— Me casar com um estranho? Nunca!
Nem que para isso eu precisasse me ajoelhar e pedir perdão pela dívida do meu irmão.
Mas para isso eu precisava saber quem era o indivíduo que cogitou a ideia de me fazer de moeda de troca. Estava tão convencida a descobrir o nome do homem que depois de tomar um banho e vestir o meu pijama de shots e regata azul voltei ao quarto do Cesar para pedir-lhe um nome, mas não o encontrei.
Desci as escadas e fui procurá-lo na cozinha... Uma sequência de luzes foram se acendendo à medida que fui caminhando sobre o piso luxuoso e brilhante.
Também não estava lá.
Já era bem tarde e era quase impossível que ele estivesse conversando com o meu pai no escritório já que os dois mal suportavam ficar um minuto respirando o mesmo ar.
Desliguei os sensores que denunciavam a minha presença e caminhei na ponta dos pés até o final do corredor. Parei quando escutei a voz alterada do meu pai vindo da biblioteca.
— Não pode ser, Cesar! Você não sabe tudo o que precisei fazer, o que suportei para ter o que eu tenho hoje. E não estou falando só de dinheiro. Estou falando do meu nome, do prestígio que carrega o sobrenome Alencar. Sabe essa gente importante que veio aqui hoje ? — Se fez um silêncio — O que vão pensar se descobrirem que estou arruinado?
— O que vão pensar? É a única coisa que importa?— César perguntou alterado.
—Não mude de assunto. Eu falei que essas suas apostas com jogo nos levaria a ruína. Você é um imprestável, um viciado que não merece carregar o meu sobrenome.— cuspiu com desgosto — Um moleque que não consegue se controlar na frente de uma mesa de pôquer.
— Vamos Escobar continue com os insultos... — César provocou
— Não use esse tom comigo, moleque imprestável.
— Então abaixe o seu tom de voz. Você tem uma segunda opção e nada vai acontecer com seu querido sobrenome.
— nunca! Nunca vou permitir que Liz se case com aquele homem. Você nos enfiou nisso e vai nos retirar sozinho. não vou mover um dedo para limpar a sua sujeira.
—.É sua última palavra?
— Não existe outra!
— Me responde uma coisa pai, o que te incomoda mais; ver a Liz feliz ou ver as pessoas que dizem ser seus amigos se afastarem quando estiver pobre?
— Como a Liz será feliz se casando com um estranho, Cesar? Me reponde você; é esse o destino que quer para sua irmã?
— Qualquer lugar é melhor do que viver presa no castelo de ouro, e outra, Liz já é adulta deixa ela decidir!
Apertei os meus braços em volta do corpo e esperei a reposta do meu pai que demorou mais do que imaginava
Me aproximei da fresta da porta entreaberta a tempo de ver o dedo do meu pai quase tocando no nariz do meu irmão
— Eu não vou permitir que a Elizabeth se case com aquele homem. Não importa como ou o que você vai fazer para reverter essa situação. Eu quero Jhon bem longe da Elizabeth e da minha fortuna.
Jhon...
— Você não está pensando direito — César argumentou
Meneei a cabeça, negando.
— Isso não tem negociação! E se você não calar a boca...
— Não vou calar! — César gritou — Elizabeth já é grande e se tiver que se sacrificar pela nossa família que o faça. Não vai acontecer nada a ela!Jhon é um cara descente, honesto. Pode fazer a nossa menina feliz.
— Porra... você não sabe o que está falando!
— Então me explica, Jhon Stone...
— Não repita esse nome dentro dessa casa! Não existe nada de honesto e descente naquele homem. Você não percebe a burrice que fez trazendo ele para o nosso lado.
Meu pai se afastou bagunçando os cabelos, alterado.
— Ele só quer se casar com ela, essa é sua condição para devolver tudo o que eu perdi. O que pode haver de mais nisso?
Meu coração se apertou ao perceber que Cesar estava pouco se importando comigo só pensando no maldito dinheiro e na posição social igual ao meu pai.
— Você tá louco se acha que vou permitir qualquer aproximação daquele sujeito. Ele só quer tirar o que é meu
— Liz não é uma propriedade sua.
— Não importa! Não quero nosso nome vinculado a ele.
— Qual o seu problema com ele? Você ainda não me contou.
— meu problema não é com ele e sim com o que ele quer tirar de mim!
— Não seja patético. Perder a Liz é o menor dos seus problemas.
— Não vou permitir e ponto!
— Nem se ela quiser?
— Elizabeth jamais passará por cima da minha decisão.
— Então se prepara para viver o inferno!
— O inferno que você nos colocou!
Não conseguir terminar de ouvir.
De repente, as vozes...
Quem sou?
Desista...
Não vele a pena continuar...
Você está sozinha...
Onde estão seus amigos agora?
Você tem amigos?
Existe alguém que te ame incondicionalmente...
A única que te amava morreu para que você vivesse e pra quê?
Valeu a pena?
Todo aquele barulho...
Sai correndo, tropeçando nos objetos pelo corredor escuro. Minha cabeça rodava. Nada naquela conversa fazia sentido.
jhon...
É ele quem quer se casar comigo...
E aquilo parecia tão insensível e diferente do homem que me abraçou e impediu que me jogasse do penhasco...
Deveria ter me deixado cair seria melhor do que me usar como um objeto de troca.
Abri a porta da sala e quando pisei no jardim o vento forte me assolou. Os pés descalço só conhecia um caminho. O único lugar que me levava direto para a escuridão. Corri rápido. Tropeçando vez ou outra nas pedras e nos galhos espalhados sobre a grama lembrando das palavras que jhon usou quando me abraçou.
" Se pular, pularei atrás de ti."
