02 -JHON STONE

— Onde estão eles?

Minha voz grave era um misto de arrogância e falta de paciência.

Olhei no relógio e já passava das 22 horas e nada da família Alencar aparecer para fazer as honras da festa.

— Tenha um pouco de paciência, senhor stone!

— Paciência, Dimitre? Cadê a pontualidade desse povo?  Brasileiros e sua falta de pontualidade. Detesto atrasos.— Remungo levando o copo de uísque aos lábios.

—De uma coisa tenho que admitir eles tem bom gosto para bebidas e músicas. Desfrute um pouco do som vai acalmar a sua ansiedade — Ele sussurrou no meu ouvido.

Nem preciso olhar para ele para saber que expressava um sorriso de deboche.

— Não estou ansioso e não vim aqui para desfrutar de música, meu único intuito de suportar esse ambiente são os negócios, Dimitri!

Continuo com o semblante fechado enquanto viro o copo de uma vez. O líquido desceu queimando a minha garganta, mas nada e tão insuportável quanto respirar o mesmo ar que toda aquela gente

— Calma chefinho, não está gostando ou está nervoso porque ainda nao viu quem procura? — voltou a perguntar mastigando uma das azeitonas que enfeitava a sua taça

— Não enche a porra do saco ou da próxima vez vai ficar esperando no carro, Dimitri

— Então haverá uma próxima vez?

—  Não enche!

Ele voltou a sorrir e por meros dez segundos manteve seus pensamentos dentro de sua cabeça.

Dimitri sabia o esforço que me consumia suportar aquela gente e estava perdendo a paciência ao passar os olhos por todas aquelas mesas bistrôs espalhadas em volta da piscina e não encontrar quem me interessava.

Realmente  Escobar Alencar desfrutava de muito dinheiro e prestígio. Praticamente todos os nomes da alta sociedade brasileira estava presente em sua festa de aniversário. De políticos a banqueiros. Modelos, atrizes, jogadores de futebol todos esbanjavam uma postura de donos do mundo.

Uma risada prazerosa desenhou os meus lábios.

Logo todos saberão o que o Escobar e sua família fez para conquistar essa fama e dinheiro e conforme planejado todo o seu dinheiro será meu, isso se o Cesar não cumprir com a sua palavra. Falando no nosso acordo, voltei passar os olhos entre as mulheres com o mesmo desprezo que me fez chegar até ali a fim de encontrar o meu alvo.

E nada me consumia mais do que o nojo e a podridão que rodeava aquele mundo de mentira. Mulheres fúteis, esnobes que valorizavam apenas as joias em seus pescoços e a conta bancaria dos maridos.

— Se continuar a encara-las com tanto desgostos vamos ser expulsos. — Dimitri voltou a sussurrar no meu ouvido.

Bufei sentindo ainda mais raiva de estar ali.

— Quero ver alguém corajoso suficiente para tocar no meu smoking. Eu faço picadinho com as minhas próprias mãos.

— Você é grande, mas somos nós dois contra um mundaréu de seguranças. — Ele olhou para os caras de preto circulando disfarçadamente entre os convidados. — O que eles escondem aqui? O papa? Pra que tantos seguranças?

— Medroso! — Afirmei, escondendo o sorriso

— Calteloso, diferente.

— Sei! — Devolvi com ironia — Eles escondem a podridão que vive.

— Me responde uma coisa só para ficar mais tranquilo — Ele varreu os local com os olhos e depois se virou para mim — O que exatamente viemos fazer aqui?

Gargalhei fazendo o som vibrante das cordas vocais soarem ainda mais rouca.

— Não pretendo sequestrar ninguém se  esse é seu medo, homem. Minha vinda aqui tem outro motivo.

— Do jeito que está tenso pensei que fugiria com ela nas costas.

— Não vou precisar fugir, ela vai vim por livre e espontânea vontade — Falei com tanta convicção que Dimitri se calou e ajeitou a postura.

