Capítulo 4| Dona Maria

Meu coração está para sacar, mas ignoro esse fato e continuo andando. A cada passo que dou me arrependo amargamente de ter saído de casa, da minha casa em Nova York e principalmente me arrependo de ser tão egoísta e não querer abrir mão da droga de uma faculdade de fotografia.

Ao me aproximar de um canto deserto, avisto um pouco mais a frente, o campo de bola. O nervosismo se esvai aos poucos quando me recordo das tardes de brincadeira em que nós seis ficavamos escondidos atrás dos muros ao lado desse campo, esperando nossos responsáveis pararem de nos procurar para tomar banho depois de passar o dia inteiro brincando.

Sorrio com a nostalgia, mas apresso meus passos, o bar da Dona Maria fica em frente a quadra. Preciso me concentrar.

Ver as pessoas espalhadas pela rua do outro lado me deixa aliviada, estão dentro da quadra, quase não vai dar pra me ver já que as luzes estão fracas.

Alguém precisa trocar essas lâmpadas.

Em frente ao local há apenas três pessoas sentadas em mesas, tirando isso está vazio.

Ok, é só entrar e fazer o pedido, apenas isso e irá ficar tudo bem.

Adentro o interior do bar e noto o quão velho está esse lugar, a forma como as paredes estão pintadas com apenas uma camada de tinta branca para camuflar a sujeira da pintura antiga, os fios do ventilador cobertos de teias de aranha e poeira, a cerâmica que a tempos deixou de ser fabricada e o cheiro da comida que para completar me traz a sensação de nostalgia.

Me encosto no balcão esperando que venham me atender. Olho para os lados e não vejo ninguém. Há uma porta que acredito eu, seja a passagem para a casa da Dona Maria. Não lembro disso.

Percebo que não há ninguém vindo. O que eu faço meu Deus? Chamo? Mas chamar por quem? E se ela não estiver mais aqui?

—Dona Maria? Olá?!

Escuto passos.

—Opa! —Um homem grisalho sai de trás das cortinas e sorri para mim —Vai querer o que minha filha?

—Olá.—Retribuo o sorriso —A Dona Maria está?

O homem encara confuso

—Dona Maria? —Questiona

—Sim, a dona desse estabelecimento, ela saiu?

—O dono do bar é eu moça, não tem Maria nenhuma aqui.

Eu entrei no lugar errado?

—Mas antigamente tinha uma dona, certo? Faz muito tempo que não venho aqui.

Ele se encosta no balcão.

—Tu não é daqui é?

Estou começando a odiar essa pergunta. Estico os lábios formando o que era pra ser um sorriso.

—Você é dono deste local a quanto tempo? Eu tenho certeza que a alguns anos atrás uma senhora morava aqui —O encaro —,tem certeza que não tem nenhuma informação sobre ela?

Ele me encara mastigando algo como se estivesse doido para voltar a sua refeição, mas ao invés disso está aqui.

—Quem me vendeu o bar foi um homem acho que faz uns meses...—ele pausa pensativo e olha para trás de onde estou — Ê Robson, tu sabe se tinha uma velha morando aqui?!

Ele encara o lado de fora do bar, o homem que estava sentado sozinho na mesa levanta o pescoço em nossa direção, como se estivesse escutando apenas seu nome.

—Chega aqui. —ordena o dono do bar

Robson caminha até nós cambaleando, quando se aproxima do balcão me encara de cima a baixo sorrindo. Retribuo o encarando séria.

—Sabe da Dona... Dona o quê menina?

—Dona Maria, —Respondo e me direciono ao bêbado em minha frente —A antiga Dona, desse estabelecimento.

—Aaah... A velha — as palavras saem agudas por ele está bêbado —caralho, mó tempão que não vejo, deve tá até morta

Eu deveria ter adivinhado que sairia esse tipo de informação de um homem desses. O dono do bar se vira para mim.

—Responde tua pergunta? —Sua entoação é de puro sarcasmo, suspiro sabendo que não vou chegar a lugar algum.

—Não, mas muito obrigada por me escutar. Boa noite para vocês.—Saio daquele lugar o mais rápido possível, voltando pelo mesmo caminho.

Preciso me lembrar de perguntar a minha tia sobre a Dona Maria, talvez ela não saiba mas Ivete pode saber de algo.

Respiro fundo antes de andar pelo beco escuro novamente. Passo por ele correndo até sair do outro lado da rua, desço por ela direto até chegar à casa da minha tia. Se alguém me viu deve estar sorrindo agora. Corri tanto que tenho dificuldade em acertar a chave na  fechadura.

                                         °°°

Após tomar um banho relaxante e colocar o pijama mais confortável de todos que tenho, deito em minha cama sentindo a coberta gelada. Minha tia avisou que iria chegar tarde, mas que seria necessário preocupação pois viria de carro.

—Boa noite, mãe.

Ela não está presente, mas isso faz com que eu sinta um certo tipo de conforto, não físico óbvio, mas sim psicológico

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