Que seja, então! Pularemos os dois...
Continuei correndo, amaldiçoando tudo que via pela frente...
Estava com raiva e com ódio...
Um sentimento que dificilmente guardava no meu coração. Mas o que eu podia sentir depois de saber que não passava de uma peça de xadrez?
Naquele breu escorreguei em alguma coisa e cai com tudo no chão, as luzes que vinha das luminárias espalhadas no jardim não conseguiam clarear suficiente o meu redor. Tentei me levantar, mas o que saiu foi um grito de despero que estava preso, enterrado, na minha garganta
Mais uma vez naquela noite eu comecei a chorar e socar o chão, não conseguia entender o que estava sentindo; se era ódio por ter me calado durante tanto tempo e suportado que os outros me controlasse conforme bem entendesse ou das pessoas que se achavam donos de mim.
Mas de uma coisa eu tinha certeza. A dor no meu coração só não era pior que a sensação de ter me perdido dentro de mim mesma. De não saber que caminho seguir ou o que fazer para me livrar daquela sensação.
Limpei os olhos com o dorso da mão e voltei a ficar em pé olhando para o alto da escada sabendo o que me esperava.
Subi os muitos degraus e quando cheguei no topo precisei colocar as mãos no joelhos para criar coragem e seguir em frente.
— Não posso desistir!
Estremeci ao voltar a andar
O ruído e a força do vento parecia me forçar a ir mais devagar e tentei me convencer que era por isso que estava com as pernas trêmulas e arrastando os pés. Ignorei aquela força invisível e voltei a andar mais depressa, não podia agir de outro modo. Precisava continuar em movimento. Se parasse eu jamais me encontraria novamente.
Naquela madrugada o céu estava completamente negro.
Não havia lua ou sequer uma estrela brilhando no alto e por incrível que pareça nada daquilo me causava medo.
" Você prometeu, Liz " As palavras do Cesar soaram no meu ouvindo.
— E você prometeu cuidar de mim, Cesar!
Quando os meus pés tocaram o último pedaço que me mantinha em segurança tudo o que vivi passou a ser um borrão de lembranças. Olhei para as árvores lá baixo e o mundo pareceu estático, as árvores estavam imóveis mesmo com todo aquele vento, tudo estava como um buraco negro, totalmente sombrio e opaco, sem vozes.
Levantei os braços e ergui a cabeça.
Minha vida era tao vazia que não conseguir imaginar nada no mundo que me impedisse de continuar, essa era uma das poucas vantagens de se perder de tudo, porque nada me prendia ao chão. nem mesmo o tempo, pois a impressão que eu tinha era que havia se passado mais tempo do que eu podia imaginar, talvez horas, minutos, segundos. Ou talvez o tempo também tivesse parado esperando a minha decisão.
Olhei para baixo. Era impossível alguém sobreviver aquela altura e me surprendi ao notar que preferia enfrentar o mundo sombrio e escuro do que continuar sobrevivendo como outra pessoa.
Uma rajada de vento soprou sobre o meu corpo e uma pontada de coragem desapontou no meu subconsciente.. instintivamente fechei os olhos...
" Liz"
Congelei no lugar. Meu corpo inteiro estremeceu.
Eu não precisei olhar para trás para saber quem estava me repreendendo. Era uma voz que reconheceria em qualquer lugar.
Cogitei em recuar...
O que eu estou fazendo?
Eu devia estar correndo dele, bloqueado sua imagem e não pensando em ouvi-lo.
" Liz"
Novamente a voz voltou a soar, agora um pouco menos rígida, mas com a mesma autoridade como um barulho de trovão.
— Me deixe em paz, Jhon!
Sussurei de forma arrebatadora que fez o meu coração acelerar a ponto de estourar no meu peito.
" Não posso! "
A voz voltou a soar no meu ouvido.
— Por que não? — Perguntei como uma tola ao vento.
Eu sabia que ele não estava ali, e mesmo assim, conseguia sentir de forma íntima o calor do seu corpo.
" Porque você é minha! "
Mesmo com a minha mente perturbada neguei ainda de olhos fechados.
Aquilo parecia incompreensível ao olhos carnais. Mas era como se o corpo dele estivesse atrás do meu corpo, sua respiração calma e controlada no meu ouvido, e seus braços me segurando de forma a me manter segura.
Comecei a questionar minha sanidade mental a ponto de suspeitar que estava vivendo algum tipo de alucinação. Um deja-vú. Memórias de horas antes naquele mesmo lugar.
" Só seremos você e eu"
Voltou a falar em meu ouvido, ou achei que fosse. Nada mais era compreensível. Sentia a minha cabeça girar, os meus pés flutuando, dois braços em volta do meu corpo, mas não conseguia abrir os olhos para saber se havia mesmo pulado ou se ainda estava em terra firme.
O vento deixou de soprar, de repente não senti mais frio, o meu corpo foi colocado sobre um colchão macio e envolvido em uma coberta quentinha, o ambiente cheirava o meu quarto. Suspirei e continuei encolhida incapaz de abrir os olhos para descobrir a verdade.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
mara souza
Ela é esquizofrênico autora? Ela escutas várias vozes na cabeça o tempo todo, se duvidar pode até ver coisas que não existem.
2024-03-17
3
Andreia Cristina
/Sob//Sob//Sob//Sob//Sob/
2024-03-07
0
Telma Silva Brito
Coitada meu Deus,o diabo está morando na mente dela tentando fazê-la cometer um suicídio e somente Deus pra tirar essa angústia,esse espírito de morte não só carnal mas o espiritual tbm,que ela consiga ouvir a voz de Deus no meio desse caos para ser liberta e ter vida eterna.
2024-03-05
0