No dia seguinte, sentia-me desligada, sentia como se houvesse uma névoa ou uma parede de vidro me separando da vida real. Como se estivesse sonhando acordada.
— Elizabeth, você está bem? — Olhei para o meu pai, desviando os olhos dos ovos mexidos que eu estava mais enrolando do que comendo.
Ele me encarou com uma expressão confusa do outro lado da mesa
Não me lembrava em qual momento levantei da cama ou em qual momento da manhã tomei banho e desci para tomar café, o meu corpo parecia agir por pura inércia.
— Você quer carona até a revista ou prefere ir com o José?— Perguntou quando não obteve uma reposta
— Vou no meu carro faz tempo que não dirijo tenho a impressão que a qualquer momento vou esquecer como faz
— Exagero! dirigir é o mesmo que andar de bicicleta; a gente nunca esquece.
— preciso passar em outro lugar antes, não quero incomodar o José ou atrasar o senhor.
Ele me ignorou e encheu o copo vazio de suco
— Vá com o José ele é pago para isso! Ah, ja ia me esquecendo, hoje faremos uma nova entrevista para a substitutiva da Dora. — Ele me encarou hesitando levar o copo até os lábios esperando a minha resposta.
— Preciso estar presente?
— Não! Eu decido!
— como eu imaginava!
— O que disse?
Eu suspirei.
— Nada!
— Bom, seja onde for me mantenha informado e peça para o José te levar . — Ele limpou a boca e deixou o guardanapo em cima da mesa — Nos vemos mais tarde.
Sussurrou antes de sair.
Permaneci por um tempo olhando os objetos e comidas em cima mesa. Tudo parecia em outro plano, alterados e desfocado. Essa sensação de estar vendo a minha vida fora do meu corpo permaneceu durante o resto do dia. Era como se eu estivesse me vendo através de uma tela preta e branca. E não gostava do que via. Uma Elizabeth sem vida, que não conseguia dizer "não". Uma Elizabeth que esbanjava um sorriso quando na verdade sua vontade era se isolar, desaparecer do mundo. Uma mulher que eu não reconhecia como a mim mesma.
Ja na revista, encostei a cabeça no encosto da poltrona na minha sala e fechei os olhos. Pela vigésima vez só naquele dia Jhon se infiltrou nos meus pensamentos. Sua voz, seu toque foi tudo tão real que ainda conseguia sentir seus braços em volta do meu corpo.
Não sei se ficava com ódio ou se agradecia por ele ter me salvado pela segunda vez só naquele noite. Mesmo que na segunda tenha sido apenas uma projeção da mente o que me levou a pensar se tudo o que eu ouvi na biblioteca foi mesmo verdade.
Mas as palavras do meu meu irmão e a arrogância do meu pai estavam vivas dentro de mim o que não deixava dúvidas que foi tudo real.
Cesar não pensou duas vezes antes de me entregar para aquele homem enquanto o meu pai estava mais preocupado em sobrepor suas vontades do que comigo
E nem um dos dois tiveram a decência de me perguntar o que eu queria, qual minha opinião. Lembrei de ter jurado durante a madrugada de ir procurar jhon, eu precisava esclarecer aquela situação e saber o porquê ele queria casar comigo.
— Liz?
Me assustei quando abri os olhos e encontrei Elen parada na porta.
— Pode entrar— Sussurrei de forma lenta.
Ela analisou a minha expressão enquanto caminhava na minha direção.
— Está bem?
" Por que todos estão me fazendo a mesma pergunta?"
— Sente-se! Só estou cansada da festa.
— Todos estamos, so queria um dia folga. Meus pés estão merecendo um descanso.
— Não espere uma folga com o desfile de amanhã, na verdade é melhor não esperar nunca.
— Realmente, conhecendo o seu pai nem no dia da morte dele teremos folga. —Ela tampou a boca— Desculpa, Liz! Falando em desfile, aqui está a revista desse bimestre.
Ela colocou a revista em cima da mesa.
— Já? Não pensei que ficaria pronta tão rápido, resolvi os últimos detalhes ontem com o victor não imaginei que ficaria pronta antes da festa de lançamento.
— Na verdade, está já estava pronta bem antes, peguei um exemplar com o Victor porque pensei que merecia dar uma olhada antes da festa de lançamento. — Ela desviou os olhos dos meus.
— Do que está falando?
— É melhor ver com os seus próprios olhos.