Fiquei por alguns segundos concentrado na bebida que o garçon colocou na nossa mesa, ele parecia surgir do nada com o intuito de nunca deixar o copo vazio. Mas não queria ficar embriagado por isso brincava com o líquido girando dentro do copo enquanto concentrava minha atenção  nas pessoas ao redor que me encarava com um ponto de interrogação bem nítido em um suas testas. Minha aparência causava esse tipo de choque devido minha postura altiva. As vezes confundida ate com arrogância e superioridade. Mas tinha mais a ver com  o meu espírito sombrio que sempre me colocava em alerta. O mesmo que me alertava quando estava indo pelo caminho errado.

Encarei o Dimitri. Ele estava fissurado com uma ruga em sua testa analizando um grupo de homens usando terno que nao custava menos de cem mil, poderia jurar que eram politicos corruptos, os mesmos não paravam de nos observar.

— Senhor?

— Hum ?

— Está vendo aquele grupo? — falou disfarçadamente,

— já percebi! — Ele me olhou perplexo. — Estão há tempos nos encarando.

Se fez um breve silencioso. O relógio no meu pulso nao me deixava esquecer da falta de pontualidade daquele povo.

Se passaram mais meia hora e nada da única mulher que me interessava aparecer.  Elizabeth Alencar não circulava entre os convidados do seu pai. Nunca a vi pessoalmente acompanhava sua vida recentemente pelos stories e redes sociais.

— Senhor! — Dimitri sussurrou no meu ouvido— Eles estão vindo pra cá. Posso apresentá-lo?

Ajeitei o nó da gravata no meu pescoço

— ainda não chegou a hora.

— O que eu faço então?

— Se vira!

Derramei o último gole de uísque na minha garganta e me afastei

— Onde vai?

— Preciso respirar.

Toda aquela podridão me enojava.

Sabe aquela frase " diga com quem andas e direi quem és"? Nunca fez tanto sentindo. Cada um daqueles que prestigiava Escobar Alencar era igualmente fútil e ganancioso a ponto de esquecer de sua origem e o buraco que todos vamos assim que morrermos. Porém, era o meu dever lembra Escobar o buraco que saiu e todas as atrocidades que ele cometeu para estar ali morando em uma mansão rodeado de seus familiares e amigos enquanto precisei crescer sozinho depois do que ele fez comigo e minha família.

— Canalha— cuspi com desprezo.

Já longe chutei a grama como se até ela fosse culpado pela morte do meu pai.

Na verdade, tudo que pertencia ao Escobar era igualmente culpado. 

Se não fosse o golpe que o Escobar deu na minha familia, meu pai ainda estaria vivo e talvez a minha mãe não tivesse morrido logo em seguida.

— Mas você vai pagar, Escobar Alencar! Eu juro pela memória dos meus pais que vou exterminar você e acabar com o que tem de mais precioso nem que para isso eu precise ficar cara a cara com você!

A raiva e todo o ódio que circulava no meu sangue se concentrou no meu punho fechado. Precisei respirar fundo e subir os degraus da escada na parte escondida da casa para alcançar um ar menos tóxico.

Me inclinei no parapeito assim que cheguei na extremidade da sacada buscando pelo vento que bateu no meu rosto e logo encheu os meus pulmões. Um certo alívio me atingiu ao fechar os olhos e respirar o ar puro.  De todas as vezes que repassei aquele encontro nunca imaginei que seria tão difícil estar no mesmo ambiente do assassino do meu pai. Nunca pensei que um certo remorso me consumiria só por cogitar tomar-lhe sua filha como esposa. Seria certo?

Eu estaria fazendo o correto?

Ou o certo era arrancar a sua  fortuna e expor sua vida ao ridículo como nunca antes?

Já seria o suficiente sujar sua reputação e ver toda a sociedade menosprezando sua família?

— Não — murmurrei com ódio.

Estão me oferecendo o bem mais precioso que  Escobar exibe, e esse não é dinheiro, fama ou prestigio. Vou fazê-lo sofrer por onde eu sei que dói mais! SUA FAMÍLIA, ou melhor Elizabeth Alencar!

— Liz Alencar!—  Sussurrei ao vento respirando fortemente.

Não conseguir permanecer de olhos fechados porque, nesse momento, uma fragrância de flor de laranjeira invadiu os meus pulmões.

Sem saber de onde vinha olhei para os lado, a sensação de liberdade me atingiu ao enxergar uma dama do lado oposto de onde eu estava.

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