasma. Seus olhos descem e sobem por todos o meu corpo, como se ele não acreditasse o que estava materializado em sua frente.

Henrrique segue o olhar do amigo, parando seu olhar em mim. O sorriso se disfaz, o sorriso que eu tanto amava se esvai dando lugar a um rosto sério me encarando. Por tempo de mais.

Ele me odeia.

Ele me odeia.

Eu me odeio.

Henrrique faz um sinal com a mão chamando alguém e um homem alto e moreno se aproxima. Diz algo enquanto o homem apenas confirma com a cabeça, em seguida sumindo em meio às pessoas.

Aproveito quando chegamos a escada do palanque, que felizmente, fica na parte de trás onde não há ninguém e solto a mão de Bia para que ela suba enquanto eu procuro um lugar em meio a multidão para me esconder.

—Tá indo pra onde...? —Bia diz, quase que implorando.

—Você sabe que não posso subir. Vou ficar na pista, não se preocupe.

Juliana se prepara para dizer algo mas Samuel chega com um vidro de cerveja na mão.

—Qual foi minhas gatinhas. —Ele olha para Bia —Tão esperando tu subir morena.

—A Lili não quer subir e se ela não for eu não vou. —Bia cruza os braços em relutância.

—É seu aniversário Bia, minha presença não faz muita diferença.

—Faz sim! Pra mim faz e tu sabe. —Bia respira fundo, como se estivesse se contendo. —Porra Lili, tu ficou cinco anos longe de mim, da gente... E que se foda o Henrrique, o aniversário é meu fui eu que te chamei.

Ela quer chorar, sei disso porque a voz dela começa a falhar.

—Mandei um papo com ele princesa. —Samuel fala para mim. —Fica suça que ele não vai fazer B.O aqui.

Ele não vai fazer aqui, mas não há garantia de que não irá fazer depois.

—Não, não vou. —Nego com a cabeça e encaro minha amiga. —O combinado foi vir a festa e não subir em um palanque com você. Eu nem mesmo deveria estar aqui e você sabe disso.

Ela ri., mas não uma risada divertida. Bia ri com escárnio. Ela está com raiva.

Sua mão se move na direção de Juliana a puxando pela mão, subindo os últimos degraus sumindo do meu campo de visão.

Sinto meu peito pesar com a sua ação. Mas eu iria acabar com o clima da festa.

—Relaxa gata, ela tá assim desde cedo. Henrrique tá pior que o cão hoje.

Samuel diz  tentando me consolar e falhando. Mesmo assim lhe dou um sorriso fraco. Está na hora de ir embora.

—Acho que eu já vou em...

Um superfície gelada e grande, pousa sobre meu ombro esquerdo. Uma mão seguida de uma voz grave soa atrás de mim.

○○○○○○○○○

...Mais um capítulo!! ...

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Comments

Marlene Araujo

Marlene Araujo

mas capítulo por favor

2024-02-17

3

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