Sem entender do que ela estava falando segurei a revista entre os meus dedos e esfoliei página por página, perplexa. Nada do que eu havia pedido estava estampado nas folhas.
—Mas... Essa não é a modelo que escolhi, nem o catálogo. Porque a capa tá diferente. De quem foi a ideia de mudar tudo? Elen, se isso for uma brincadeira é de muito mal gosto, trabalhei durante horas, na viajem não aproveitei nem um terço do que gostaria para deixar tudo perfeito... E... isso?
— Não é uma brincadeira, nao seria capaz de brincar assim sabendo da sua dedicação, mas essa revista ja esta impressa ha mais de um mês. Seu pai contratou alguém durante o tempo que ficou fora — Elen falou baixinho como se eu já não soubesse a reposta.
— Ele não fez isso? — perguntei de forma categorica e me levantei.
Meu sangue ferveu e para ofuscar a vontade de gritar cravei as minhas unhas, beliscando a parte inferior do meu pulso onde a cicatriz profunda e antiga na vertical me recordava um dos momentos mais dificeis da minha vida. Ficar sozinha num quarto de hosiptal foi um castigo maior do que quando ele mandou o Cesar para o exterior para se afastar de mim.
— Liz, ele fez de novo... Como da outra vez ele excluiu tudo o que você fez e refez do jeito dele.
—Eu não estou acreditando... Ele prometeu, ele jurou que dessa vez seria diferente que seria eu a tomar as decisões para o marketing da revista. Mas como eu fui acreditar? Ele não deixa nem que decida minha própria roupa imagina decidir sobre a revista.
— Você conhece o seu pai ele...
— Não eu não conheço, juro que não conheço. Nao sei quem ele é ou em quem acreditar. Custava aceitar uma única vez a minha decisão? Essa é minha função, poxa. Afinal eu estudei para isso.
— Você é ótima, Liz! Não se valide por causa do seu pai.
— Ótima? — Gargalho sem vontade pasando a mão na cabeça.
Mais uma vez a sensação de estar assistindo a vida de outra pessoa me assombrou. Eu estava caindo em algum buraco que parecia ficar cada vez mais fundo e sombrio.
— Não quero mais ficar aqui! — Afirmei pegando a minha bolsa.
— E para onde você vai? Por que não tenta conversar com ele ainda da tempo de reverter.
— Conversar ? com o meu pai? — Tirei o celular da bolsa e voltei a olhar nos olhos arregalados da Elen. — Ele já tomou a decisão dele e eu a minha!
— Do que está falando ?
— não importa! — Respirei fundo e me aproximei dela segurando em suas mãos— Sabe que eu a considero como uma amiga, não sabe?
— Sim! e não duvide que te amo mais do que possa imaginar e odeio ver tudo o que seu pai faz com você, mesmo que as vezes eu também faça o mesmo.
— Você sempre fez o melhor, Elen.
— Não o suficiente!
Encarei o teto e enchi os pulmões de ar.
— Eu preciso saí daqui sem ser vista. — Voltei a encara-lá
— E onde vai?
— Preciso resolver um assunto, mas não quero que me sigam ou que meu pai me veja saindo.
— E o José?
— Eu cuido dele!
— Liz...
— Por favor, eu te imploro. — choramingo como quando eu era criança.
— Não faz essa cara, assim eu não resisto.
— Então me ajuda, por favor.
— Tudo bem — Sussurrou dertotada — Eu vou primeiro para abrir caminho e se não tiver ninguém no corredor você vai direto para a recepção. Fiquei sabendo que seu pai saiu tem algum tempo então vai ser fácil despistar os demais. Ah... toma cuidado com a recepcionista, ela além de ser Maria fifi é olheira do seu pai.
Ela fala tudo muito rápido e foi até a porta olhando para os lados.
Não passaou um minuto e ela me chamou
— Obrigada. — Agradeci quando passei por ela.
— vá, menina, vai... me dê notícias. — Apertei o botão do elevador e a Elen sussurrou baixinho — Elevador não, vai pelas escadas...
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Renata Marcelina
O psi dela parece im doente, todo mundo tem que ficar aos pés dele e fazer as vontades dele
2024-04-06
0
Andreia Cristina
nossa que frustante /Frown//Frown//Frown/
2024-03-07
1
Cristiani A.L.
Q vida hein...Coitada...Qnto sofrimento...
2024-03-06
0